COMÉRCIO VALOR ADUANEIRO NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA - ASPECTOS INTERNACIONAIS
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- Tomás Fartaria Wagner
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1 COMÉRCIO VALOR ADUANEIRO NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA - ASPECTOS INTERNACIONAIS Um dos assuntos que têm provocado maiores controvérsias, nas relações comerciais entre países, é o da aferição do valor aduaneiro, isto é, do valor que servirá de base para aplicação do impôsto de importação. O fato de que a evolução dos preços, no tempo, apresenta sempre sentido ascensional, acelerado nos países em regime de inflação e mais lento nos demais, recomenda o emprêgo de alíquotas "advalorem" na aplicação de impostos. No caso particular das tarifas aduaneiras outros argumentos se somam ao anterior na preferência pelos direitos percentuais, notadamente o da comparabilidade dos tributos durante as negociações internacionais. Cumpre, todavia, lembrar que as vantagens apontadas podem, no caso das tarifas, ser debilitadas se o preço que o importador declarar fôr menor do que o realmente transacionado. N ão só a arrecadação de direitos seria menor do que a prevista, como também a esperada proteção contra a deterioração dos preços oficiais (alíquotas específicas) seria anulada pela declaração f81sa, mantendo os preços de importação abaixo dos reais. Temendo tal procedimento, os países que adotam tarifas percentuais estabelecem regras para ABRIL/1969 8S
2 aferição do valor da mercadoria importada. Devido ao fato de a fixação dêstes critérios ficar entregue, exclusivamente, aos países importadores, foram cometidos excessos na avaliação dos produtos, resultando daí maiores impostos, o que levou as Partes Contratantes, presentes à Conferência das Nações Unidas sôbre Comércio e Emprêgo (Genebra-1947), a incluírem no Acõrdo Geral de Tarifas e Co mércio (GATT) a recomendação de que fôssem observadas condições mínimas na aferição do valor aduaneiro. Posteriormente, c Grupo de Estudos para a União Aduaneira Européia, criado em Bruxelas em 1947, considerando os princípios gerais contidos na recomendação do GATT, elaborou uma definição apropriada para o referido valor. A partir de , a definição de valor aduaneiro, proposta pelo Grupo de Estudos, passou a ser adotada pelos países que aderiram à Convenção sôbre Valor Aduaneiro das Mercadorias. Atualmente, a maioria dos países do Ocidente incluiu nas suas legislações o conceito de Bruxelas: Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, França, Grécia, Haiti, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Noruega, Paquistão, Holanda, Portugal, Reino Unido, Suécia, Turquia e Iugoslávia. a6 o Brasil, embora não tenha aderido à Convenção, poderá vir a aplicar, nas suas relações comerciais com os países da ALALC, as regras de Bruxelas, referentes 20 valor aduaneiro, uma vez que '" Resolução n.o 133, da Quinta Conferência das Partes Contratantes do Tratado de Monteviáéu, recomenda a adoção do citado valor nos instrumentos aduaneiros comuns que se estabeleçam como resultado do programa de harmonização da Associação. D ada a complexidade do fato que a Convenção pretendeu definir, foi necessário, para sua perfeita compreensão, o desdobramento em 3 artigos: Artigo 1. 1) - para a aplicação dos direitos tarifários "ad-valorem", c valor da mercadoria importada é o preço normal, isto é, o preço que ela alcançaria, no momento em que os direitos aduaneiros são exigidos, como conseqüência de uma venda efetuada em condições de livre concorrência en tre um comprador e Uln vendedor independentes entre si; 2) - o preço normal da mercadoria importada se determinará considerando-se os seguintes CONJUNTURA ECONôMICA
3 pressupostos: a) - que a mercadoria seja entregue ao comprador no põrto ou lugar de entrada no território do país de Importação; b) - cabem 30 vendedor e estão incluídos no preço todos os gastos relacionados com a venda e a entrega da mercadoria no pôrto ou lugar de entrada; c) - cabem ao comprador os direitos e impostos exigíveis que, em conseqüência, estão excluídos do preço. Artigo 2. 1) - uma venda efetuada em condições de livre concorrência entre um comprador e um vendedor independentes é uma venda em que, principalmente : a) - o pagamento do preço constitui a única prestação efetiva do comprador; b) - o preço convencionado independe de relações comerciais, financeiras ou de outras classes, sejam ou não contratuais, que possam existir, exceto as decorrentes da própria venda, entre o vendedor ou pessoa física ou jurídica associada em negócios com o vendedor e o comprador, ou pessoa física ou jurídica associada em negócios com o comprador; e c) - nenhuma parte do produto que proceda da revenda, da cessão posterior ou da utilização da mercadoria reverterá, direta ou indiretamente, ao vendedor ou a qualquer outra pessoa físi- ca ou jurídica associada em negócios com o vendedor. 2) - considera-se que duas pessoas estão associadas em negócios quando uma delas tem um interêsse qualquer nos negócios ou bens da outra, ou se as duas têm interês!les comuns em um negócio ou bem qualquer, ou se uma terceira pessoa tem interêsses nos negócios ou bens de cada uma delas, sejam êstes interêsses diretos ou indiretos. Artigo 3. Quando as mercadorias a avaliar. a) - hajam sido fabricadas segundo procedimento patenteado ou utilizando desenho ou modêlo registrado, ou b) - apresentem marcas de fábrica ou de comércio estrangeiros ou se importem para ser vendidas com uma destas marcas, o preço normal se determinará considerando que êste preço compreende o valor do direito de utilização da patente, desenho ou modêlo registrado, ou da marca de fábrica ou de comércio correspondente as citadas mercadorias. ASPECTOS BRASILEIROS A partir de 1957, a Lei Tanfária n.o 3244 colocou em vigor a nova Tarifa Aduaneira que ABRIL/
