future Back to the Laboratório Rogério Marcondes*, Jhonatan Bocutti**, Henrique Pires*** Rev Dental Press Estét jan-mar;10(1):32-50

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1 32 Laboratório future Back to the Rogério Marcondes*, Jhonatan Bocutti**, Henrique Pires*** *Especialista em Dentística, FAB. Fellow em Odontologia Estética, Ohio State University. Professor, Dental Esthetic Center Tranning, Curitiba/PR. Presidente da Sociedade Brasileira de Odontologia Estética. ** Técnico em Prótese Dental pela Centpar-PR. Professor da Dental Esthetic Center Tranning Curitiba-PR. *** Graduado em Odontologia pela Pontifícia Universidade Católica PUC/PR. Professor da Dental Esthetic Center Tranning Curitiba-PR Como citar esta seção: Marcondes R, Bocutti J, Pires H. Back to the future.

2 Marcondes R, Bocutti J, Pires H 33 O desenvolvimento das restaurações adesivas na Odontologia proporcionou uma revolução no mercado odontológico. Muitas inovações e tecnologias foram estabelecidas, técnicas mudaram e o conhecimento se expandiu, mas ainda temos situações nas quais nos encontramos no início de nossa evolução. A busca implacável pela perfeição nos proporciona alguns desafios, principalmente quando trabalhamos dentro de um filosofia de Odontologia minimamente invasiva e biomimética. A confecção de restaurações unitárias em elementos anteriores é, e sempre será, um dos maiores desafios da Odontologia Estética. Não existe uma regra, não existe um padrão, mas temos ferramentas que podem nos auxiliar para termos um resultado satisfatório. No desenvolvimento da técnica para restaurações cerâmicas sobre elementos unitários, percebemos que a cerâmica feldspática tem uma melhor capacidade de mimetizar as características ópticas e de reflexão de luz dos dentes naturais, por meio da correta estratificação e da reprodução intrínseca dos detalhes e características na aplicação da cerâmica. No início das restaurações com cerâmica feldspática, ela era aplicada sobre uma fina folha de platina assentada no modelo de gesso. Hoje, a grande maioria dos técnicos faz a aplicação do material sobre um revestimento refratário. Nesse artigo, iremos demonstrar, passo a passo, a confecção de uma faceta em cerâmica feldspática, confeccionada sobre folha de platina, para um incisivo central superior escurecido.

3 34 Back to the future TÉCNICA DA FOLHA DE PLATINA A aplicação de cerâmica sobre folha de platina foi inicialmente preconizada no final do século XIX por Charles H. Land 1,2, onde ele assentava a folha sobre o dente preparado e realizava a aplicação do seu próprio sistema cerâmico de baixa fusão, que era queimado em um forno a gás. No século XX, motivado pelas exigências de beleza impostos pela mídia hollywoodiana, o dentista Charles Pincus desenvolveu o que hoje nós conhecemos como faceta cerâmica 3,4, por meio da técnica da folha de platina. Desde então, muitas pesquisas e estudos vêm sendo realizados para conseguir aderir de maneira satisfatória e duradoura a peça cerâmica ao dente. Em 1983, Horn descreveu o método para confecção de facetas laminadas sobre folha de platina 5. Mais atualmente, profissionais como Daniel Materdomini, Pinhas Adar, Willi Geller, Sascha Hein, entre outros, vêm difundindo essa técnica que foi fundamental para chegarmos ao estado atual da arte 6,7. 1. Vista inicial do sorriso. CASO CLÍNICO Paciente do sexo feminino, 35 anos de idade, compareceu ao consultório odontológico relatando que estava insatisfeita com o incisivo central superior esquerdo, o elemento 21. Realizou-se anamnese, exame clínico e radiográfico, sendo constatado que o elemento apresentava tratamento endodôntico, porém, com cimento obturador remanescente no terço cervical de sua coroa clínica do dente, o que provavelmente foi um dos fatores que propagou o escurecimento localizado na cervical desse dente (Fig. 1 a 4). 3. Vista inicial interna dos dentes superiores.

