TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DÉCIMA PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL

Transcrição

1 AÇÃO: AÇÃO CIVIL PÚBLICA ORIGEM: 4ª VARA DE FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DA CAPITAL AGRAVANTE: MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO AGRAVADO: MINISTÉRIO PÚBLICO RELATOR: DES. ROBERTO GUIMARÃES AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA PROPOSTA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. DEGRADAÇÃO DO MEIO AMBIENTE CAUSADA POR REMOÇÃO DE FAMÍLIAS DE BAIXA RENDA PARA A ÁREA AFETADA POR INICIATIVA E OBRA DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO. PRETENSÃO DE CHAMAMENTO AO PROCESSO DE TODOS OS OCUPANTES DA LOCALIDADE, QUE NÃO SE SUSTENTA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA MUNICIPALIDADE QUE NÃO SE ESTENDE ÀS FAMÍLIAS ASSENTADAS. FOI O PRÓPRIO MUNICÍPIO AGRAVANTE QUEM REASSENTOU AS FAMÍLIAS E REALIZOU AS CONSTRUÇÕES, QUE AGORA PRETENDE DEMOLIR, FACE À DEGRADAÇÃOAMBIENTAL DA ÁREA OCUPADA. SOMENTE O PODER PÚBLICO PODERÁ CORRIGIR SUA PRÓPRIA CONDUTA NOCIVA, ASSIM COMO ASSUMIR EVENTUAIS INDENIZAÇÕES SUBSIDIÁRIAS. RECURSO DESPROVIDO. ACORDÃO VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento de nº , em que é agravante MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO e agravado MINISTÉRIO PÚBLICO, Agravo de Instrumento nº

2 ACORDAM os Desembargadores que compõem a Décima Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, à unanimidade de votos, em NEGAR PROVIMENTO ao agravo, mantendo-se, na íntegra, a decisão recorrida, nos termos do voto do Relator. Rio de Janeiro, de de Desembargador ROBERTO GUIMARÃES Relator Agravo de Instrumento nº

3 AÇÃO: AÇÃO CIVIL PÚBLICA ORIGEM: 4ª VARA DE FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DA CAPITAL AGRAVANTE: MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO AGRAVADO: MINISTÉRIO PÚBLICO RELATOR: DES. ROBERTO GUIMARÃES RELATÓRIO Trata-se de Agravo de Instrumento interposto por MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO, contra decisão do Juiz da 4ª Vara de Fazenda Pública que, nos autos da Ação Civil Pública de nº , ajuizada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO, rejeitou a preliminar de litisconsórcio passivo necessário, argüida pelo Município Agravante. Sustenta o agravante, em suas razões recursais, quanto a necessidade de inclusão, no pólo passivo da demanda, de todos os proprietários dos lotes de terreno sujeitos à demolição, a fim de se evitar futura nulidade do provimento final. Persegue o reconhecimento da existência de litisconsórcio passivo necessário entre o Município e os moradores do lote V7 do PAL , situado na Rua Leon Eliachar, no bairro Recreio dos Bandeirantes. Os autos deste recurso baixaram à 1ª Instância para a apresentação de contrarrazões pelo Ministério Público (fls. 32/37), que as ofertou em 05/09/2006, requerendo o desprovimento do agravo de instrumento (fls. 38/40). O feito somente retornou a esta E. Câmara no mês de setembro p.p. (fls. 41), sendo redistribuído a este Relator (fls. 44). Parecer da culta Procuradora de Justiça, Dra. Gisele Sirieiro Monteiro, às fls. 55/59, opinando pelo conhecimento e desprovimento do agravo. Agravo de Instrumento nº

4 É o relatório. Passo a decidir. VOTO Em primeiro lugar, mister se faz frisar que o Município Agravante confessa que, verbis: Não se pode perder de vista que as construções que o Autor pretende demolir foram realizadas pelo Município para reassentar famílias de baixa renda que ocupavam as margens do Canal das Tachas, melhorando sua condição de vida (fls. 09, item 13 o sublinhado não é do original). Mas, como asseverou o Parquet estadual autor na petição inicial de sua Ação Civil Pública, litteris: Evidentemente, é louvável a iniciativa municipal de assentar famílias carentes em suas casas populares. É obvio que o Autor não pode opor-se ao cunho social do projeto. Todavia este deve ater-se às normas que determinam a racional ocupação do solo da região. (fls. 13, 3º parágrafo sublinhei). Portanto, o agente causador direto da degradação da qualidade ambiental da região em questão é o próprio Município do Rio de Janeiro. Não tem, pois, cabimento a pretensão de chamar à responsabilidade pela sobredita degradação as pessoas e as famílias, que foram reassentadas pela exclusiva ação da municipalidade. Agravo de Instrumento nº

