POSSIBILIDADE DE ALTERAÇÃO DE PRENOME NÃO VEXATÓRIO
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- Laís Cunha Fidalgo
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1 POSSIBILIDADE DE ALTERAÇÃO DE PRENOME NÃO VEXATÓRIO Renata Gomes Nunes "Embora a regra geral da imutabilidade do prenome, autoriza-se a sua retificação quando, apesar de não ser vexatório o nome, cuja alteração se postula, vem ele causando, mesmo subjetivamente, transtornos e até distúrbios psicológicos em seu titular." A jurisprudência não é pacífica sobre o tema. O presente estudo visa demonstrar a controvérsia existente nos tribunais, tendo em vista que a regra geral é a imutabilidade do nome, salvo exceções legais, o que torna o assunto bastante divergente. Para tanto, faz-se necessário tecer algumas considerações iniciais. O nome civil é um atributo da personalidade. É um direito que visa proteger a própria identidade da pessoa (Venosa, 2002). O novo Código Civil, na parte que trata dos Direitos da Personalidade, consagrou em seu art. 16 o direito ao nome, "nele compreendidos o prenome e o sobrenome". Prenome, portanto, refere-se ao primeiro nome, que corresponde ao chamado "nome de batismo", podendo ser simples ou composto (Gagliano, 2006). Como leciona Nelson Rosenvald (2007), "o nome é o sinal exterior pelo qual são reconhecidas e designadas as pessoas, no seio familiar e social. Na imagem simbólica de Josserand, é a etiqueta colocada sobre cada um. Enfim, é elemento designativo da pessoa". Neste sentido, podemos constatar a importância do nome na Lei de Execução Penal (nº 7.210/84), por exemplo, quando estabelece que um dos direitos dos 1
2 condenados e dos presos provisórios é o chamamento nominal (art. 41, XI). Dentre tantas características relevantes, podemos afirmar que o direito ao nome civil é obrigatório (art. 50 da Lei nº 6.015/73) e, portanto, indisponível, imprescritível, inalienável, inexpropriável e irrenunciável. Apenas a título de ilustração, vale lembrar que o nome civil está compreendido entre um dos sinais não registráveis como marca (art. 124, XV, da Lei nº 9.279/96). Com efeito, por se tratar de matéria de ordem pública, a regra geral é da inalterabilidade do nome, porém, relativa (art. 58 da Lei de Registros Públicos), pois sua modificação só é admitida em situações excepcionais. Assim, a doutrina elenca alguns casos (Rosenvald, 2007): Quando expuser o titular ao ridículo ou à situação vexatória (LRP, art. 55, parágrafo único). Havendo erro gráfico evidente, caracterizado por equívocos de grafia. Para incluir apelido notório (art. 58 e parágrafo único, LRP). Pela adoção (ECA, art. 47, 5º, e CC, art ). Pelo uso prolongado e constante de nome diverso (RT 532:86). Quando ocorrer homonímia depreciativa, gerando embaraços profissionais ou sociais. Pela tradução, nos casos em que foi grafado em língua estrangeira. Não se pode olvidar de mencionar a possibilidade de alteração do nome completo, como medida de proteção, às vítimas e testemunhas de crimes que estejam coagidas ou expostas a grave ameaça por colaborarem em investigação ou processo criminal (art. 9º, 1º, da Lei nº 9.807/99). A digressão é oportuna para compreendermos a relativização da inalterabilidade do nome. Diante de tantas exceções, é certo considerar 2
3 que há uma mitigação do Princípio da Imutabilidade do Nome. Essa relativização encontra-se atualmente respaldada pela tão pouco observada Lei nº 9.708/98, que alterou o art. 58 da Lei de Registros Públicos, para possibilitar a substituição do prenome por apelidos públicos notórios. Destarte, convém frisar que referida lei abrange também os casos de nomes comuns, não vexatórios, de modo que sua aplicação é ampla. Desta forma, a possibilidade de alterar nome não vexatório se coaduna perfeitamente com o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, consagrado na Constituição Federal de Os tribunais têm entendido que o prenome é imutável, salvo em casos excepcionais e desde que presente justa motivação. Toda a celeuma gira em torno do que vem a ser "justa motivação". Não se pode negar que a análise é bastante subjetiva por parte do julgador. Portanto, a Lei nº 9.708/98 deve ser, por obviedade, aplicada com acuidade, para que não se favoreçam as fraudes. Como bem afirma Pablo Stolze Gagliano (2006), não é qualquer melindre ou capricho pessoal que autoriza a modificação desse sinal tão importante do ser humano. vanguarda. Felizmente, o bom senso tem sido o norte de algumas decisões de Um caso que merece destaque é o de uma mulher que pleiteou a substituição de seu nome "Raimunda" por "Isabela". Somente perante o Superior Tribunal de Justiça tal situação foi revertida (REsp nº RJ/2003/ ). O juiz de primeiro grau julgou o pedido improcedente. De igual forma, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro improveu o recurso, cujo acórdão recebeu a seguinte ementa: 3
