RELAÇÃO CAMBIAL C/C INEXIGIBILIDADE DE COBRANÇA. RECONVENÇÃO. ÔNUS DA PROVA DA EMPRESA RÉ ACERCA DA EXISTÊNCIA

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1 Apelação Cível nº , da Comarca de Paraíso do Norte, Vara Única. Apelante : Equagril S/A Equipamentos Agrícolas. Apelado : Rubens Antonio Primão. Relator : Desembargador Paulo Cezar Bellio. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO CAMBIAL C/C INEXIGIBILIDADE DE COBRANÇA. RECONVENÇÃO. ÔNUS DA PROVA DA EMPRESA RÉ ACERCA DA EXISTÊNCIA DA RELAÇÃO JURÍDICA. TEORIA DAS CARGAS PROBATÓRIAS DINÂMICAS. AUTORIZAÇÃO OU CONTRATAÇÃO POR PARTE DO AUTOR NÃO DEMONSTRADA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. MANUTENÇÃO. - Como a presente ação versa sobre a inexistência de relação jurídica a exigir do autor prova negativa, bem como em razão da apresentação de reconvenção pela ré, cabe a esta provar que a relação jurídica existiu. - Não tendo sido demonstrado pela empresa ré que o autor teria autorizado e contratado o serviço em questão, deve ser mantida a r. sentença que declarou a inexistência de relação creditícia entre as partes, a inexigibilidade da duplicata de fls. 44 e julgou improcedente o pedido deduzido na reconvenção. - O valor da verba honorária deve obedecer ao comando do 4º do artigo 20 do Código de Processo Civil, sem olvidar as circunstâncias das letras 'a', 'b' e 'c', do 3º do mesmo artigo, no que atende a sentença. Apelação Cível desprovida. Página 1 de 8

2 Autos nº Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº , da Comarca de Paraíso do Norte, Vara Única, onde figuram como Apelante Equagril S/A Equipamentos Agrícolas e Apelado Rubens Antonio Primão. 1. Trata-se de Ação Declaratória de Inexistência de Relação Cambial c/c Inexigibilidade de Cobrança ajuizada por Rubens Antonio Primão em face de Equagril S/A Equipamentos Agrícolas (autos nº 01/06), tendo sido manejada reconvenção por parte da ré visando a cobrança da dívida representada pela duplicata. Entregando o juízo a tutela jurisdicional objetivada (fls. 128/133), julgou procedentes os pedidos formulados pelo autor, com resolução de mérito para declarar a inexistência de relação jurídica creditícia entre as partes e consequentemente a inexigibilidade da duplicata de fls. 44. Consecutivamente, com lastro no mesmo dispositivo legal, julgou improcedente o pedido deduzido na reconvenção. Ato contínuo, confirmou a liminar antecipatória conferida às fls. 83/85. Ante a sucumbência, condenou o réu/reconvinte ao pagamento das custas e despesas processuais e aos honorários advocatícios ao patrono do autor, os quais fixou em R$ 1.200,00 (mil e duzentos reais), nos termos do artigo 20, 4º, do Código de Processo Civil, ponderados, em especial, o local da prestação dos serviços, a simplicidade da causa e o zelo do profissional. Por fim, determinou que fosse oficiado ao Cartório de Protestos para baixa definitiva do protesto efetivado, noticiando-lhe a decisão. Irresignado, o réu interpôs recurso de apelação pugnando pela reforma da r. decisão. Para tanto, o apelante Equadril S/A Equipamentos Agrícolas, às fls. 136/154, alegou em resumo: a) que o apelado é proprietário de um trator New Holland, modelo 7630, ano 2001, chassi nº , nº de série N43344, com 850 horas, bem como que os serviços objeto da presente demanda teriam sido realizados no referido implemento agrícola, o que por si só caracterizaria a sua autorização; b) que a única testemunha arrolada aos autos teria informado que o trator foi levado à Página 2 de 8

3 Autos nº empresa apelante pelo apelado para que fosse realizada a retifica do motor, o que atestaria a negociação existente entre as partes, bem como teria afirmado a referida testemunha que o apelado também pactuou os valores juntamente com seu pai, razão pela qual não poderia negar o apelado a contratação e realização dos serviços; c) que a testemunha afirmou ainda que o apelado comentou que o trator havia ficado melhor que antes; d) que a ordem de serviço juntada aos autos foi assinada pelo funcionário do autor de nome Waldey A. da Silva, tendo em vista que o depoimento testemunhal afirmou que a ordem de serviço foi assinada por um funcionário como era de costume, porque já conhecia os funcionários que trabalhavam para ele, o que caracterizaria a relação entre as partes ante a teoria da aparência; e) que não há contradição no depoimento da testemunha, por entender que ficou muito claro que os serviços foram autorizados pelo apelado; f) redução dos honorários advocatícios, por entender que mesmo na hipótese do 4º do art. 20 do CPC, devem ser observados os parâmetros legais previstos no respectivo 3º, além de que se fosse condenar a apelante ao máximo dos honorários 20% - esta condenação atingiria o quantum de R$ 700,00 e não R$ 1.200,00, a qual atingiu quase 35% do valor do título em questão. Por fim, requereu a reforma da sentença, entendendo ter sido comprovada a realização e autorização dos serviços pelo apelado, com julgamento de total improcedência dos pedidos dispostos na Ação Declaratória e procedência dos pedidos dispostos na reconvenção, com inversão dos ônus sucumbenciais. Alternativamente, requereu parcial provimento ao recurso para o fim de reduzir a verba honorária fixada. O apelado não apresentou contrarrazões (fls. 157 verso). Preparo regular. Da apelação. Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso de apelação. Em suas razões, o apelante alegou que o apelado é proprietário de um trator New Holland, modelo 7630, Página 3 de 8

