Conferências APIFARMA O Estado da Saúde em Portugal Centro Cultural de Belém, Lisboa 1 de Março de 2018
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1 Conferências APIFARMA O Estado da Saúde em Portugal Centro Cultural de Belém, Lisboa 1 de Março de 2018 Queremos agradecer a presença de todos os que se preocupam com O Estado da Saúde em Portugal. Esta conferência reforça o compromisso da Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica com o futuro da Saúde em Portugal. Move-nos a determinação de promover um debate franco e aberto a favor do futuro de Portugal e da Saúde de todos os portugueses. Neste sentido, é justo sublinhar o esforço do Ministério da Saúde e do INFARMED na aprovação de mais processos relativos a novos medicamentos, introduzindo melhorias expressivas no acesso dos portugueses à inovação. Esperamos que esta tendência se consolide e seja a expressão de uma política de continuidade. Registamos também como muito positiva a constituição da Agência de Investigação Clínica e Inovação Biomédica, que nasce para criar sinergias e potenciar a investigação clínica, a inovação biomédica e a economia do conhecimento, em prol de Portugal, dos doentes e do Sistema de Saúde. Não podemos, também, deixar de assinalar a criação do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento da Indústria Farmacêutica em Portugal, no seio dos Ministérios das Finanças, Saúde e da Economia. Esta é uma velha aspiração da APIFARMA, que representa um sinal da relevância económica da Saúde e da sua capacidade de gerar emprego altamente qualificado, alavancar exportações e promover o investimento em inovação no país. Vivemos tempos extraordinários, fruto do desenvolvimento e progresso científico. 1/6
2 Assistimos ao aumento da longevidade da população a um ritmo sem precedentes e inúmeras doenças, tidas como incuráveis, têm hoje medicamentos e tecnologias de Saúde à sua disposição. O aumento da esperança de vida, fruto da evolução da ciência, é um poderoso ativo que uma sociedade humanista e moderna não pode desperdiçar. Este tempo novo, repleto de oportunidades, vem acompanhado de exigências que requerem todo o nosso empenho e sentido de responsabilidade. A Europa é uma das regiões do mundo em que o índice de envelhecimento é mais elevado. De acordo com a Comissão Europeia, Portugal ocupa o 4.º lugar na Europa com maior percentagem de pessoas idosas e caminhamos, a passos largos, para a 2.ª posição neste ranking. As projecções mais recentes apontam para que a população portuguesa caia para os 8 milhões em 2060, menos 2 milhões que em Em 2060, três milhões de portugueses terão 65 ou mais anos. Ou seja, mais de um terço da população portuguesa terá mais de 65 anos. O Relatório sobre o Envelhecimento da População, publicado pela Comissão Europeia, torna claro que nas próximas décadas a Saúde vai exigir um esforço de investimento de pelo menos mais 2,4% do Produto Interno Bruto. Todas as previsões apontam para um considerável aumento dos investimentos necessários em Saúde. Não podemos ter ilusões a este respeito! O desafio da sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde é enorme mas tem de ser enfrentado. Sobretudo porque o futuro é muito mais complexo. O caminho parece-nos óbvio. 2/6
3 Todos temos que estar disponíveis para colaborar, quanto antes, na adaptação da sociedade portuguesa e do nosso Sistema de Saúde a este grande desafio social, demográfico e de sustentabilidade. Ainda temos, em Portugal, muitos que continuam a olhar a Saúde apenas como uma despesa que é necessário controlar. Talvez por isso, o investimento público em Saúde, em percentagem do Produto Interno Bruto, foi sistematicamente caindo, sendo actualmente muito inferior à média dos países da OCDE. Temos um serviço público de saúde que, como todos constatamos, vezes sem conta, vive há demasiados anos subfinanciado e dependente de orçamentos ou transferências suplementares. O problema é profundo e radica sempre no Orçamento do Estado. Assinalamos o impulso dado pelo Ministério da Saúde e pelo Ministério das Finanças no sentido de criar um programa de eliminação da dívida do Serviço Nacional de Saúde aos seus fornecedores para O plano, tendo em vista o reforço de capital dos Hospitais Públicos em milhões de euros, representa um passo adicional para a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde, cujo efeito prático aguardamos com grande expectativa. Não ignoramos os esforços do Governo. Mas não podemos continuar a negar a realidade! O orçamento da Saúde em Portugal continua a ser inferior às necessidades dos portugueses, mantendo-se um quadro evidente de subfinanciamento crónico. Ainda esta semana, a Direção-Geral de Orçamento deu nota dos pagamentos em atraso das administrações públicas, destacando que a maior fatia corresponde à área da Saúde, tendência que se mantém no início de São 951 milhões de euros em dívida em atraso dos Hospitais Públicos. 3/6
