:RA. - DOPSB A POLÍTICA PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO
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- Terezinha Stachinski Vieira
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1 PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO A POLÍTICA DOPSB Tópicoe para d.iacassão - 3 ORGANIZADO POR RODRIGO ROLLEMBERG EDITADO PELO GABINETE DO SENADOR JAMIL HADDAD- PSBIR] BRASÍLIA :RA. -
2 Imagens do Comfc1o da F'mnre BroSJJ Popular na CandeUTIB, Rlode}aneuo - J()-11 89
3 U Congresso Nllcional do PS8 realiudo em 9 de JUIIho de 1989
4 IN'I'RODUÇ.AO Para qu&squer brasileuos que pensem o BiaSI..l, há dois pólos de salvação: ou reqwntamos a ponta do saber, do conhecer, do fazer, do produzir, do consumir, do gozar. ou - sacnficadamente - buscamos difund!.r as bases de um saber, conhecer, fazer, produztr, COllSUlllll", gozar de que não se excluam as grandes massas de nossa população, não apenas agora, senão que ao longo dos nossos Já quase cmco séculos de existência. Até agora, o Brasil tem sido. para um mjnimo percentual de sua população. um paral.so-explorando o unenso resto da população, assocjando-se aos seus próprios exploradores de fora. Por isso mesmo, o Brasil tem sido, para as suas grandes massas. de Inches. de negros. de brancos. de mestiços - 8SSOC1ados num denominador comum que é a indigênota ou a miséria - um mfemo, cujo preço tem Sido uma médta de vida 1nfame, a quase total ausêncla de saúde, a lhleratação geral a carência de abngo, a fome ou a subnutrição. Os regimes que têm existido neste pajs - do colomalismo ongínal ao colorualisrno moderno. cha mem-se eles colôma. monarquia, repúbllca velha, república nova, nova república - têm manlldo a estrutura de miséria geradora de nquez.as maravilhosas para exploradores seletos internos e externas. 9
5 Só o soctalismo pode mudar esse quadro, já que o acesso ao abundantismo burguês, capaz de propiciar sobras para a sua população, veda às burguesias coloniais modernas o acesso à sua ordem, razáo por que três quartos da humanidade têm as caracterlsticas do Brasil inferno. É óbvio que o Brasd paraiso não tem condições nem mentais nem materiais de mudar o estado de coisas, assim como o Mundoparaíso. como capitalismo civilizado ou selvagem, não tem condições mentajs nem matenais de mudar o estado de cotsas uruversal. Só o socialismo saberá resolver, I) a salvação de nossa infâncl8, base de nosso futuro, pela escolarização" aj1mentação, mstrução. abrigo - a exemplo do que tem ocorrido miraculosamente, em todos os sociahsmo.s, rerus ou tdeals; 2) a redenção de todas as classes sociais, to~das, de itúcio, cooperadoras. para em breve serem construtoras de uma sociedade mais JUSta; 3) a inserção das forças annadas na construção do bem comum, fazendo delas. em lugar de privileg~ados grupos de poder burguês mancomunado com o capital estrangeiro e eixo e centro da perduração interna qq padrão de miséria das. grandes massas, uma força viva de transformação e progresso soc1al; 4) a tmplantação de uma estrutura polltica de que todos os brasileiros possam efetivamente participar, sem que o poder econômico dorrune a representação política mercenariamente, fazendo de nossos constituintes e legisladores!iteres em mãos das conveniências e ditames e ordens do capltal!smo ctv!lizado e selvagem: 5) a instauração da justiça social, graças à QUlll tanto os chamados margmais, em verdade constlluidos pela miséna como massa de manobra para mttmidar o povo no seu desejo de igualitarismo e justiça. quanto os çrjrrunosos de colarinho-branco possam ser erradicados da paisagem lo
