Furukawa admite que governo do Estado negociou com facção criminosa

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1 Clipping produzido pelo Instituto de Políticas Públicas de Segurança da Fundação Santo André INSEFUSA 29/05/2006 Furukawa admite que governo do Estado negociou com facção criminosa Folha OnLine, 27 de maio de 2006 Horas depois de deixar o comando do sistema carcerário de São Paulo, Nagashi Furukawa afirmou à Folha que o governo estadual "negociou" com o PCC, ao permitir a visita de uma advogada a um dos chefes da facção, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola. A afirmação contradiz o discurso oficial da administração Cláudio Lembo (PFL), que nega que tenha havido qualquer tipo de negociação entre o Estado e a facção criminosa. "O Estado não cedeu. Mas decidiu que seria oportuno permitir que a advogada visitasse o preso [Marcola] e confirmasse que ele não foi agredido na prisão", disse Furukawa, 57, que agora pretende escrever um livro sobre sua experiência de secretário. O novo secretário de Administração Penitenciária é o pedagogo Luiz Carlos Catirse, 48, considerado com perfil humanista e indicado pelo próprio Nagashi Furukawa. Catirse será responsável pela administração de 144 unidades prisionais, que totalizam 138 mil detentos. Leia abaixo trechos da entrevista: FOLHA - Há indícios que apontam negociação do governo com o PCC para encerrar os ataques e rebeliões: a conversa do Marcola com sua advogada dentro da prisão, a... [Furukawa interrompe] NAGASHI FURUKAWA - É evidente que houve negociação. O que não houve foi acordo. O Estado não cedeu. A advogada Iracema Vasciaveo apareceu dizendo que tinha contatos externos com pessoas envolvidas nos ataques e que as ações eram um sentimento de revolta por conta de notícias de que Marcola teria apanhado. Se pudesse ver que ele estava bem, a revolta iria arrefecer. Portanto, foi tomada uma decisão com toda transparência. Fui favorável. Seria uma tremenda irresponsabilidade deixar eles [criminosos] matando pessoas. Foi tão transparente que a advogada foi levada de avião pelo governo. A advogada só conversou. Nenhum pedido foi atendido. FOLHA - O que Marcola e sua advogada conversaram? FURUKAWA - A advogada se apresentou a Marcola exibindo um número, que imagino seja um código para que ele soubesse quem ela era. Eles não se conheciam. Ele disse que não poderia mandar parar os ataques, porque não teria sido ele quem os determinou. Disse também que não sofreu tortura nenhuma. Mas veja: a mídia está discutindo a coisa errada.

2 FOLHA - Qual é, então, a discussão correta? FURUKAWA - A preocupação que atinge as pessoas é discutir como a crise terminou, e não as suas causas, que é o mais importante neste momento. FOLHA - O senhor perdeu a queda-de-braço com o secretário da Segurança, Saulo Abreu Filho? FURUKAWA - Não há vencidos nem vencedores nesta história. O governador é que precisa afinar a atuação destas duas secretarias, que é imprescindível para o sucesso no combate ao crime organizado. Venho sentindo há muito tempo que há necessidade de um entrosamento melhor entre as entidades e que a minha presença dificultaria esse entendimento. Era o momento de parar. FOLHA - Pode ser mais específico? FURUKAWA - Há uma dificuldade de entendimento entre a minha pessoa e o secretário. Não por culpa dele e, creio, não por culpa minha. Pensamos diferente. Temos visões diferentes da vida, ideologias diferentes. FOLHA - E quais foram as discordâncias com Saulo? FURUKAWA - Não houve uma investigação forte da Polícia Civil, especialmente na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, onde foram separados os líderes [do PCC]. Espero que agora se consiga uma sintonia nas ações. Mas não quero partir para o campo das críticas. FOLHA - Nos bastidores, o governador Cláudio Lembo fez críticas à sua atuação durante a crise. Foi o PCC que o derrubou do cargo? FURUKAWA - Não foi o partido do crime que derrubou o secretário. Se eu fosse de ceder, não teria ficado seis anos aqui. FOLHA - O PCC nasceu em 1993 e se desenvolveu dentro dos presídios durante sua gestão. O senhor se sente responsável? FURUKAWA - Seria muito desejável que esta articulação tivesse acontecido lá atrás. Não era atribuição da minha pasta combater crime organizado. Não temos policiais à disposição nem instrumentos legais, como quebra de sigilo telefônico e bancário. FOLHA - Por que é tão difícil controlar a entrada de celulares na prisão? FURUKAWA - Não podemos ser românticos. Em qualquer meio existe corrupção, até no Congresso Nacional. E os servidores não estão imunes. Os celulares entram por meio de poucos funcionários corruptos e por deficiência na revista. É muito complicado revistar partes íntimas de mulheres que visitam os presos.

