TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

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1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos do Agravo de Instrumento nº , da Comarca de Ibiúna, em que é agravante FAZENDO DO ESTADO DE SÃO PAULO, é agravado SEVERINO LEITE DE ALQUIMIM. ACORDAM, em do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmo. Desembargadores EUTÁLIO PORTO (Presidente sem voto), ALVARO PASSOS E PAULO AYROSA. São Paulo, 27 de novembro de VERA ANGRISANI RELATOR Assinatura Eletrônica

2 2 VOTO Nº AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº COMARCA: IBIÚNA AGRAVANTE: FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO AGRAVADO: SEVERINO LEITE DE ALQUIMIM JUIZ DE 1º GRAU: DR. WENDELL LOPES BARBOSA DE SOUZA AGRAVO DE INSTRUMENTO. Ação Civil Pública. Reintegração de posse. Parque Estadual do Jurupará. Liminar indeferida. Área incorporada ao patrimônio do Estado de São Paulo. Ocupação pelo agravado que não induz posse, mas ato de mera detenção. Unidade de conservação de proteção integral que não se presta a intervenções antrópicas na forma pretendida pelo recorrido. Decisão reformada. Recurso provido. Trata-se de agravo de instrumento, com pedido de efeito suspensivo, interposto pela FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO nos autos da ação civil pública ambiental ajuizada em face de SEVERINO LEITE DE ALQUIMIM, visando à defesa do Parque Estadual do Jurupará contra ocupações antrópicas indevidas, voltando-se contra decisão de fls. 102/104, que indeferiu o pedido de desocupação e de demolição de construções realizadas pelo agravado em área de proteção ambiental de propriedade da recorrente. Alega a agravante, em síntese, que não há respaldo jurídico para permitir que o degradador ambiental continue ocupando o bioma Mata Atlântica, em estágio primário e secundário, dentro de uma Unidade de Proteção Integral, que ainda é terra de domínio público. Recurso processado sem a concessão de efeito suspensivo (fl. 112), foram dispensadas as informações, por desnecessárias, tendo o agravado apresentado contraminuta (fls.

3 3 118/121). A Procuradoria Geral de Justiça opinou pelo provimento do recurso (fls. 128/132). É o relatório. O recurso merece prosperar. Trata-se de área que integra o Parque Estadual do Jurupará, criado pelo Decreto nº e , de 22 de setembro de 1992, sendo, nos termos da Lei nº 9.985/2000, área de proteção integral. São terras devolutas e incorporadas à Fazenda do Estado de São Paulo. Por fim, a área é tombada, conforme a Resolução 40, de 6 de junho de Observa-se que a gleba indevidamente ocupada situa-se em área que possuía, originariamente, cobertura vegetal nativa tipo Floresta Ombrófila Densa. Logo, cuida-se de área de Mata Atlântica do Brasil, com flora bastante diversificada e com grande número de espécies raras e várias endêmicas regionalmente e considerada uma das florestas tropicais úmidas mais ameaçadas de extinção do planeta. Sabe-se que o local invadido e arredores já eram considerados áreas de preservação ambiental permanente bem antes da ocupação do agravado, cuja proteção teve início desde o vetusto Código Florestal. No mesmo sentido, dispõe sobre a proteção

4 4 da referida área a Resolução CONAMA nº. 303/202 e 302/2002, todavia, em se tratando de Parque Estadual (Jurupará), todo o território abrangido é de proteção integral da biodiversidade. Logo, consigna-se que se cuida de ocupação de área de preservação ambiental e também integrante do patrimônio do Estado, na qual o recorrido construiu indevidamente e encontra-se praticando danos que causam enormes impactos ambientais. Entretanto, a r. decisão agravada concluiu que:...assim, no plano dos fatos, e é exatamente aí que está a caracterização da posse, não se pode dizer, ao menos nesse instante liminar, que a parte ré não exerça sobre o imóvel não só um, mas alguns, dos poderes inerentes à propriedade, sendo portanto, possuidora da área. E, se pode ser considerada possuidora do bem, deve ter seus direitos possessórios garantidos ao menos até que se forme convencimento contrário, durante a instrução do feito. Maiores considerações sobre o tema ficam para a sentença, indeferindo-se a liminar por ora. prosperar. Contudo, tal entendimento não deve Isto porque, ao menos em sede de cognição sumária e segundo elementos constantes nos autos, verifica-se que a área em comento integra o Parque Estadual do Jurupará e foi incorporada ao patrimônio do Estado de São Paulo, de modo que sua destinação a torna insuscetível de posse por particulares, não se podendo priorizar o interesse individual.