6 soctal. com iguais pesos e medidas. através da SOCJalt.Zação da unensa majona dos seus mtegrantes a uma vtda comum e soclal mrus equàrume, mais JuSta, mais harmôruca; 6) a unplanlação de uma ordem econôrruca em que os que trabalharem para a produção material e espliítual de mteresse comum para o bem comum terão garanuda a sua soorevwêncta decorosa, sem riscos de desempregos. de rruséria, de mchgêncta. de tgnorâncta, de obscurantismo, de pobctaltsmo, de opressão. de 1nturudação, de medo; 7) a tomada de consctêneta colellva de que, para tanto, cenas pnondades têm que ser soctalmente assumidas com clareza e rutidez, como. por exemplo, a necesstdade de uma racionalização da produção, de ~ lurutação das benesses para os cartolas e os altos da piiãrrude através da exclusão das mordomtas e propmas, garantindo-se a todos sem dl.scliminaçoes, um dtstril::lutivlsltlo mlnimo que conespenda a cada um segundo sua efetiva parllcjpaç4o na construção do todo; 8) a chvulgação do prazer de VJver. pela parocjpação crescente soctalmente Igualitária dos bens da cultura espintual - não transformada em mercadona dos me10s de comumcaçáo de massa monopollt.ados pela ordem burguesa que avllta até as emoções. os sentunentos. os sonhos, as tlusões, as esperanças, tornados mercadonas de alta lucranvidade para os monopólios e de alta degradação ética dos usuános VJtLmados. 11
7 SOCIAUSMO E UBERDADE Río de Janeiro 1990
8 Copyrigt by Antônio Houaiss Roberto Átila Amaral Vteíra
9 Roberto Amaral: jornalista. escritor, professor da PUCJRJ, Se<:retário-geral da Comissão Exe<:utiva Nacional do Partido Socialista Brasileiro. Antonio Hou la: escrtor, filólogo, encidopedista, ex-presidente do Partido Soclallsta Brasileiro, membro do Diretório Nacional dopsb
10 Apresentação UMA REFLEXÃO OPORTUNA E NECESSARIA Se a lição é a essência do$ partidos, como dizia Balzac, ljs Idéias são o motor de cadij IJÇ6o conseqüente. Om projeto de verdadeira transformijçiío scc:jal deve estar sempre emôij SIJdo em re/jexões que correspondam ao esp1ritc e ~s necessidijdes de um povo em delermmltd8 época Sem ISSO, qualquer sist6n.j politico, por mijis consenso que obtenha d4 ~. 'desembocll em distorções /rustrljiites. O socil"i5mo represenlil o mais 8V811Ç6do SIStefTI8 para se a/cançijr as transformações exigidas pela sociedade brbsi' feira nestij sua prolongijdij crise, gerada e BgrlJvlJdlJ pelo cbpítiji/smo. São as crises, porem, que germinam Idéias no VBS. PaSSIJdas as circunstlnc!bs que as motivaram. essijs idei6s permip!ecem. como ~ançb para as ger"f(>es segumtes. Estes escrftos de Roberto Nnaral e AntôniO Houaiss configuram a/gumijs d.js preo<:upações fund.jnientais do pensamento socia/isui contemporâneo. Questões como estrlltégib partidária. con}únturb nacional. ideologia ''pós-moderna ; os desafios dlj pollticl1 de Frente, as mudanças no Leste Europeu são aqui discut/d/js em lingubgem clljra, por vezes lrónk:a, e sempre em busca de respostas que, sem 9
11 a pretensão de serem definitivas, possam contribuir para enriquecer o debate entre as esquerdas. {Jm trabalho utíl não so para os militantes do Partido Socia/istlf BrlJSileiro, mas para todos aqueles interessados em aprofundar seus conhecimentos teóricos. Pensar nosso Futuro é também re Retir sobre nosso passado, de modo a evitarmos reincidir em erros fatais. Considerando que só nos últimos dez anos a produção teorica marxistlf brasileira pôde voltar a ser publicada e discu tida abertamente no País. cada texto deste é também a reafirmação da maior das liberdades, que é a de pensamento e expressão. Sem isso, qualquer reflexão se perde no tempo. Num momento em que desfrutamos dessa liberdade e vemos todo o arcabouço doutrinário socialista sendo rea valiado, ler estes textos é mais do que oportuno, pois sinteti zam a perplexidade e também a convicção de que, embora os caminhos possam ser vários. nosso objetivo é comum, e será atingido, caso tenhllmos organização, disciplina e ideias. J#f/L HM>D.A.D Presidente Nacional do PSB 10
