A IMPORTÂNCIA DAS FONTES PARA AS PESQUISAS EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
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- Nicolas Camilo Paiva
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1 Anais da Semana de Pedagogia da UEM ISSN Online: XXII Semana de Pedagogia X Encontro de Pesquisa em Educação 05 a 08 de Julho de 2016 A IMPORTÂNCIA DAS FONTES PARA AS PESQUISAS EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FARIA, Jordana Ferreira de fariajfaria22@gmail.com IVASHITA, Simone Burioli (Orientadora) si.ivashita@gmail.com Universidade Estadual de Londrina (UEL) INTRODUÇÃO Este texto tem como objetivo problematizar a importância das fontes para a pesquisa em História da Educação, tendo em vista a ampliação do conceito de fontes trazidos pelos historiadores da perspectiva da Nova História Cultural e do amplo debate que esta temática vem ganhando no campo da historiografia Educacional brasileira. Marc Bloch e Lucien Febvre são os nomes que se destacam quando se trata da diversificação do fazer historiográfico, ambos fundaram a revista Annales, com o explícito objetivo de fazer dela um instrumento de enriquecimento da história, por sua aproximação com as ciências vizinhas e pelo incentivo à inovação temática (BURKE, 1997, p. 8). Quando ampliamos nossos conceitos sobre as fontes também ampliamos o nosso fazer historiográfico, e por conseguinte, as possibilidades de problematização do real. A fonte/documento é a matéria prima do historiador, que ao interrogá-la vislumbra por meio de seus viéses um acesso ao passado. Nesse sentido, temos que o essencial é enxergar que os documentos e os testemunhos "só falam quando sabemos interrogá-los toda investigação histórica supõe, desde seus primeiros passos, que a investigação já tenha uma direção". (LE GOFF, 2001, apud BLOCH, 2001, p. 27) Universidade Estadual de Maringá, 05 a 08 de julho de 2016.
2 Tomando a problematização como ponto de partida, sabemos quais interrogações serão precípuas para que em determinado espaço/tempo encontremos nas fontes um lócus fundamental para a investigação histórica e para a formulação de categorias de análise. HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA DA EDUCAÇÃO Antes de nos direcionarmos especificamente para a problematização da questão das fontes, traremos para a discussão o que entendemos por História e sua importância para uma construção historiográfica da Educação. Utilizamos como base teórica Michel de Certeau (1979, 2006); Marc Bloch (2001); Le Goff (2001); e no Brasil, nos apoiamos em autores como: Maria Stephanou e Maria Helena Camara Bastos (2011); Sérgio Castanho (2001); Eliane Marta Teixeira Lopes (2001) e Clarice Nunes e Marta Maria Chagas de Carvalho (2005). Logo, compreendemos que História é um campo de produção de conhecimentos, que se nutre de teorias explicativas e de fontes, pistas, indícios, vestígios que auxiliam a compreender as ações humanas no tempo e no espaço. É um trabalho de pensamento que supõe o estranhamento da análise, da produção de argumentos que possam validar, no presente, determinadas leituras da realidade passada, uma vez que o conhecimento histórico é uma operação intelectual que se esforça por produzir determinadas inteligibilidades do passado e não sua cópia. (STEPHANOU; BASTOS, 2011, p. 417, grifo nosso) Bloch (2001, p. 55) em seu livro Apologia da História aponta que qualquer ciência não pode abstrair do tempo e ao discutir o tempo histórico aponta a História como a ciência dos homens no tempo. O autor continua sua argumentação afirmando que nunca se explica plenamente um fenômeno histórico fora do estudo de seu momento (p. 60), portanto, além da questão norteadora e as fontes tomadas para a pesquisa, faz-se necessário pontuar o momento histórico em que tal fonte foi constituída. A História, como defende Castanho (2001, p. 12) é composta de duas partes, de um lado os fatos acontecidos e os processos desenvolvidos, no sentido de res gestae, e, de outra parte, o conhecimento organizado e sistemático desses fatos e processos, no sentido de historia rerum gestarum. Nosso acesso ao passado ocorre por meio deste conhecimento organizado e sistematizado, daí a importância da preservação e guarda de 2
