Espectro da Neuropatia Auditiva e mutação no gene Otoferlin: Relato de casos.
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- Juan Barateiro Pedroso
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1 Espectro da Neuropatia Auditiva e mutação no gene Otoferlin: Relato de casos. Palavras chave: audição, eletrofisiologia, perda auditiva neurossensorial Introdução: Com a evolução das técnicas diagnósticas, revelou-se um diferente distúrbio auditivo de amplo espectro, e denominado Espectro da Neuropatia Auditiva (ENA). Caracteriza-se como uma desordem relacionada à alteração da sincronia neural, apresentando preservação do funcionamento das células ciliadas externas 1. A mutação do gene otoferlin (OTOF) é causadora de um tipo de ENA recessiva, e nãosindrômica, em que, o principal sítio de lesão são as células ciliadas internas 2,3. As características audiológicas, de linguagem, meios comunicativos e percepção de fala destes pacientes pode se apresentar de forma heterogênea, e portanto, é de interesse de estudo para a Fonoaudiologia. Objetivo: Descrever na forma de estudo de caso clínicos, o aspecto etiológico, os achados audiológicos, de linguagem e comunicação de quatro casos com o diagnóstico de ENA, com mutação no gene OTOF. Método: os sujeitos são quatro crianças com idade variando entre 04 a 09 anos de idade, de ambos os sexos. Todos os casos com diagnóstico de ENA apresentam Emissões Otoacústicas (EOA) presentes, ausência Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico (PEATE) com presença de Microfonismo Coclear (MC), Imitanciometria com curva tipo A e ausência de reflexos estapedianos. Dos casos, apenas um é implantado e os demais fazem uso de Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI). Foi realizada avaliação genética, confirmando a mutação do gene OTOF em todos os casos. Para avaliação da linguagem e comunicação, foram utilizados o Protocolo de Observação Comportamental (PROC), Escala de Integração Auditiva Significativa (MAIS) e Questionário de Avaliação da Linguagem Oral (MUSS). APRESENTAÇÃO DOS CASOS CASO 1: Sexo masculino, 4 anos de idade com perda auditiva de grau profundo sensório-neural bilateral. Usuário de Implante Coclear unilateral à direita. Foi identificada uma mutação do OTOF em: c.5785a>c (p.asn1929his), nunca descrita na literatura. PROC Características gerais das habilidades comunicativas = Comunicação intencional com funções primárias por meios não simbólicos, restrita ou ausente participação em atividade dialógica. MAIS = Frequentemente a criança usa o dispositivo eletrônico sem resistência, não percebendo se está funcionando; não responde ao nome mesmo no silêncio
2 ;necessita de pistas visuais; não tem atenção a sons ambientais; não reconhece sinais auditivos que fazem parte da rotina doméstica ou escolar; não discrimina dois falantes usando somente a audição; não percebe sons de fala de sons ambientais e não associa entonação da voz (raiva, excitação, ansiedade) com o significado somente através da audição. Total de Pontos = 3 / 40 Índice: 7.5 % MUSS = Raramente usa vocalizações espontaneamente quando se comunica sua priorizando sinais e gestos; suas vocalizações não variam significativamente com o contexto e a mensagem; raramente tem o desejo de usar espontaneamente a linguagem oral para se comunicar com seus pais e/ou irmãos quando o tópico da conversa é conhecido e nunca quando o assunto não é conhecido ou para contatos sociais com pessoas ouvintes e estranhas; sua linguagem oral não é compreendida por outras pessoas não familiarizadas. Total de Pontos = 2 / 40 Índice: 5 % CASO 2: Sexo feminino, 7 anos de idade com perda auditiva flutuante severo/profundo sensório-neural, usuária de AASI bilateral. Foram identificadas duas mutações do OTOF em heterozigose composta : c.4981g>a (p.e1661k) no exon 41 e c.5431a>t (K1811X) no exon 44, sendo somente a segunda patogênica. PROC Características gerais das habilidades comunicativas = Comunicação intencional plurifuncional, ampla participação em atividade dialógica por meios verbais, ligadas ao contexto imediato. MAIS = A criança usa o dispositivo diariamente, retirando-o apenas para dormir; percebe se está funcionando; responde ao nome tanto no silêncio quanto no ruído sem precisar de pistas visuais e responde espontaneamente ao seu nome ao menos 75% das vezes na primeira tentativa, mesmo se a pessoa se encontra em outro cômodo da casa; tem atenção a sons ambientais; reconhece sinais auditivos que fazem parte da rotina doméstica; discrimina dois falantes usando somente a audição (pai, mãe, irmã mais velha); percebe sons de fala de sons ambientais; e associa entonação da voz (raiva, excitação, ansiedade) com o significado somente através da audição. Total de Pontos = 31 / 40 Índice: 77.5 % MUSS = Para atrair atenção dos outros frequentemente usa apenas vocalização em 75% das vezes, e 25% são acompanhadas de gestos; durante interações