12 lntrodução Nosso Partido atravessa momento singular de sua história. De um lado. pela primeira vez desde sua reestruturação, em está preparado para Intervir no processo eleitoral organizado em praticamente todos os Estados da Federa çào; e em todas essas unidades vê-se desafiado a apresentar resultados que materializem, do ponto-de-vista eleitoral, os avanços obtidos no plano político. De outro lado, a trajetória do socialismo atravessa seu maior desafio histórico. O desmoronamento da burocracia nos países do leste europeu toma vital a necessidade de aprofundar o debate político, econõmico e doutrinário sobre o futuro do socialismo, li luz de uma experiência que. se rica em erros, não foi menos rica de ensinamentos. No plano nacional, este será o primei ro desafio eleitoral a que se submetem as esquerdas depois das eleições de 1989, as primeiras realizadas sob o Governo Collor. e sob sua previsível ofensiva. Nada obstante um ou outro abalo, o Governo Collor manteve até aqui intacto o sistema de forças que assegurou sua eleição e ampliou seu apoio padamentar, com a adesão dos governistas de sempre. Seu projeto de governo continua em plena Implantação: a internacionalização da economia. precedida de sua desnacionalização, o nome real da privati zação; o desmantelamento da Infra-estrutura estatal, e a con 11
13 ~ente desorganização da produção industrial; o arrocho salarial, o desempr~o. a recessão, a estagnação econõmlca, como preço ao combate à inflação. No plano político, prossegue a tentativa de implantação de um governo autoritário. fundado. no desrespeito ollmpico ao Congresso e aojudiciá rio. cujas prerrogativas constitucionais forceja por derrog<~r. Estamos em race de um governo de direita, antipovo, e antinação. Cumpre-nos combatê-lo sem tréguas. O I e 11 Congressos Nacionais do PSB já refletirem. parcialmente é verdade, as interrogações sobre o futuro da esquerda e do socialismo. Essa discussão deve ser vertk:alizada. atingir a todas as instâncias partidárias e orientar nossa participação no pr6lcimo pleito. Ou engajamos o Partido nessa luta - a um s6 tempo teórica, política e doutrinária. e prática - ou perderemos a oportunidade histórica de nos consolidarmos como corrente socialista, democrática e libertária em nosso País. O PSB. nesses cinco anos de sua reorganização. vem-se impondo como Partido de esquerda, reconhecido como tal, respeitado pela coerência, pela firmeza e pela lucidez de sua prática. Desde sua reorganização. o Partido tem como objetivo político, expresso em todos os seus documentos mais importantes, em todos os seus Congressos e reuniões de suas instâncias dirigentes, a Frente de Esquerda. Para a consolidação partidária. há que destacar dois momentos da maior relevância histórica, a saber: a Constituinte e, nela. a participação destacada e honrosa de nossos parlamentares e a constituição e desempenho da Frente Brasil-Popular. Compreendemos que, se, historicamente, é desarrazoado defender a organi:tação de um único partido de proposta socialista, é, em contrapartida, imperioso que esses partidos atuem de forma unitária, concertados nas frentes polítí<:as e nas frentes eleitoraís. Defendemos a frente parlamentar e popular de oposição ao Governo Collor. int~rada não apenas pelos partidos sociahstas. mas por todos os partidos 12
14 de esquerda e os partidos e setores dos demais partidos democráticos que a ela queiram aderir. Defendemos a Frente de esquerda e popular para as eleições de 1990, como jâ havíamos defendido sua constituição no pleito presidencial. A frente política dos partidos de esquerda é forma eficiente de assegurar a diferença, manter a singularidade das diversas formações políticas, é a forma mais inteligente de conciliar a unidade ne diversidade de opiniões e de idéias e projetos, mas é acima de tudo a unica forma de enfrentar a unidade da direita. Paralelamente, consideramos também que es5a Frente não deve restringir-se ao plano puramente eleitoral e conjun tural. Lembre-se que em outubro de 1987, em nosso I Con gresso, quando lançamos a idéia da Frente-Brllsil, retomad11 com toda força na memorável reunião do Diretório Nacional de dezembro de 1988, consolidada pelo documento de Teresopolis (fevereiro de 1989), afirmavamos o entendimento de que aquela F rente deveria