3 todos os tipos de fontes. Os historiadores dos Annales como já mencionado anteriormente, trouxeram essa nova possibilidade do trato de fontes, indo muito além dos documentos oficiais, considerados fontes verdadeiras. Com esse novo olhar surge um desejo de problematizar objetos ainda não muito estudados e aprofundados e mergulhar em um universo cotidiano que tem muito a nos revelar. O historiador francês, Michel de Certeau (1979, 2006) nos indica que em história, tudo começa com o gesto de selecionar, de reunir, e, dessa forma, transformar em documentos determinados objetos distribuídos de outra forma. (CERTEAU, 1979, p. 30). Este historiador apresenta ainda os limites desse fazer historiográfico : Considerar a história como uma operação, será tentar, de um modo necessariamente limitado, compreendê-la com a relação entre um lugar (um recrutamento, um meio, um ofício etc.) e procedimentos de análise (uma disciplina). É admitir que a história faz parte da realidade da qual trata, e que essa realidade pode ser captada enquanto atividade humana, enquanto prática. Certeau (1979, p. 18) Entendemos que o conceito de fontes é ampliado consideravelmente, quando abarcamos novos objetos. Nos dias atuais a História da Educação não se reduz as questões legais e administrativas, ela é história das instituições, de leitura, de professores, de disciplinas, de didáticas, de métodos, de políticas, da relação professor-aluno, da cultura escolar. Constitui-se, portanto, numa variedade de objetos que enriquecem este campo de estudo. (CASTANHA, 2007, p. 01) O dicionário da Língua Portuguesa define Historiografia como a arte de escrever a história. Importante destacar que as pesquisas historiográficas ganharam força no Brasil a partir da criação dos programas de pós-graduação em Educação, que teve sua fase de consolidação no início da década de 1980 (SAVIANI, 2009). O primeiro programa de pós-graduação foi da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro em 1965, seguido pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC/SP em (SAVIANI, 2002). A partir de então, a pós-graduação de expandiu por todo o país e inicia-se, neste mesmo movimento, a ampliação das temáticas de estudo e o aprimoramento metodológico. Para além dos programas de pós-graduação, não podemos deixar de mencionar os Grupos de Pesquisas e as Associações, como exemplo a ANPEd - 3
4 Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação que tiveram papel relevante na divulgação das pesquisas realizadas no campo educacional. AS FONTES E SUA RELEVÂNCIA Já salientamos que é o historiador, no presente, que levanta questões em relação ao passado, e uma leitura do passado, por mais controlada que seja pela análise dos documentos, é sempre dirigida por uma leitura do presente (CERTEAU, 2006, p. 34). A discussão em torno do conceito de fonte, de sua preservação e modos de acesso se faz relevante quando percebemos que os historiadores da educação, dependem, nas suas investigações, não apenas das questões formuladas dentro de certas matrizes teóricas, mas também dos materiais históricos com que podem contar (NUNES e CARVALHO, 2005, p. 29). A partir daí torna-se importante definir o que entendemos por fonte: A fonte é uma construção do pesquisador, isto é, um reconhecimento que se constitui em uma denominação e uma atribuição de sentido; é uma parte da operação historiográfica. Por outro lado, a fonte é o único contato possível com o passado que permite formas de verificação. Está inscrita em uma operação teórica produzida no presente, relacionada a projetos interpretativos que visam confirmar, contestar ou de aprofundar o conhecimento histórico acumulado. A fonte provém do passado, é o