3 O álibi dos agentes penitenciários Revista Época/O Estado de São Paulo/Jornal da Tarde, 29 de maio de 2006 O coordenador dos Presídios do Oeste Paulista, José Reinaldo da Silva, disse ontem que autorizou as filmagens da revista que os agentes penitenciários fizeram nas celas do Centro de Readaptação Penitenciária (CRP) de Presidente Bernardes, considerada a prisão mais segura do País. É nesta penitenciária que 152 detentos estão submetidos ao Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), entre eles, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como principal líder do Primeiro Comando da Capital (PCC). As imagens foram exibidas sábado, no Jornal Nacional, da Rede Globo. Em entrevista ao JT, Silva disse que as filmagens foram feitas para que a administração do presídio pudesse se defender das denúncias de que agentes penitenciários estariam agredindo detentos no CRP e em outras penitenciárias do Estado. "Autorizei as filmagens para mostrar a verdadeira realidade, que não é aquela que detentos e familiares deles apregoam. Há uma tentativa de se vitimizar os detentos e culpar os agentes", afirmou. Segundo Silva, as imagens foram feitas na segunda-feira, 22, depois que sua coordenadoria recebeu denúncias, feitas na Corregedoria dos Presídios e na Pastoral Carcerária, de supostos abusos praticados contra presos. "O que acontece é exatamente o contrário", disse. JT - O senhor tinha conhecimento das filmagens? José Reinaldo da Silva - Não só tinha conhecimento, como autorizei e determinei que fossem feitas mesmo. JT - Por quê? JRS - Tínhamos relatos, ainda na quarta-feira (17), de denúncias feitas na Corregedoria e na Pastoral Carcerária, de que presos do CRP estavam sendo espancados por agentes. Sabíamos que isso era mentira e que seria difícil provar por meio de provas testemunhais que não era verdade, que era uma tentativa de se vitimizar detentos e culpar agentes depois daqueles ataques covardes. Então, usamos as filmagens como meio de defesa dos agentes, que vinham sendo constantemente ameaçados depois dos ataques. Mostramos que não há nada demais no tratamento que os agentes dão aos detentos. JT - Essas filmagens vazaram para a imprensa... JRS - O sindicato dos agentes repassou as imagens, mas nunca houve uma tentativa de se evitar o vazamento. Pelo contrário, é importante que a sociedade saiba o que realmente se passa hoje nos presídios, com profissionais sendo ameaçados e o preso sempre se passando por vítima.

