PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 23ª REGIÃO

Transcrição

1 ATA DE AUDIÊNCIA Aos trinta dias do mês de outubro de 2012, na sala de audiências da Egrégia Vara do Trabalho de Primavera do Leste - MT se fez presente o Exmo. Juiz do Trabalho ALESSANDRO FRIEDRICH SAUCEDO para a publicação da sentença da ação trabalhista n.º proposta por MATHEUS POLINARSKI DE CAMPOS em face de YES ESCOLA DE INFORMÁTICA LTDA - ME, respectivamente parte autora e ré. Às 14h, aberta a audiência de julgamento e publicação de SENTENÇA, apregoadas as partes. Submetido o processo a julgamento, foi prolatada a seguinte: SENTENÇA I - RELATÓRIO Processo submetido ao procedimento sumaríssimo, dispensado relatório com fulcro no artigo 852-I, da CLT. II - FUNDAMENTAÇÃO PRELIMINAR Na parte de defesa denominada preliminarmente, a ré pede que seja mantida a demissão por justa causa aplicada ao autor. Tal matéria se refere ao mérito da lide e lá será analisada. Afasto. MÉRITO CONTRATO DE EMPREGO partes. Incontroversa a existência de contrato de emprego entre as Pag.1

2 DEMISSÃO POR JUSTA CAUSA Na inicial, afirma o autor que foi demitido por justa causa por ter, supostamente, cometido ato de indisciplina. Teria a empregadora acessado o sítio da Internet denominado facebook da funcionária Elbia e lido mensagens particulares trocadas entre esta e o autor, o que a levou a demiti-los. Em sua defesa, a ré admite que acessou o conteúdo do sítio denominado facebook da funcionária Elbia, porque ao sentar-se na mesa da recepção estava aberta a página da rede. Lendo as conversas entre os funcionários, descobriu que ambos falaram mal e ofenderam os sócios da empresa. Com a defesa a ré trouxe impressas as mensagens trocadas entre ambos os funcionários através da rede mundial de computadores pelo sítio de relacionamento denominado facebook, que justificaria a demissão por justa causa. O artigo 5º XIII da CRFB de 1988 assegura a inviolabilidade do sigilo da correspondência, não fazendo qualquer ressalva quanto à correspondência ser impressa ou eletrônica. In casu, a empregadora acessou as mensagens particulares trocadas entre dois de seus funcionários pela rede mundial de computadores (Internet), violando de forma inequívoca o sigilo da correspondência constitucionalmente assegurado. Além de violar o sigilo da comunicação particular mantida entre dois funcionários, utilizou-se da prova obtida com tal ilícito para demiti-los por justa causa. Os fatos de o computador ser da empresa e as mensagens estarem na tela, não retiram o caráter confidencial destas, pois são mensagens com destinatários exclusivos, trocadas de forma particular, apesar da utilização de rede pública. Pag.2

3 São provas obtidas por meio ilícito, inadmissíveis no processo, de qualquer natureza, como vaticina o inciso LVI do artigo 5º da CRFB de Destarte, mesmo admitindo como verídica a versão da defesa de que foi encontrada aberta no computador da empresa a página na qual estavam mensagens particulares trocadas entre ambos os funcionários, a empregadora ao lê-las violou o sigilo de correspondência de ambos e obteve provas por meio ilícito, infringindo o disposto nos incisos XIII e LVI, artigo 5º da CRFB de Reputo ilegais as provas obtidas com violação ao sigilo de correspondência do autor, desconstituindo-as como meio idôneo para justificar sua demissão por justa causa, reverto a modalidade de demissão para sem justa causa e condeno a ré ao pagamento de: multa de 40% do FGTS (R$ 278,56), décimo terceiro salário proporcional (R$ 311,23) e aviso prévio indenizado (R$ 622,00), além de entregar as guias para saque do FGTS. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL Pugna o autor pela condenação da ré ao pagamento de indenização por dano moral em razão da violação de privacidade sofrida. A ré assevera que não houve prática de qualquer ilícito, o que inviabilizaria a pretensão indenizatória do autor. O artigo 5º, X, da CRFB de 1988, assegura a inviolabilidade da intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas, assegurando direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. Segundo SAVATIER, dano moral é todo sofrimento humano que não resulta de uma perda pecuniária, isto é, são sofrimentos humanos decorrentes de lesões de direitos estranhos ao patrimônio, de difícil mensuração pecuniária. Pag.3

