Violência nas Comunidades: Crianças e Jovens em Violência Armada Organizada 1. Marianna Olinger 2. Rio de Janeiro, Novembro de 2005.
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- Rosa Cesário Arruda
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1 Violência nas Comunidades: Crianças e Jovens em Violência Armada Organizada 1 Marianna Olinger 2 Rio de Janeiro, Novembro de Artigo preparado para o Seminario A Saude das Populaçoes em Situaçao de Violencia, organizado pelo Nucleo de Estudos da Saude Coletiva NESC/UFRJ. Novembro de Pesquisadora do programa COAV da Organização Viva Rio
2 O Brasil hoje tem o que pode se chamar de uma população jovem, ou seja, a predominância desse segmento na população, que no último censo ultrapassou 34 milhões de pessoas (15 a 24 anos de idade de acordo com o critério apontado pela ONU). Via de regra esse fato deveria ser motivo de comemoração, já que uma população jovem pode representar oportunidade de crescimento e desenvolvimento. No entanto existe uma crescente preocupação com os rumos que a juventude brasileira vêm tomando. A questão da violência é cada vez mais preocupante na sociedade em geral, mas principalmente nesse segmento da população. Enquanto a taxa de mortalidade global no Brasil caiu de 633 para 573 por 100 mil habitantes entre 1980 e 2000, a taxa referente aos jovens (15 a 24 anos) passou de 128 a 133 por 100 mil habitantes (IBGE). Índices de mortalidade por arma de fogo 3 mostram que a juventude é a maior vítima da violência armada, que já é a maior causa de morte de jovens em alguns estados. 4 Quando analisamos esses números mais de perto também descobrimos que os mais suscetíveis a esse tipo de violência se encontram em áreas de baixa renda, freqüentemente marcadas pela ausência, ou presença diferenciada do Estado. No Rio de Janeiro as manifestações da violência têm se mostrado muito preocupantes, com o crescimento do tráfico de drogas e a forma peculiar que este tem se manifestado (em relação à dominação territorial). A forma com que o tráfico tem se organizado na cidade faz com as populações de comunidades se encontrem mais vulneráveis ainda, 3 Brasil: As Armas e as Vítimas, Viva Rio, Rio de Janeiro, Pernambuco e São Paulo segundo dados da UNESCO, Mapa da Violência IV.
3 muitas vezes no fogo cruzado entre facções do tráfico de drogas rivais, ou entre o tráfico e a polícia. Outro fato alarmante que vem chamando atenção da sociedade em geral, é a crescente participação de crianças e jovens no tráfico de drogas. No Rio de Janeiro essa participação é cada vez mais visível e acredita-se que contribui de maneira definitiva para os altos e crescentes índices de mortalidade por arma de fogo entre a população menor de 18 anos. O aumento da violência ligada a esses grupos com freqüência é apontado como responsável, em grande parte, pelas alarmantes estatísticas relacionadas a violência armada, principalmente nas comunidades de baixa renda. Em uma pesquisa realizada pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro em 2004 mostrou que Jovens entre 18 e 24 anos são maioria entre os condenados por crimes. Segundo pesquisa da Diretoria Geral de Tecnologia da Informação do Tribunal de Justiça (TJ) do Rio, 53% dos processos que entraram na Vara de Execuções Penais (VEP) de 1º de janeiro de 2003 a 31 de junho de Uma outra pesquisa, realizada pela ONG Viva Rio em conjunto com o ISER - Instituto de Estudos da Religião em 2003, aponta para o crescimento significativo da participação de crianças e jovens no tráfico de drogas. Os resultados da pesquisa, bem como a experiência adquirida nesses últimos quatro anos pelo Viva Rio, chamam atenção para um grupo especial, que, apesar de reduzido em número, tem um impacto 5 Diretoria Geral de Tecnologia da Informação do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, publicada no jornal O Globo em 08 de Agosto de 2004.