constituir-se em projeto político de largo alcance, um "compromisso histórico" reunindo operários. camponeses, partidos e forças de esquerda, além de todas as demais forças políticl!s comprometidas com a transformação da sociedade brasileira. Até aqui não conseguimos convencer nossos aliados e custa mesmo manter a Frente, encerrado o processo elei tora! de Em que pese todas as dificuldades e incompreensões, respaldados na experiência recente, mantemos nossa decisão de sustentar e ampliar a F rente. A base dessa ampliação é oferecida pelas forças políticas e sociais que apoiaram nossas candidaturas no segundo turno das eleições presidenciais, llinda que algumas dessas forças tenham adotado posições dubias. quando do enfrentamento político. naquela conjuntura, e agora na oposição ao Govemo Collor. Consíde ramos, porém, que nosso papel é o de aproximar do campo popular essas forças políticas. 13
15 As dificuldades acima descritas, de entendimento no plano nacional, têm sido superadas pela prática política nos Estados nestas eleições. Em todas as composições tem prevalecido a politíca de Frente, frente de esquerda e popular, e em muitos Estados foi reproduzida a Frente do segundo turno das eleições presidenciais. É preciso compreender que neste período histórico da sociedade brasileira, o objetivo tático dos socialistas - não somente no plano da resistência à vaga neoliberal, como no justo plano da construção e consolidação do PSB - deve ser a eleição de uma bancada parlamentar numerosa, militante e comprometidà com a transformação social e a democracia. É preciso eleger parlamentajes que não sejam simples adornos de estruturas partidárias formais, mas, slm, porta-vozes orgânicos de uma corrente política da sociedade, que luta pela superação dessa sociedade, ora fundada na desigualdade e na exploração do homem pelo homem. A estratégia do PSB deve ser a formação da Frente de esquerda; o projeto tático eleitoral deve ser a eleição do maior número possível de parlamentares. É preciso, porém, ter bastante clareza quanto ao caráter do Governo que nos incumbe enfrentar; uma nova direita supostamente neoliberal e falsamente modernizante que rompe a coalizão clássica entre o setor industrial e a oligarquia rural, cujos vínculos com o Estado burocrático e militarizado por tantas décadas temos denunciado. Não se deve, todavia, apostar, no médio prazo, em fraturas de interesses no sistema governante; essa direita fátâ tantás concessões mútuas quantas forem necessárias para garantir o projeto que vislumbra em seu horiz.onte. Mais do que nunca inexistem contradições entre o projeto nacional burguês e o capitalismo internacional, entre o chamado capital nacional e os interesses das grandes multinacionais ou do capital financeiro internacional. O Governo Collor é o amálgama de tudo isso. 14
16 Sem nenhum catastrofismo, é preciso ter presente que o espaço de resistêncja e avanço da luta popular está hoje muito mais reduzido do que estava há alguns meses, particularmente no período final do processo eleitoral de Vivemos uma nova realidade que põe de manifesto o novo papel a ser exercido no Parlamento pelos partidos de esquerda e forças democráticas. Nosso papel, todavia, não se encerrará na resistência parlamentar legislativa aos projetos da direita. Relembre-se que a próxima legislatura exercerá, em todos os níveis, a grave tarefa da revisão constitucional (1933). Não é preciso ser pitonisa para prever o que nos aguarda: ação concertada de todos os reacionários para derrogar as poucas conquistas alcançadas pelos trabalhadores e democratas no texto constitucional de Cumpre-nos também essa resistência. E eis uma razão a mais para a decisão de privilegiar os pleitos proporcionais. Essa resistência. todavia. só se revelará possivel, isto é. minimamente eficiente, se formos capazes de agregar, à ação parlamentar futura, a atuação da maitãncia. Este objetivo-e a precedê-lo temos ainda a formação de nossa miütância - deve