4 Os fundos que destinamos à Saúde são insuficientes para garantir uma perspectiva de futuro para o Sistema de Saúde e para a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde. Uma dívida da dimensão que temos significa que o Estado tem descurado a Saúde e a qualidade de vida dos seus cidadãos. Portugal tem hoje o privilégio de viver um tempo novo que abre inúmeras oportunidades aos portugueses. Recuperámos o optimismo e o país mostra sinais de um crescimento económico assinalável face aos últimos anos. Aliás, de acordo com o projeto de Orçamento do Estado para 2018, o PIB em termos nominais, irá crescer 3,6%. Temos dificuldade em compreender que o Orçamento para a Saúde continue a passar ao lado deste renovado ambiente de confiança. Não esqueçamos ainda que em Portugal a Saúde goza de um consenso generalizado. Este é o tempo certo para se tomarem decisões partilhadas e duradouras. Ao longo do ano de 2017 ouvimos apelos constantes e de todos os quadrantes para um entendimento na área da Saúde. Da voz do Senhor Presidente da República ecoou, em inúmeras ocasiões, a urgência da criação de um verdadeiro Pacto para a Saúde. Ouvimos, em uníssono, que a área da Saúde em Portugal precisa de um ponto final no planeamento de curto prazo. Ouvimos que a Saúde precisa de uma lei de programação plurianual que dê estabilidade e ajuste o orçamento do Sistema de Saúde às reais necessidades dos cidadãos. Este é um grande desígnio que obviamente acompanhamos. 4/6
5 Consideramos, portanto, muito oportuna a Revisão da Lei de Bases da Saúde em curso, cujo trabalho o Senhor Ministro da Saúde, Professor Adalberto Campos Fernandes, em boa-hora entregou à Doutora Maria de Belém Roseira. Mas temos de nos lembrar que o sucesso desta missão dependerá, em grande medida, da capacidade de libertar a Saúde das amarras ideológicas que teimam em contaminar o debate. Estamos perante um debate de dimensão económica, é certo, mas assumamos, de uma vez por todas, que os Cuidados de Saúde públicos precisam da iniciativa privada e do sector social. Existe uma multiplicidade de agentes económicos que dão corpo ao Sistema de Saúde e que são fundamentais para o seu desempenho e resultados. Na verdade, as fundações do Serviço Nacional de Saúde teriam colapsado sem os agentes económicos da Saúde. Insistir no confronto ideológico na Saúde significa desviar o foco do essencial: a coesão de Portugal, a sustentabilidade do Sistema de Saúde e o acesso de todos os portugueses aos melhores Cuidados que o estado da arte permite. Nunca nos ouvirão atacar o Serviço Nacional de Saúde! Pelo contrário. Todos os nossos esforços vão por inteiro para a garantir a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde. Somos parceiros do Serviço Nacional de Saúde e ambicionamos mais acesso e melhor Saúde para todos os portugueses. O futuro de Portugal e a Saúde dos portugueses convocam-nos a todos: sectores público, privado e social. É esta soma das partes, esta relação sinérgica, que contribui para garantir, a todos os cidadãos, o acesso aos melhores Cuidados de Saúde, independentemente da sua condição económica, social ou geográfica. 5/6
6 O Sistema de Saúde que disponibilizamos aos cidadãos será tão mais eficiente e sustentável, quanto mais harmoniosa e equilibrada for a relação entre todos os agentes da Saúde. Portanto, mais do que guerras entre público e privado, mais do que controvérsias ideológicas, é preciso desenvolver um modelo sustentável de Cuidados de Saúde centrado no cidadão, no valor dos resultados em Saúde, nos benefícios do acesso à inovação e no futuro do Serviço Nacional de Saúde. Ignorar esta realidade, não ajustando o investimento em Saúde às reais necessidades dos portugueses, significa que estamos a abandonar as conquistas da ciência, a caminhar no sentido inverso aos nossos parceiros europeus e a desperdiçar todo o potencial inovador gerado pelos agentes da Saúde. Desta aposta depende a qualidade de vida dos cidadãos, a capacidade de Portugal disponibilizar os melhores cuidados de Saúde e o futuro do nosso Sistema de Saúde. Muito obrigado pela vossa atenção. João Almeida Lopes (Presidente da Direcção da APIFARMA) Lisboa, 1 de Março de /6
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