4 qualitativo significativo nos níveis de violência verificados nas comunidades de baixa renda no Rio de Janeiro. O Estabelecimento e o Crescimento do Tráfico de Drogas no Rio de Janeiro 6 O comércio ilícito de drogas no Rio de Janeiro iniciou um processo de mudanças no início dos anos 80, que foram determinantes para a facilitação do aumento subseqüente do envolvimento de crianças e jovens no trabalho no tráfico de drogas. Com a introdução da cocaína, e a alta e instantânea rentabilidade que esta proporciona, o mercado de drogas do Rio foi reestruturado durante em termos de escala, organização o do uso da violência, que passa a ser ferramenta, aceita, para o alcance de objetivos econômicos e assegurar disciplina interna. A violência relacionada com as drogas e as disputas territoriais entre facções rivais, pode ser vista como uma causa primordial para o aumento em quase 140% das mortes por arma de fogo na cidade entre 1979 e Atualmente no Rio de Janeiro o mercado de drogas no varejo é composto de grupos armados, chamados comumente de facções, que submetem as comunidades ou favelas aos seus interesses políticos e econômicos através da dominação territorial paramilitar. O crescimento da demanda por drogas ilícitas na população da cidade coincidiu com a chegada da cocaína e a extrema lucratividade dessa droga, 6 Esta seção é baseada no estudo realizado por Viva Rio e ISER, que resultou no livro Crianças do Tráfico: Um estudo de caso sobre crianças em violência armada organizada no Rio de Janeiro Dowdney, L, Em 1980 foram registradas 1430 mortes por arma de fogo no município do Rio de Janeiro, em 2000 foram Mortes por armas pequenas tiveram seu auge em 1998 com o total de 3182 homicídios por arma de fogo. (Ministério de Saúde, Secretaria da Saúde do Governo do Estado do Rio de Janeiro).
5 aumentaram a competição pelo controle da sua venda. 8 Paralelo ao aumento da competição pelo controle das vendas de drogas, veio o estabelecimento e a organização das facções de drogas, tendo como conseqüência a territorialização das favelas na cidade como pontos de venda estrategicamente posicionados. O aumento no policiamento violento e repressivo durante a ditadura adicionado a introdução de armas leves de calibre de guerra no mercado ilegal de armas de fogo contribuíram também para estabelecer a violência armada como principal ferramenta através da qual o tráfico de drogas é mediado. O estabelecimento e o crescimento das facções que agora dominam o mercado do tráfico de drogas no Rio e subseqüentemente favelas da cidade tem levado a uma crescente rivalidade disputas armadas pelo controle dos pontos de venda de droga e das comunidades vizinhas. Disputas armadas que começaram durante esse período e continuam atualmente resultaram em um aumento na militarização que inclui a utilização de armas de calibre de guerra, taxas de mortalidade por arma de fogo exageradas, comparáveis a alguns dos conflitos modernos (Dowdney 2002:80-83) e, uma demanda sempre crescente de trabalhadores que abriram caminho para o emprego de crianças e jovens. Como resultado, uma sub-cultura militarizada foi estabelecida dentro das favelas do Rio de Janeiro com grupos fortemente armadas em intermitentes porém regulares conflitos. Confrontos armados entre facções rivais ou com a polícia se tornou lugar comum e os 8 Misse, M Malandros, Marginais e vagabundos. A acumulação social da Violência no Rio de Janeiro Tese de Doutourado, IUPERJ.
6 grupos armados agora...tem um arsenal suficiente para dar inveja a qualquer grupo terrorista ou força de segurança. Todo esse aparato está nas mãos de jovens inexperientes, majoritariamente adolescentes, muitos dos quais mal consegue agüentar o peso dessas armas (relatório do DRE citado em NEPAD & CLAVES 2000:44). Apesar de favelas não serem os únicos lugares onde drogas são vendidas no Rio de Janeiro, elas representam a manifestação mais pobre e menos sofisticada do tráfico de drogas, sendo logisticamente essenciais para a manutenção do formato atual do tráfico. É na favela que batalhas por controle territorial são lutadas, que crianças estão armadas, que comunidades estão presas no fogo cruzado e onde a maioria das vítimas da violência relacionada a drogas morre. Apesar de existir uma crença generalizada, incentivada muitas vezes pela cobertura sensacionalista da mídia, de que o tráfico sustenta as favelas, a vasta maioria dos lucros do tráfico de drogas não fica na comunidade mas é passado através de uma cadeia a poderosos indivíduos que pertencem não a facções de drogas, mas a elite social e política brasileira. Quando questionados sobre o envolvimento de crianças no mercado ilícito de drogas, residentes de comunidades entrevistados disseram notar uma diferença clara entre a década de 70 e agora. Falando sobre como costumava ser antes da chegada da cocaína e da formação das facções, os residentes de favelas disseram que antes os traficantes não deixavam crianças se envolverem no tráfico de drogas, ou se empregavam crianças era raramente em posições armadas. No período pré-facção e pré-cocaína crianças e adolescentes eram mantidos fora a do tráfico pelos traficantes
