The International Journal of Periodontics & Restorative Dentistry Edição em Português

Transcrição

1

2 The International Journal of Periodontics & Restorative Dentistry Edição em Português

3 49 A Influência da Cor Dentária no Preparo para Facetas Laminadas sob uma Perspectiva Minimamente Invasiva: Relato de Caso Christian Coachman, DDS, CDT 1 Galip Gurel, DDS, MSD 2 Marcelo Calamita, DDS, MSD, PhD 1 Susana Morimoto, DDS, MSD, PhD 3 Braulio Paolucci, DDS 4 /Newton Sesma, DDS, MSD, PhD 5 Vários tipos de preparos dentários para facetas laminadas têm sido propostos, dependendo de fatores como as propriedades do material, a cor da estrutura remanescente, a necessidade de alteração do contorno dentário, a técnica laboratorial de preparo e as relações oclusais. Observações clínicas de sucessos e falhas, associadas ao desenvolvimento de técnicas e materiais, permitiram o delineamento de parâmetros seguros para a realização de preparos dentários para laminados cerâmicos ou mesmo a cimentação de facetas sem qualquer preparo. Este artigo descreve o uso de um enceramento diagnóstico adicional que é transferido para a boca através de um mock-up intraoral (provisório estético pré-avaliativo) com parâmetros matemáticos associados para guiar os preparos. Esta técnica, denominada Faça as Contas e apresentada aqui na forma de um relato de caso clínico, tem como objetivo evitar o preparo dentário excessivo e incorreto através da indicação da quantidade e dos locais exatos de redução dentária necessária para obtenção da cor e do formato desejado. (Int J Periodontics Restorative Dent - edição em português 2017;2: doi: /prd201749). Referência original: Int J Periodontics Restorative Dent 2014;34: doi: /prd Consultório particular, São Paulo, Brasil. 2 Consultório particular, Istambul, Turquia; Professor visitante, Universidade de Nova Iorque, Faculdade de Odontologia, Nova Iorque, Nova Iorque, EUA; Professor visitante, Universidade de Marselha, Marselha, França. 3 Professor, Programa de Graduação, Faculdade de Odontologia, Universidade de Ibirapuera, São Paulo, Brasil. 4 Consultório particular, Barbacena, Brasil. 5 Professor assistente, Departamento de Prótese, Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil. Correspondência para: Dr. Christian Coachman, Rua Bento de Andrade, 116, São Paulo- SP, Brasil, ; digitalsmiledesign@hotmail.com by Quintessence Publishing Co Inc. Facetas laminadas são restaurações altamente estéticas com resultados previsíveis quando baseadas em indicações adequadas. 1 5 Várias formas de preparo dentário para facetas têm sido propostas e dependem de fatores como propriedades da cerâmica, cor da estrutura remanescente, necessidade de modificação da estrutura dentária, técnica de fabricação laboratorial e relações oclusais. Além disso, os conceitos e as habilidades do cirurgião-dentista, em conjunto com a perícia do técnico, têm influência significativa no resultado definitivo. Ao longo do tempo, observações clínicas de sucessos e falhas, 6 9 associados ao desenvolvimento de técnicas e materiais, permitiram o delineamento de parâmetros seguros para, efetivamente, realizar 10,11 ou não preparos dentários para a cimentação de facetas cerâmicas. Preparos para facetas laminadas podem ser divididos didaticamente em três gerações. Na primeira geração (guia de profundidade), pontas diamantadas de dimensões preestabelecidas são usadas para a realização do preparo, as quais pos- Volume 2, Número 1, 2017

