Destaque Depec - Bradesco

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1 25 de julho de 2018 Impulsionado por veículos leves, setor automotivo segue com bom desempenho, mesmo após impactos negativos no segundo trimestre Rafael Martins Murrer O nível de crescimento da atividade econômica vem frustrando nossas expectativas ao longo deste ano. Porém, o setor automotivo permanece como um dos setores mais dinâmicos na economia, tanto em relação à produção como em relação às vendas internas. Essa performance favorável se deve a alguns fatores macroeconômicos observados, principalmente, no primeiro trimestre deste ano: i) melhoria da confiança e do mercado de trabalho, que intensificou a demanda das famílias; ii) ressurgimento de uma demanda represada por sucessivos anos de crise; iii) taxas de juros menores, com maior atratividade na concessão de crédito para compra de veículos por pessoas física e jurídica. Já no segundo trimestre, alguns fatores negativos novos apareceram: a crise na Argentina e a paralisação no setor de transportes em maio afetaram o dinamismo do setor automotivo, mas em intensidade menor do que a esperada inicialmente. Assim, apesar destes impactos negativos no segundo trimestre, o setor segue com bom desempenho e deve permanecer assim ao longo do restante do ano. Nos primeiros meses de 2018, e seguindo a dinâmica do ano passado, a demanda por bens de consumo duráveis principalmente automóveis, que estava represada por conta dos anos de recessão econômica, voltou a aparecer. Em momento de melhora da confiança dos consumidores e empresários, e menor incerteza em relação às condições de emprego e renda, uma demanda latente por renovação de frota apareceu. Além disso, as condições para concessão de crédito automobilístico tanto para pessoa jurídica (PJ) como para pessoa física (PF) estão favoráveis¹, com menores taxas de juros e inadimplência mais contida. Dessa forma, a demanda das famílias se intensificou, enquanto as locadoras seguem renovando suas frotas, comprando veículos novos e vendendo seminovos. Tabela 1: Indicadores do setor automotivo Em unidades Jan - jun/17 Jan - jun/18 Var. % Vendas de Nacionais Veículos leves ,8% Veículos pesados ,4% Vendas de Importados Veículos leves ,9% Veículos pesados ,9% Produção Veículos leves ,6% Veículos pesados ,3% Exportações Veículos leves ,2% Veículos pesados ,8% Fonte: Anfavea, Fenabrave, Bradesco [1] Em maio, na comparação interanual, os estoques de credito para veículos avançaram 10% para pessoa física e 38% para pessoa jurídica. 1

2 Até junho, conforme ilustrado na Tabela 1, as vendas de veículos leves de fabricação nacional cresceram 11,8% se comparadas com o primeiro semestre do ano passado. Na mesma direção, a produção dessa categoria avançou 12,6%, mantendo os estoques próximos da média histórica, enquanto as exportações permaneceram estáveis. O segmento de veículos pesados, por sua vez, vem apresentando uma boa performance, com vendas crescendo 44,4% ao longo do primeiro semestre e, produção, 40,3% ante o mesmo período de Isso se deve à reduzida base de comparação, uma vez que no ano passado o segmento de pesados esteve muito deprimido. Apesar do crescimento robusto observado no primeiro semestre como um todo, os dados do segundo trimestre foram afetados de maneira negativa por dois eventos exógenos. Em maio, a Argentina sofreu um choque cambial, com efeitos sobre a economia local, impactando as exportações de automóveis brasileiros para o país vizinho. Vale destacar que o mercado argentino é o destino de aproximadamente 75% das exportações de veículos leves brasileiros (Gráfico 1) e de 22% das nossas vendas externas de caminhões. Porém, até agora, as importações argentinas de veículos leves brasileiros não foram tão impactadas quanto o inicialmente projetado. Por outro lado, os outros países da América Latina, excluindo Argentina e México, têm ampliado as importações de automóveis nacionais, compensando em parte a queda das exportações para o México e a possível volatilidade do nível de exportações para a Argentina. Assim, esperamos que essa estabilidade dos embarques observada ao longo do primeiro semestre seja mantida até o final do ano. Gráfico 1: Destino das exportações de veículos leves brasileiros Outros países da América Latina 13,9% Título do Gráfico Outros 0,9% Estados Unidos 2,9% México 7,6% Argentina 74,7% Fonte: Funcex, Bradesco O segundo fator exógeno que impactou o setor automotivo e a atividade econômica brasileira foi a paralisação do setor de transporte ao longo da segunda quinzena de maio, reduzindo a produção e as vendas de veículos leves e pesados no período. Naquele momento, as montadoras interromperam suas atividades, acarretando em uma forte queda da produção automobilística. Porém, após a normalização do setor de transporte, as empresas elevaram o nível de utilização da sua capacidade instalada (NUCI), tentando compensar os dias que não operaram. Assim, em junho já foi possível perceber a retomada da produção para níveis prégreve, indicando que o impacto foi pontual e a recuperação foi relativamente rápida. Em relação às vendas, os impactos negativos ainda não foram totalmente dissipados, ainda que os dados de junho indiquem um crescimento interanual, mesmo com menos dias uteis em 2018, sinalizando que as vendas de veículos leves vão retomando sua tendência (Gráfico 2). 2

