TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de, em que é apelante FACEBOOK SERVIÇOS ONLINE DO BRASIL LTDA, são apelados DANILO AUGUSTO DE LIMA, ÁLVARO CÉGLIO e VALTECIO LOPES MACHADO (JUSTIÇA GRATUITA). ACORDAM, em 10ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores JOÃO CARLOS SALETTI (Presidente sem voto), SILVIA MARIA FACCHINA ESPÓSITO MARTINEZ E COELHO MENDES., 12 de junho de PENNA MACHADO RELATOR Assinatura Eletrônica

2 VOTO Nº: 9675 APELAÇÃO CÍVEL Nº: APELANTE: FACEBOOK SERVIÇOS ONLINE DO BRASIL LTDA. APELADOS: DANILO AUGUSTO DE LIMA E OUTROS COMARCA: SÃO PAULO JUIZ A QUO : FERNANDO JOSÉ CÚNICO APELAÇÃO CÍVEL. Obrigação de fazer. Fornecimento de dados relativos a perfil de página de rede social e posterior remoção de usuário. Sentença de procedência. Inconformismo. Não acolhimento. Obrigação de fazer cumprida somente em parte. Remoção de perfil falso não comprovada. Ônus sucumbenciais devidos. Resistência da empresa ré no cumprimento de ordem judicial mediante a oferta de defesa nos autos. Princípio da causalidade Sentença de primeiro grau mantida. Ratificação, nos termos do artigo 252 do regimento interno desta corte de justiça. RECURSO NÃO PROVIDO. Trata-se de apelação interposta em face da r. sentença de fls. 189/194 que, nos autos da ação de obrigação de fazer, julgou procedente o pedido para condenar a empresa ré a fornecer aos autores todos os dados cadastrais que dispõe do perfil denominado "Maria José da Silva" sustentado pela URL (IP do usuário que criou a conta e IP de todas os registros do perfil no período indicado na inicial), bem como a remover a referida página, tudo no prazo de 30 (trinta) dias, sendo que o seu descumprimento acarretará em fixação de multa em sede de cumprimento de sentença. Condenou, ainda, a empresa requerida ao pagamento das custas e despesas processuais, além de honorários advocatícios fixados em 20% do valor da causa. Inconformada, apela a empresa ré (fls. 211/244) alegando, em síntese, que em sede de antecipação de tutela, cumpriu integralmente com a obrigação de fazer ao fornecer todos os dados disponíveis do usuário responsável pelo perfil denominado Maria José da Silva, incluindo endereços de IP. Sustenta pela impossibilidade de condenação ao pagamento de ônus sucumbenciais, porque a Apelação nº Voto nº

3 remoção do perfil falso, bem como a quebra do sigilo dos dados cadastrais, depende de prévia determinação judicial. Requer o provimento do recurso para reforma da r. sentença. Recurso tempestivo, processado regularmente e com apresentação de contrarrazões (fls. 249/253). É o breve relatório. Valtecio Lopes Machado, Alvaro Ceglio e Danilo Augusto de Lima, ora apelados, ajuizaram ação de obrigação de fazer em face de Facebook Serviços Online do Brasil Ltda., ora apelante. Para tanto, alegaram que foi criado um perfil, supostamente falso, denominado como Maria José da Silva, na rede social operada pela empresa ré. Sustentaram que, mediante tal conta, uma pessoa estaria propagando informações sobre eles de conteúdo inverídico e ofensivo, denegrindo suas imagens a título pessoal e profissional. Por tais razões, propuseram esta demanda objetivando compelirem a empresa requerida a fornecer todos os dados do proprietário da conta, como registros do IP e relatório detalhado de logs de IP dos acessos efetuados, no período de outubro a dezembro de 2015, bem como a remoção do perfil falso. Sopesados os argumentos da empresa ré, o recurso não merece provimento, devendo ser mantida a r. sentença por seus próprios e jurídicos fundamentos. Com efeito, expressamente dispõe o artigo 5º, caput e VIII da lei de 23 de abril de 2014, a qual estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil: Para os efeitos desta lei, considera-se: (...) VIII registros de acesso a aplicações de internet: o conjunto de informações referentes à data e hora de uso de uma determinada aplicação de internet de um determinado endereço IP. Apelação nº Voto nº

