-Ilma Profª. Titular Silvana Artioli Schellini, digníssima. diretora da Faculdade de Medicina de Botucatu, em

Transcrição

1 1 Colação de Grau dos formandos do Curso de Graduação em Enfermagem XXI Turma 23/11/2012 -Ilma Profª. Titular Silvana Artioli Schellini, digníssima diretora da Faculdade de Medicina de Botucatu, em nome de quem eu saúdo todos os ilustres membros da mesa e demais autoridades aqui presentes e representadas. -Senhores membros da congregação e demais colegas professores aqui presentes. -Senhor Geraldo César Martins de Oliveira e Senhora Rosemara Peixoto de Camargo, em nome de quem saúdo todos os pais e amigos dos formandos aqui presentes. -Senhoras, Senhores.

2 2 -Caros formandos da XXI Turma de Enfermeiros, agora, meus afilhados. Uma solenidade de graduação marca tanto o fim de um caminhar como o começo de uma nova caminhada. Vendo nesta perspectiva, é um momento que liga o que foi e o que está por vir. E relembrando as palavras proferidas pelo pastor hoje pela manhã, significa o momento em que o rio deságua no mar. Neste dia tão especial para vocês formandos, seus pais, amigos, namorados e, também, para todos nós desta escola que os acolheu, quero dirigir algumas palavras buscando refletir sobre alguns aspectos da produção de saúde em nosso país. Tarefa esta que daqui para frente passa a ser assumida, também, por vocês, agora enfermeiros, e que não é fácil em um país que se destaca por várias contradições.

3 3 Vejamos algumas... Apesar de o Brasil ter se tornado recentemente a 6ª maior economia do mundo, ultrapassando a Grã- Bretanha, há ainda elevada concentração de renda. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, tendo por base o senso demográfico de 2010, apontam que os 10% mais ricos da população brasileira ganharam 45% do total de rendimentos, enquanto os 10% mais pobres, ficaram com 1,1%. Tomando como medida o coeficiente de Gini, que mede a desigualdade na distribuição da renda em 187 países, apenas sete nações apresentam distribuição pior do que a do Brasil, segundo a ONU. A criação do Sistema Único de Saúde (SUS), em 1988, tem sido analisada como uma das mais bem

4 4 sucedidas reformas da área social empreendida sob o novo regime democrático, tendo em vista o seu caráter universal e igualitário. A inclusão de vastas camadas da população anteriormente excluídas do acesso aos serviços e ações de saúde, não apenas básicos, mas também de média e alta complexidade, e o sucesso de algumas políticas e programas, como o de combate à aids e o programa Nacional de Imunização são exemplos concretos de avanços. No entanto, um rápido olhar para o cotidiano dos serviços de saúde é suficiente para identificar deficiências desse sistema. As perversas desigualdades no acesso e utilização dos serviços, com prejuízo dos mais pobres, as filas, a superlotação das emergências, a escassez de recursos nas unidades de saúde, a falta de leitos hospitalares são algumas das evidências da

5 5 inadequação entre o proposto pelo arcabouço jurídicolegal do SUS e a realidade dos serviços. Assim, evidencia-se o caráter contraditório do sistema de saúde brasileiro que, ao mesmo tempo, é um dos poucos que possibilita a realização de transplantes de coração, acesso à hemodiálise, dispensação gratuita de medicamentos contra a Aids, mas que, muitas vezes, não consegue garantir serviços básicos, permitindo que milhares de pessoas, cotidianamente, amontoem-se nas salas de espera das emergências, sem atendimento adequado. É neste sistema de saúde que, como vimos, que teve muitos avanços até aqui, mas que enfrenta muitos desafios, que vocês enfermeiros recém-graduados irão atuar. Neste cenário todos os profissionais realizam o