4 Marcondes R, Bocutti J, Pires H Vista inicial aproximada do sorriso. 4. Vista inicial lateral.

5 36 Back to the future Para o tratamento, foi planejada a desobturação do canal radicular 2mm além da margem óssea e o preenchimento com resina composta. Optamos por utilizar a resina termicamente modificada (RTM) pela facilidade de manipulação e pela melhor adaptação da resina fluidificada termicamente. Após a etapa inicial, o tratamento clareador foi iniciado, envolvendo duas sessões de clareamento em consultório com peróxido de hidrogênio a 36%, associado a três semanas de clareamento caseiro, com peróxido de carbamida a 10%, entre as duas sessões de clareamento assistido. O objetivo era tentar equilibrar a cor para não precisar realizar a restauração cerâmica, mas isso não ocorreu, pois a cervical permaneceu mais escura (Fig. 5). Para solucionar de maneira definitiva, planejamentos a realização de uma faceta em cerâmica feldspática, confeccionada por meio da técnica da folha de platina (Foil). Como o elemento 21 estava escurecido apenas na região cervical, foi realizado um preparo invertido para essa faceta, 0,3mm subgengival, onde a porção cervical sofreu um desgaste mais acentuado (Fig. 6), pois havia a necessidade de que o remanescente fosse mascarado, e os terços médio e incisal sofreram um leve desgaste, somente para a peça cerâmica cobrir a extensão vestibular e acabar em zero na borda vestibular do dente, sem a realização do desgaste convencional da borda incisal (Fig. 7, 8). Com isso, toda a caracterização intrínseca da borda incisal e cor do terço médio, uma região de alto valor cromático, não foram perdidas, facilitando a mimetização do elemento com os dentes vizinhos e proporcionando um tratamento extremamente conservador. Toda a margem do preparo foi regularizada com um recortador de margem gengival (Fig. 9). Após o preparo, uma etapa muito importante é o registro de cor do remanescente dentário, o que auxiliará o ceramista em seu trabalho de mimetizar o artefato protético (Fig. 10). 5. Registro de cor do elemento 21, cor A3. Observe o escurecimento acentuado na terço cervical, e praticamente inexistente no terço incisal. 6. Preparo mais acentuado da região cervical, com uma broca troncocônica de granulação fina com extremidade arredondada, formando um leve chanfro na porção escurecida, para permitir que a cerâmica seja capaz de mascarar de maneira eficaz o substrato.

6 37 Marcondes R, Bocutti J, Pires H 8. Desgaste dos terços médio e incisal vestibulares, realizado com broca diamantada de granulação fina, sem realizar redução incisal no sentido inciso-cervical. 9. Recortador de margem gengival foi utilizado para regularizar toda a margem do preparo. 10. Seleção de cor do remanescente dentário, cor B3. 7. Preparo interproximal realizado com uma broca diamantada de granulação fina em forma de torpedo.