4 E, ainda, dispõe o artigo 15 do mesmo diploma legal: O provedor de aplicações de internet constituído na forma de pessoa jurídica e que exerça essa atividade de forma organizada, profissionalmente e com fins econômicos deverá manter os respectivos registros de acesso a aplicações de internet, sob sigilo, em ambiente controlado e de segurança, pelo prazo de 6 (seis) meses, nos termos do regulamento. Pela interpretação de mencionada legislação, retira-se que a empresa ré, por configurar-se como provedora de aplicação ou de acesso, não tem o dever legal de armazenar dados pessoais dos usuários que sequer são solicitados quando do momento de criação do perfil no facebook. Desta forma, verifica-se pelos documentos de fls. 131/132 que a empresa ré cumpriu somente em parte a determinação legal pretendida na exordial, consistente em fornecer os dados cadastrais disponíveis e os números de IP requeridos. Por conseguinte, em posse de supramencionadas informações já ministradas nos autos, poderão os coautores pleitearem a indicação dos dados pretendidos aos provedores de conexão, estes sim obrigados por lei a fornecerem tais dados pessoais. Neste sentido, jurisprudência recente desta colenda câmara: EMBARGOS DECLARATÓRIOS Pontos omissos, obscuros ou em contradição Supostas ofensas praticadas em rede mundial de computadores Recorrente que deverá apresentar somente os dados disponíveis em seu cadastro, ou seja: nomes, s, endereços de IP, datas e horários de acesso Precedentes do superior tribunal de justiça e do tribunal de justiça/sp Embargos ACOLHIDOS (Embargos de declaração nº /50000, Rel. Des. Élcio Trujillo, d.j. Apelação nº Voto nº

5 24/11/2015). Por outro lado, não houve a comprovação da remoção do perfil com conteúdo reputado ofensivo, motivo pelo qual não há que se falar em cumprimento integral da obrigação de fazer. No mais, não prospera o argumento de descabimento de condenação ao pagamento dos ônus sucumbenciais. Embora os requerentes não tenham acionado administrativamente a empresa ré para exclusão do perfil falso e conteúdo ofensivo, certo é que foram obrigados a provocarem o judiciário, mediante ação de obrigação de fazer, visando a remoção ou bloqueio do perfil anônimo, além de identificação dos IPs utilizados por terceiro para propagar supostos atentados à imagem pessoal e profissional deles. Por conseguinte, a empresa requerida, após identificar os possíveis IPs, ofertou contestação resistindo aos pleitos através de alegações de ilegitimidade passiva e impossibilidade de remoção da conta falsa por ausência de fornecimento de URL específica pelos coautores, buscando, claramente eximir-se da ordem judicial imposta. Assim, restou, inequivocamente, configurada a pretensão resistida ao cumprimento integral da obrigação, aplicando-se, portanto, ao caso, o princípio da causalidade e mantendo-se a obrigatoriedade de pagamento dos ônus sucumbenciais a cargo da empresa ré. Corroborando tal entendimento, posicionamento recente deste egrégio tribunal de justiça: OBRIGAÇÃO DE FAZER. Facebook. Determinação de exclusão dos perfis correspondentes às URLs indicadas na petição inicial e todo conteúdo deles decorrente. Necessidade de indicação precisa do conteúdo a ser excluído. Apelante que não tem a obrigação de fiscalizar previamente o conteúdo das notícias veiculadas por seus usuários. Art. 19, 1º, Lei nº /2014. Expressão 'todo Apelação nº Voto nº

6 conteúdo deles decorrente' excluída. Verbas de sucumbência. Apelante que sustentou sua ilegitimidade passiva em contestação. Resistência injustificada ao pedido autoral. Condenação mantida. Sentença parcialmente reformada. Condenação das partes em honorários sucumbenciais recursais. Recurso parcialmente provido. (Apelação Cível nº , 5ª Câmara de Direito Privado, Des. Rel. Fernanda Gomes Camacho, d.j. 17/04/2017) (grifos nossos). E outros fundamentos são dispensáveis já que quanto ao mais, ratifica-se a r. decisão de primeiro grau exarada pelo MM. JUIZ A QUO, DR. FERNANDO JOSÉ CÚNICO, eo faz-se nos termos do artigo 252 do regimento interno deste egrégio Tribunal de Justiça que estabelece: Nos recursos em geral, o relator poderá limitar-se a ratificar os fundamentos da decisão recorrida, quando, suficientemente motivada, houver de mantê-la. O colendo Superior Tribunal de Justiça tem prestigiado este entendimento quando predominantemente reconhece a viabilidade de o órgão julgador adotar ou ratificar o Juízo de valor firmado na sentença, inclusive transcrevendo-a no acórdão, sem que tal medida encerre omissão ou ausência de fundamentação do Decisum. (REsp nº RS 2ª Turma Rel. Min João Otavio de Noronha, j ); REsp nº es, 2ª Turma, Rel. Min. Castro Meira, j ; REsp nº AL, 2ª Turma, Rel. Min. Eliana Calmon, j ). De qualquer modo, para viabilizar eventual acesso às vias extraordinária e especial, considero prequestionada toda matéria infraconstitucional e constitucional, observando o pacífico entendimento do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que, tratando-se de prequestionamento, é desnecessária a citação numérica dos dispositivos legais, bastando que a questão posta tenha sido decidida (EDROMS / SP, Ministro FELIX FISCHER, DJ p. 240). Pelo exposto, NEGA-SE PROVIMENTO ao recurso, mantida na Apelação nº Voto nº

7 totalidade a r. sentença de primeiro grau proferida, inclusive no que diz respeito aos ônus inerentes à sucumbência. PENNA MACHADO Relatora Apelação nº Voto nº