IMPERIALISMO E NEOCOLONIALISMO Prof. Alvaro Senra
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- Mônica Chagas da Silva
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1 IMPERIALISMO E NEOCOLONIALISMO Prof. Alvaro Senra 1. Capitalismo Monopolista e Financeiro Durante o período de aproximadamente um século após o desencadeamento da Revolução Industrial, a paisagem do capitalismo industrial era composta pela intensa competição pelos mercados por um grande número de pequenas empresas industriais, formando o chamado capitalismo liberal-concorrencial. As inovações técnicas e produtivas ocorridas na segunda metade do século XIX, comumente chamadas de Segunda Revolução Industrial, baseadas na utilização de novas fontes de energia (petróleo e eletricidade) que possibilitaram o surgimento de novas indústrias, e o desenvolvimento sem igual dos transportes e comunicações, contribuíram para que esta paisagem sofresse grandes modificações. De forma correlata a estas inovações, ocorreram transformações na natureza do capitalismo: a partir da década de 1870 (sobretudo depois da crise econômica que atingiu o seu auge em 1873), podemos falar de um novo momento na história do capitalismo, o capitalismo monopolista e financeiro, caracterizado pelo domínio dos mercados por uma forte concentração empresarial e pelo domínio do mercado por grandes grupos econômicos. É importante notar que a concentração foi favorecida pelo fato de que os ramos mais importantes da indústria, a partir de fins do século XIX (aço, petróleo, indústrias química e de eletricidade) exigem investimentos de grande porte, somente possíveis através de uma grande concentração de capitais, do apoio do Estado, ou do financiamento por instituições financeiras. A concentração das empresas desenvolveu-se através de duas formas: a vertical e a horizontal. Na concentração horizontal, efetua-se o domínio de um determinado setor (ou fase) da produção de mercadorias. Ex: o domínio da fase do refino do petróleo e/ou de sua distribuição por uma determinada empresa. Na concentração vertical, uma empresa ou grupo de empresas tende a dominar as fases do processo produtivo, desde a extração de matérias-primas até a sua fabricação final e distribuição ao mercado consumidor. No capitalismo monopolista temos vários tipos de concentração e integração de empresas, geralmente conhecidos como trustes, holdings e cartéis.
2 Truste é uma associação financeira que resulta da fusão de várias firmas em uma única empresa, que tende a dominar um setor do mercado. Holding ocorre quando uma empresa central controla subsidiárias; juridicamente autônomas e aparentemente disputando o mercado, estas subsidiárias estão na verdade sob controle acionário de uma empresa central. Cartel é um acordo comercial entre várias empresas, que, embora conservem sua autonomia, se organizam em sindicatos para distribuir entre si cotas de produção ou parcelas do mercado, estabelecendo preços e eliminando a concorrência. É importante notar que, no capitalismo monopolista há uma tendência ao desaparecimento das fronteiras entre os bancos e as empresas industriais; seja por meio da compra de ações ou da absorção de empresas falidas, os bancos vão se interligando cada vez mais ao sistema produtivo, fazendo nascer o capital financeiro, cuja existência é um dos elementos mais importantes da fase monopolista do capitalismo. As conseqüências de todas estas transformações para a política não se fizeram esperar: no final do século XIX, observamos uma tendência ao abandono dos princípios liberais de não-intervenção do Estado nas relações econômicas, e a adoção crescente de medidas protecionistas por parte dos governos dos principais países capitalistas; de forma correlata ao protecionismo e á forte disputa por mercados, o nacionalismo se torna cada vez mais agressivo e vinculado aos interesses econômicos do grande capital. 2. A Partilha Afro-Asiática O desenvolvimento do capitalismo monopolista e financeiro, o protecionismo praticado pelos países capitalistas centrais, a existência de grandes excedentes de capitais, a busca incessante pelo domínio de mercados, a necessidade de matériasprimas para o abastecimento de suas indústrias, de mão-de-obra barata, de controle de pontos estratégicos do ponto de vista militar e comercial, e inclusive de terras disponíveis para realocar o excedente de população metropolitana (o desemprego havia aumentado muito com a crise capitalista da década de 1870, e a difusão de idéias socialistas e anarquistas causava temor às classes dominantes européias), foram as principais razões que levaram à expansão econômica e territorial do século passado, que nós denominamos como imperialismo e neocolonialismo. A palavra imperialismo se refere ao domínio de mercados, entendido de forma ampla; a América Latina, por exemplo, não sofreu dominação política direta no período compreendido entre o final do século passado e as primeiras décadas do século XX, mas
3 teve um papel na economia capitalista mundial de exportadora de artigos primários, importando produtos industrializados e tendo grande parte de sua economia interna dominada por investimentos diretos estrangeiros; por exemplo, em países como o Brasil e a Argentina, as ferrovias, frigoríficos, empresas de navegação e serviços urbanos, etc. eram, em sua maioria, de propriedade do capital externo (sobretudo inglês). Já o neocolonialismo se refere às áreas que sofreram dominação direta (política e militar) por parte das potências européias (e, mais tarde, dos Estados Unidos e do Japão); é importante ressaltar que há diferenças importantes entre o colonialismo praticado na Época Moderna (entre os séculos XV e XVIII) e o neocolonialismo contemporâneo. Enquanto o colonialismo moderno, praticado pelo Estado Nacional Absolutista e dirigido fundamentalmente para a América, se submetia às políticas mercantilistas (sobretudo ao Pacto Colonial e ao objetivo de promover a balança comercial favorável), o neocolonialismo é resultado de políticas do Estado capitalista contemporâneo, como conseqüência da existência de capitais excedentes, da disputa por mercados e por matérias-primas estratégicas, etc. O neocolonialismo se volta fundamentalmente para as áreas ainda não ocupadas pelos europeus, isto é, a África e a Ásia. Devemos ainda considerar outra diferença importante entre os dois processos de expansão européia: na Época Moderna, a principal justificativa utilizada pelos europeus para o exercício de sua dominação sobre os povos americanos e africanos foi de natureza religiosa, isto é, a necessidade de difusão da fé cristã e a busca de salvação das almas de indígenas e negros, no século XIX as argumentações principais utilizadas pelos defensores da política colonial foram a missão civilizatória dos europeus (levar aos povos coloniais os benefícios do progresso que, sozinhos, eles não conseguiriam alcançar) e a superioridade racial do homem branco (justificada a partir de conclusões pseudo-científicas). O neocolonialismo do século XIX concretizou-se de várias formas, dentre as quais destacamos: Os protetorados, em que as potências coloniais mantinham os chefes e as instituições políticas locais, dando uma aparência de autonomia, mas na verdade controlando de fato a economia e as mais importantes decisões da política através de funcionários designados por elas. São exemplos o Marrocos (protetorado francês), o Egito e partes da Índia (protetorados britânicos).