4 JT - O que acontece então? JRS - O detento encara a disciplina como ato de pressão. O preso sempre reage e nós temos que ficar quietos esperando o preso reagir. Está na hora de deixar a gente trabalhar no sistema prisional. JT - Qual o motivo da revista? JRS - Houve uma denúncia de que o Cabrini (Roberto Cabrini, repórter do Jornal da Noite, da Rede Bandeirantes) tinha entrevistado o Marcola por telefone e então tivemos de entrar para saber se realmente havia celular no RDD - e ficou comprovado depois que não havia. JT - Mas há relatos de detentos espancados na Penitenciária de Valparaíso, por exemplo, depois de um rebelião em 2 de maio. E, por isso, eles teriam se rebelado novamente entre os dias 10 e 13 de maio. JRS - Há casos em que a Tropa de Choque é obrigada a usar a força, porque os presos reagem. Foi o que aconteceu em Valparaíso. A Tropa de Choque teve de usar balas de borracha e bombas de efeito moral para colocar os detentos nas celas, porque eles não queriam entrar. Houve presos feridos pelos colegas e também pela ação da tropa de choque, mas nenhum com gravidade. E houve agentes e PMs feridos também. Nesse tipo de caso, não há como evitar conflitos. JT - Esses presos feridos teriam sido transferidos. JRS - Foram transferidos líderes da rebelião, entre eles houve alguns feridos, mas nenhum em situação cirúrgica. Foram ferimentos leves. Se a Tropa de Choque tivesse intenção de matar alguém ou de machucar, os ferimentos seriam graves. JT - Mas há outras denúncias. JRS - Há denúncias de 300 presos feridos durante a megarrebelião. Não sabemos se este número é correto. Mas houve uma megarrebelião e a ação da tropa de choque foi legítima para conter a revolta. Não houve um preso que morreu por culpa da PM ou dos agentes. Nove presos foram mortos por colegas. Em Presidente Prudente, a perícia constatou que o preso foi morto por colegas com uma barra de ferro enfiada no peito para simular um tiro de calibre 12. Em Mirandópolis, há denúncias de advogados que fizeram petições de presos que apanharam e isso está sendo investigado. JT - Como ficam agora as condições dos detentos do RDD? JRS - Há anos não havia ato de indisciplina lá. Agora, eles vão perder algumas concessões, dadas por bom comportamento. Como não é permitido o contato com visitantes, alguns presos tinham o privilégio de sair para abraçar um familiar. Vão perder. Como também deixarão de receber alimentos caseiros e livros. JT - Por que motivo os detentos e parentes deles estariam fazendo o essas denúncias?

5 JRS - Pode ser uma tática usada por eles para saírem como vítimas daqueles ataques e dos danos causados pela megarrebelião. Além disso, estariam desviando o foco dos verdadeiros culpados pelos ataques covardes que fizeram a policiais e alvos civis. JT - Como o senhor vê esses ataques? JRS - A gente sabia que eles iriam ocorrer num futuro, mas não sabíamos quando. Mas, se ocorressem daqui a 10 anos, seriam piores, porque a facção estaria melhor estruturada. Depois dos ataques, há a chance de que as autoridades consigam enfraquecê-la. O turismo sedutor das 'mulas' do tráfico O Estado de São Paulo/Jornal da Tarde, 29 de maio de 2006 Procuram-se pessoas brancas ou loiras, de olhos claros, com idade entre 18 e 45 anos para trabalho rentável na Europa. Exige-se boa aparência e bom nível cultural. Desejável conhecimento de inglês ou espanhol. Não é necessária experiência. Oferecemos: passagens aéreas, 15 dias de passeio no país de destino, alimentação, hospedagem e roupas para a viagem. Seduzidas pela oferta tentadora que chega a render até US$ 5 mil (cerca de R$ 12 mil), 138 pessoas acabaram atrás das grades nos primeiros quatro meses deste ano. Elas foram presas pelas Polícias Civil e Federal saindo do Brasil pelo Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. Muitos candidatos que aceitam a oferta milionária só descobrem nas vésperas da viagem que foram contratados pelo crime organizado para fazer serviço de "mula" (transporte de drogas) quando todos seus documentos pessoais estão nas mãos dos aliciadores. Nessa hora, não há mais chance de desistência. Quem resiste, morre. Ou expõe a família. A oferta omite, no entanto, que a tarefa embute altíssimos riscos: prisão em regime fechado, pena de morte nos países asiáticos e até mesmo ter o corpo dilacerado por mercenários, quando as mulas