OFICINAS ECO-GASTRONÔMICAS SABOR DE SOBRA: O APROVEITAMENTO INTEGRAL DE ALIMENTOS COMO PRÁTICA EXTENSIONISTA 1
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- Marisa de Figueiredo Domingos
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1 OFICINAS ECO-GASTRONÔMICAS SABOR DE SOBRA: O APROVEITAMENTO INTEGRAL DE ALIMENTOS COMO PRÁTICA EXTENSIONISTA 1 Yoná da Silva Dalonso 2 ; Mariana Falcão Duprat 3 ; Elaine Cristina Borges Scalabrini 4 RESUMO: O presente trabalho aborda as ações desenvolvidas pelo Projeto de Extensão Universitária Oficinas Eco-gastronômicas Sabor de Sobra, da Universidade da Região de Joinville UNIVILLE. O projeto se caracteriza na realização de oficinas gastronômicas gratuitas e abertas à comunidade, elaborando pratos a base dos excedentes gerados nos Laboratórios do Centro de Gastronomia da UNIVILLE, que em geral seriam descartados. Propõe-se, sobretudo, sensibilizar os participantes à diminuição de resíduos sólidos, através do aproveitamento integral dos alimentos, bem como estimular o interesse para a adoção de práticas alimentares alternativas e criativas a partir do consumo consciente. PALAVRAS-CHAVE: alimentos, consumo alimentar, desperdício, consumo consciente, extensão universitária. INTRODUÇÃO A estruturação e funcionamento da sociedade atual têm determinado um ritmo acelerado e uma cultura consumista ao nosso cotidiano, implicando na deterioração da qualidade da alimentação, da saúde, das relações familiares e 1 Projeto de Extensão Universitária, criado no ano de 2009 com aporte financeiro da Universidade. 2 Bacharel em Turismo e Hotelaria (UNIVALI), mestre em turismo (USP), doutoranda em Geografia (UMinho Portugal) é professora da Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE) e coordenadora do Projeto de Extensão A Boa Mesa. 3 Eng. de Alimentos (IMT), Pós-graduada em Gestão de Negócios de Alimentação (SENAC/SP), é Chefe do Departamento do Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia e integrante do Projeto. 4 Bacharel em Turismo e Hotelaria (UNIVALI), mestre em Desenvolvimento Regional (FURB), doutoranda em Geografia (UMinho Portugal) é professora da Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE) e integrante do Projeto.
2 das tradições culturais das populações em geral. Segundo a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (2008), a cada ano, o Brasil joga fora R$ 12 bilhões de reais com o desperdício de alimentos. Com isso, oito milhões de famílias ou 30 milhões de pessoas poderiam ser alimentadas com cestas básicas no valor de um salário mínimo (ibidem). Segundo estimativa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EMBRAPA apud PETRY (2008), uma família de classe média joga fora, em média, 182,5 quilos de comida por ano, o suficiente para alimentar uma criança por seis meses, ocorrendo, com isso, um desastre silencioso: o desperdício. SHEERAN apud PETRY (2008), que comanda o programa mundial de alimentação da ONU diz: Talvez metade da fome global seja problema de infraestrutura e distribuição. Recentemente, o pesquisador ganhou as manchetes globais ao dizer, diante do parlamento inglês, que a crise atual é um tsunami silencioso. Uma forma de combatê-lo é melhorar a distribuição. A produção mundial é suficiente para alimentar todos, entretanto não chega a todos. (ibidem). Para atenuar o problema da sobra de comida de um lado e da falta dela do outro foram criadas estruturas de redistribuição e combate ao desperdício. Há bancos de alimentos vinculados a governos municipais e entidades da sociedade civil, totalizando um número aproximado de 200 instituições do tipo no país (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). Um exemplo é o projeto Mesa Brasil, coordenado pelo SESC, que em 2014 arrecadou em todo Brasil 41 milhões de toneladas de alimentos, que beneficiaram 1,8 milhão de pessoas e 6,7 mil entidades. No Brasil, o programa atingiu 96% de sua meta, que era de 42 mil toneladas de alimentos. (SESC, 2014). Tais dados estatísticos incentivaram a criação e implantação de um projeto de extensão universitária, cujo desafio foi de propor a adoção de métodos e estratégias aplicadas à cozinha pedagógica do Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia da Universidade da Região de Joinville - UNIVILLE (Brasil), no que diz respeito a utilização dos excedentes gerados nas aulas práticas de cozinha, panificação e confeitaria do Curso.
3 O presente projeto de extensão se constitui numa intervenção educativa sugerida por acadêmicos de Gastronomia da UNIVILLE, para uma melhor consciência alimentar e nutricional, através do máximo aproveitamento dos nutrientes contidos nos alimentos descartados e ou desperdiçados nas várias disciplinas do Curso. O projeto visa, sobretudo, contribuir para a sensibilização dos participantes frente à diminuição de resíduos sólidos, ampliarem a percepção de que saúde pessoal se relaciona com alimentação e meio ambiente, e estimula o interesse para a adoção de práticas alimentares alternativas e criativas, fundamentada no preparo de cardápios inovadores e consumo consciente. OBJETIVOS Objetivo Geral Aplicar técnicas, desenvolver e executar diversos preparos gastronômicos, com vistas ao consumo consciente e ao aproveitamento integral dos alimentos, como alternativa viável para o combate ao desperdício de insumos dos Laboratórios do Centro de Gastronomia da UNIVILLE. Objetivos Específicos Estabelecer junto à Coordenação do Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia os insumos a serem utilizados nas disciplinas em laboratório, estimando a quantidade de alimentos excedentes após as aulas práticas semanalmente; Desenvolver receitas e cardápios que assegurem o máximo aproveitamento dos alimentos;
4 Organizar a atividade semanal da oficina nas dependências do Centro de Gastronomia da UNIVILLE e em espaços de entidades parceiras, dirigido a toda a comunidade interessada; Realizar as oficinas gratuitas, conforme calendário estabelecido; Aplicar avaliações ao término de cada oficina, buscando o aprimoramento constante do projeto. MÉTODO O Projeto se caracteriza na realização de oficinas gastronômicas ao longo do ano, realizadas semanalmente, com capacidade de receber até 20 participantes. As oficinas ocorrem às sextas-feiras, em período vespertino, ao qual se utilizam talos, folhas, cascas, bem como demais insumos que não teriam uso em aulas da semana seguinte (excedentes) para a elaboração dos cardápio, tornando, assim estes pratos originais, atraentes e saborosos. Cada oficina conta com o apoio de material didático elaborado especialmente para conter aspectos relacionados às fichas técnicas das receitas desenvolvidas durante os encontros com o público, material este produzido no dia anterior à oficina. Os encontros têm a duração de 4 horas, onde após breve apresentação do projeto e de seus responsáveis, os participantes são orientados quanto às regras sanitárias necessárias para manipulação de alimentos, cuidados com higiene pessoal e coletiva, usam de equipamentos e utensílios em geral. Ao final da oficina, os participantes degustam as preparações produzidas, realizando trocas de experiências e percepções entre si, para conferir o sabor e sua aceitação. Ainda são feitos registros de opiniões e sugestões dos participantes, através de questionários pré-elaborados especificamente para tal fim, contendo questões abertas. As perguntas são formuladas para se obter
5 informações tanto avaliativas do impacto das oficinas nos hábitos de seus participantes, como para melhorar a organização das oficinas, visando o maior aprimoramento da metodologia utilizada. O formato das oficinas é planejado afim de que os participantes possam acompanhar a preparação de cada receita. Ao término de cada oficina emite-se uma declaração aos participantes pela Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários. RESULTADOS E DISCUSSÕES Com relação aos resultados alcançados no desenvolvimento do Projeto, destaca-se: Aumento da conscientização social e ecológica quanto ao combate ao desperdício de alimentos na produção alimentar junto aos participantes das oficinas; Realização de 135 oficinas durante os quatro anos de realização do Projeto; 1059 pessoas ligadas às entidades sociais da cidade, alunos, funcionários da Universidade, bem como pessoas da comunidade local interessadas no tema; Obter 100% de aproveitamento dos insumos excedentes dos laboratórios do Centro de Gastronomia da UNIVILLE. O projeto possibilitou a participação das mais diversas entidades e organizações da cidade, bem como da comunidade em geral. Em razão dos agendamentos para a participação nas oficinas ocorrerem semanalmente, qualquer cidadão que tivesse o interesse teve a oportunidade de participar, atendendo, assim, toda a demanda do público interessado. A sua maior inserção na cidade se deu a partir do momento em que o projeto se transformou numa política institucional da Universidade, através da sua incorporação às ações do
6 Comitê de Responsabilidade Social da UNIVILLE, transformando-se, assim, em um Programa Institucional. CONCLUSÕES O consumismo que a cultura do capital gestou está na base da fome de bilhões de pessoas e da atual falta de alimentos da humanidade. Em face de tal situação como deveria ser o consumo humano? Em primeiro lugar o consumo deve ser adequado à natureza do ser humano; em segundo lugar, o consumo precisa ser justo e equitativo, a Declaração dos Direitos Humanos afirma que a alimentação é uma necessidade vital e por isso um direito fundamental de cada pessoa humana (justiça) e conforme as singularidades de cada um (equidade); em terceiro lugar, o consumo deve ser solidário, onde a solidariedade está naquele consumo que supera o individualismo e se auto-limita por causa do amor e da compaixão para com aqueles que não podem consumir o necessário; e em quarto lugar, o consumo há de ser responsável, onde consumidor deve se dar conta das conseqüências do padrão de consumo que pratica. O presente projeto contribui, assim, para uma formação integrada de seus participantes, trabalhando conceitos de sustentabilidade sócio-ambiental e a minimização de resíduos (redução do consumo, reutilização e reciclagem de materiais) na fonte geradora, como também a educação alimentar e nutricional, estimulando a adoção de simples hábitos conscientes, determinantes para conduzir à alimentação saudável. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MINISTÉRIO DA SAÚDE. Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição: Guia alimentar para a população brasileira promovendo a alimentação saudável. Brasília DF, 2006.
7 PETRY. A. O mundo vai sofrer com falta de comida. Revista Veja. São Paulo, Ed. 2062, ano 41p , 28/05/2008. SECRETARIA DE AGRICULTURA E ABASTECIMENTO DE SÃO PAULO. Instituto de Tecnologia de Alimentos. São Paulo, Disponível em: < Acesso em: 12/02/2014. SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO. Programa Mesa Brasil SESC. São Paulo, Disponível em: < >. Acesso em: 11/02/2014.
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