INFORMA CONCORRENCIAL
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- Silvana Lencastre Valente
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1 INFORMA CONCORRENCIAL CADE realiza Sessão Extraordinária para tratar da crise de abastecimento no setor de combustíveis Em meio à crise de abastecimento gerada pela paralisação dos caminhoneiros em todo o Brasil, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) convocou Sessão Plenária Extraordinária para discutir possíveis ações a respeito do tema. A sessão, que ocorreu em 29 de maio, discutiu três tópicos principais: (i) o estudo elaborado pelo Departamento de Estudos Econômicos do CADE (DEE), com o auxílio da Superintendência Geral do CADE, que propõe medidas que aumentariam a concorrência no setor de combustíveis; (ii) a instauração de investigações para apurar supostas condutas relacionadas à paralisação dos serviços de transportes em todo o país, e (iii) petição apresentada por Petrobras, Ipiranga e Raízen a respeito do Protocolo de Crise de Abastecimento assinado entre estas distribuidoras. maio de 2018 Para mais informações: Joyce Honda joyce.honda@cesconbarrieu.com.br Ricardo Gaillard ricardo.gaillard@cesconbarrieu.com.br I. Estudo sobre o setor de combustíveis Nesta sessão o CADE apresentou o estudo denominado Repensando o setor de combustíveis: medidas pró-concorrência, que reúne um conjunto de medidas apontadas pela autoridade antitruste como aptas a aumentar a concorrência no setor e, por consequência, provocar a redução dos preços ao consumidor final. Ao apresentar o estudo, o CADE ressaltou que, apesar do mercado de combustíveis enfrentar diversos problemas com a prática de condutas anticompetitivas, algumas mudanças no desenho institucional do setor seriam de grande contribuição para aumentar a rivalidade e garantir, direta e indiretamente, a defesa da concorrência. 1
2 O documento ressaltou que, de acordo com a Petrobras, o preço final da gasolina vendida ao consumidor seria composto por: 13% correspondente ao setor de revenda e distribuição de combustíveis líquidos; 45% correspondente a tributos; 11% correspondente ao custo do etanol; e 31% destinado à Petrobras. O estudo, em seu mérito, extrapola as questões concorrenciais. Entretanto, trata-se de expressão da função institucional do CADE como difusor da política de defesa da concorrência. Nessa perspectiva, o documento reúne nove propostas para o aumento da concorrência no setor, divididas em três grandes temas que envolvem (i) questões regulatórias; (ii) questões tributárias; e (iii) outras questões institucionais de caráter geral. Questões Regulatórias 1. Venda direta de álcool pelos produtores aos postos O CADE entende que as restrições regulatórias relacionadas ao impedimento da venda de etanol pelos produtores diretamente aos postos revendedores produzem ineficiências econômicas e prejudicam a concorrência do setor. Permitir esse tipo de relação comercial viabilizaria fluxos logísticos mais racionais, com impacto na redução de custos de transporte, e consequentemente no preço final do combustível ao consumidor. Um dos argumentos contrários à medida é relacionado à possibilidade de eventual aumento de incentivo de sonegação fiscal caso essa relação direta seja estabelecida. 2. Verticalização do setor de varejo de combustíveis De acordo com o CADE, a atual proibição da verticalização entre distribuidoras e postos revendedores de combustíveis provoca o aumento dos custos e dos preços da venda de gasolina. A permissão da verticalização eventualmente tenderia a eliminar o fenômeno da dupla margem de lucro, diminuir custos e acirrar a rivalidade intermarcas. 3. Permissão da importação de combustíveis pelas distribuidoras A autoridade destaca que ampliar a permissão de importação de combustíveis para os distribuidores (além dos produtores, importadores e consumidores finais já autorizados) serviria de estímulo à desconcentração do mercado de distribuição e a redução dos preços ao consumidor final, decorrentes da redução dos custos de transação e das margens de remuneração do intermediário (importador). 