transportam cocaína no próprio corpo e não conseguem expelir a droga. Na quarta-feira passada, o Jornal da Tarde entrevistou com exclusividade os traficantes Israel Domingues de Oliveira, 53 anos, e Israel Dias de Oliveira, 24 anos. Acusados de liderarem um dos maiores esquemas de envio de "mulas" do Interior paulista para a Europa, pai e filho revelaram os lucros, perdas e dramas de quem aceita o arriscado desafio. Ambos assinaram um documento no último dia 4 concordando em dar entrevista do JT. Vamos chamar Israel, o pai, de Valdemar. Por mais de 23 anos ele usou esse nome falso para escapar da prisão pelos crimes de roubo e estupro (ele manteve relação sexual com a namorada menor de 13 anos e foi denunciado pelo sogro). Foi com esse nome que casou-se com a vítima do crime sexual e é o nome que consta na certidão de nascimento de seu filho, Israel Dias. Os dois estão presos desde maio do ano passado por tráfico de cocaína e ecstasy e associação para o tráfico. Eles figuram num processo de 42 réus que tramita pela Justiça de São José do Rio Preto. Mesmo com o processo em andamento, Israel, o filho, fez revelações inéditas. Ele, que na polícia e na

6 Justiça negou ter integrado a rede internacional de drogas, afirmou não só que fez três viagens transportando cocaína para a Holanda, como também que por um ano ficou responsável pelo apoio logístico às mulas que chegavam a Amsterdã. Era ele quem fazia compras da república onde o grupo de mulas estrangeiras ficava hospedado e também usava seu passaporte e nome para enviar dinheiro para a Colômbia, para pagar o carregamento da droga. Ele lembra do sofrimento do brasileiro Lucas Rafael Beda da Cunha, 22 anos, que por dez dias tomou laxante para expelir as 70 cápsulas de cocaína que transportava. "Ele pulava de tanta cólica. Mas não queria ser levado para o hospital porque temia ser preso e dar desgoto para a mãe dele. Enquanto isso, eles (os mercenários da máfia) queriam abri-lo para retirar a droga." Israel é o retrato do perfil desenhado por policiais do Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc). De pele, olhos e cabelos claros, ele tinha menos de 20 anos, quando foi cooptado em fevereiro de 2002 pelo tráfico internacional. Tinha ensino médio completo e curiosidade pela aprendizagem de línguas. "A aparência influencia muito", diz ele. No princípio, a oferta era para que trabalhasse numa metalúrgica. Depois, quando já estava seduzido pela oferta de ir para a Europa e ter uma vida diferente, descobriu que estava sendo contratado por uma máfia com ramificações em países da América Latina e Europa. "Daí eles abriram o jogo, me ofereceram US$ 5 mil (cerca de R$ 12 mil). Aceitei a oferta nem tanto pelo dinheiro, mas porque estava enfrentando um processo de separação, estava deprimido e queria mudar. A possibilidade de conhecer a Europa me encheu de expectativa. E o dinheiro, claro, era uma tentação. Fiz a primeira viagem, me envolvi e não tive mais como sair." Falta estrutura para leis anti-pcc Diário do Grande ABC, 28 de maio de 2006 O pacote de 11 leis aprovado no Senado em caráter terminativo (sem votação), no último dia 17, na correria para endurecer a legislação em combate ao crime organizado, exige, na prática, uma preparação prévia dos Estados e investimentos na construção de presídios e em tecnologia. Para uma das correntes de especialistas em Direito Penal, não há estrutura suficiente no sistema carcerário para aplicar as medidas. Outros, no entanto, têm convicção de que as propostas, assim que entrarem em vigor, forçarão os governos a priorizar a segurança pública. O pacote de leis ainda vai ser enviado à Câmara dos Deputados e a expectativa é que passe por alterações, visto que integrantes do governo federal já criticaram a pressa e a falta de discussão sobre os projetos, como foi o caso do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Entre as leis sugeridas, há até projeto paralisado na Casa desde Resumidamente, as propostas estabelecem o RDMax (Regime Disciplinar de Segurança Máxima), que consiste em aumentar de um ano para dois anos o isolamento de presos perigosos, com a possibilidade de a medida ser renovado pelo juiz por tempo indeterminado. O contato com visitantes seria feito por interfone, com separação de vidro. Modelo já aplicado em outros países, como, por exemplo, os Estados Unidos.

