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- Ayrton Silveira de Vieira
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1 A RELAÇÃO ENTRE O CONSELHO MUNICIPAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E A IMPLEMENTAÇÃO DE AÇÕES DA POLÍTICA DE ATENDIMENTO: ESTUDO SOBRE O SISTEMA DE DELIBERAÇÃO DOS DIREITOS EM UM MUNICÍPIO 1 AMÁLIA MADUREIRA PASCHOAL PALAVRAS-CHAVE: Conselhos Direitos da Criança Política Social - INTRODUÇÃO A existência das políticas de atendimento na prática social dos municípios estabelece-se nas leis que direcionam as relações sociais e são determinadas pela lei maior a Constituição e pelas leis regulamentares direcionadas aos segmentos sociais como a assistência social, a saúde, o idoso, a criança e o adolescente 2, e outros. O entendimento predominante no país, com base no conservadorismo e na manutenção dos privilégios de uma minoria, é o de que as políticas sociais servem para corrigir desigualdades a partir de concessões do Estado que visam manter o equilíbrio na sociedade. Sob a denominação genérica de políticas sociais o que se tem, portanto, são ações que, obedecendo um ideário tradicional-positivista, reduzem o atendimento a um caráter compensatório, orientado pela ética liberal-burguesa. O objeto da investigação, apresentada neste trabalho é a relação entre o Conselho municipal dos direitos da criança e do adolescente e a implementação de ações da política de atendimento um estudo sobre o sistema de deliberação dos direitos em um município. OBJETIVO: Analisar as ações de um Conselho Municipal por um largo período e detectar como se estabelecem as relações Estado e Sociedade Civíl na direção do alcance dos direitos dos usuários. 1 Este documento resume pesquisa que foi realizada pela autora de 2002 a Respectivamente a LOAS Lei Orgânica da Assistência Social, LOS Lei Orgânica da Saúde, Estatuto do Idoso, Estatuto da Criança e do Adolescente.
2 O referencial teórico da pesquisa procurou respostas ao tema via as categorias - Conselho gestor e Interação Estado e Sociedade Civil. METODOLOGIA - análise documental das atas e resoluções das reuniões das gestões de 1995 a 2002 e os relatórios da 1ª Conferência Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente em RESULTADOS A relação entre o conselho e os direitos da criança e do adolescente no município estudado partiu de: a) a real execução da prática com os conselhos não se aproxima do sentido de democracia que gerou a sua existência na carta constitucional brasileira e no Estatuto da Criança e do Adolescente; b) as idéias dominantes de uma época são as idéias da classe dominante dessa época 3 o que determina, como resultados que: Tanto por parte dos representantes governamentais como não governamentais expressam um caráter de anulação e ocultamento da realidade das contradições das classes sociais. Há uma redução permanente de recursos financeiros o que faz com que as ações sejam restritas ao montante disponível e não ao atendimento efetivo das necessidades sociais evidentes no dia a dia do município. Interpreta-se que: a questão do financiamento das políticas sociais mantém a participação da sociedade civil atrelada à dominação do Estado. o recurso do Fundo é distribuído para entidades e programas em momentos mais ou menos fixos no ano, destinando-se apenas à manutenção destas entidades e programas, 3 CHAUI, M. Cultura & Democracia: o discurso competente e outras falas. São Paulo, Cortez Editora, 1989, p.27.
3 sem relação a um objetivo específico. Os valores são praticamente iguais para cada tipo de entidades sem uma análise mais aprofundada do resultado esperado. as práticas e os recursos, não levam em conta a totalidade da questão da criança e do adolescente; as pessoas são atendidas com base em uma ética liberal-burguesa, que justifica o atendimento aos pobres sob uma forma caritativa; Resulta: a subordinação generalizada das políticas sociais no país aos mandos do capitalismo mundial; nem de longe a atuação se direciona à totalidade das questões que permitam o desenvolvimento pleno da cidadania dos usuários. há clara obediência à contradição entre classes sociais;qualquer um dos direitos da criança e do adolescente, desde Educação, Saúde, Moradia, até o mais simples, são ofertados em condições bastante inferiores do que aos demais jovens e crianças; entendimento leva à percepção da assistência social como coisa das mulheres que têm coração e não do governo que tem razão. (CARVALHO, 1992) os conselhos e em particular o que se estudou, colocam em prática, apenas parcialmente, uma política de atendimento à criança e ao adolescente no município, restrita a populações que necessitam de assistência social, uma política compensatória. Porém, não é apenas o caráter imediato e abstrato da experiência que a leva a fortalecer a ideologia dominante. Há um outro componente, certamente mais importante, que se exprime na experiência imediata, mas que não vem dela, e que outorga força à ideologia. A ideologia responde a uma exigência metafísica dos sujeitos sociais e políticos que vivem em sociedades fundadas nas lutas de classes e na divisão entre a sociedade e o poder do Estado. Com efeito, a ideologia realiza uma operação bastante precisa: ela oferece à