4. Transparência de informações sobre os revendedores O fornecimento de informações aos consumidores sobre o nome do revendedor, quantos postos ele possui e a quais bandeiras está associado contribui para deixar claro aos consumidores quais postos efetivamente concorrem entre si, visto que hoje pode haver um mesmo agente econômico vinculado a diferentes bandeiras de distribuidoras de combustíveis simultaneamente. Tal medida de transparência contribuiria para a realização de uma escolha mercadológica consciente por parte do consumidor final. 5. Acesso a informações sobre a comercialização de combustíveis Como medida que visa ao aprimoramento da detecção de indícios econômicos de condutas anticompetitivas, defende-se o aprimoramento da disponibilidade de informações relacionadas à comercialização de combustíveis, como preços e volumes, à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP) e ao CADE. Um dos mecanismos hábeis para tanto seria a revisão do art. 198 do Código Tributário Nacional para permitir que o CADE tenha acesso a dados fiscais do mercado de maneira mais ampla. 2
3 Questões Tributárias 6. Substituição tributária do ICMS O documento traz sugestão de extinção da substituição tributária do ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) no setor de combustíveis. Como contraponto ao argumento de que a substituição tributária, nos moldes em que se dá hoje, diminui o risco de sonegação fiscal, o CADE destaca a viabilidade da implementação de medidas que resguardem o interesse arrecadatório e ao mesmo tempo não gerem a ineficiência e o sobrepreço gerados pelo sistema de substituição tributária. 7. Tributação do combustível Segundo o CADE, a atual forma de cobrança do imposto sobre combustível, por meio de um valor fixo por litro (ad rem) provoca distorções relacionadas ao pagamento proporcional de mais impostos por aquele revendedor que vende o combustível a um preço mais baixo, incentivando-se, portanto, a alta dos preços. Nesse sentido, a cobrança de valores percentuais (ad valorem) sobre a receita obtida com a venda é apresentada pelo estudo como uma solução eficaz para o problema. Demais Aspectos Institucionais 8. Postos autosserviços A medida mostra-se como uma alternativa para viabilizar a redução de custos com encargos trabalhistas, refletindo na redução do preço final ao consumidor. Além disso, proporciona maior poder de escolha ao consumidor em optar entre postos autosserviços e postos com serviços de frentistas. 9. Uso concorrencial do espaço urbano Proposta de redesenho das restrições do uso do espaço urbano, envolvendo por exemplo a proibição de instalação de postos de gasolina em hipermercados, com o fim de viabilizar o aumento da rivalidade entre os agentes econômicos e a diminuição dos preços finais. O estudo Repensando o setor de combustíveis: medidas pró-concorrência está disponível no site do CADE para consulta (clique aqui). II. Investigações relacionadas à paralisação de caminhoneiros Na Sessão Extraordinária, o Presidente do CADE também mencionou que o órgão instaurou procedimento preparatório em relação a paralisação dos serviços de transportes em todo o país. O CADE pretende investigar infrações à ordem econômica realizadas por meio da prática de locaute (caracterizada quando empresários de um setor contribuem, incentivam ou orientam a paralisação de seus empregados), conduta concertada e recusa na venda de bens ou prestação de serviços. Dentre as partes a serem investigadas estão: (i) Associação Brasileira dos Caminhoneiros (ABCAM) e respectivo presidente; (ii) Associação Nacional dos Transportadores de Cargas (ANTC); (iii) Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) e respectivo presidente; (iv) Confederação Nacional do Transporte (CNT); (v) Federação das Empresas de Transporte de Carga do Estado de São Paulo (Fetcesp); (vi) Federação dos Caminhoneiros Autônomos de Cargas em Geral do Estado de São Paulo (FETRABENS); (vii) União Nacional dos Caminhoneiros (UNICAM); (viii) Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do Distrito Federal (SINDICAM-DF) e respectivo presidente; (ix) Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga de Goiás (Sinditac - GO) e respectivo presidente; (x) Sindicato Nacional dos Cegonheiros (SINACEG) e respectivo presidente; (xi) Federação Interestadual dos Transportes Rodoviários Autônomos de Cargas de Bens da Região Nordeste (FECONE); (xii) Federação dos Transportadores Autônomos de Cargas do Estado de Minas Gerais (FETRAMIG); (xiii) Federação dos Transportadores Autônomos de Carga do Espírito Santo (FETAC-ES); (xiv) Sindicato das Empresas de Transportes de Carga e Logística no Estado do Rio Grande do Sul SETCERGS. 3