7 Também é prevista a obrigatoriedade de as empresas de telefonia instalarem bloqueadores do sinal nos presídios; considera falta grave (pode levar ao isolamento) o uso de celular pelos presos; aplica a videoconferência para o juiz interrogar o interno; muda o prazo de prescrição dos crimes violentos de 20 para 30 anos; institui a delação premiada para o condenado, aliviando sua pena; prevê a indenização das vítimas a partir dos bens do criminoso; e autoriza o Executivo a criar programas especiais de habitação para policiais. Para a professora Ivette Senise Ferreira, especialista em Direito Penal da Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo), não há prisões suficientes no sistema carcerário e as novas leis exigiriam mais celas. O sistema prisional não está preparado, há carência de presídios de segurança máxima que pudessem receber os mais perigosos (o Estado tem três, que ficam em Presidente Bernardes, Taubaté e Avaré). Além disso, existe a necessidade de um Judiciário rápido para implementar as medidas, diz. Ivette sugere que apenas se aplique a Lei de Execuções Penais existente hoje, o que não ocorre. Mas é o principal, acabar com regalias como a entrada de celulares nas cadeias. O que o Senado fez ao aprovar esses projetos de lei está mais para fogos de artifício, critica. A mesma linha é defendida pelo advogado Sérgio Salomão Shecaira, também da USP. Não adianta endurecer se não há onde colocar os criminosos isolados, disse. E, se o celular na mão do detento virar crime ou falta grave, não haverá gente para fiscalizar. Por outro lado, para quem está no regime diferenciado, a falta grave é irrelevante, diz Shecaira. Em vez de programa de habitação para policiais com o intuito de tirá-los da favela, os especialistas da USP defendem algo mais simples: aumento salarial para a categoria. Eles também julgam delicada a questão da delação premiada, porque o delator correria risco de morte dentro da prisão. É fundamental separar os presos envolvidos no crime organizado dos outros, porque estes últimos geralmente são alistados pelas facções. Também é preciso ter bom senso, alguém que furtou um pote de margarina não precisa ficar no regime fechado, considera Shecaira. Uma opinião mais favorável às propostas é sustentada pelo promotor de Justiça José Reinaldo Guimarães Carneiro, do Gaeco (Grupo de Atenção Especial e Repressão ao Crime Organizado). Ele afirma que os projetos de lei devem ser aprovados para até mesmo forçar investimentos na área da segurança pública. Precisamos entender que segurança é prioridade do Estado. Carneiro destaca a punição pelo uso do celular nas celas como a mais importante. Na última sexta-feira, em uma resposta compacta, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, opinou que o pacote de leis não resolverá urgências. Acho que as medidas aprovadas no Congresso não devem surtir efeitos imediatos, mas sim a um médio prazo, afirmou Bastos, que fazia visita a Diadema. A postura do governo federal diante da segurança pública é um dos alvos das críticas dos opositores. Em discurso no plenário do Senado no último dia 15, o senador Demóstenes Torres (PFL-GO), autor de seis dos 11 projetos do pacote, afirmou que em 2003 e 2004 o governo federal teve a oportunidade de fazer uma profunda reforma na Lei de Execução Penal. O governo optou pela regra econômica, disse o senador, sobre o veto à proposta do exame criminológico, na qual o preso deveria passar por uma comissão de psiquiatras, psicólogos e sociólogos antes de ser reinserido na sociedade.