4 Autos nº ano 2001, chassi nº , nº de série N43344, com 850 horas, bem como que os serviços objeto da presente demanda teriam sido realizados no referido implemento agrícola, o que por si só caracterizaria a sua autorização. Além disso, sustentou que a única testemunha arrolada aos autos teria informado que o trator foi levado à empresa apelante pelo apelado para que fosse realizada a retifica do motor, o que atestaria a negociação existente entre as partes, bem como teria afirmado a referida testemunha que o apelado também pactuou os valores juntamente com seu pai, razão pela qual não poderia negar o apelado a contratação e realização dos serviços, além de que a testemunha teria afirmado ainda que o apelado comentou que o trator havia ficado melhor que antes. Na sequência, aduziu o apelante que a ordem de serviço juntada aos autos foi assinada pelo funcionário do autor de nome Waldey A. da Silva, tendo em vista que o depoimento testemunhal afirmou que a ordem de serviço foi assinada por um funcionário como era de costume, porque já conhecia os funcionários que trabalhavam para ele, o que caracterizaria a relação entre as partes ante a teoria da aparência, bem como que não há contradição no depoimento da testemunha, por entender que ficou muito claro que os serviços foram autorizados pelo apelado. Entretanto, falta-lhe razão. Inicialmente, cumpre ressaltar que, em regra, incumbe ao autor a prova do fato constitutivo de seu direito, nos termos do art. 333, inciso I, do Código de Processo Civil. Nesse sentido, sendo a presente ação declaratória de inexistência de relação cambial c/c inexigibilidade de cobrança, recairia sobre o autor o ônus de provar a inexistência da relação jurídica, ou seja, prova negativa, situação revestida de extrema peculiaridade no campo probatório. Dessa forma, em razão das circunstâncias do caso, bem como diante da reconvenção apresentada pela ré, cabe a esta provar que a relação jurídica existiu. Acerca do tema da distribuição dinâmica do ônus da prova (teoria das cargas probatórias dinâmicas), é a lição de José Miguel Garcia Medina, em seu renomado Código de Processo Civil Comentado: com remissões e notas comparativas ao Página 4 de 8

5 Autos nº projeto do novo CPC São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001, p. 335: A sociedade e o direito material encontram-se em intensa transformação (cf. comentário ao art. 1º) razão pela qual a regra disposta no art. 333 não pode ser aplicada de modo inflexível, a qualquer hipótese. Excepciona-se esta regra e permite-se a distribuição dinâmica do ônus da prova quando, presentes certas circunstâncias, uma das partes estiver em melhores condições de produzir a prova que a outra. (...) Decidiu-se que, à luz da teoria da carga dinâmica da prova, não se concebe distribuir o ônus probatório de modo a retirar tal incumbência de quem poderia fazê-lo mais facilmente e atribuí-la a quem, por impossibilidade lógica e natural, não conseguiria (STJ, REsp /MG, 4ª T. j , rel. Min. Luis Felipe Salomão); semelhantemente: Nas hipóteses em que a prova do fato constitutivo do direito do autor está em poder do réu, deve ser invertido o ônus da prova (art. 333, I, CPC) (STJ, REsp /CE, 2ª T. j , rel. Min. Humberto Martins). Entretanto, a ré Equagril S/A Equipamentos Agrícolas não logrou demonstrar que o autor Rubens Antonio Primão autorizou e contratou a realização dos serviços. Aliás, conforme se verifica do Contrato Particular de Promessa de Compra e Venda de fls. 112/115, o trator agrícola que teria recebido a prestação dos serviços por parte da empresa ré teria como promissário comprador o Sr. Antonio Rubens Primão e não o apelado Rubens Antonio Primão. Cumpre ressaltar ainda que não consta na duplicata de fls. 44 qualquer aceite por parte do autor, nem mesmo qualquer assinatura sua na nota fiscal fatura de fls. 45 que demonstrasse o recebimento dos serviços. Ademais, apesar de a requerida ter afirmado que o Sr. Waldey A. da Silva quem assinou a ordem de serviço nº 851 de fls. 46 seria funcionário do autor, tal alegação não restou demonstrada, eis que não foi colhido o seu depoimento, nem Página 5 de 8