7 adultos, ou se empregados, eram utilizados como olheiros não armados ou mensageiros 9. Apesar de crianças e adolescentes terem sempre se envolvido no tráfico de drogas, pelo menos em funções minoritárias, as mudanças na estrutura operacional do tráfico de drogas durante este período facilitou muito o envolvimento de crianças já que elas eram muito capazes ou adaptáveis às muitas funções estabelecidas com a hierarquização do trabalho. Crianças em Violência Armada Organizada O estudo, que resultou no livro Crianças do Tráfico: Um Estudo de Caso de Crianças em Violência Armada Organizada no Rio de Janeiro 10, faz uma análise cuidadosa sobre a participação de crianças no tráfico de drogas nas comunidades no Rio. O livro chama atenção para as características das disputas relacionadas com o Tráfico de Drogas no Rio de Janeiro, que apesar de resultarem em taxas de mortalidade comparáveis a taxas de mortalidade de muitas das guerras modernas, não configuram em estado de Guerra para a cidade. Em resultado dessa diferenciação, crianças e adolescentes trabalhando em forças armadas para o tráfico de drogas são categorizadas como delinqüentes, criminosos ou membros de gangues. 9 Os pesquisadores entrevistaram um ex-traficante que teria empregado como olheiro no final dos anos 70 a quem teria sido entregue uma pistola calibre.22 pelos traficantes para os quais trabalhava quando tinha 13 anos. No entanto isso teria acontecido para que ele pudesse resolver um caso de intimidação que ele estaria sofrendo na escola que freqüentava naquela época e não para uso no trabalho. Dowdney, L Dowdney, L
8 A pesquisa mostra que embora existam algumas semelhanças, entre crianças trabalhando para o tráfico e crianças em gangues em outros contextos urbanos, categorizar as crianças do tráfico como delinqüentes não representa de forma adequada à realidade dessa situação. Em virtude dessa análise, os pesquisadores, juntamente com profissionais das áreas de direitos da criança e violência 11 criaram uma definição para melhor refletir a situação encontrada. A situação Crianças e Jovens em Violência Armada Organizada (COAV) foi então definida, onde Violência Armada Organizada é caracterizada quando existem elementos de estrutura de comando e poder sobre território, população local ou recursos. A pesquisa de Dowdney mostra como o tráfico tem se tornado cada vez mais atraente para crianças e adolescentes, principalmente em razão de ausência de possibilidades alternativas de emprego, de ascensão social, de status e de dinheiro. Cada vez mais a exigência de participar da crescente cultura do consumo vem fazendo com que crianças e jovens optem por um caminho mais rápido, onde a ilusão do retorno fácil acaba levando muitos deles a prisão ou morte prematura. Jovens oriundos de famílias de baixa renda não são os únicos, mas com poucas condições de acesso a bens de consumo, são ainda mais vulneráveis a atração exercida pelo tráfico que pode viabilizar a realização de tais aspirações. Além disso, a normalização e glorificação do tráfico nas favelas, bem como à perda ou diminuição de valores familiares e morais, 11 Reunidos no Seminário Crianças combatentes em Violência Armada Organizada promovido por Viva Rio e ISER em 2003.
9 também são apontadas como determinantes no aumento do envolvimento de crianças, adolescentes e jovens no tráfico de drogas. A pesquisa aponta a idade média de 13 anos para a entrada do adolescente em tempo integral no tráfico de drogas, sendo que a faixa dos 15 aos 17 anos é a mais marcantemente armada, trabalhando como soldados, e também ressalta o fato de crianças, adolescentes e jovens compartilharem desde muito cedo, diariamente, os espaços públicos na comunidade com traficantes. A presença constante de traficantes na comunidade é apontada como geradora de um processo normal de interação para garotos que passam muito tempo na rua. No entanto é importante notar que o recrutamento para um emprego na facção é um processo voluntário. Outro fato importante de se notar é o papel que a criança e o adolescente têm no sustento de suas famílias. Num contexto de comunidades de baixa renda é comum que crianças, adolescentes trabalhem para contribuir na renda familiar. No entanto nos últimos 10 anos as oportunidades de trabalho para jovens diminuíram (Silva e Urani, 2002), contribuindo para que cada vez mais se procure formas alternativas de trabalho, que no caso de comunidades de baixa renda muitas vezes têm sido no tráfico de drogas. Dados de 2001 (PNAD, IBGE) mostram que dos 65% de jovens entre e 24 anos na condição economicamente ativa, quase 18% não tinha emprego, o que significava 3,5 milhões de pessoas, quase a metade de todos os desempregados do Brasil anos é a idade mínima legal para iniciação ao trabalho no Brasil, salvo em condições especiais de aprendiz quando a idade mínima permitida passa a ser 14 anos.