8 Polícia de São Paulo matou 22 civis com tiros de cima para baixo Folha de São Paulo, 29 de maio de 2006 A grande maioria das pessoas mortas pela polícia na cidade de São Paulo entre os dias 12 e 20 deste mês, durante o auge da crise causada pelos ataques da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), foi atingida por tiros feitos de cima para baixo, segundo rascunhos de laudos feitos pelo IML (Instituto Médico Legal) Central. A trajetória do disparo é um dos fatores usados para avaliar se houve abuso policial na ação. Um tiro de cima para baixo pode significar que a pessoa foi atingida quando estava rendida, de joelhos ou no chão. Mas a conclusão sobre o abuso ainda depende de outras investigações e documentos. O IML Central selecionou indiscriminadamente necropsias de 132 pessoas mortas por arma de fogo no período e entregou na semana passada os rascunhos --os laudos oficiais ainda vão ser digitados-- para o Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo). O Cremesp repassou os documentos para a análise de órgãos como o Ministério Público e a Defensoria Pública. A Secretaria da Segurança Pública, por sua vez, não fala sobre as informações dos laudos. Desses rascunhos, no entanto, apenas 28 referem-se a civis mortos em supostos confrontos com a polícia, segundo análise preliminar feita pelo grupo especial de trabalho da Defensoria. O rascunho traz algumas informações do boletim de ocorrência. Os outros casos incluídos na listagem de 132 nomes são de policiais mortos e de pessoas assassinadas por desconhecidos. Até a necropsia de uma mulher estrangulada foi incluída nessa documentação pelo IML Central. Trajetória Dos 28 civis mortos pela polícia, 22 (78%) foram atingidos por tiros com a trajetória de cima para baixo, segundo os documentos redigidos por médicos legistas do IML Central. No total, os 28 mortos --16 ainda não tinham sido identificados pelo IML-- em supostos confrontos receberam 87 disparos. Desses, 44 tiros foram feitos de cima para baixo. Em um dos casos, Daniel Donchio Scorza, morto em suposto confronto com a polícia, na área do 49º DP (São Mateus), na zona leste da capital, no dia 16, levou cinco tiros. Quatro disparos foram feitos de cima para baixo. "Os rascunhos analisados mostram uma prevalência de lesões decorrentes de disparos de arma de fogo na região da cabeça e do tórax, alguns de trás para frente e outros de cima para baixo. Porém, ainda não é possível concluir se houve abuso policial", afirma o subdefensor público do Estado de São Paulo, Pedro Giberti.

9 Professor de Medicina Legal na Universidade Federal do Rio de Janeiro, Nelson Massini afirma que tiros de cima para baixo podem indicar que as vítimas estavam "deitadas, ajoelhadas ou em outra posição que não a de confronto". "Tecnicamente, são tiros inviáveis para um tiroteio, um confronto, onde se espera angulação perpendicular ao solo", afirmou Massini. Pelas costas Os rascunhos do IML também apontam que, das pessoas mortas pela policia, duas foram atingidas com tiros pelas costas e mais três tiveram ferimento à bala nos braços, o que pode indicar um gesto de defesa da vítima, supostamente dominada. O adolescente Wesley Rodriguero Cabral Rosa, 16, foi acusado pela polícia de resistir após uma tentativa de roubo, em Artur Alvim (zona leste de SP), no dia 16. Ele levou um tiro na costas e outro na perna esquerda, também disparado por trás. Foi socorrido pelos próprios PMs. Morreu, no entanto, ao dar entrada no hospital. Em outro suposto confronto com a polícia, agora na área do 17º DP (Ipiranga), zona sul de SP, no último dia 17, Felipe Malke morreu com um tiro pelas costas, segundo documento do IML. O projétil atingiu a parte superior das costas, próxima ao pescoço, atravessou a coluna e a cabeça e foi se alojar na parte superior do nariz. Uma das hipóteses que justificaria essa trajetória é que a pessoa foi atingida quando estava de joelhos, de cabeça abaixada. Em mais um caso, o IML revela que um homem apontado como desconhecido foi morto, na área do 50 DP (Itaim Paulista), na zona leste de São Paulo, com um tiro na face. O tiro não foi à queima-roupa, mas o exame feito pelo IML apontou uma "zona de tatuagem". É uma marca de pólvora, mostrando que o tiro foi disparado de uma distância curta da cabeça da vítima. Parte Os 28 rascunhos de mortes na capital paulista representam apenas uma parte dos casos de resistência seguida de morte registrados entre os dias 12 e 20. Segundo os últimos números da Secretaria da Segurança Pública, 123 pessoas morreram em todo Estado nesses confrontos no período. A secretaria, no entanto, não disponibilizou às autoridades os laudos de todos esses casos. Legistas atestam massacre de policiais em São Paulo Folha OnLine, 29 de maio de 2006 Nove casos de policiais mortos em ataques do PCC foram localizados pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo entre os 132 rascunhos de laudos do IML Central.