6 6 cuidado às pessoas, e o que difere no agir profissional de cada um é o modo como expressam esse cuidado. Segundo o filósofo Leonardo Boff, cuidado é um modo-de-ser singular do homem e da mulher. Sem cuidado, deixamos de ser humanos, ou seja, segundo ele o cuidado é elemento constitutivo do ser humano. Neste sentido, o cuidado somente surge quando a existência de alguém tem importância para mim. Passo então a dedicar-me a ele; disponho-me a participar de seu destino, de suas buscas, de seus sofrimentos e de seus sucessos, enfim, de sua vida...estamos diante de uma atitude fundamental, de um modo de ser mediante o qual a pessoa sai de si e centra-se no outro com desvelo e solicitude...a atitude de cuidado pode provocar preocupação, inquietação e sentido de responsabilidade.

7 7 A enfermagem está fundamentada pelo cuidado e se traduz em ação prática que dá suporte à vida. Nessa concepção, é importante reconhecê-la como um fazer profissional, único e absolutamente indispensável na área da saúde. Nós, enfermeiros, deveremos sempre ter em mente a noção clara de nossa atuação e de nosso espaço profissional, assim como entender que este se entrelaça em um contexto humano, que é também social e, portanto, político, mas também autônomo, não esquecendo que a responsabilidade da vida de cada um é do portador desta grande dádiva. O desafio da enfermagem está na construção de práticas de enfermagem que qualifiquem a vida. Na construção de um projeto coerente com os princípios do SUS, de acesso e universalidade do

8 8 direito à saúde, eqüidade e integralidade, respeitando o direito à cidadania, promovendo a capacidade de reflexão e, assim, de maior autonomia dos sujeitos. Neste momento de conclusão do Curso de Graduação em Enfermagem e passagem para a vida profissional, é inevitável, também, a nossa reflexão sobre a formação de vocês. Temos buscado em nossos momentos pedagógicos e também, sociais, uma educação que ultrapasse a transmissão de conhecimentos, estimulando e apoiando a construção do saber e valorizando as relações interpessoais, pautando-as no diálogo e na solidariedade. Tenham certeza de que, neste movimento de ensino/aprendizagem, nós professores aprendemos muito com vocês e acredito

9 9 que o ideal de formação perseguido por nossa Instituição seja revelado por vocês ao exercerem sua profissão. Sintam orgulho do nome desta escola que os acolheu, que vem ocupando lugar de destaque entre as instituições de formação de enfermeiros e médicos. Depois dessas reflexões, não posso deixar de me dirigir a vossos pais e cumprimentá-los por mais esta conquista, que é de vocês, sem dúvida, mas um prêmio para eles, que muitos esforços empreenderam para que chegassem até aqui. Ao longo desse período de convivência compartilhamos momentos, segredos, conquistas, derrotas, horas boas e horas difíceis. Vivemos um encontro privilegiado. Juntos, refletimos sobre os aspectos técnico-científicos, éticos e, sobretudo,

10 10 humanos do cuidar em enfermagem. Construímos vínculo. Por tudo isso, vocês podem imaginar a minha felicidade, honra e emoção de ter sido convidada para ser a paraninfa da turma. Meu sincero agradecimento por esta homenagem. Desejo a cada um de vocês que permaneçam firmes no propósito de alcançarem todos os sonhos sonhados, que vivam intensamente todos os dias, amem e respeitem profundamente todas as pessoas que cruzarem seus caminhos, exerçam a profissão de forma humanizada, livre, autônoma, crítica, criativa, ética e solidária. Que o cuidado prestado seja gerador de inquietação e de responsabilidade entre vocês e a comunidade, família ou pessoa. Mobilizem suas forças e potências para que possamos juntos continuar na construção de um Sistema Único de Saúde universal e

11 11 equânime, contribuindo, assim, com a construção de uma sociedade mais humana e justa. Por isso, não se conformem com a comodidade e mediocridade, não tenham medo de mudar, nunca desistam dos seus ideais. Voem e descubram novos horizontes e que Deus esteja sempre iluminando, guardando e protegendo os seus caminhos. Obrigada pela convivência, Grande beijo no coração de vocês. Marli