3 * Destaque Depec - Bradesco Gráfico 2: Oferta e demanda de veículos leves Dados dessazonalizados, mil unidades 400 Demanda (emplacamentos + exportações) Oferta (produção + importações) Assim como a oferta se recuperou rapidamente dos efeitos exógenos do segundo trimestre, os recentes dados apontam que não há um problema de falta de demanda por automóveis. As últimas sondagens de confiança do consumidor, tanto da FGV como da CNI, indicam que as famílias estão propensas a aumentar o seu consumo de bens duráveis, incluindo automóveis. Ou seja, mesmo no pós-greve, o setor automotivo deve permanecer apresentando desempenho positivo no segundo semestre. Por fim, as vendas do início do ano garantem um crescimento forte do setor em 2018, porém esperamos que o segundo semestre tenha um crescimento mais moderado do que o observado ao longo dos primeiros seis meses do ano, refletindo uma retomada mais lenta da atividade econômica e do mercado de trabalho, ainda que a demanda reprimida e o crédito suportem uma melhora no consumo de bens duráveis. Assim, nosso cenário aponta para uma expansão de 10,7% das vendas de veículos leves (Gráfico 3) e, para os pesados, esperamos alta de 19,5% (Gráfico 4) em No caso específico de pesados, o setor tem sido favorecido pelo ótimo dinamismo da agricultura. Diante da existência de um nível de utilização da capacidade instalada (NUCI) baixo, ainda que em expansão, não devemos observar investimentos em ampliação de fábricas e sim em melhorias e ganhos de eficiência. Vendas de Veículos Leves Fonte: Anfavea Projeção: Bradesco em mil unidades Gráfico 3: Vendas de veículos leves Em mil unidades

4 * Destaque Depec - Bradesco Gráfico 4: Vendas de veículos pesados Em unidades

5 Equipe Técnica Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos Economistas Fernando Honorato Barbosa Andréa Bastos Damico / Constantin Jancsó / Ellen Regina Steter Hanna Farath / Estevão Augusto Oller Scripilliti / Fabiana D Atri / Igor Velecico / Leandro Câmara Negrão / Mariana Silva de Freitas / Myriã Tatiany Neves Bast / Priscila Pacheco Trigo / Rafael Martins Murrer / Robson Rodrigues Pereira / Thomas Henrique Schreurs Pires Estagiários Ana Beatriz Moreira dos Santos / Camila Medeiros Tanomaru / Felipe Yamamoto Ricardo da Silva / Isabel Cristina Elias de Souza Oliveira / Lucas Maia Campos / Renan Bassoli Diniz / Thaís Rodrigues da Silva economiaemdia.com.br O DEPEC BRADESCO não se responsabiliza por quaisquer atos/decisões tomadas com base nas informações disponibilizadas por suas publicações e projeções. Todos os dados ou opiniões dos informativos aqui presentes são rigorosamente apurados e elaborados por profissionais plenamente qualificados, mas não devem ser tomados, em nenhuma hipótese, como base, balizamento, guia ou norma para qualquer documento, avaliações, julgamentos ou tomadas de decisões, sejam de natureza formal ou informal. Desse modo, ressaltamos que todas as consequências ou responsabilidades pelo uso de quaisquer dados ou análises desta publicação são assumidas exclusivamente pelo usuário, eximindo o BRADESCO de todas as ações decorrentes do uso deste material. Lembramos ainda que o acesso a essas informações implica a total aceitação deste termo de responsabilidade e uso. A reprodução total ou parcial desta publicação é expressamente proibida, exceto com a autorização do Banco BRADESCO ou a citação por completo da fonte (nomes dos autores, da publicação e do Banco BRADESCO) 5