10 A perícia atesta a violência dos ataques e confirma os relatos de que os agentes foram pegos desprevenidos. Em oito casos, os policiais receberam tiros na cabeça. Em dois, no rosto. Outros três foram vítimas provavelmente de espingarda calibre 12, cujo tiro causa vários ferimentos no corpo. O escrivão Ailton Carlos de Santana, 28, que foi morto quando estava de folga, próximo de sua casa, recebeu 19 tiros, sendo três deles na cabeça e um na nuca. Também suas mãos e antebraço foram atingidos, o que pode indicar que o policial tentava se defender dos criminosos que o atacavam. O rascunho do laudo do carcereiro Elias Pereira Dantas, 44, mostra que ele levou dois tiros. A arma utilizada, provavelmente de calibre 12, destruiu seu rosto e causou cinco ferimentos nas costas. O policial civil Tamer Ramos Orlando, 34, levou três tiros no rosto. O bombeiro João Alberto da Costa, 40, que não portava arma e foi cercado por um grupo que desceu de um carro, foi morto por dois tiros, um no ombro esquerdo e outro na lateral esquerda do abdome. Costa tentava avisar outros colegas sobre a possibilidade de ataques quando foi atingido. Falsa ocorrência Vencedor de prêmio de melhor policial do ano em 2004 por sua atuação durante um assalto, o policial militar Wilson de Jesus Santos, 38, foi uma vítima fácil. Estava distraído, após chegar para atender a uma falsa ocorrência em Parelheiros, zona sul. Segundo os legistas do IML Central, foi alvo de nove tiros, um deles na cabeça. "Verifica-se que a quantidade de lesões de arma de fogo nos policiais é muito maior do que em civis. Além disso, há prevalência de lesões na cabeça e com arma de grosso calibre", diz o subdefensor público do Estado, Pedro Giberti. A defensoria, que é um órgão de defesa de carentes, destaca que atuará tanto na defesa das famílias de civis que possam ter morrido em supostos abusos policiais como na de famílias dos próprios policiais vítimas da facção criminosa. Em geral, são aceitas pessoas que ganham até três salários mínimos, mas é possível fazer avaliações caso a caso. "A defensoria está a disposição dos familiares das vítimas policiais e civis para realizar o acompanhamento do inquérito policial e propor as medidas judiciais cabíveis." O atendimento a familiares de vítimas civis e policiais ocorre no Fórum Criminal da Barra Funda, de segunda a sexta, das 13h às 18h. O endereço é avenida Abrahão Ribeiro, 313. Ouvidoria da Polícia investiga 27 mortes Diário de São Paulo, 29 de maio de 2006 A Ouvidoria da Polícia investiga 27 homicídios de autoria desconhecida, ocorridos entre os dias 13 e 19, que podem ter sido causados por grupos de extermínio. A maior parte dessas ações na capital paulista ocorreu na Zona Leste e na Grande São Paulo, no município de Guarulhos.