5 Ademais, como ensina o insigne publicista HELY LOPES MEIRELLES, litteris: O réu, na ação civil pública, tem responsabilidade objetiva pelos danos causados ao meio ambiente; por isso mesmo o autor não precisa demonstrar culpa ou dolo na sua conduta. Basta evidenciar o nexo de causalidade entre a ação ou omissão lesiva ao bem protegido no processo. Essa responsabilidade objetiva provém da Lei nº 6.938, de , que, ao dispor sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, estabeleceu expressamente que é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade (art. 14, 1º). (Mandado de Segurança, 30ª edição, atualizada por Arnorld Wald e Gilmar Ferreira Mendes, p. 180, item 4, Malheiros Editores). Por outro, como bem destacou a culta Promotora de Justiça de 1ª Instância, em sua manifestação de fls. 39/40: O presente agravo não há de prosperar, posto que não se pode coadunar o modelo processual da conflituosidade de interesses e da vontade individual do direito civil à tutela de interesses metaindividuais. Na ação civil pública a vítima é a própria coletividade, que não pode ter sonegados seus direitos fundamentais, tais como a vida, a segurança, a saúde, o meio ambiente devidamente equilibrado. Neste sentido, vale a pena transcrever, mais uma vez, a r. decisão da 1ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, no Agravo de Instrumento, proc. Nº , Des. Martinho Campos: A ação civil pública proposta pelo Ministério Público contra o Município do Rio de Janeiro visando compeli-lo a demolir construções situadas em zona de proteção Agravo de Instrumento nº

6 ambiental, o penedo Dois Irmãos. Legitimidade passivado Município, na qualidade de poluidor indireto primário, pela omissão no cumprimento de seu dever legal constitucional e legal de impedir a degradação ambiental, pelas construções ilegais. Inexistência de litisconsórcio da União, Estados, Município, ocupantes e proprietários da área pela peculiaridade de ação civil pública que visa defender interesses difusos e é regida pelo princípio da solidariedade, pelo qual incumbe ao autor escolher com quem demandar. Competência da Justiça Estadual. A proteção do meio ambiente é um poder-dever do Município, vinculativo, não se cogitando pura e simplesmente de poder discricionário. Liminar concedida e revogada. Provimento do recurso para estabelecê-la. Diante da fumaça do bom direito e do perigo de demora. De igual forma, a culta Procuradora de Justiça, Dra. Gisele Sirieiro Monteiro, em seu Parecer de fls. 55/59, assim se posiciona: Trata-se de AÇÃO CIVIL PÚBLICA, ainda em tramitação, apesar de ajuizada há mais de dez anos, que busca responsabilizar o MUNICÍPIO E A COMPANHIA LITORÂNEA DE IMÓVEIS, pelo DESCUMPRIMENTO DE NORMAS DE OCUPAÇÃO DO SOLO URBANO, além de DANO AMBIENTAL, perpetrado no Recreio dos Bandeirantes, com a CONSTRUÇÃO DE 81 CASAS POPULARES, EM ÁREA CONSIDERADA IMPRÓPRIA. Forçoso reconhecer que O PEDIDO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA almeja concretizar a DEMOLIÇÃO das edificações irregulares estabelecidas pelo Município e, no caso de impossibilidade fática, deseja a INDENIZAÇÃO DOS DANOS PELOS AGRESSORES DIRETOS (MUNICÍPIO E EMPRESA RÉ). Logo, a LEGITIMAÇÃO PASSIVA não se estende aos moradores assentados, de forma desastrada, pois SOMENTE O PODER PÚBLICO será capaz de realizar Agravo de Instrumento nº

7 atos de recuperação da área, assim como, somente os Réus MUNICÍPIO E EMPRESA que assentaram as famílias no local considerado impróprio, deverão arcar com indenizações subsidiárias da obrigação principal. Conforme a lição de HELY LOPES MEIRELLES, A LEGITIMAÇÃO PASSIVA é atribuída AOS AGRESSORES DAS NORMAS AMBIENTAIS, ou, aos responsáveis pelos fatos ensejadores da ação nociva, o que seguramente não se aplica às famílias assentadas, contra a sua vontade, pelo Poder Público, já que foram REMANEJADOS do Canal das Tachas (fl. 09). Face a todo o exposto, direciono o meu VOTO no sentido de NEGAR PROVIMENTO ao presente Agravo de Instrumento, mantendo, na íntegra, a decisão de 1º grau ora atacada. Rio de Janeiro, de de Desembargador ROBERTO GUIMARÃES RELATOR Agravo de Instrumento nº Certificado por DES. ROBERTO GUIMARAES A cópia impressa deste documento poderá ser conferida com o original eletrônico no endereço Data: 16/12/ :46:00Local: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Processo: ( ) - Tot. Pag.: 7