PERCEPÇÕES SOBRE A MATEMÁTICA - A RELAÇÃO ENTRE A VISÃO DE PROFESSORES E ESTUDANTES DO BLOCO INICIAL DE ALFABETIZAÇÃO
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- Célia Affonso Pinto
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1 1 PERCEPÇÕES SOBRE A MATEMÁTICA - A RELAÇÃO ENTRE A VISÃO DE PROFESSORES E ESTUDANTES DO BLOCO INICIAL DE ALFABETIZAÇÃO Fabiana Barros de Araújo e Silva Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal fbasilva@hotmail.com Resumo: O presente trabalho analisa a relação entre a visão de professoras e a de estudantes do Bloco Inicial de Alfabetização sobre a Matemática. A partir de uma atividade desenvolvida com os professores em sala em um dos encontros de formação do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa PNAIC, foi proposto que desenvolvessem a mesma atividade com as crianças e socializassem suas reflexões no encontro seguinte. A descrição da atividade e a reflexão suscitada na formação a partir das impressões dos professores e orientadora a respeito de como as crianças percebem a matemática escolar indicam que a forma com a qual o professor organiza e conduz suas aulas podem influenciar na visão em que os alunos constroem a respeito da Matemática. Palavras-chave: Matemática, alfabetização e formação de professores Objetivo: Analisar a relação entre a visão de professoras e a de estudantes do Bloco Inicial de Alfabetização - BIA, sobre a Matemática. Espaço/Comunidade: Uma turma de formação de professores do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa - PNAIC/2014 e estudantes do BIA. Público-alvo: O público alvo são professoras de Ceilândia - DF, que atuam em turmas de 1º ao 3º anos do Bloco Inicial de Alfabetização (BIA) e os seus respectivos estudantes. Metodologia:
2 2 Durante um dos encontros de formação no PNAIC, foi suscitado na turma que os professores cursistas desenhassem como veem a matemática. Posteriormente cada um apresentou o seu desenho colocando suas percepções. Ao longo dos relatos, a orientadora de estudos do curso registrou as falas de alguns deles. Ao final deste encontro, foi sugerido que os professores cursistas desenvolvessem a mesma atividade com as crianças. No encontro seguinte, de posse dos desenhos das crianças, os professores cursistas foram relatando o que foi percebido por eles sobre a visão das crianças em torno da matemática. Novamente a orientadora de estudo registrou as percepções das professoras com relação aos desenhos das crianças. Tendo em mãos os registros tanto da percepção do professor cursista, quanto o registro da percepção das crianças, surgiu a necessidade de compará-los. A partir daí, identificou-se a relação entre a visão de professores e a de estudantes do BIA sobre a matemática. Deste modo, foram utilizados como instrumentos para a coleta de dados os registros pessoais do orientador de estudo a partir das falas das cursistas sobre suas próprias percepções e as de seus estudantes. Trata-se então de dados oriundos da análise de documentos. A pesquisadora é orientadora de estudos do PNAIC. Relato de experiência Para não expor os professores envolvidos no trabalho apresentado optamos por utilizar uma letra maiúscula para diferenciá-las. A professora E, primeira a relatar, disse ter dezenove alunos em sua turma de 3º ano do BIA. Deste total, só dois disseram não gostar e desenharam monstros. Quando questionados a respeito dos monstros, falaram que é por a matemática dar medo neles. Percebeu que dos dezessete, mesmo aqueles que são considerados pela professora com dificuldade de aprendizagem, demonstraram em seus desenhos que a matemática faz parte da vida e não está restrita ao ambiente escolar. Em seu relato a respeito da matemática, tal professora disse que nunca teve dificuldade com a matemática, mas que passou a gostar mais depois de ter estudado com um determinado professor. A partir daí, fez vários cursos na área.