5 5 Tal raciocínio leva a conclusão de que se cuidando de bem público, é de rigor que a ocupação pelo agravado induz ato de mera detenção. Observe-se, ainda, que por se tratar de unidade de conservação de proteção integral, o local não se presta a intervenções antrópicas na forma empreendida pelo agravado. Portanto, a situação retratada deve ser analisada pela ótica do princípio do meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito humano fundamental, incumbindo ao Poder Público o dever ativo de assegurar referido direito. A proteção ambiental exige medidas imediatas, por se tratar de unidade de conservação de proteção integral, além de ter sido submetida a tombamento, por meio da Resolução n.º 40/1985, do CONDEPHAAT. O prolongamento do tempo, na presente demanda, pode acarretar o agravamento da degradação ou, ao menos, o retardamento da recomposição natural da área de mata atlântica. Assim sendo, pelos princípios da prevenção e da precaução, devem ser priorizadas medidas que evitem atentados ao meio ambiente. A constatação de esbulho possessório, desmatamento, destruição vegetal e da natureza no Parque Estadual

6 6 do Jurupará são condutas de extrema gravidade e autorizam a medida liminar. Diante de tal situação, a concessão da liminar é de rigor. Não há se falar em posse velha ou nova, já que os ocupantes são meros detentores de área pública. Sabe-se que o meio ambiente equilibrado é elemento essencial à dignidade da pessoa humana integrante do rol dos direitos fundamentais, cujo artigo 225 da Constituição Federal o considera bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para presentes e futuras gerações. Diante do interesse de todos e mesmo das futuras gerações ao meio ambiente equilibrado, uma lide em que o objeto é invasão de terras públicas protegidas e reservadas para a preservação da sadia qualidade de vida, não se compatibiliza com a argumentação invocável para reintegrações de posse que envolvam terras de particulares. apreciou a matéria, nos seguintes termos: Ademais, este Egrégio Tribunal de Justiça já "AGRAVO DE INSTRUMENTO. Pedido de concessão da liminar para reintegração de posse. POSSIBILIDADE. Parque Estadual. Área pública, havendo mera detenção. Necessidade de adoção de medidas urgentes, para evitar maiores danos. Aplicação dos princípios da prevenção e da precaução. DADO PROVIMENTO AO AGRAVO (AI n.º Câmara Reservada ao Meio Ambiente - Rel. Des. Ruy Alberto Leme Cavalheiro j ).

7 7 "MEIO AMBIENTE REINTEGRAÇÃO DE POSSE - PERDAS E DANOS - PARQUE ESTADUAL DO JURUPARÁ - SUPRESSÃO DE TERRA NATIVA COM USO DE MACHADO E MÁQUINA DE ESTEIRA - Área que se mostra insuscetível de usucapião e posse por particulares, constituindo-se em parque estadual tombado. Retirada de cobertura vegetal constituída de Mata Atlântica através do uso de machados e máquinas, com alteração de relevo e topografia que determina não seja o agravado tido como morador tradicional porque utilizada técnica que não se coaduna com conceitos de baixo impacto a manejo técnico adequado de recursos naturais. RECURSO AO QUAL SE DÁ PROVIMENTO" (AI n.º Câmara Reservada ao Meio Ambiente - Rel. Des. Regina Capistrano - j v.u.). Desse modo, diante do preenchimento dos requisitos processuais, o deferimento da liminar é medida que se impõe. Isto posto, dá-se provimento ao recurso. VERA ANGRISANI Relatora