ser perseguido pelo partido com todos os seus recursos. Uma última questão, tema aliás a ser discutido em nosso próximo Congresso, é a unidade orgânica da esquerda socialista, proposta pelo PSB. Propõe o nosso Pé!rtido que, respeitado o pluralismo como uma das características da formação histórica da esquerda brasileira, as correntes socialistas trabalhem no sentido de sua unidade orgânica. Decida-se o projeto, as fórmulas virão como conseqüência. Os artigos que compõem este volume procuram discutir essas questões e, como pano de fundo, a chamada ''crise" do leste europeu, ou a "crise" do socialismo. Ou ainda, como quer a direita, a morte do socialismo, o enterro da história, o ftm do marxismo. Parecem-nos, todas essas, ques- 15
17 tões da maior atualidade. Se esses artigos estunularem a discussão dos militantes, estaremos pagos, e bem pagos. Rio, )Unho de Roberto Amaral Antônio Houalss, 16
18 Alguns destes textos foram publicados em jor nais: Esquerda, 1-0u ver, veremos (O Povo, Fortaleza, 11,3,90), Os socladstas e a nova ordem partidária (Jornal do Brasil, RJo de Janeiro, ), O leste europeu e os socjallstas brasllekos ( A Voz da Unidade, malo/1990), A prop6sito de "o socialsmo mor reu" Folha de S. Paulo, ) e A unidade org8 níca da esquerda socialista (Jomal de Brasil/a, ). 17
19 ESQUERDA. VOU VER; VEREMOS O pleito presidencial, recém-conduido, se oferece aos exegetas. A vitória e a derrota, seus autores e seus culpados, aguardam a sanha dos explicadores. Neste artigo pretendemos tão-simplesmente, assinalar duas de suas principais características, a saber: a) a fixação do debate (e do voto) ideológíco, quando tanto se anunciava sua morte; b) a emergência e renovação de dois velhos grupamentos políticos: a esquerda e a direita. A NOVA ESQUERDA Da esquerda digamos, inicialmente, que, pela vez primeira em nossa história, disputou com a direita a Presidência da República, concorrendo com quadro próprio, hão mais tão-só para firmar posição, como em mas, já agora, para ganhar, e quase ganhando. De forma Inédita, vimos realizada uma política de alianças partidárias sem que tenha cabido à esquerda (como em em 1955 e em 1960) simplesmente pendurar-se à cauda do projeto conservador. Pela primeira vez a esquerda se uniu, e não foi na cadeia... Hâ uma esquerda nova pensando o socialismo a partir da realidade brasileira, despida de modelos acabados, seja de Partido, seja de Revolução. Essa nova esquerda aprendeu, 19
20 e parece haver incorporado ao seu ldeário, que a liberdade é elemento essencial do humanismo socialista. Essa esquerda aprendeu, também, que o pluralismo partidário é uma imposição da democracia e que, assim, não há como construir em nosso País. seja para aceder ao poder, seja para administrá-lo, uma política de partido único ou partido hegemônico; a revolução socialista e democrática, necessariamente democrática tanto quanto revolucionária, consagradom do humanismo e da liberdade, só se viabilizará com a construção coletiva de todos os partidos de esquerda concertados em uma frente ampla. A esquerda aprendeu que nenhum de seus partidos crescerá simplesmente aditando-se a substância de outros partidos de esquerda, mas que todos crescerão se todos puderem crescer conjuntamente, respeitadas as diversas e naturais potencialidades que podem levar esse ou aquele partido a melhor aproveitar as condições objetivas. Sem nenhum trocadilho perverso: cai por terra a política do Partid8o de esquerda, substitulda pelo pluripartidarismo também na esquerda, concertado na Frente, de que é exemplo histórico a composição do palanque do comício com o qual, no Rio de Janeiro, Lula encerrou sua campanha eleitoral. Não se suponha, todavia, que o crescimento das esquerdas e dos partidos de esquerda seja um determinismo; ele haverá de ser buscado mediante uma política concreta, que não descarte as condições subjetivas de avanço sem o que de nada va.lerão as condições objetivas hoje favoráveis. Parecem-nos criadas todas as condições para que cada partido de esquerda elabore sua própria política de crescimento, desde que essas políticas não sejam antípodas entre si; ao contrário - e daí dependerá o crescimento das esquerdas -, essas políticas devem ser complementares entre si para que se revelem convergentes e jamais errem, como tanto no passado, na identtficaçiio do inimigo comum ou prindpal; ao contrário do enfraquecimento dos partidos de esquerda, 20