11 Na última sexta-feira, a Ouvidoria teve acesso a 81 laudos necroscópicos, elaborados pelo Instituto Médico Legal, de pessoas mortas nesse período. Esses casos dizem respeito a denúncias encaminhadas ao órgão por familiares de vítimas ou colhidas em jornais sobre mortes suspeitas. A Ouvidoria já sabe que, em Guarulhos, os assassinatos com indícios de terem sido praticados por mascarados apresentaram o mesmo modus-operandi e ocorreram em seqüência em locais e horários próximos. O órgão também recebeu denúncias de que pessoas teriam sido mortas por encapuzados em Marília, Jundiaí e Presidente Prudente. Na semana passada, a Ouvidoria da Polícia recebeu denúncia de que um carro preto com vidro insufilmado foi visto no centro da capital, próximo à Rua 7 de abril, com um adesivo com os dizeres Escuderie Detetive Le Coq, Esquadrão da Morte, Brasil, bordado nas cores preta e vermelha. Segundo testemunhas, o veículo circulou na região escoltado por uma viatura da polícia. O mesmo emblema foi flagrado em camisetas usadas por, ao menos, quatro manifestantes presentes à sessão da Assembléia Legislativa de São Paulo, que votou uma bonificação para policiais há 15 dias. O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, deputado Ítalo Cardoso (PT/SP), deve receber, no início desta semana, as fitas da TV Assembléia com imagens da sessão onde os quatro homens foram flagrados. Cardoso pretende encaminhá-las para as corregedorias das Polícias Civil e Militar para tentar identificar se os manifestantes eram policiais. Suzane deve deixar prisão ainda hoje Jornal da Tarde/Diário de São Paulo, 29 de maio de 2006 Suzane von Richthofen passou o domingo sem receber visitas no Centro de Ressocialização de Rio Claro, no interior de São Paulo. Na sexta-feira, a jovem obteve habeas-corpus junto ao STJ para cumprir prisão domiciliar, mas só deve ser libertada hoje. O advogado e tutor da jovem, Denivaldo Barni, costuma visitá-la todo domingo, às vezes com a mulher. Eles são os únicos autorizados a entrar no CR no dia de visita para encontrar Suzane. Segundo a diretora administrativa da unidade, Andreza Inácio, durante a semana Suzane recebe apenas o advogado Mário Sérgio de Oliveira e a amiga Luzia Sanchez, também advogada. Visitas que estiveram com as detentas ontem contaram que Suzane estava tranqüila, sorridente e ansiosa para deixar a cadeia. Parentes das detentas disseram ainda que Suzane é bem tratada e distribui presentes. Na Páscoa, teria comprado ovos de chocolate para as companheiras. Suzane ocupa um alojamento com 14 mulheres. Segundo as visitas, ela está mais magra e mais loira. Polícia fecha duas centrais telefônicas O Estado de São Paulo/Jornal da Tarde, 29 de maio de 2006 Em operações distintas, policiais militares descobriram duas centrais telefônicas utilizadas por criminosos, na Zona Leste e no Centro da capital paulista. Em ambas as ações, seis pessoas foram presas em flagrante. A primeira central foi localizada por PMs da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), na Rua B, número

12 6, Parque São Rafael, Os policiais chegaram ao endereço graças à denúncia e prenderam Kátia Regina Calegari. Na casa dela foram apreendidos 11 aparelhos de telefone celular, três telefones fixos, um pager, um identificador de chamada, 22 acessórios e seis chips para celular. Kátia foi autuada por formação de quadrilha no 55º Distrito Policial (Parque São Rafael). Na Avenida Celso Garcia, 1.338, Brás, PMs encontraram a outra central telefônica e prenderam uma quadrilha de brasileiros e peruanos acusada de roubar caça-níqueis. Foram apreendidos três veículos, uma arma, R$ 157, um caça-níquel roubado em Santa Cecília, além de quatro telefones fixos e celulares. A central era usada para vender os equipamentos roubados. Homem usa pipa para passar drogas e celulares a detentos e é preso Diário do Grande ABC, 27 de maio de 2006 A polícia prendeu neste fim de semana um homem que utilizava uma pipa para entregar drogas e telefones celulares a detentos do Complexo Penitenciário Campinas-Hortolândia, interior de São Paulo. De acordo com informações do Bom Dia São Paulo (Rede Globo), Leandro Farias foi preso em flagrante tentando repassar aproximadamente 40g de maconha e cocaína com o brinquedo. Um papel com três números telefônicos também foi encontrado com o traficante. Presos fogem de penitenciária em Hortolândia Diário do Grande ABC, 28 de maio de 2006 Três presos fugiram na noite deste sábado da Penitenciária 1 de Hortolândia, no interior de São Paulo. A fuga só foi descoberta após a contagem dos presos, neste domingo. Ainda não há informações de como eles conseguiram se evadir do local. Leia entrevista com o presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, Dr. André Di Rissio, no site: