ACÓRDÃO , da Comarca de Guararapes, em que é apelante. FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO, é apelado MARIA CHRISTINA

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº , da Comarca de Guararapes, em que é apelante FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO, é apelado MARIA CHRISTINA WALDER DE MENDONÇA GALIANO. ACORDAM, em do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmo. Desembargadores MARIA LAURA TAVARES (Presidente) e NOGUEIRA DIEFENTHALER. São Paulo, 23 de março de FRANCISCO BIANCO RELATOR Assinatura Eletrônica

2 VOTO Nº APELAÇÃO Nº COMARCA: Guararapes APELANTE: Fazenda do Estado de São Paulo APELADA: Maria Christina Walder de Mendonça Galiano MM. JUIZ: Sabrina Salvadori Sandy RECURSO DE APELAÇÃO DIREITO TRIBUTÁRIO ITCMD RENÚNCIA DE USUFRUTO INSTITUÍDO SOBRE BEM IMÓVEL AUSÊNCIA DE FATO GERADOR PRETENSÃO À REPETIÇÃO DO INDÉBITO POSSIBILIDADE. 1. Preliminarmente, presença do interesse de agir, evidenciado o binômio possibilidade/necessidade para o ajuizamento da ação, meio adequado à pretendida restituição do valor objeto de tributação indevida. 2. No mérito, a renúncia de usufruto, por meio de escritura pública, não caracteriza hipótese de incidência tributária de ITCMD. 3. Incidência do artigo 2º da Lei Estadual nº / Precedentes da jurisprudência desta E. Corte de Justiça. 5. Ação de repetição de indébito, julgada procedente. 6. Sentença, mantida. 7. Recurso de apelação, desprovido. Trata-se de recurso de apelação interposto contra a r. sentença de fls. 64/68, de relatório adotado, que julgou procedente ação de repetição de indébito tributário, condenando a parte ré à devolução do valor de R$ 9.800,00, mais juros de mora e correção monetária, por força do recolhimento indevido de ITCMD. Em razão da sucumbência, a parte ré foi condenada, também, ao pagamento de honorários advocatícios, no valor de R$ 1.000,00, nos termos do artigo 20, 4º, do Código de Processo Civil. 2/13

3 A parte apelante, em razões recursais, sustentou, em síntese, o seguinte: a) preliminarmente, falta de interesse de agir, em razão do princípio da irretroatividade tributária; b) no mérito, aduziu que a renúncia de usufruto, por escritura pública, caracteriza a hipótese de incidência tributária; c) no caso dos autos, o usufruto decorreu de ato de doação, sendo devido o recolhimento remanescente, na oportunidade de eventual renúncia. Por tais argumentos, postulou a improcedência da ação. Recurso de apelação tempestivo, recebidos nos efeitos devolutivo e suspensivo, isento de preparo, com resposta. É o relatório. Inicialmente, observa-se que não há reexame necessário, uma vez que o direito controvertido é inferior a 60 salários mínimos, nos termos do 2º do artigo 475 do Código de Processo Civil. O recurso de apelação não comporta provimento, porque a r. sentença de Primeiro Grau deu a melhor solução ao caso concreto, ratificando-se os seus fundamentos nesta oportunidade. Conforme dispõe o artigo 252 do atual Regimento Interno deste Egrégio Tribunal de Justiça: nos recursos em geral, o 3/13

4 relator poderá limitar-se a ratificar os fundamentos da decisão recorrida, quando, suficientemente motivada, houver de mantê-la. No caso vertente, a respeitável sentença impugnada analisou todas as questões controvertidas, bem como, as provas produzidas pelas partes, chegando à irrepreensível e corretamente fundamentada conclusão de procedência da ação. Assim, uma vez que nas razões recursais não há nenhum elemento novo, mas, tão somente, a reiteração de questões já enfrentadas em primeiro grau, é forçoso concluir pela aplicabilidade do artigo 252 acima transcrito, para negar provimento ao recurso, ratificando-se os termos da r. decisão ora combatida. O Colendo Superior Tribunal de Justiça legitima tal posicionamento, conforme o venerando aresto a seguir transcrito: PROCESSUAL CIVIL. ACÓRDÃO PROFERIDO EM EMBARGOS DECLARATÓRIOS. RATIFICAÇÃO DA SENTENÇA. VIABILIDADE. OMISSÃO INEXISTENTE. ART. 535, II, DO CPC. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO. 1. Revela-se improcedente suposta ofensa ao art. 535 do CPC quando o Tribunal de origem, ainda que não aprecie todos os argumentos expendidos pela parte recorrente, atém-se aos contornos da lide e fundamenta sua decisão em base jurídica adequada e suficiente ao 4/13

5 desate da questão controvertida. 2. É predominante a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça em reconhecer a viabilidade de o órgão julgador adotar ou ratificar o juízo de valor firmado na sentença, inclusive transcrevendo-o no acórdão, sem que tal medida encerre omissão ou ausência de fundamentação no decisum. 3. Recurso especial não-provido. (REsp /RS, Rel. o Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, SEGUNDA TURMA, julgado em 04/09/2007, DJ 27/09/2007, p. 248). Trata-se de ação de rito ordinário, objetivando a repetição de indébito tributário, tendo em vista a ausência de hipótese de incidência de lançamento de ITCMD, relativamente à renúncia de usufruto sobre bem imóvel, mediante Escritura Pública. Rejeita-se, desde logo, a matéria preliminar arguida, tendo em vista a presença de interesse de agir, na modalidade adequação e necessidade da via processual eleita pela parte autora. Isso porque, a Lei Estadual nº /00, que instituiu o ITCMD no Estado de São Paulo, não prevê, como fato gerador, para a incidência do referido tributo, a renúncia de usufruto sobre bem imóvel, não equiparável à doação, nos seguintes termos: art. 2º - O imposto incide sobre a transmissão de 5/13

6 qualquer bem ou direito havido: a sucessão provisória; PODER JUDICIÁRIO I por sucessão legítima ou testamentária, inclusive II por doação. Ademais, considerando o recolhimento tributário, na oportunidade da doação, perante o Tabelião de Notas, tem-se que a respectiva repetição de indébito, sobre o ato de renúncia a usufruto, remanesce pela via judicial, evidenciado o binômio possibilidade/necessidade para o ajuizamento da ação. Superada a matéria prejudicial, no mérito, não prosperam os argumentos da parte apelante, em quaisquer dos aspectos suscitados no recurso, pois, a r. sentença impugnada bem decidiu a questão de fundo submetida a julgamento, como se vê: Na hipótese trazida a Juízo, o documento de fls. 27- verso demonstra que a doação alvo da tributação ocorreu em 2003, de sorte que o imposto, devido, foi exigido e recolhido naquela época (fls. 29). No mais, nem se alegue que o fato gerador estaria caracterizado com a extinção do usufruto que pesava sobre o bem doado, porque assim não o é, na medida em que, repito, o fato gerador do tributo é a doação, nada mais. 6/13

7 Tal tributo só poderia incidir nos casos de transmissão causa mortis e doação, conforme bem dispõe o art. 155, da CF e, nenhuma dessas situações se subsume ao presente caso. Assim, se não houve nova doação do imóvel, não há que se falar no pagamento do imposto sobre a extinção do usufruto. Ora, é bem certo que a legislação trata da isenção do ITCMD no caso de extinção do usufruto, quando o nu-proprietário tiver sido seu instituidor (art. 6º, da Lei Estadual nº /00). Mas isso não significa que as demais extinções usufrutuárias serão tributáveis. Até porque, se de um lado as isenções devem ser interpretadas restritivamente, de outro, não se pode exigir o pagamento de tributo sem lei que o estabeleça (art. 150, I, da CF princípio da legalidade tributária). (fls. 64/69). Outrossim, confira-se a jurisprudência deste E. Tribunal de Justiça, a respeito do assunto ora debatido: Agravo de instrumento nº Relator o Des. Piva Rodrigues Comarca: Comarca não informada Órgão julgador: Órgão Julgador Não identificado Data de registro: 11/12/2006 7/13

8 Agravo de Instrumento. Renúncia abdicativa. ITCMD indevido. Nas declarações de vontade deve prevalecer a intenção das partes. Art 112 do CC. Recurso parcialmente provido. Embargos de Declaração nº Relator o Des. Leme de Campos Comarca: São José do Rio Pardo Órgão julgador: 6ª Câmara de Direito Público Data do julgamento: 03/02/2014 EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - Novo julgamento por determinação do STJ - MANDADO DE SEGURANÇA - ITCMD Pretensão ao cancelamento de usufruto independentemente do recolhimento do imposto - Admissibilidade - Inexistência de previsão expressa na Lei Estadual nº /00 para a incidência do ITCMD quando houver a consolidação da propriedade plena na pessoa do nuproprietário - Incidência do tributo somente nos casos de transmissão causa mortis e doação, nos termos do art. 155, da CF - Ordem concedida - Sentença alterada - Embargos de declaração acolhidos para, atribuindo-lhes efeitos infringentes, dar provimento à apelação interposta. Finalmente, aos sólidos fundamentos da r. sentença impugnada, acrescenta-se, como razões de decidir, os argumentos 8/13

9 invocados no julgamento do recurso de embargos de declaração, acima indicado, a seguir: Interposto Recurso Especial por parte da vencida (fls. 159/185), o STJ determinou o retorno dos autos à Corte de origem, para novo julgamento dos Embargos de Declaração (fl. 269). É o que se passa a fazer, devendo o presente aresto substituir aquele proferido às fls. 151/156. Realmente, o julgado de fls. 135/140 partiu de premissa equivocada e, portanto, merece aclaramento. De fato, esta Corte considerou equivocadamente que houve a doação do imóvel, quando, em verdade, o bem foi comprado e posteriormente conferido para integralização do capital da empresa, ora embargante. E, de certo, a primeira hipótese não se confunde com a segunda, sendo certo que, neste último caso, a transmissão é efetivada a título oneroso. Daí, a alteração do deslinde da causa. Veja. Não há previsão expressa na Lei Estadual nº /00 para a incidência do ITCMD quando houver a consolidação da propriedade plena na pessoa do nu-proprietário. Nesse sentido: APELAÇÃO CÍVEL - TRIBUTÁRIO - ITCMD - 9/13

10 REPETIÇÃO DE INDÉBITO - TRIBUTAÇÃO DE EXTINÇÃO DE USUFRUTO - NOTIFICAÇÃO DO FISCO DECORRENTE DE DIFERENÇAS APURADAS EM 'DOAÇÃO INDIRETA' DE AÇÕES SOCIETÁRIAS - DECADÊNCIA - NÃO OCORRÊNCIA - BASE DE CÁLCULO DO IMPOSTO APURADA EM DESCONFORMIDADE COM A DETERMINAÇÃO LEGAL, SENDO NECESSÁRIO O DIÁLOGO DE FONTES PARA A EXATA COMPREENSÃO DO FATO GERADOR E DO VALOR QUE DEVE SERVIR DE BASE PARA O CÁLCULO DO ITCMD, NOS TERMOS DA LEI Nº /2000 E DO DECRETO Nº /02 - AÇÃO IMPROCEDENTE - SENTENÇA REFORMADA. Valor patrimonial caracteriza-se como conceito jurídico indeterminado. Para a sua compreensão é necessário que o Direito busque o seu significado no campo onde foi elaborada a idéia: cuida- se de instituto próprio da contabilidade. O Banco Central do Brasil assim define valor patrimonial de ação: 'Valor obtido mediante a divisão do valor do Patrimônio Líquido pela quantidade de ações ou quotas representativas do capital social integralizado, exclusive a quantidade de ações ou quotas em tesouraria.'. Não se confundem, portanto, o ativo que integra o patrimônio da holding, com o valor patrimonial de suas ações. Apenas este último é que serve de base de cálculo para incidência do ITCMD. De outra parte, não há na lei previsão expressa de que extinto o usufruto, consolidando-se a propriedade plena e a posse em mãos do nuproprietário, se verifique nesta situação, um fato gerador passível de 10/13

11 incidência de ITCMD.RECURSO PROVIDO. (Ap. nº , Rel. Des. AMORIM CANTUÁRIA, j. de grifos nossos). Tal tributo só poderá incidir nos casos de transmissão causa mortis e doação, conforme bem dispõe o art. 155, da CF, mas nenhuma dessas situações se subsome ao presente caso. Esta relatoria anteriormente estabeleceu que a extinção do usufruto pela renúncia do usufrutuário prevista pelo art. 31, 3º, item 2, do Decreto n /2002 não configura hipótese de incidência do ITCMD, mas sim o momento apropriado para o recolhimento do referido tributo, que já incidira quando da doação do imóvel com reserva de usufruto.. falar no pagamento do imposto. E, se não houve a doação do imóvel, não há que se Ora, é bem certo que a legislação trata da isenção do ITCMD no caso de extinção do usufruto, quando o nu-proprietário tiver sido seu instituidor (art. 6º, da Lei Estadual nº /00). Mas isto não significa que as demais extinções usufrutuárias serão tributáveis. Até porque, se de um lado as isenções devem ser interpretadas restritivamente, de outro, não se pode exigir o pagamento de tributo sem lei que o estabeleça (art. 150, I, da CF princípio da legalidade tributária). Não é demais transcrever-se novamente parte da elucidativa Decisão Normativa CAT 3, de : 11/13

12 4 - a consolidação da propriedade plena, pela extinção do usufruto, seja pela morte ou pela renúncia do usufrutuário, não pode ser considerada sucessão legítima ou testamentária e não se caracteriza como doação. 5 - no que se refere à transmissão em decorrência da morte, para a lei paulista, somente ocorre o fato gerador do ITCMD quando há transmissão de bens ou direitos a herdeiros, legítimos ou testamentários, ou a legatário. A Lei /2000, ao tratar dos contribuintes do imposto na transmissão causa mortis, somente se refere ao herdeiro e ao legatário (artigo 7º, inciso I), não havendo previsão de exigência do imposto em relação àquele que recebe bem ou direito em decorrência da morte de outrem sem, no entanto, ser desse sucessor hereditário, testamentário ou legatário. 6 - Embora possa ser cindido quanto ao seu exercício, o direito de propriedade é uno e, em virtude da própria natureza temporária do usufruto, em última análise, o verdadeiro proprietário do bem é o titular da nua-propriedade, já que a extinção do usufruto é inevitável. E, nesse sentido, em decorrência da falta de previsão na legislação paulista, a extinção do usufruto, pela morte (ou renúncia) do usufrutuário, não é hipótese de incidência do ITCMD. [...]. Portanto, a procedência da ação era mesmo de absoluto rigor, não comportando nenhuma alteração. 12/13

13 Ante o exposto, NEGA-SE PROVIMENTO ao recurso de apelação, ratificando, na íntegra, a r. sentença recorrida, por seus próprios e jurídicos fundamentos. As partes e os seus procuradores ficam cientes de que os incidentes originados do presente recurso poderão receber julgamento pelo sistema virtual (artigo 154, e respectivos,, do CPC), sendo que eventual oposição deverá ser formalizada por meio de petição, no prazo estabelecido na Resolução nº 549/11, deste E. Tribunal de Justiça, ou, quando for o caso, no ato de interposição do inconformismo. O silêncio será interpretado como anuência para a adoção do referido procedimento. FRANCISCO BIANCO Relator 13/13