7 38 Back to the future O preparo foi moldado com silicone de adição, e um provisório com resina bis-acrílica cor A1 foi confeccionado no dente 21 (Fig. 11, 12). A restauração cerâmica foi confeccionada por meio da técnica de duas queimas sobre folha de platina no modelo de gesso troquelizado. A cerâmica utilizada foi a Creation CC (Willi Geller/Jensen-Creation, Áustria). Para iniciar a aplicação da cerâmica, a folha de platina teve de ser assentada no troquel, sua manipulação exige muito cuidado e delicadeza, pois ela é extremamente fina e fácil de perfurar (Fig. 13 a 16). O ideal é realizar uma simulação com papel alumínio, para entender como adaptar a folha no preparo. Outro fator importante para a adaptação correta da platina ao troquel é delimitar o preparo, no troquel, sem ser muito agressivo, para não criar uma área de retenção além do limite do preparo, o que dificultaria a remoção e o assentamento da folha para realizar as queimas (Fig. 14). 11. Provisório do elemento 21, confeccionado com resina bis-acrílica cor A1. Nessa situação, o provisório foi confeccionado tendo como referência o próprio dente da paciente, pois não foi alterado seu formato, forma ou posicionamento. Somente condicionamos o tecido gengival para uma situação mais apical. Para fixar o formato da folha sobre o preparo, é realizada a queima wash, ou conector, com uma fina camada de massa translúcida, apenas para estabilizar seu formato (Fig. 17, 18). Com a folha estável em sua forma e posição, ela está pronta para receber as massas que irão reproduzir o dente. Como o dente apresentava um substrato escurecido (Fig. 10), a primeira aplicação de cerâmica foi para mascarar a cor cervical (Fig. 19, 20). Em seguida, foi aplicada uma massa para reestabelecer a cor e as características intrínsecas do dente a ser restaurado (Fig. 21). Para a segunda queima, foi aplicada uma fina camada de esmalte translúcido, cobrindo toda a superfície do elemento (Fig. 22). Com a estratificação completa, o acabamento e a texturização foram realizados com brocas diamantadas de granulação fina e o glaze foi aplicado (Fig. 23, 24). 12. Novo registro de cor dos dentes adjacentes. Cores da esquerda para direita: BL3, A1, A2, B1.

8 Marcondes R, Bocutti J, Pires H Modelo de gesso troquelizado. 14. A delimitação do troquel deve ser suave, evitando a formação de retenção após o término do preparo (A). Selecione um tamanho compatível da folha de platina (B). Adapte a folha sobre o preparo, evite que fiquem muitos excessos de material, pois isso dificultará o brunimento da platina no troquel (C, D).

9 40 Back to the future 15. Folha assentada sobre o troquel de gesso. 16. Ajuste interproximal deve ser realizado no modelo troquelado. 17. Aplicação do wash, ou conector, uma fina camada de cerâmica CLO (Creation CC) (esq.). Aspecto após a queima entre 930 º C e 950 º C.

10 Marcondes R, Bocutti J, Pires H Aspecto final do conector, agora pronto para o início da estratificação. 19. Seleção do material que irá mascarar o remanescente escurecido, massa PS0 (Creation CC).

11 42 Back to the future 20. Aplicação da massa PS0 (Creation CC) para mascarar região cervical, onde o croma está mais saturado. 21. (A) Estratificação das camadas de cerâmica, aplicação de uma camada fina de dentina B1 (Creation CC); (B) reprodução dos detalhes incisais com as massas TI OT (Creation CC); (C) detalhes proximais reproduzidos com as massas OS OT (Creation CC); (D) estratificação da primeira queima finalizada, pronta para ir ao forno (930 º C).

12 Marcondes R, Bocutti J, Pires H (A) Aplicação da segunda queima, uma fina camada de esmalte com as massas OT + NT + TI-02 (Creation CC); (B,C) resultado final da segunda queima (925 º C ).

13 44 Back to the future 23. (A) Demarcação da área de espelho produzida com crayon vermelho; (B) demarcação com crayon azul da área de espelho desejada; (C) marcação das características de superfície a serem reproduzidas com brocas diamantadas de granulação fina. (D) Aspecto final da delimitação da área de espelho e textura de superfície.

14 Marcondes R, Bocutti J, Pires H Cerâmica após o glazeamento. Ela deve ser removida da folha de platina com uma pinça hemostática. Se permanecer algum resquício de platina na superfície cerâmica, ela deve ser jateada com óxido de alumínio de 25 ou 50 micrômetros. 25. Observe a espessura, cor, textura e delicadeza do artefato cerâmico finalizado.