passado, mas não está mais no passado quando é interrogada. A fonte é uma ponte, um veículo, uma testemunha, um lugar de verificação, um elemento capaz de propiciar conhecimentos acertados sobre o passado. (RAGAZZINI, 2001, p.14) fonte: Dermeval Saviani (2006, p ) também contribui para o entendimento do que é As fontes estão na origem, constituem o ponto de partida, a base, o ponto de apoio da construção historiográfica que é a reconstrução, no plano do conhecimento, do objeto histórico estudado. Assim, as fontes históricas não são a fonte da história, ou seja, não é delas que brota e flui a história. Elas, enquanto registros, enquanto testemunhos dos atos históricos, são a fonte do nosso conhecimento histórico, isto é, é delas que brota, é nelas que se apoia o conhecimento que produzimos a respeito da história. 4
5 Durante algum tempo, na História da Educação recorreu-se apenas às fontes oficiais escritas (leis, atas, relatórios, regulamentos, programas de ensino), entretanto estas se apresentavam, por vezes, insuficientes para responder as questões suscitadas pela investigação. Sendo assim, houve a expansão do entendimento de fonte dentro do campo de estudos e pesquisas, e o historiador foi alargando as possibilidades de emprego das fontes e passaram a incorporar a ideia de que a História se faz a partir de qualquer traço ou vestígio deixado pelas sociedades passadas (LOPES e GALVÃO, 2001, p. 81). Bloch (2001) já afirmava que a diversidade de testemunhos históricos é quase infinita, desta forma, as fontes podem ser escritas, orais e iconográficas. Para a produção historiográfica importa o levantamento, sistematização e análise dos diferentes tipos de fontes, entendendo que cada uma delas requer um procedimento metodológico próprio. Nas palavras de Miguel (2012, p. 244): As informações contidas nas fontes servem enquanto contributos para se conhecer o que foi privilegiado em determinado momento histórico, como e porquê tais conhecimentos foram considerados relevantes, quais métodos e práticas fizeram parte do ideário pedagógico do período em questão, e como foram justificadas suas permanências ou ausências do conjunto de conhecimentos trabalhados. Mas, servem principalmente, para propiciar maior e melhor entendimento das questões e problemas da educação hoje. Vivemos tempos que o papel tornou-se obsoleto, tudo é (ou acaba sendo) digitalizado, por isso torna-se muito relevante a reflexão em torno da preservação de fontes históricas e da constituição de acervos que facilitem as pesquisas no campo da História da Educação, entretanto devemos nos manter alerta porque tais acervos, por vezes, já passaram por uma seleção prévia. Como nos alerta Saviani (2010, p ): O trabalho de organização dos acervos é decisivo e de grande importância para o desenvolvimento da pesquisa. Na medida em que pudermos contar com um número crescente de instituições de memória com acervos documentais adequadamente organizados e dotados de instrumentos que facilitem e agilizem o acesso às fontes, o trabalho dos pesquisadores será grandemente facilitado, com impacto significativo na qualidade das pesquisas e também em sua quantidade, uma vez que, nessas condições, o tempo de busca e manipulação das fontes será fortemente reduzido. Os pesquisadores, no entanto, devem estar atentos para o fato de que, se os instrumentos desenvolvidos pelas instituições de memória facilitam seu trabalho, também podem funcionar como elementos que predeterminam os rumos de sua investigação. Por isso convém confiar desconfiando nos referidos instrumentos, abrindo mão deles quando isso se revelar necessário para a preservação dos objetivos da pesquisa. Estes apontamentos indicam a importância das fontes e sua preservação por meio da constituição de arquivos que facilitem o acesso dos pesquisadores aos documentos/fontes. 5
