A Abordagem Transpessoal do Amor em Core Energética

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1 A Abordagem Transpessoal do Amor em Core Energética Nilton Ferreira "O Core é o centro do amor. Toda manifestação de amor pode ser vista como uma conexão com nossa espiritualidade" A Core Energética integra os ensinamentos das Grandes Tradições Espirituais da humanidade que ensinam que no amor e na compaixão por todos os seres viventes reside a suprema sabedoria. Insere-se nas abordagens das teorias transpessoais de psicologia que postulam a existência de uma "Consciência Cósmica Universal" ou "Consciência do Todo Unificado", visões que originaram o Novo Paradigma Científico, unindo o conhecimento da física moderna com os fundamentos das antigas tradições espirituais. "A mente vê separação, dualidade; mas existe uma outra maneira de se experienciar a realidade - como unidade. Se dá através do coração, pelo processo do amor. O amor busca a fusão com o outro; dois tornam-se um. O amor vê a unidade. Para a pequena onda que é o nosso ego conhecer o que é o oceano, ela deve voltar a se fundir com o oceano - através do amor"...(sai Baba). Segundo a teoria da Core Energética, todo ser humano possui em si uma Essência divina, definindo-a como núcleo da vida universal individualizada, e por conta disso, seu mais profundo anseio é reconectar-se com esta fonte original do ser. Quando nascemos, vimos para o mundo da dualidade. Vivemos num mundo de dualidades; o que nas escrituras Hindu é chamado de maya. Vida e morte, bom e mau, prazer e dor... Nossa separação deste princípio único da realidade é o nosso primeiro trauma. Expulsos do paraíso, nosso mito predominante é o da separação. A sensação de sermos uma identidade separada está na base da existência do ego. Maya é a ilusão de que existe uma multiplicidade de coisas e entidades no universo, quando na realidade só existe uma. O ego, nossa construção mental de que somos seres distintos e especiais é um aspecto desta ilusão, que para se firmar reforça ainda mais a percepção da dualidade. Escrituras espiritualistas referem-se ao ego como um aspecto da ilusão da dualidade, de um senso de auto importância e de se se ser separado. Nosso retorno à fonte, ou nossa fusão no Todo significa para ele uma ameaça mortal, uma vez que ele é estruturado segundo o princípio da dualidade. Vivemos a ilusão da separatividade e nos fundirmos com o todo representa para nosso ego uma ameaça mortal de dissolução. Alexander Lowen em seu "Amor e Orgasmo" fala deste medo da dissolução ao falar da ansiedade do orgasmo na pessoa neurótica. A ansiedade do orgasmo, quer dizer, o medo da dissolução do ego que inunda a pessoa neurótica quando da aproximação do clímax sexual máxima é percebida como medo de morrer. Ele diz que perdemos o sentido de nós mesmos quando mergulhamos em outro ser durante o ato sexual. Faz uma relação entre sexualidade e amor, dizendo que a sexualidade é antítese da estrutura. É vivido como algo que derrete, que flui e se funde. E nos devolve à fonte do nosso ser. "Perdemos o sentido de nós mesmos quando mergulhamos em outro ser durante o ato sexual, simplesmente para sermos novamente trazidos à luz e renovados, como indivíduos, através da experiência". Segundo Pierrakos, a força do sexo se manifesta em todos os níveis da nossa existência: física, emocional, mental e espiritual. "Esta força é a expressão de ambos, energia e consciência, quando em busca de fusão... - unificação... ela tem o poder, através do orgasmo, de transcender o tempo, espaço e É permitida a reprodução total ou parcial, desde que citada a fonte 1