21 o pr~cesso histórico está a indicar a sobrevivência das siglas convrvendo em uma grande Frente, A NOVA DIRErrA Com o risco de toda redução histórica, podemos afirmar que o modelo de desenvolvimento econômico brasileiro, posto a cabo principalmente a partir da Revolução de 1930, teve, entre outras características - como o processo de wbanização acelerada - a concentração de poderes nas mãos do Estado, não apenas como agente do desenvol ~mento mesmo antes das prãticas do planejamento, mas, tgualmente. como projeto de um incipiente capital nacional, que, de um lado, exigia desse Estado-paternalista mais e sempre mais proteção em face de sua dependência diante do capitalismo internacional, e, de outro, requeria essa mesma proteção em face das regras mesmas da economia de mercado. de cuja sobrevivência dependia. Dal resultou, no Estado burocrático-autoritário brasileiro, a criação de um capitalismo burocratico-cartorial, dependente externamente, engendrando uma economia que, de mercado, recusava todos os riscos da chamada livre iniciativa. Essa economia, para sobreviver, dependia de um Estado forte, armado de poderes políticos e econômicos que pudessem assegurar aos capitalistas, de par com a conservação da propriedade mesmo improdutiva, os lucros, estes vacinados contra as intempéries naturais do capitalismo e assim, as regras cegas do mercado (livre) foram substituídas pelas regras certas do Estado-burocrático administrando a economia cartorial, donde os subsídios, as reservas de mercado, a criação de infra-estrutura e de estatais destinadas a possibilitar não só os serviços e a base da produção, mas o lucro empresarial da produção industrial e mercantil privadas, dependentes dos custo59s investimentos sennpre evitados pelo capital nacional. A correspondência, no plano polllico, desse Estado Leviatã seria a aliança do capitalismo (ainda ligado às oligar- 21
22 quias as mais atrasadas, inclusive rurais) com o militarismo, donde os seguidos golpes-de-est1tdo substituindo a disputa eleitoral. Nesse Brasil. em que pese ao papel desempenhado pela UDN e pelo PSD, e mais recentemente pelo PDS e pelo PFL., o partido do Cl!lpitalillrno cartorial, notadamente industria.l e financeiro, têm sido as Forças Armadas, pois só um regime de força, mesmo quando em legalidade - fofmal como os regimes que se seguiram a 1964-poderia e pode garantir a sobrevivência de um governo voltado a assegurar a acumulação do lucro ao lado da redução dos salários, com uma brutal concentração de renda. POf isso mesmo, convivemos com o desamor da burguesia brasileira pela vida partidária e, dela decorrente, a fragilidade de nossos partidos, nenhum dos quais conseguiu mais de uma geração de sobrevivência continuada. O desenvolvimento da economia. resultado dos investimentos estatais (muitos derivados de empréstimos externos) possibilitou o aparecimento de uma burguesia (mas também de um proletariado e de amplas camadas assalariadas) que Já se dispõe a apartar-se do Estado, mais precisamente, a livrar-se de seu controle e mais dele, porém. utilizar-se, na medida em que dele se autonomiza, para melhor continuar a geri-lo. Por isso, já agore, depois da administração burocrático-autoritária, o "novo" capitalismo se revela neoliberal, e, assim, vem requerer mais claramente a privatização do Estado, mediante seu gradual afastamento da economia, cedendo as estatais - que haviam palmilhado o caminho do desenvolvimento capitalista moderno - isto é, seu próprio espaço. para que, em substituição a elas, reclamando lucro ou condenando a "estatização'', opere a "livre iniciativa". Para tal, porém, o capitalismo, a chamada iniciativa privada, teve de, por longos anos, ser antes cevado pela política clientelista, que associava o arrocho salarial, o crédito privilegiado, as taxas de câmbio favoráveis, a reserva de mercado até para multina- 22