6 Como exemplo podemos citar a Biblioteca Nacional Digital 1 que tem por objetivo preservar a memória e facilitar o acesso aos acervos, que estão divididos em artigos, dossiês, exposições, acervo digital e hemeroteca digital. CONSIDERAÇÕES FINAIS Percebemos a importância da problematização dos diversos tipos de fontes para as pesquisas em História da Educação e a necessidade de uma inovação dessa problemática procurando tornar o conhecimento mais acessível à sociedade. Percebemos também que com a ampliação do conceito de fonte, outros estudos puderam tomar forma e propiciar novas perspectivas de investigação. O historiador da educação sempre deve estar atento, pois a história se faz por homens e, por conseguinte, as fontes também se fazem. Deste modo, devemos ter a percepção que o nosso olhar e nossa problematização produzirá uma narrativa histórica a partir de um espaço e de um tempo e que novas narrativas poderão ser construídas posteriormente. Outro fator importante é que a investigação deve estar situada no tempo presente, analisando uma fonte que não é do tempo presente, mas que foi construída no passado, por isso não podemos interrogá-la com um olhar do passado, mas sim no tempo no qual estamos falando. Com essa análise, percebemos o quanto é necessário sempre pensar sobre as fontes, sobre como a consideramos, sobre o nosso fazer historiográfico, para que sempre viva em nós a chama da inquietude, da dúvida e da pesquisa. 1 Ver site 6
7 REFERÊNCIAS BLOCH, Marc. Apologia da História, ou, O ofício de historiador. - Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, BURKE, Peter. A Escola dos Annales ( ): a Revolução Francesa da historiografia; tradução Nilo Odalia. - São Paulo: Fundação Editora da UNESP, CASTANHA, André Paulo. As fontes e a problemática da pesquisa em História da Educação. In: JORNADA DO HISTEDBR, 7., 2007, Campo Grande. Anais... Campo Grande: UFMT, p CASTANHO, Sérgio. Memória, Presente e Futuro. In: LOMBARDI, José Claudinei; CASIMIRO, Ana Palmira Bittencourt S; MAGALHÃES, Lívia Diana Rocha (orgs.). História, Memória e Educação. Campinas: Alínea, p CERTEAU, Michel de. A operação histórica. In: LE GOFF, Jacques; NORA, Pierre. História: novos problemas.2.ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, p CERTEAU, Michel de. A escrita da História. 2.ed. - Rio de Janeiro: Forense Universitária, LE GOFF, Jacques. Prefácio. In: BLOCH, Marc. Apologia da história ou O ofício de historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, LOPES, Eliane Marta Teixeira; GALVÃO, Ana Maria de Oliveira. História da Educação. Rio de Janeiro: DP&A, MIGUEL, Maria Elisabeth Blanck. A História, a Memória e as Instituições Escolares: uma relação necessária. Cadernos de História da Educação, Uberlândia, v. 11, n. 1, p , jan./jun Disponível em:< Acesso em: 23 maio NUNES, Clarice; CARVALHO, Marta Maria Chagas de. Historiografia da Educação e fontes. In: GONDRA, José Gonçalves (orgs.). Pesquisa em História da Educação no Brasil. Rio de Janeiro: DP&A, p RAGAZZINI, Dario. Para quem e o que testemunham as fontes da História da Educação? Educar em Revista, Curitiba, n Disponível em: < em: 23 maio SAVIANI, Dermeval. A Pós Graduação no Brasil: trajetória, situação atual e perspectivas. Revista Diálogo Educacional, v.1, n.1, Jan/Jun 2009, p SAVIANI, Dermeval. Interlocuções pedagógicas: conversa com Paulo Freire e Adriano Nogueira e 30 entrevistas sobre educação. Campinas, SP: Autores Associados, A pós-graduação em Educação no Brasil: pensando o problema da Orientação. In: BIANCHETTI, Lucídio; MACHADO, Ana Maria Netto. A bússola do escrever: desafios e estratégias na orientação de teses e dissertações. Florianópolis: Editora da UFSC; São Paulo: Cortez, Breves considerações sobre fontes para a História da Educação. Revista HISTEDBR On-line. Campinas, n. especial Disponível em: < Acesso em: 30 maio
8 STEPHANOU, Maria; BASTOS, Maria Helena Camara. História, Memória e História da Educação. In:. Histórias e memórias da educação no Brasil, vol. III: século XX. 4. ed. Petrópolis: Vozes, p
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