2 a dualidade. Quando ela é unificada com o amor e a verdade, ela trás um sentimento de realização que transpõe os limites da realidade pessoal". Para alcançar a plena realização, o ser deve conectar a sexualidade aos níveis físico, emocional, mental e espiritual. Após nossa separação da Consciência Primordial, quando viemos ao mundo, passamos por experiências que vão causar outras separações e divisões em nós próprios - nossa fragmentação. Com as experiências traumáticas de dor vividas na relação com nossos pais, criamos as separações internas. Separação entre amor e sexo, bloqueios, fechamento de nossos centros energéticos de recepção e doação, tensões e stress. Quando maior a ameaça de dissolução, mais nos fragmentamos, nos dividimos e reforçamos nossas defesas contra o livre fluir da vida, e mais nos refugiamos na individualidade, aumentando nosso medo da entrega... Não existe entrega total que não através do amor. Esta abertura para o amor pode ser um trabalho de vidas... Geralmente localizamos a fonte de amor no coração. Em sânscrito dá-se o nome de Anahata para o quarto chakra que é comumente ligado ao coração, definindo sua posição no corpo humano e conectando-o com a fonte do amor altruístico e da inspiração espiritual. No hinduísmo o chakra do coração é representado pela mandala Vayu, que representa a relação harmoniosa entre as forças masculinas e femininas do universo. Seu elemento é o ar, representado pela figura de um antílope, veículo de Vayu, deus do vento. No tantra budista, o elemento associado ao centro do coração é o fogo, simbolizando aí o fogo da devoção religiosa e do amor. O coração, nesta tradição seria a sede da mente intuitiva e da transmutação dos sentimentos - a compaixão e o amor divino. É o local onde a experiência humana pode realizar o universal. Embora os chakras não possam ser vistos como objetos materiais, eles possuem como que uma localização no corpo humano. Segundo esta localização, eles são associados com diferentes níveis de consciência, elementos arquetípicos e filosóficos. Elementos Básicos dos Chakras* 7 - Conhecimento Pensamento Consciência 6 - Intuição Luz Luminosidade 5 - Comunicação Som Vibração 4 - Amor Ar Equilíbrio 3 - Poder Fogo Combustão 2 - Sexualidade Água Polaridade 1 - Sobrevivência Terra Gravitação * Anodea Judith in "Eastern Body Western Mind" Não chegamos ao Core senão através do amor. Segundo Pierrakos "existe uma completa unificação da dualidade da vida; aqui reside onisciência, continuidade e sabedoria... nosso trabalho em Core é transformar e superar os obstáculos que nos impedem de experiência nosso core". O ser humano experiência muitos medos. Da dor física, medos ligados à auto sobrevivência, da fome... e o maior de todos os medos, o medo da perda do ego. O medo da dissolução. O que Samuel Sandweiss chamou de Medo Mortal. "A ameaça de perda de nossa identidade pessoal trás consigo o segundo e mais profundo aspecto do medo mortal: o medo da desintegração do ego e perda da integridade - o terror da própria vulnerabilidade num universo insondável sem limites ou significado ". A vivência do amor, a experiência do orgasmo são experiências fusionais em todos os níveis: físico, emocional, mental e espiritual. É permitida a reprodução total ou parcial, desde que citada a fonte 2

3 embora ansiemos por estas experiências, as tememos por todos os mecanismos de defesa que criamos para nos protegermos. Falando desta experiência fusional, Pierrakos diz que: "Para que esta experiência seja total é preciso que haja uma unidade entre a energia do coração e a energia da pélvis - uma ocorrência rara nos dias de hoje onde há muita divulgação da sexualidade e de técnicas sexuais sem um comprometimento verdadeiro do coração. Nossa capacidade de nos entregarmos é posta à prova. Sem amor, entretanto, entregar-se é impossível. Qualquer tentativa de entrega sem amor vai nos conectar com nossa negatividade". Esta experiência de fusão só se dá através do amor, que é a antítese do medo. No Core, "existe uma completa unificação da dualidade da vida; aqui reside a onisciência, continuidade e sabedoria". Para essa entrega, enfrentamos muitos medos... "Para experienciar o amor e manter um relacionamento vivo a pessoa tem que desligar o ego - ela tem que arriscar