15 46 Back to the future Antes de remover a cerâmica da folha, pontas de borracha foram utilizadas para regularizar o brilho da superfície. A remoção da restauração cerâmica da folha de platina foi realizada com o auxílio de uma pinça hemostática de ponta chata, tracionando-a da superfície da cerâmica. Caso haja necessidade de remover algum pedaço que permaneça aderido na cerâmica, deve ser utilizado óxido de alumínio de 25 ou 50 micrômetros (Fig. 24, 25, 26). Para a cimentação, o provisório foi removido e, sem deixar que os dentes adjacentes desidratassem o artefato cerâmico, foi provado com a pasta de prova try- -in, para seleção da cor que seria ideal para cimentação (Fig. 27). Em trabalhos onde a cerâmica está muito fina e translúcida, a prova do cimento com a pasta try-in é fundamental para chegarmos ao valor exato dos dentes adjacentes. O erro comum em restaurações unitárias é provar apenas com a superfície do dente úmida e cimentar com cimentos transparentes, ou de baixo valor, com o dente ficando acinzentado depois de colado, o que representa que ficou com baixo valor. Após a prova e aprovação dos profissionais e da paciente, o dente foi devidamente cimentado. Para tanto, a cerâmica foi condicionada e preparada seguindo a técnica de condicionamento de superfície para cerâmica feldspática, e o dente foi limpo com ultrassom e uma pasta de pedra-pomes com clorexidina 0,2%; a superfície a ser aderida foi condicionada com ácido fosfórico 37% por 15 segundos e lavada com água. Clorexidina 0,2% foi utilizada antes da aplicação do primer e, depois de removido o excesso de umidade com uma cânula de aspiração e jatos de ar, o adesivo do sistema adesivo OptiBond FL (Kerr, EUA) foi aplicado. Simultaneamente, ele foi aplicado na superfície a ser aderida e previamente condicionada da cerâmica. O agente cimentante utilizado nessa situação foi a resina composta IPS Empress Direct cor Bleach XL (Ivoclar Vivadent, Liechtenstein), termicamente modificada a 68ºC (Fig. 28). Os excessos de resina foram removidos com pincéis de borracha e o dente foi polimerizado por 60 segundos em cada face. Após a polimerização da resina, os excessos foram removidos com uma microlâmina de Beavers, os ajustes oclusais foram realizados e o trabalho foi concluído. A paciente retornou após 21 dias para a verificação final do trabalho (Fig. 29, 30, 31).

16 Marcondes R, Bocutti J, Pires H Aspecto final da faceta laminada confeccionada sobre a folha de platina. 27. Prova da restauração cerâmica com a pasta de prova try-in, cor Bleach. 28. Laminado cerâmico do elemento 21 cimentado com resina composta Empress Direct, cor Bleach XL (Ivoclar Vivadent, Liechtenstein) termicamente modificada a 68 º C. Fotografia imediata após a cimentação.

17 48 Back to the future 29. Vinte e um dias após a cimentação. Observe a capacidade de mimetização da faceta cerâmica na borda incisal, onde os detalhes intrínsecos foram preservados e somente uma fina camada de cerâmica translúcida foi aplicada. 31. Observe a qualidade da textura de superfície, brilho e cor que essa restauração reproduziu.

18 Marcondes RR, Bocutti J, Pires H Observe a fidelidade de reprodução das características superficiais do dente homólogo.

19 50 Back to the future Referências: 1. Jones DW. Development of dental ceramics. An historical perspective. Dent Clin North Am. 1985;294: Naylor PW. Introduction to metal-ceramic technology. 2a ed. Chicago: Quintessence; Greggs T. Historische perspektien. In: Garber A, Goldstein E, Feinman R, editors. Keramische Verblendschalen (Veneers). Berlin: Quintessenz; p Pincus CL. Building mouth personality. Presented at the California State Dental Association. California: California State Dental Association; Horn HR. A new lamination, porcelain bonded to enamel. NY State Dent J. 1983;49: Adar P. Spezielle effekte und charakterisierung. In: Graber A, Goldstein E, Feinman R, editors. Keramische verblendschalen (Veneers). Berlin: Quintessenz; p Hein S, Geller W. The platinum foil technique: history, indication, fabrication, and fit. QDT. 2011;34: Endereço para correspondência: rogerio@rogeriomarcondes.com.br

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