4 As colônias propriamente ditas são as áreas que se submeteram a uma completa ocupação territorial, com a implantação pelos colonizadores de um aparelho políticoadministrativo e militar. Podemos classifica-las em colônias de enraizamento e colônias de enquadramento. Colônias de enraizamento são aquelas áreas que, por seu clima agradável aos europeus, pela fertilidade de suas terras e abundância de riquezas minerais, atraíram um grande número de europeus, que expropriaram terras das populações nativas, estabelecendo duas sociedades paralelas a branca, ocupando as melhores terras, as funções mais bem remuneradas e de maior prestígio, os bairros bem urbanizados, e a nativa submetida a piores condições de vida. Ex: Argélia, Angola e África do Sul. Colônias de enquadramento são aquelas em que vivia apenas uma pequena minoria de europeus, exercendo as funções administrativas e apoderando-se do excedente de produção sem apropriar-se das terras nativas. Ex: colônias inglesas na África. Também podemos citar a existência de áreas de influência, regiões onde as grandes potências procuravam obter vantagens e privilégios exclusivos, através de tratados e da pressão militar. Ex: a China, na segunda metade do século XIX. Um dos momentos mais importantes do neocolonialismo foi a Conferência de Berlim ( ), que decidiu a Partilha da África pelas potências européias, o que foi feito sem nenhuma consideração pelas divisões étnicas e culturais dos povos nativos. Os povos africanos opuseram grande resistência à penetração européia, somente cedendo devido à superioridade em armas e recursos materiais das potências neocolonialistas; também devemos citar a Guerra dos Böers ( ), em que duas pequenas repúblicas, Orange e Transvaal, formadas na África do Sul por descendentes de antigos colonizadores holandeses, lutaram para defender seu território dos ingleses, que cobiçavam o ouro e os diamantes, que lá existem em grandes quantidades. A Conferência de Berlim também não eliminou conflitos e disputas por territórios entre as próprias potências européias; a França e a Alemanha disputaram intensamente a influência sobre o Marrocos, e franceses e ingleses tiveram sérias divergências sobre a posse de áreas na região do vale do rio Nilo. Na Ásia, a disputa por terras e mercados pelos europeus já havia se iniciado antes mesmo da Revolução Industrial, durante a expansão comercial e marítima; no século passado, o desenvolvimento do capitalismo industrial aumentou enormemente a cobiça por suas possibilidades de mercados e por suas riquezas.
5 A ocupação européia de partes da Índia vem desde o século XVI; nos séculos XVIII e XIX os ingleses aceleraram a penetração no subcontinente indiano, enfrentando forte resistência; podemos tomar como exemplo a Revolta dos Sipaios ( ), cuja derrota consolidou o domínio do Império Britânico sobre um grande território e uma imensa população. Na China, a pressão dos comerciantes ingleses pela abertura do mercado levou à Guerra do Ópio ( ), que resultou na concessão de Hong-Kong aos britânicos e no primeiro dos tratados desiguais, posteriormente estendidos a outros países; por estes tratados, os estrangeiros teriam direito a uma série de privilégios econômicos, políticos e jurídicos. A população chinesa reagiu ás humilhações impostas através de uma série de revoltas, como a dos Taipings ( ) e dos Boxers ( ), ambas de caráter xenófobo e que foram derrotadas com extremos de violência. A única nação asiática que conseguiu escapar ao domínio imperialista e, ao mesmo tempo, se transformar ela própria numa potência capitalista foi o Japão. Tendo sido pressionado pelos Estados Unidos no sentido de abrir o seu mercado aos comerciantes estrangeiros, o Japão reagiu através da Revolução Meiji (1867), que resultou num processo de centralização política e modernização econômica, adotando técnicas ocidentais e promovendo o surgimento de fábricas, ferrovias, etc. No final do século XIX, o Japão passava a adotar políticas imperialistas, conquistando territórios chineses, como a Coréia e a ilha de Taiwan. Nos territórios conquistados pelos europeus durante o período do imperialismo e neocolonialismo, a economia foi direcionada para o interesse dos Estados metropolitanos e de suas grandes empresas; formaram-se pequenas elites de populações européias (funcionários, militares, administradores, religiosos), além de pequenas partes das populações nativas, que receberam educação ocidental e ocupavam alguns postos de trabalho em empresas ou no serviço público. A grande maioria da população, no entanto, vivia na miséria, sofrendo ainda as humilhações do racismo dos colonizadores. As disputas por territórios coloniais no final do século XIX e início do século XX geraram grandes tensões nas relações entre os países europeus, e podem ser incluídas entre as principais causas da I Guerra Mundial ( ).
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