se perder. Assumindo este risco aprendemos a confiar em nós mesmos"... (Pierrakos). Se o senso de ser uma identidade separada é a base da existência do ego, a rendição ao amor é uma ameaça mortal à sua integridade, porque no amor cessam as dualidades. Cabe uma distinção entre amor romântico e amor altruísta. O amor romântico é baseado nesta procura de união com a fonte do amor. É um erro acreditar que esta fonte de amor está em outra pessoa fora de si mesmo. O resultado desta projeção é sempre frustrante. Quando projetamos nosso anseio arquetípico de uma completa união de nosso Animus e Anima numa relação amorosa, quase sempre podemos cair num jogo de manipulação e sofrimento no anseio que o outro vai nos completar. Não podemos viver no coração sem antes lidarmos com nossas negatividades e questões egóicas ligadas aos primeiros chakras. "O amor não é concedido. É difícil alcançá-lo porque quando os bloqueios no corpo e na personalidade são liberados através do amor, a energia liberada intensifica bloqueios já existentes ou cria novos bloqueios para refrear a expansão..."(pierrakos). Uma teoria diz que a desilusão e raiva das crianças pelos pais por estes não haverem lhes dado todo o amor que eles queriam, pode vir da lembrança da completa fusão amorosa vivida no contato com o pai e a mãe primordiais. O amor altruístico, por outro lado, é ligado à compaixão e é vivido como uma total aceitação da vida e do outro. A habilidade de sentir compaixão pelo outro parte de nosso Eu Superior e do contato que tivermos com nossas próprias dores e anseios mais profundos. A psicologia oriental não dualista diz que o homem deve não apenas superar as feridas da infância, trabalhar com seus complexos e sofrimentos, resgatar a inocência da criança, como também deve superar sua percepção de separação de tudo que ele imagina se fora dele. Ele tem que superar a dualidade. Superar seus medos, sofrimentos, dores, o medo da morte. E a única força capaz de levá-lo a esta superação é o amor. "O amor pode transformar o homem em um ser divino, ele o ajuda a manifestar o divino que é a sua essência"...(sai Baba). Disciplinas como o Budismo Tantrico, que trabalham com a elevação da consciência dizem que os três primeiros chakras, que são fisicamente próximos da terra, são relacionados com as questões práticas da vida, como segurança, sexualidade e poder, e por isso são mais relacionadas ao ego. São regidos por princípios físicos e pelas leis humanas. Enquanto que os chakras superiores representam realidades subjetivas e trabalham em níveis simbólicos através de imagens e conceitos. Na visão do Tantra Hindu e segundo a sua localização no corpo humano, os sete chakras representam no microcosmos humano os sete níveis ou divisões do macrocosmos. A Realidade Absoluta é personificada nesta tradição por Shiva, ou princípio masculino. O corpo do cosmos seria a amante de Shiva, É permitida a reprodução total ou parcial, desde que citada a fonte 3

4 chamada entre outros nomes por Shakti. Shakti, como o princípio feminino que dá origem às formas manifestas. Quando ela dá forma ao que não tem forma, limites ao que não tem limites, ela é chamada de Maya Shakti. Maya Shakti seria a criadora da ilusão do universo, dividindo a consciência pura em diferentes camadas de matéria. Esta divindade é também venerada como a Grande Libertadora, pois tudo que ela trás à manifestação vai um dia retornar à essência. Shiva e Shakti são, às vezes, representados como amantes, representando sua interdependência. São representações de uma unidade única. O sétimo chakra, no topo da cabeça, comumente relacionado à espiritualidade sinaliza para a união original de Shiva e Shakti. No sexto, representado pelo terceiro olho, Shakti separou-se de Shiva criando a mente. Os outros cinco chakras, à medida que vão se localizando mais próximo da terra representam cristalizações progressivas, que são associados aos cinco elementos: éter, ar, fogo, água e terra. O praticante que eleva sua energia/consciência a partir dos primeiros chakra, quando chega ao quarto, o chakra cardíaco, vai entrar em choque com seu ego. O fogo alquímico do amor pode transformar seu senso de identidade. O ego vai ser consumido e transformado. Podem ocorrer severas crises de identidade, antes que uma mais inclusiva e universal possa surgir. É importante podermos compreender os caminhos por onde flui a energia liberada. Tradicionalmente nossos modelos de psicoterapia buscam trabalhar os conflitos originais, geralmente desbloqueando nós que fazem com que a consciência fique presa nos estágios iniciais do desenvolvimento infantil, tendo uma atuação voltada para questões relacionadas aos desejos e emoções. À medida que estes bloqueios são desfeitos, a consciência pode estar livre para seguir seu caminho em direção aos chakras superiores. Neste momento, se o terapeuta não está familiarizado com a dinâmica dos estados superiores de consciência, ele pode focalizar este movimento energético na satisfação dos desejos e necessidades de gratificação primárias (ligadas aos três primeiros chakras), como caminho para a felicidade, ao invés de facilitar sua elevação para níveis mais elevados de consciência e sua integração no Core. Uma terapia corporal que trabalhe com bloqueios energéticos pode libertar o indivíduo de conflitos infantis, facilitando um melhor desempenho sexual, uma maior liberdade e expressividade. Porém deve-se saber que energias sutis são liberadas e irão ativar os chakras superiores, ou níveis transpessoais da consciência, que se não forem entendidas não levarão o indivíduo a integrá-las. Enquanto que o enraizamento favorece a descida da energia para "plantar"o indivíduo e fazê-lo lidar bem com esta realidade dualistica, o movimento ascendente da energia rumo ao céu, torna o indivíduo capaz de transcender a dualidade e separação do mundo materialista. "Quando o chakra cardíaco desperta, o aumento de sua vibração altera o corpo astral infundindo-a com a mais sublime energia celestial. A abertura do coração também inicia a pessoa numa íntima relação com o mistério da vida"... (Charles Breaux). O caminho para nos conectarmos com esta fonte do amor é solitário e pode ser aterrorizante, na medida em que vamos superando as camadas de medo, abrindo caminho para níveis mais profundos de amor, até nos conectarmos com o amor incondicional - a realidade do Core. Mas à medida que nos aventuramos neste caminho temos de nos confrontar vezes sem conta com este medo aterrorizante da morte do ego, que é sair da dualidade. Temos de passar pelo "vale da morte" ou pelo que São João da Cruz chamou de "a noite escura da alma". "Apenas o amor é capaz de unir os seres vivos de maneiras a completá-los e satisfazê-los, pois somente o amor os leva e os une através daquilo que é mais profundo dentro deles... E se isto é o que o amor pode conseguir diariamente em pequena escala, porque ele não deveria repetir o dia em dimensões mundiais?..." (Pierre Teilhard de Chardin). O propósito da abertura do chakra cardíaco é fazer com que possamos nos expandir além dos limites do ego, numa comunhão com toda manifestação de vida. Quando ele é aberto, um desejo de que todos os seres vivos possam compartilhar deste estado de consciência e beatitude é sentido. Na tradição É permitida a reprodução total ou parcial, desde que citada a fonte 4

5 budista este desejo é manifesto no voto de trabalhar para que todos os seres sensientes possam atingir a iluminação. Uma pessoa que realiza este voto é chamado de Bodhisattva. A motivação para este voto é baseado na compaixão, significando que é ancorado no Eu Superior da pessoa e voltado para o os outros seres. Em sânscrito a palavra bodhi significa iluminado ou desperto, enquanto que citta significa a iluminação da mente/coração, quando a Grande Compaixão é experiência. É permitida a reprodução total ou parcial, desde que citada a fonte 5