4 sociedade fundada na divisão e na contradição interna uma imagem capaz de anular a existência efetiva da luta, da divisão e da contradição: constrói uma imagem da sociedade como idêntica, homogênea e harmoniosa. Fornece aos sujeitos uma resposta ao desejo metafísico de identidade e ao temor metafísico da desagregação. 4 O significado irrefutável das palavras de CHAUI permitem estas inferências finais da pesquisa, a de que a motivação humanista, humanitária melhor dizendo, ocultadora das diferenças, pauta a visão sobre conselho gestor e, portanto, sobre o modo de gerir e de garantir recursos financeiros para sua efetivação. Esta singularidade estudada não difere das demais singularidades de outros conselhos existentes no país. Ou seja, não está na pauta das deliberações a correção das injustiças sociais provocadas pela relação contraditória de classes sociais. O que perdura no modo de propor, de deliberar sobre políticas e sobre recursos, e até sobre o mais simples detalhe do conteúdo programático das ações dos programas oficiais e das entidades sociais é um imaginário e uma lógica de identificação social, montados através da ideologia, visando claramente escamotear o conflito. Consequentemente, o eixo Interação Estado e Sociedade Civil se explicita nos argumentos já apresentados; a título complementar acresce-se que os temas concepção de totalidade e participação democrática se expressam, através dos dados da pesquisa, dentro do caráter de exclusão e de discriminação, bastante discutidos, mostrando que a racionalidade econômica do capitalismo e da luta de classes estão em permanente fundamentação no planejamento e na burocracia estatal, empresarial e, é claro, nas instituições sociais diversas. É uma racionalidade organizada, vista como natural nas relações humanas e sociais, cada coisa possuindo um sentido próprio, um lugar certo e adequado, cada um cumprindo o seu papel e sua finalidade. CONCLUSÃO - CAMINHAR É PRECISO... 4 CHAUI,M.S. Cultura e Democracia, São Paulo, Cortez Editora, 1989, p. 27.
5 Assim, tal como em milhares de municípios, a cidade é vista, no imaginário coletivo, e nos dos dirigentes em especial, como um espaço organizado, com instituições mantenedoras da ordem, do progresso. É, portanto, um lugar que funciona bem, escamoteando, assim, as distinções que a sociedade estabeleceu, sem esforço algum para que a realidade ela mesma e não sua representação seja objeto de conhecimento. Diante das questões que nortearam a pesquisa, nota-se a impossibilidade concreta que têm os conselhos de dar conta da efetiva paridade entre Estado e sociedade civil enquanto a forma de exercer a democracia participativa for camuflada pelas manipulações do Estado na seleção dos representantes da sociedade civil e, também, pela própria detenção de poder sobre os recursos. É necessário considerar, dentro desta questão da relação Estado e sociedade civil, que, como diz Boron, 5 a intervenção e o aprofundamento das ações do Estado nas sociedades dependentes, estão determinadas pela finalidade principal de empregando os mecanismos tão familiares ao neoliberalismo - controlar o orçamento público em detrimento das ações políticas em função dos cidadãos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BORON, A.A. Estado, Capitalismo e Democracia na América Latina. Rio de Janeiro, Paz e Terra, CAMPOS, E.B.; MACIEL, C.A.B. Conselhos paritários: o enigma da participação e da construção democrática. In: Serviço Social & Sociedade. Nº 55, ano XVIII, nov./97. São Paulo, Cortez, 1997, p CARVALHO,M.B.B. Repensando a Criança e o Adolescente como valor de Troca: A política de Assistência Social e o Estatuto da Criança e do Adolescente. In: Revista 5 BORON, A.A.Estado, Capitalismo e Democracia na América Latina. Rio de Janeiro, Paz e Terra, p. 178.
6 Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano. Co-edição CDH/CBIA. São Paulo, Ano II-nº 1-jan. a jun./1992, p CHAUÍ, M. Cultura e Democracia:: o discurso competente e outras falas. São Paulo, Cortez Editora, GOHN, M. G. Conselhos populares e participação popular. Serviço Social & Sociedade, V. IX, n. 26, p , São Paulo, Cortez Editora, IANNI, O. Teorias de estratificação social. Leituras de Sociologia, São Paulo, Companhia Editora Nacional, PASTORINI, A. Quem mexe os fios das políticas sociais? Avanços e limites da categoria concessão-conquista. In: Serviço Social & Sociedade, São Paulo, Cortez Editora, n. 53, p SPOSATI, A. O. A participação e o pôr-se em movimento. Serviço Social & Sociedade, V. III n. 9, p , São Paulo, Cortez Editora, 1982.
Amália Madureira Paschoal INTRODUÇÃO
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