23 c:ionels, os incentivos ftscais e. no caso dos bancos, um verdadeiro seguro contns perdas e má gestão. Após um mercantilismo agrário caduco (mas subsistente na exportação de produtos forrageiros a preço da fome interna), após um industrialismo montado sobre uma capitalização cafeeira nativa, após um capitalismo explodido provindo de uma dívida externa que relança o País ao mais baíxo do Terceiro Mundo, um neocapitalismo tardio se afigura como a nova direita dita "neoliben~ l " que emerge vitoriosa do pleito. Seu projeto é a modemizliçáo da economia mediante concessões jâ anunciadas à interdependência crescente da economia, que, nos termos do desequilibrio econômico internamodernoso dessa nova direita fosse aspecto positivo nos quadros da política tradicional brasileira acostumada à sucessão da mesmice, não se poderia omitir a sobrevivência de outros setores da direita brasileira, mais atrasados, ligados às Forças Armadas e às oligarquias clássicas da História desse País. viciados no golpe de Estado e no paternalismo estatal O cenário, todavia, não está completo: entre uma e outra direitas, entre a nova direita e a esquerda nova emergiram. igualmente fortes, um novo proletariado e novas camadas assalariadas, principalmente urbanas, que deram o contorno eleitoral da maioria das regiões metropolitanas com sua clara opção pela proposta representada pela candidatura da Frente Brasil-Popular, que se legitima como seu real representante. Essa realidade, no que se confirme. poderá consolidar o pluralismo partidário, consolidando também a disputa eleitoral. ensejadora, no futuro, de real altemãnc:ia no poder substitutiva dos diktijtes dos quartéis. A FRENTE BRASIL-POPULAR A política recente oferece lição que haverá de ser conservada oor todos os democratas: a Constituição. pela vez. 23
24 primeira em toda a história republicana, de uma frente política com hegemonia da esquerda, assegurou a vitória de seu candidato no primeiro turno. Mais do que uma frente de partidos, a Frente Brasil-Popular se consolidou em frente realmente popular e democrática, na medida em que sua legitimação se deu pelo concurso da mílitânda que se ante<:l pou às decisões das lideranças partidárias. A experiência indica não apenas o acerto daquela políti ca, mas a necessidade de sua consolidação. em 1990, no embate social e sindical Aponta para sua consolidação, mas aponta igualmente para sua ampliação. O palanque do segundo turno é o rumo. 24
25 OS SOCIALISTAS E A NOVA ORDEMPARTID.ÁRIA O Brasil parece, finalmente, dirigir-se para a construção de um efetivo sistema de partidos que se fortalece. promete fortalecer-se, na medida em que, com ele, o sistema democrático-representativo se fortalece na expectativa de uma nova história de pleitos sucessivos seguidos de posses sucessivas, de mandatos respeitados, isto é, simplesmente urna democracia sem pronunciamentos militares, sem renúncias intempestivas, sem golpes-de-estado. Ainda não se fala, vê-se, em uma sociedade minimamente justa e só minimamente corrupta e perdulária. Isto fica para um outro futuro. Para o presente de agora, o hoje, exige-se o máximo de engenho e arte para organizar os partidos e aquelas forças políticas que, sem cederem esse mínimo, querem almejar ao máximo. E o quase máximo viável nas condições dadas esteve em nossas mãos e por muito pouco não nos foi possível reter aquela que certamente seria a mais importante conquista popular-institucional de nosso País. A força acumulada. nada obstante o grande avanç-o, mostrou-se, porém, ainda incapaz de promover a virada que a História do País aguarda há pelo menos um século. O avanço do 25