4 DIREITO CIVIL LEI DE REGISTROS PÚBLICOS ALTERAÇÃO DE PRENOME REGRA DA IMUTABILIDADE. A regra é da imutabilidade do prenome, cuja finalidade é a preservação da identificação civil da pessoa. Hipótese não enquadrada em qualquer exceção expressamente prevista na lei. Recurso não provido. Contudo, a recorrente conseguiu sensibilizar todos os Ministros da Terceira Turma. A eminente Ministra Nancy Andrighi, ao prover o recurso especial, considerou o fato de que a recorrente era alvo de constantes deboches e humilhações, em razão do prenome "Raimunda", além de ser ela conhecida no seio familiar, social e profissional como "Isabela", conforme provado nos autos por meio de testemunhas, pois havia decidido adotar tal apelido em virtude dos constrangimentos sofridos. Em seu brilhante voto, a nobre Ministra ainda considerou que a alteração do nome contribuiria positivamente no ajuste social e afetivo da pessoa. Mencionou caso análogo, enfrentado pelo STJ no REsp nº (Rel. Min. Ari Pargendler, DJ ), em que se permitiu a supressão do prenome "Francisca" do nome da requerente, por ser ela conhecida como "Fátima". Confira-se o teor da ementa do REsp nº supracitado: CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. ALTERAÇÃO DO PRENOME. PRESENÇA DE MOTIVOS BASTANTES. POSSIBILIDADE. PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO. Admite-se a alteração do nome civil após o decurso do prazo de um ano da maioridade civil, somente por exceção e motivadamente, nos termos do art. 57, caput, da Lei nº 6.015/73. Recurso Especial conhecido e provido. Nesse desiderato, é legalmente admissível alterar o nome de "Sebastiana" para "Tiana", por exemplo, de "Maria Juliana" para simplesmente "Juliana", ou até mesmo de "Rosemar" para "Rose", desde que haja motivo justo, além de comprovar-se a notoriedade do apelido pelo qual a pessoa se identifica e é conhecida socialmente, ainda que não se trate de nome vexatório. 4
5 Em todo caso, é de bom alvitre corroborar a boa-fé, mediante a juntada de certidões negativas, criminal e cível, demonstrando, assim, ao magistrado inexistir qualquer intenção de fraude. A lição do Professor Paulo Lúcio Nogueira é bastante salutar: A fundamentação de que o julgador não deve se entregar ao seu conceito pessoal, mas sim ao exame das razões íntimas e psicológicas do portador do nome, que pode levar uma vida atormentada, abre realmente perspectivas para uma corrente liberal na alteração de prenomes, apesar da regra de sua imutabilidade. Sobre o tema, trago à colação os seguintes julgados: ALTERAÇÃO DE NOME. IMUTABILIDADE RELATIVA. PRENOME QUE VEM CAUSANDO TRANSTORNOS E ATÉ DISTÚRBIOS PSICOLÓGICOS EM SEU TITULAR. DEFERIMENTO DO PEDIDO. Embora a regra geral da imutabilidade do prenome, autoriza-se a sua retificação quando, apesar de não ser vexatório o nome, cuja alteração se postula, vem ele causando, mesmo subjetivamente, transtornos e até distúrbios psicológicos em seu titular (TJMG, Rel. Des. Belizário de Lacerda, Processo nº /001(1), publicação em ). A regra da imutabilidade do prenome tem por escopo garantir a permanência daquele com que a pessoa se tornou conhecida no meio social. Se o prenome lançado no registro, por razões respeitáveis e não por mero capricho, jamais representou a individualidade de seu portador, a retificação é de ser admitida, sobrepujando às realidades da vida o simples apego às exigências formais (TJSP, 5ª CC, in ADCOAS ). Prenome imutável é aquele que foi posto em uso, embora não conste do registro; e não o constante do registro e nunca usado. O que 5
6 a lei quer, ou melhor, não quer, é que haja alteração do prenome no meio social e não no livro de registro (RT 185/424). Como bem salientou o nobre Desembargador Wander Marotta, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em seu voto cuja ementa é citada acima, "o excessivo apego à lei pode levar, neste caso, a uma injustiça, ou à aplicação exacerbada do conceito corrente de justo, que nem sempre coincide com a regra jurídica. (...) sentir e compreender também é fazer hermenêutica. Talvez seja a melhor forma de interpretar ". (Processo nº /001). BIBLIOGRAFIA Gagliano, Pablo Stolze; Pamplona Filho, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. Parte Geral, v. 1, 8. ed., São Paulo: Saraiva, Nogueira, Paulo Lúcio. Questões Cíveis Controvertidas, 3. ed., Sugestões Literárias, p. 87. Rosenvald, Nelson; Farias, Cristiano Chaves. Direito Civil. Teoria Geral, 6. ed., Lumen Juris, Rio de Janeiro: Venosa, Sílvio de Salvo. Direito Civil. Parte Geral, v. 1, 2. ed., São Paulo: Atlas,
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