4 50 suem medidas padronizadas para a redução da face vestibular e porção incisal. Isso produz um preparo não individualizado e excessivamente agressivo. Trata-se de uma técnica aceitável quando se deseja um contorno final similar ao do dente, com discretas modificações anatômicas e de cor. É importante destacar que, em um número significativo de casos, o paciente perdeu a estrutura dentária devido à abrasão, erosão e atrição, e necessita que este volume seja restabelecido. Caso a espessura do esmalte e da dentina perdidos não for diagnosticamente restaurada no enceramento e mock-up antes do preparo, uma redução desnecessária pode ser realizada na estrutura remanescente. Portanto, tal conceito de preparo dentário não considera o volume que poderia ser restabelecido ou mesmo adicionado, e o dente simplesmente é preparado até se obter uma espessura uniforme para o material restaurador, definida pela estrutura dentária remanescente. A segunda geração (guia de silicone) recomenda a análise e o planejamento do preparo através de um enceramento diagnóstico no modelo e a confecção de um guia de silicone, levando em consideração as dimensões finais do dente. Os guias de silicone são usados na boca para guiar a quantidade e o local do preparo. Contudo, este ainda é realizado à mão livre e requer reavaliações constantes com os guias até a sua conclusão. A terceira geração (mock-up e preparo do dente por meio do método de provisório pré-avaliativo [APT])1, é a técnica atualmente recomendada pelos autores para o preparo dentário para facetas laminadas. O objetivo é restabelecer completamente ou mesmo aumentar o volume dentário até o ponto permitido estética e funcionalmente, e preparar por meio do ATP, o qual é usado como um guia preciso. 23 Portanto, quanto mais volume puder ser adicionado, mais conservador será o preparo. No intuito de obter um preparo individualizado e previsível de sucesso com facetas, duas questões devem estar em mente: (1) Quanto de volume dentário pode ser aumentado? (2) O quão delgada pode ser uma faceta? As respostas para tais questões indicarão a espessura necessária do preparo dentário e, consequentemente, o quanto de esmalte será preservado. 23 A primeira questão é respondida com o auxílio do mock- -up, que pode ser confeccionado diretamente na boca ou com um APT obtido de um enceramento diagnóstico, seguido de conceitos funcionais e estéticos. A resposta para a segunda questão depende, principalmente, da cor atual da estrutura remanescente e da cor final desejada. Portanto, para saber a quantidade exata de redução da estrutura, será necessário executar uma operação matemática: EV LT = P onde EV significa o volume exato obtido com o mock-up; LT é a espessura da faceta laminada necessária de acordo com a cor final e inicial, e P representa a quantidade do preparo. Este artigo apresenta a técnica denominada Faça as Contas, usada em conjunto com os preparos de terceira geração, relacionando a cor e o contorno final da restauração com o preparo e a espessura dos laminados cerâmicos. Relato de Caso O paciente, um homem de meia-idade, apresentou-se ao consultório particular do autor queixando-se da cor e do tamanho de seus dentes e de ameias muito amplas (Fig 1). Um exame meticuloso da relação entre os dentes, o sorriso e a face do paciente foi realizado. A inclinação do dente e a posição das bordas incisais, o plano incisal e oclusal, e as margens gengivais foram avaliados através de fotografias e filmes segundo o protocolo Digital Smile Design (DSD) 24,25. O paciente e o clínico definiram algumas características anatômicas personalizadas de acordo com os princípios do visagismo. 26 A equipe e o paciente decidiram que, para obter os melhores resultados estéticos, seria necessário realizar um aumento de coroa clínica. O DSD ajudou no desenho de novas restaurações, auxiliou na apresentação do tratamento, e guiou o enceramento diagnóstico (Fig 2). A partir deste, os guias de silicone foram fabricados de forma a confeccionar o APT com resina bisacrílica (Luxatemp, DMG; Fig 3). Em alguns casos, estes mock-ups podem não ser exatamente iguais The International Journal of Periodontics & Restorative Dentistry Edição em Português

5 51 Fig 1 Situação pré-tratamento. O paciente queixou-se da cor e do tamanho dos dentes, bem como das ameias incisais, que eram muito abertas. Fig 2 Enceramento diagnóstico alterando os problemas morfológicos detectados. Os dentes foram alongados em todas as três dimensões. Fig 3 Testando o desenho na boca com o mock-up usando um guia de silicone e resina bisacrílica. ao enceramento diagnóstico em função da pressão hidráulica exercida ao se posicionar o guia de silicone carregado com material resinoso; portanto, recomenda-se a colocação cuidadosa. O ATP funcionou como um test drive, sendo totalmente avaliado pelo paciente e pela equipe, acompanhado de fotografias e vídeo. Todas as modificações e ajustes foram realizados nesta etapa, de forma a alcançar o melhor resultado possível quanto à estética, fonética e oclusão. Após a aprovação do paciente, uma moldagem do mock-up ajustado foi obtida e funcionou como uma referência personalizada para o trabalho final. A partir desta etapa, os preparos, por meio do APT, foram executados com pontas diamantadas de dimensões predeterminadas (diretamente relacionadas à espessura das facetas laminadas de porcelana), de maneira similar aos da primeira geração, porém Tabela 1 Cálculo da quantidade de preparo dentário (em mm) necessário para o presente caso clínico Quantidade de Região Volume extra (EV) obtido com mock-up Espessura do Laminado preparo dentário (P) para alteração de cor (A2 para A1) Terço cervical 0,1 a 0,3 0,3 0 a 0,2 Terço médio 0,4 0,3 0 Terço incisal 0,6 0,5 0 Área interproximal 0,1 a 0,3 0,5 0,2 a 0,4 Borda incisal 1 1 a 1,5 0 a 0,5 com a diferença de serem realizados com um guia preciso, ao invés de diretamente sobre a estrutura dentária. Trabalhando desta forma, observa-se com frequência que o preparo nem toca o esmalte, dependendo do volume dentário final. A operação matemática (EV LT = P) foi realizada para quatro regiões do dente: os terços cervical, médio e incisal, e a área interproximal. Com base neste cálculo, o esmalte dos terços médio e incisal permaneceu intocado (Quadro 1 e Fig 4). O preparo foi iniciado através do APT no mock-up, realizando- -se desgastes incisais (Fig 5) com pontas diamantadas cilíndricas ou cônicas de diâmetro conhecido. Havia três desgastes que variavam em profundidade de acordo com o planejamento anterior do dentista e do técnico em relação à necessi- Volume 2, Número 1, 2017