26 processo oemocrátlco entre nós. demonstrando, na prática, a possibilidade de uma real alternância de poder, bem como os felizes eventos do leste europeu, reatualizaram, na esquerda socialista. as teses em torno das vias democráticas de conquista do poder, e, com elas. inevitavelmente, o caráter e a conformação dos nossos partidos. A lição da História parece apontar para a estratégia da unidade orgânica - vocativa, não compulsória - da esquerda socialista. Para tal futuro, revela-se como etapa presente, fundamental e inafastável, o fortalecimento dos partidos e da política de alianças e frente, cujo grande e pedagógico êxito foi a constituição da Frente Brasil-Popular e a vitória de Lula e Bisol no primeiro tumo. Nos Estados e nas próximas eleições, essa política certamente será aprofundada e sempre que possível ampliada, e, se o for, inevita velmente formaremos uma grande bancada progressista em condições de defender as conquistas populares. em face do que promete o futuro governo. (Nenhuma estratégia de curto prazo, este entendido como as eleições de outubro-novembro próximos, todavia, deve apostar, tâo só, no prematuro fracasso popular do novo governante. cuja capacidade de administrar apoios. tanto quanto sua identidade com o projeto do capitalismo, em suas diversas versões. não devem ser subestimadas. Pensamos mesmo que grandes serão nossas dificuldades eleitorais, no primeiro enfrentamento. Daí. sobre todas as questões estratégicas impõe-se ainda mais a pol1tica de coligações e de frente popular e de esquerda, instrumento indispensável seja para assegurarmos a representação popular, seja para assegurarmos o êxito do movimento nacional de oposição ao próximo governo.) A experiência político-partidária brasileira, a partir de revelou as virtudes. poucas. e os defeitos, muitos, do bipartidarismo - jã que. fora dos dois autorizados. isto é, compelidos a existir, pelo regime, os partidos que tentavam 26
27 :.vbreviver fora da ilharga militar tiveram de resguardar-se à clandestinidade, conservada até A Arena, pôde, assim, num dado momento t}_e euforia ufanista fascist6ide, dizer que era o maior partido do mundo ocidental (estigma que mais tarde, mas mais cedo do que se esperava, alcançou o PMDB): os políticos, toda a burguesia - com sua indústria, seu comércio, seus serviços - estavam nela presentes, ex olfido, porque, no essencial, quem estava mesmo era a vontade do poder militar que se alçara a gestor ditatorial do País. Esse unanlmismo, per rém, era falso - e o MDB, depois PMDB, foi prova disso, crescente. Prova, inclusive. da inconsistência das filiações compulsórias e das composições doutrinárias gelatinosas: o MDB chegou a ter, contemporaneamente, em seus quaaos. parlamentares tão díspares como Amaral Netto e Doute! de Andrade; Tancredo Neves, certa feita, desgostoso da companhia de Miguel,Vraes, aliou-se a Magalhães Pinto, autonomeado comandante civil do golpe de 64 (lembramse?) para fazer o efêmero PP, do qual sairia para re-reunir se no MDB rebatizado de PMDB, com os companheiros de jornada, para, eleito senador e em seguida governador, eleger-se também Presidente da República com os votos dos dissidentes do PDS, que fundaram o PFL, que indicou o vice da chapa do PMDB, o futuro presidente aleatório. o ex-presidente do PDS.- Aliâs, esse vaivém nas siglas sem caráter comportou e ainda tanto comporta outras composições-recomposições s6 aparentemente esdrúxulas, aqui lembradas. algumas delas, meramente pelo seu vezc paradigmãtico: assim, enquanto Tancredo (retomamos àquela mesma saga) saía do MDB para o infausto PP, seu colega Amaral Peíxoto (seu colega de Governo Vargas, seu colega de PSD e seu colega de MDB) saia do oposicionista MDB para o governista PDS. de quem, de imediato. seu genro. deputado federal eleito pelo MDB. seria candidato, e candi dato do General Figueiredo ao governo fluminense (1982); 27
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