4 O artigo 186, do CCB, vaticina que aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Destarte, para viabilizar a condenação ao pagamento de indenização por dano moral devem coexistir diversos elementos, dentre os quais o ato-fato ilícito, o dano experimentado pela vítima e o nexo de causalidade entre este e aquele. A ré, representada por preposta, violou o sigilo de correspondência do autor e utilizou-se da prova obtida com tal conduta para demiti-lo por justa causa. O ato ilícito praticado pela ré restou comprovado (violação do sigilo de correspondência eletrônica), assim como o dano suportado pelo autor, demitido por justa causa em razão daquela violação e o nexo de causalidade entre ambos, devendo a ré reparar o dano moral causado ao autor. Comprovado o ato ilícito, o dano decorrente deste e o nexo de causalidade entre ambos, resta a quantificação do valor da indenização. Ausente um critério objetivo para quantificação do valor, resta o arbitramento judicial, a ser realizado de acordo com a extensão do dano (art. 944, CCB), o grau de culpa e situação econômica do ofensor e as peculiaridades do caso em análise. É que a fixação da compensação alusiva ao dano moral e psicológico resulta de arbitramento do Juiz, após analisar a gravidade da falta; a intensidade e a repercussão da ofensa; a condição social da vítima; a sua personalidade e a do ofensor; a possibilidade de superação física ou psicológica da lesão; bem como o comportamento do agressor após o fato, entre outros fatores. (BARROS, Alice Monteiro. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: Ltr, 2005, pág. 616). Devendo a condenação ter caráter didático-punitivo, sem enriquecer ilicitamente uma parte. Pag.4

5 Levando em consideração a condição financeira das partes envolvidas e a extensão do dano, fixo a indenização por dano moral em R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Condeno a ré a pagar ao autor indenização por dano moral no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). JUSTIÇA GRATUITA Declarada pelo autor sua hipossuficiência econômica, defiro-lhe os benefícios da Justiça Gratuita, com supedâneo no artigo 790 3º da CLT. Indefiro os benefícios da Justiça Gratuita à ré, em razão da ausência de comprovação de hipossuficiência econômica. III - DISPOSITIVO Ante o exposto, julgo PROCEDENTES os pedidos descritos na inicial, revertendo a modalidade de demissão para sem justa causa e condeno a parte ré a pagar a parte autora, no prazo de quinze dias após o trânsito em julgado, sob pena de multa de 10% (art. 475-J, CPC), bem como protesto da sentença, desde que requerido pelo autor, limitados os valores àqueles pedidos na inicial: a) Multa de 40% do FGTS (R$ 278,56); b) Décimo terceiro salário proporcional (R$ 311,23); c) Aviso prévio indenizado (R$ 622,00); d) Entregar o TRCT e chave de conectividade para saque do FGTS, sob pena de pagar indenização substitutiva; e e) Indenização por dano moral, R$ 5.000,00. Em obediência ao mandamento do 3 do artigo 832 da CLT, reconheço que são de natureza salarial as parcelas previstas no artigo 28 da Lei 8.212/91 e de natureza indenizatórias aquelas descritas no 9º do mesmo artigo, devendo ser calculadas contribuições previdenciárias Pag.5

6 incidentes sobre aquelas de natureza salarial, mês a mês, observando-se os limites de isenção fiscal. Determino a parte ré que recolha, deduzindo do valor da condenação, e a cargo da parte autora, a importância devida à Receita Federal, a título de IMPOSTO DE RENDA e incidente sobre as parcelas de natureza salarial, se atingida a faixa tributável, de acordo com o artigo 46 da Lei n /92. Condeno a parte ré ao pagamento das custas processuais, com espeque no artigo 789, I, da CLT e custas dos cálculos de liquidação, consoante o previsto no artigo 789-A, IX, da CLT, estando os valores previstos nos cálculos de liquidação, que integram a sentença para todos os fins. Sentença líquida, que deve ser remetida a Contadoria deste Egrégio TRT para sua liquidação. Cientes as partes. Intime-se a União, observando-se os termos da Portaria MF n.º 435, de 08 de setembro de Nada mais. Encerrada às 13h30min. Alessandro Friedrich Saucedo Juiz do Trabalho Pag.6