6 Autos nº mesmo produzida qualquer prova no sentido de comprovar a relação empregatícia. Acerca do depoimento da testemunha José Pereira funcionário da pessoa jurídica ré, vale destacar os seguintes trechos (fls. 105/106): que o valor do serviço foi combinado com o pai do autor e também com o autor; que a ordem de serviço foi autorizada pelo pai mas em nome do filho, o autor; (...) que o autor não reclamou da qualidade de serviço prestado pela ré e ainda comentou que o trator tinha ficado melhor do que antes; que não tinha certeza, porque já faz tempo, mas parece que um funcionário do autor e do pai dele foi quem tomou o trator após o término do serviço; que a ordem de serviço foi assinada por um funcionário como era de costume, porque já conheciam os funcionários que trabalhavam para ele. (...) que pelo que percebeu, o depoente acredita que o autor e o pai dele trabalhavam juntos. Reperguntas pelo Procurador do Autor: que indagado o depoente disse que não era de praxe que o pai do autorizasse ordem de serviço em nome deste, mas ao contrário normalmente autorizava as ordens de serviço em nome próprio; disse também o depoente que não sabe agiu desta forma naquela oportunidade o pai do autor. Dessa forma, conforme bem decidiu a magistrada a quo na r. sentença, a única testemunha arrolada pela ré, o Sr. José Pereira, o qual é funcionário da pessoa jurídica ré, não esclareceu suficientemente se o autor e seu pai mantinham negócios juntos e se o serviço foi contratado por um ou por outro, tendo em vista que num primeiro momento a testemunha afirmou que o preço dos serviços foi combinado com o pai do autor e com o próprio autor, mas depois afirmou que a ordem de serviço foi autorizada pelo pai, mas em nome do autor e ao final afirmou que não era de praxe que o pai do autor autorizasse ordem de serviço em nome deste, mas ao contrário, normalmente autorizava as ordens de serviço em nome próprio. Nesse sentido, não restou demonstrado que o autor teria autorizado e contratado o serviço, eis que o trator levado para conserto não seria de sua propriedade, mas do Sr. Página 6 de 8

7 Autos nº Antonio Rubens Primão (Contrato Particular de Promessa de Venda e Compra de fls. 112/115), a ré não logrou demonstrar que a pessoa que assinou a ordem de serviço nº 851 de fls. 46 Sr. Waldey A. da Silva seria funcionário do autor, nem mesmo o depoimento da testemunha José Pereira, que é funcionário da pessoa jurídica ré, foi suficiente para elucidar sobre a autorização do serviço por parte do autor, conforme mencionado anteriormente. Além disso, o apelante requereu a redução dos honorários advocatícios, por entender que mesmo na hipótese do 4º do art. 20 do CPC, devem ser observados os parâmetros legais previstos no respectivo 3º, além de que se fosse condenar a apelante ao máximo dos honorários 20% - esta condenação atingiria o quantum de R$ 700,00 e não R$ 1.200,00, a qual atingiu quase 35% do valor do título em questão. Mais uma vez sem razão. A MMª. Juíza a quo fixou os honorários advocatícios ao patrono do autor em R$ 1.200,00 (mil e duzentos reais), com fundamento no art. 20, 4º, do CPC (fls. 133). Destaca-se que a fixação dos honorários no caso deve atender a previsão do parágrafo 4ª, art. 20 do CPC, por não ter ocorrido condenação, sendo atendidas as normas das alíneas a, b e c do parágrafo 3º, quais sejam, o grau de zelo do profissional; o lugar da prestação de serviço e a natureza e importância da causa, o tempo de tramitação do processo, o trabalho realizado pelo patrono e o tempo despendido. Os honorários devem contemplar o trabalho do advogado em valor condizente com a dignidade da profissão, nem irrisório, porque a desmerece, e nem em demasia, porque injusto. Ademais, a verba honorária deve ser arbitrada de acordo com as circunstâncias e as peculiaridades de cada caso concreto. Dessa forma, considerando o trabalho realizado pelo patrono do autor na presente Ação Declaratória de inexistência de relação cambial c/c inexigibilidade de cobrança, bem como na defesa apresentada em face da reconvenção ajuizada pelo réu (fls. 51/56), a natureza e importância da causa, bem como o grau de zelo do profissional, o tempo de tramitação das demandas (29/12/2005 fls. 02), a expedição de carta precatória Página 7 de 8

8 Autos nº com oitiva de testemunha (fls. 95/106), os honorários advocatícios arbitrados na sentença merecem confirmação. Por tais motivos, voto no sentido de negar provimento ao recurso de apelação. Em face do exposto, ACORDAM os Desembargadores da Décima Sexta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento à apelação. O julgamento foi presidido pelo Senhor Desembargador Paulo Cezar Bellio, com voto, e dele participaram a Senhora Desembargadora Maria Mercis Gomes Aniceto e o Senhor Juiz Substituto em Segundo Grau Francisco Eduardo Gonzaga de Oliveira. Curitiba, 07 de agosto de Paulo Cezar Bellio, Relator. Página 8 de 8