3 comunicativas em 75% do tempo vocaliza e mostra algumas diferenciações de sons da fala. Total de Pontos =22 / 40 Índice: 55 % CASO 3: Sexo masculino, 8 anos de idade, com perda auditiva de grau profundo. Usuário de AASI bilateral. No seqüenciamento do gene OTOF foram identificados duas mutações em heterozigose composta : c.4981g>a (p.e1661k) no exon 41 e c.5431a>t (K1811X) no exon 44, sendo somente a segunda patogênica. PROC Características Gerais das Habilidades Comunicativas = Comunicação intencional plurifuncional, ampla participação em atividade dialógica por meios simbólicos não verbais. MAIS = Contenta-se com pouco tempo de uso, não percebe se está funcionando; não responde ao nome mesmo no silêncio; necessita de pistas visuais; não tem atenção a sons ambientais; não reconhece sinais auditivos que fazem parte da rotina doméstica ou escolar; não discrimina dois falantes usando somente a audição; não percebe sons de fala de sons ambientais; e não associa entonação da voz (raiva, excitação, ansiedade) com o significado somente através da audição. Total de Pontos = 2 / 40 Índice: 5 % MUSS = Raramente usa vocalizações espontaneamente quando se comunica; sua comunicação é baseada em sinais e gestos; suas vocalizações não variam com o contexto e a mensagem; raramente tem o desejo de usar espontaneamente a linguagem oral para se comunicar com seus pais e/ou irmãos quando o tópico da conversa é conhecido; e nunca quando o assunto não é conhecido ou para contatos sociais com pessoas ouvintes e estranhas; ocasionalmente sua linguagem oral é compreendida por outras pessoas não familiarizadas. Total de Pontos = 4 / 40 Índice: 10 % CASO 4 : Sexo feminino 9 anos de idade com perda auditiva de grau severo. Usuária de AASI bilateral. Mutação identificada no OTOF: c del16, no exon 15. PROC Características Gerais das Habilidades Comunicativas = Comunicação intencional plurifuncional, ampla participação em atividade dialógica por meios simbólicos e verbais. MAIS = Ocasionalmente a criança solicita o dispositivo e contenta-se em usá-lo numa parte do dia; relata e parece ficar perturbada quando seu dispositivo não está funcionando por alguma razão (detecta um mau funcionamento do dispositivo em mais
4 de 50% das vezes e está começando a diferenciar os problemas); nunca responde espontaneamente ao seu nome, tanto no silêncio quanto na presença ruído ambiental, se chamada auditivamente, sem pistas visuais; não está atenta aos sinais auditivos quando em novos ambientes; não reconhece, espontaneamente, os sinais auditivos que fazem parte de sua rotina doméstica ou escolar; não demonstra habilidade para discriminar espontaneamente dois falantes, usando somente a audição (como reconhecendo a voz da mãe x voz do pai x voz dos irmãos); não percebe, espontaneamente, as diferenças entre sons de fala e ambientais somente através da audição e não associa a entonação da voz (raiva, excitação, ansiedade) com o significado apenas através da audição. Total de Pontos = 4 / 40 Índice: 10 % MUSS = Ocasionalmente usa apenas vocalização para atrair atenção dos outros (no mínimo, 50% do tempo); freqüentemente vocaliza durante interações comunicativas (no mínimo, 75% do tempo); raramente tem controle sobre volume (forte/fraco) e/ou duração (curto/longo), em menos de 50% do tempo; freqüentemente é um desejo espontâneo da criança usar apenas linguagem oral para se comunicar com seus pais e/ou irmãos, quando o tópico da conversa é conhecido (no mínimo, 75% do tempo); raramente usa apenas a linguagem oral quando o assunto não é conhecido (menos da metade do tempo); não é desejo da criança usar a linguagem oral espontaneamente durante contatos sociais com pessoas ouvintes apenas com incentivo dos pais; a criança não usa apenas linguagem oral ao se comunicar com pessoas com quem não tem familiaridade (ou apenas com incentivo); ocasionalmente a linguagem da criança é compreendida por adultos que não estão familiarizados, e gestos e escrita ajudariam na compreensão da fala; raramente a criança usa espontaneamente estratégias orais apropriadas de reparação e esclarecimento quando a linguagem oral não é entendida pelas pessoas familiarizadas com ela (menos de 50% do tempo, a criança usará uma estratégia oral, como dizer a palavrachave devagar ou enfatizá-la na sua fala); e com pessoas que não estão familiarizadas com ela a criança não usa estratégias envolvendo comunicação oral, ou usa apenas com incentivo. Total de Pontos = 13 / 40 Índice: 32.5% Conclusão: Apesar das crianças possuírem ENA com a mesma etiologia genética e revelarem aspectos audiológicos similares, com variação somente quanto ao grau da perda auditiva, seus comportamentos auditivos e desempenhos comunicativos são
5 bastante distintos. Observamos que o caso 2 foi o único que apresentou habilidades comunicativas mais eficientes, sugerindo que o grau da perda auditiva moderado/severo, possa contribuir nas habilidades descritas. Os demais casos, não apresentam benefício significativo com os dispositivos, assim como desempenho comunicativo abaixo do esperado. Referências Bibliográficas: 1 Starr A, Picton TW, Sininger Y, Hood LJ, Berlin CI. Auditory neuropathy. Brain 1996; 119: Yasunaga S, Grati M, Cohen-Salmon M, El-Amraoui A, Mustapha M; Salem N, El-Zir E, Loiselet J, Petit C. A mutation in OTOF, encoding otoferlin, a FER-1-like protein, causes DFNB9, a nonsyndromic form of deafness. Nature Genetics 1999; 21: Varga R, Kelley PM, Keats BJ, Starr A, Leal SM, Cohn E, Kimberling WJ. Non-syndromic recessive auditory neuropathy is the result of mutations in the otoferlin (OTOF) gene. J Med genet 2003; 40:
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