3 3 Estabelecendo relação entre as duas visões apresentadas percebe-se que o fato de a professora ter um olhar positivo para a matemática pode ter influenciado a maioria de seus alunos. A professora L., em sua turma de 2º ano composta por 12 alunos, dentre eles 03 com Necessidades Especiais, relatou que já era uma prática sua desenvolver o trabalho pedagógico a partir da resolução de situações-problema e que organiza seu planejamento de forma intencional visando com que as crianças percebam que a Matemática está presente em todo lugar. Trabalha dentro da perspectiva do letramento matemático. Os alunos desenharam relacionando a Matemática com a vida. Uma desenhou a mãe com uma bolsa vendendo produtos de beleza, pois é assim que ela ganha dinheiro para sustentar a família. A outra se desenhou com a mãe dentro do supermercado com a lista de compras e comparando os preços. Teve aquele que referiu-se ao percurso entre a casa e a escola compreendendo que caminhando mais rápido gasta-se um tempo menor. Os alunos com necessidades especiais conseguiram fazer o desenho, relacionando a matemática com os números. Em seu relato ficou claro que a forma da professora supracitada de ver a matemática e planejar suas aulas, interferiu positivamente no modo com que as crianças constroem sua visão a respeito da mesma. Nos desenhos das crianças é perceptível a visualização, por parte delas de diferentes usos da matemática no contexto diário condizendo com a prática da professora que diz utilizar-se de exploração de situações problemas. A professora C., 2º ano e com 28 alunos, disse que tem como prática de início de suas aulas apresentar um roteiro do que será desenvolvido no dia. Indicou utilizar como principal recurso para ensinar Matemática o livro didático. Todos os desenhos das crianças dessa professora tiveram o livro como a representação da Matemática. Neste caso, podemos levantar algumas hipóteses, tais como: a metodologia utilizada pela professora influencia na maneira como os estudantes percebem a matemática; não apresentam relação com as vivências fora da escola, retratando exclusivamente a matemática na sala de aula; a professora pode não ter explicado bem o comando da atividade de modo que os desenhos se repetem; a própria dificuldade da criança em definir a matemática.
4 4 Seria interessante aprofundar a pesquisa, observando em sala o cotidiano dessa turma. As representações são construções subjetivas que recebem influência social. A professora R., em sua turma de 3 ano com 23 alunos. Dentre esses, oito são repetentes. Sua visão sobre a matemática é que ela é desafiadora e está em todo lugar, mas a princípio assusta. Quanto aos desenhos dos alunos, traz em seu relato certa frustração, pois segunda ela não refletiram com exatidão o diagnóstico realizado em sala no início do ano. Nele, as crianças indicaram que preferem Matemática à Língua Portuguesa. Nos desenhos, percebe-se a relação da Matemática com as continhas e não com os jogos, que foram relatados pela professora como parte de sua prática pedagógica. A docente acredita que os alunos reconhecem a Matemática em seu dia a dia. Ela ficou de fato mexida com o resultado da atividade e percebeu a necessidade de repensar a respeito do seu planejamento e se o mesmo está de acordo com a necessidade e a realidade da turma. Não afirmamos com clareza que a visão da professora influencia na das crianças, pois apesar da professora acreditar que a matemática é desafiadora e está no dia a dia, a representação das crianças limitou-se às continhas. A professora V., 1º ano com 19 alunos, disse gostar da matemática, realizar vários cursos para se atualizar, tem muitas dúvidas sobre como desenvolver a prática no ensino da matemática, mas sempre procura ajuda. Sobre o trabalho com o desenho das crianças, disse ter motivado os estudantes desde o início da atividade, propondo reflexões a partir da pergunta: Como eu vejo a matemática? Porém, para sua surpresa somente dois disseram que a Matemática são os números. Alguns disseram que veem a Matemática com os olhos e os dezessete falaram que não sabiam o que era. A professora fez uma autoavaliação e percebeu que não prioriza a Matemática em suas aulas dando preferência ao ensino da Língua Portuguesa. Disse ainda que esta atividade mexeu com ela e que já estava repensando a organização de sua prática pedagógica. Pelo fato de ser uma turma de 1º ano e priorizar a leitura e a escrita, a matemática acaba ficando para segundo plano. A pouca experiência com a matemática escolar pode
5 5 impossibilitar tal representação. Demonstra a necessidade de ampliação do conceito de alfabetização que vai para além da língua portuguesa. Por último, a professora M., com 28 alunos do 3º ano, disse que sempre que se defronta com uma situação que envolve a matemática sente-se pequena como se estivesse no "início de uma escada'. Quando amplia as ideias e estas promovem descobertas, consegue ver a matemática no dia a dia e se sente maior, como se "estivesse subindo degraus da escada". Com as crianças, um desenho que lhe chamou muita atenção foi aquele em que a criança fez uma piscina e quando a professora lhe questionou o que ela tinha a ver com a Matemática, disse que quando entendia a Matemática se sentia como se estivesse nadando na piscina e quando não conseguia fazer a tarefa era como se tivesse afogado na piscina. Tal relato assemelha-se à visão da professora ao se defrontar com uma situação de matemática e obter ou não êxito. Com tudo que foi exposto até aqui, concluímos que confrontar a visão dos professores com a de seus alunos geraram várias reflexões. As professoras demonstraram perceber que ao proporcionar situações em que as crianças são incentivadas a comunicar suas ideias, favorece a aprendizagem sobre como atuar em sua profissão, pois passam a conhecer melhor o que as crianças pensam ou sentem acerca das situações propostas na sala de aula aprimorando sua prática. Dessas reflexões me parece evidente a importância do planejamento intencional a partir da necessidade real da turma, com vistas a alfabetizar letrando o que vai implicar positivamente na visão que os alunos constroem a respeito da matemática e possibilitar aprendizagens significativas.
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