4 substituiu a de Enquanto no instrumento anterior preponderavam as alíquotas específicas, no nôvo os direitos eram em maioria absoluta percentuais. Tal fato levou o legislador a estabelecer, nos artigos 5. e 7. dã referida lei, o entendimento brasileiro para o valor que serviria de base para o cálculo do impôsto, bem como o procedimento a ser adotado quando tal definição não pudesse ser aplicada: Artigo 5. ) - o impôsto "advaiarem" será calculado com base no valor externo da mercadoria, acrescido das despesas de seguro e frete (valor CIF). Artigo 7. ) - quando o valor externo não puder ser devi- damente apurado, o cálculo do impôsto será feito na base do mercado atacadista interno, deduzidos, além dos tributos incidentes sôbre a importação, 30 % '" título de lucro e despesa. o decreto n.o 43713, de , estabelece que as investigações necessárias para a aferição do valor externo são atribuição da Carteira de Comércio Exterior do Banco do Brasil. Para prevenir conflitos de autoridade, estabelece em seu artigo sétimo: Artigo 7. - as autoridades aduaneiras não poderão autorizar o desembaraço de qualquer mercadoria por valor inferior ao apurado pela Carteira de Comércio Exterior, na conformidade do disposto na alínea "b" do artigo 5., cumprindo-lhes aplicar as penalidades cabíveis sempre que os preços e valôres apurados não coincidirem com os constantes da nota de importação. Nesta época, a atuação dos agentes fiscais, na aferição do valor aduaneiro, era disciplina Parágrafo único - considerar-se-á valor externo da mercadoria o preço, ao tempo de sua exportação, pelo qual ela, ou mercadoria similar, é normalmente oferecida à venda no mercado atacadista do país exportador, somado ao custo de qualquer recipiente, envoltório ou embalagem, e às despesas referentes à sua colocação no pôrto de embarque para o Brasil, deduzidos, quando fôr o caso, os impostos exigíveis para consumo da pela Circular n.o interno e recuperáveis pela exportação da mercadoria. 17, de , da Diretoria de Rendas Aduaneiras que estabelecia que G. cobrança do impôsto de importação não recai sôbre o preço de fatura da mercadoria, mas, sim, 88 CONJUNTURA ECONôMICA
5 sôbre o seu valor ou cotação normal no mercado externo, sendo. portanto, inaceitáveis para abatimento dêsse valor todos os descontos especiais, entre êles os resultantes da qualidade do importador, da quantidade de mercadoria adquirida, de pagamento antecipado ou à vista da compra efetuada. o exame dos textos dos instrumentos citados revela 2 grandes inconvenientes: o mesmo produto teria valôres aduaneiros diferentes segundo as origens; 2. - os países de economia dirigida não têm mercado atacadista e, em conseqüência, o valor aduaneiro não poderia ser estimado. lu) - Acreditamos que êstes 2 entraves tenham sido os maiores responsáveis pela reformulaçao da legislação brasileira que trata da aferição do valor aduaneiro. Assim é que, pelo Decreto-lei n. o 37, de , serão revogadas, a partir de regulamentação a ser oportunamente estabelecida, tôdas as disposições anteriores, ficando o assunto disciplinado pelos artigos 3. 0 e 4.0 do referido diploma. Art entende-se por preço normal da mercadoria o que ela, ou mercadoria similar, alcançaria ao tempo da impor- tação, como definido no regular.j.ento, em venda efetuada em condições de livre concorrência, para entrega no pôrto ou lugar de entrada da mercadoria no país. Art para os efeitos do ~rtigo anterior, entende-se por venda em condições de livre concorrência aquela em que: I) ~1 única prestação a cargo do comprador é o pagamento do preço; U) - o preço é fixado independentemente de relações comerciais, financeiras, ou de outra natureza, contratuais ou não, além das criadas pela própria venda, entre o vendedor ou pessoa a êle associada e o comprador ou pessoa a êle associada; e nenhuma importância decorrente da ulterior revenda, cessão ou utilização do produto vendido retorna, direta ou indiretamente, ao vendedor ou à pessoa a êle associada. A grande semelhança entre o texto do nôvo instrumento brasileiro e o aprovado pela Convenção de Bruxelas revela que, no campo da aferição do valor aduaneiro, o Brasil já optou pela definição internacional, abandonando os critérios domésticos, fonte de tantos desentendimentos no comércio mundial, e facilitando nossa posição de negociador tanto no âmbito do GATT como no da ALALC. ABRIL/
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