4 Outro aspecto citado pelo Presidente, ao qual a autoridade estará atenta, é se há indícios de cartel no aumento de preço dos combustíveis, que ocorreu logo depois do início da greve dos caminhoneiros. Por fim, o Presidente mencionou que a Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis) expediu, a todos os sindicatos do país, a pedido da Presidência da República, comunicado instando toda a categoria a se portar com responsabilidade e aconselhando o fim das paralizações. A Federação informou também que repudia a atitude de pessoas isoladas que geram o aumento abusivo dos preços de combustíveis no mercado. O Presidente afirmou que o CADE viu com bons olhos a preocupação da Fecombustíveis. III. Protocolo de crise de abastecimento Foi homologado pelo Plenário do CADE despacho que autoriza a celebração do chamado Protocolo de Crise de Abastecimento apresentado pelas empresas Raízen Combustíveis, Petrobras Distribuidora e Ipiranga Produtos de Petróleo. O documento foi apresentado ao CADE em 28 de maio e propõe cooperação logística mútua entre as distribuidoras para otimizar o armazenamento, transporte e distribuição de combustíveis. O objetivo é regularizar o abastecimento, do modo mais rápido possível, após o término das manifestações realizadas pelos caminhoneiros. O protocolo apresentado prevê que as distribuidoras poderão adotar, entre outras, as seguintes medidas: a. Criar centros integrados de operação logística, de acordo com a localização de suas bases de distribuição e de sua frota, o estoque de produtos combustíveis, os centros consumidores, a demanda de autoridades, de prestadores de serviços públicos e coletivos e da sociedade em geral; b. Ordenar a prioridade de abastecimento em relação a serviços públicos essenciais ao bemestar social, à saúde e à segurança da população; c. Quando do atendimento da sociedade em geral, prezar pela isonomia, não configurando em nenhuma hipótese discriminação de adquirentes; d. Dividir em partes iguais os custos variáveis e extraordinários necessários à implementação do protocolo. As medidas terão duração máxima de 15 dias e poderão ser cessadas quando o abastecimento de combustíveis for normalizado. Durante a cooperação, as empresas deverão continuar atuando de forma independente, não sendo permitido o compartilhamento de informações sensíveis, somente operacionais. Além disso, as distribuidoras apresentarão ao CADE todos os documentos utilizados para a fundamentação e adoção das medidas, de forma a permitir a fiscalização do órgão durante o período. Não houve submissão do Protocolo na forma de um ato de concentração nos termos da Lei de Defesa da Concorrência por não se enquadrar nas hipóteses de notificação obrigatória. A apresentação do Protocolo pelas empresas teria por intuito demonstrar ao CADE que não há qualquer objetivo anticompetitivo entre as empresas, mas sim uma medida excepcional e emergencial visando a melhoria do bem-estar social em momento de crise. O CADE considerou a petição como demonstração de boa-fé das empresas, e considerou que, a princípio, não haveria qualquer ilícito concorrencial no projeto proposto, desde que este seja cumprido nos termos do Protocolo apresentado. 4
5 O Conselheiro Maurício Bandeira Maia citou que já houve críticas por parte do próprio CADE a respeito do compartilhamento de bases pelas distribuidoras, muito embora tal medida seja permitida pela regulação do setor. O Conselheiro mencionou ainda que embora este ato aumente ainda mais o compartilhamento das bases, a medida é necessária devido à situação excepcional em que o país se encontra. O Presidente do Tribunal, Alexandre Barreto, destacou que a autorização do CADE não constitui imunidade antitruste, e que eventuais irregularidades, como a troca de informações concorrencialmente sensíveis, devem ser investigadas pelo CADE. As partes deverão apresentar informações solicitadas pelo CADE e relatório ao final da vigência do Protocolo. Este boletim apresenta um resumo de alterações legislativas ou decisões judiciais e administrativas no Brasil. Destina-se aos clientes e integrantes do Cescon, Barrieu, Flesch & Barreto Advogados. Este boletim não tem por objetivo prover aconselhamento legal sobre as matérias aqui tratadas e não deve ser interpretado como tal. 5
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