10 Apesar dos avanços obtidos nos últimos dez anos em relação ao acesso a escola, as taxas de evasão escolar ainda são altas. É muito comum que crianças e jovens deixem a escola prematuramente para trabalhar, o que acaba lhes restringindo ainda mais o leque de oportunidades de trabalho no mercado formal. Em uma outra pesquisa 13 jovens afirmaram que, dentre as dificuldades apontadas estão a falta de capacitação profissional e educação adequada e a discriminação por residirem em favelas, reafirmando resultados obtidos em pesquisas anteriores 14. Na pesquisa de Dowdney também mostra o processo de ascensão disponível aos seus empregados. Na busca pela ascensão em posição e ganho de poder, aqueles que entram nas facções de drogas são constantemente avaliados para ver se estão preparados para subir de posição. Uma criança, para ser considerada preparada para iniciar sua ascensão deve mostrar uma combinação de atributos semelhante aquelas procuradas por companhias de negócios e organizações militares respectivamente. Estas incluem: confiabilidade; habilidade de cumprir ordens; habilidade de manejar uma arma; habilidade de matar; bravura; não falar com a policia se capturado; frieza sob situações de conflito armado. O estudo mostra que existem regras claras e uma espécie de código de ética dentro das facções. Saber como ascender dentro da organização se baseia em ser honesto 13 Olinger, M. Serviço Jovem: Uma Política de Prevenção e Alternativas ao Envolvimento de Jovens na Violência Urbana no Brasil. Viva Rio, Dowdney, L. Crianças do Tráfico: Um Estudo de Caso sobre Crianças Envolvidas no Tráfico de Drogas no Rio de Janeiro. Viva Rio, ISER, 2003.
11 e se manter na linha. Estas habilidades também são vistas como essenciais para a sobrevivência pessoal e para não ser morto por sua própria facção por traição, não interessando aí se essa traição é real ou imaginária. Mesmo aceitando que trabalhar para uma facção é errado os entrevistados acreditam que a sobrevivência dentro do grupo depende de andar na linha certa. Aliado aos fatores estruturais citados acima (notadamente: exclusão e desigualdade social, desemprego, educação) a pesquisa também identifica as principais influências para a entrada de uma criança ou jovem no tráfico de drogas, destacando a participação de grupos de referência, como pais, parentes ou amigos no tráfico e a falta de unidade familiar estável. Políticas Públicas: Como o Governo têm lidado com essa realidade Apesar de existirem alguns exemplos de projetos governamentais que objetivam a prevenção e reintegração de crianças, adolescentes e jovens na violência armada, o tratamento dispensado e esse problema via de regra é a repressão. Políticas repressivas, expressas em um policiamento violento e discriminatório, unida a política de encarceramento, com poucas ou nenhuma alternativa de re-inserção social, são as formas mais utilizadas por governo de combate ao problema do tráfico de drogas nas comunidades do Rio de Janeiro. A ação da polícia merece atenção especial, não só por causa de seu efeito imediato, como de suas conseqüências a médio e longo prazo.
12 Além da violência policial nas comunidades de baixa renda, a mentalidade policial de culpado até provar inocência (ao contrário do que diz a lei) e de atirar primeiro e perguntar depois significa que a morte de moradores inocentes pela polícia é uma ocorrência comum. No ano de 2003 essa violência chegou ao seu ponto mais alto, registrando o impressionante número de civis mortos em decorrência da ação policial, contra 45 policiais. 15 As freqüentes denúncias de violações aos direitos humanos por forças policiais nas comunidades de baixa renda do Rio de Janeiro respondem à apreensão da pobreza como perigo, motivo pelo qual moradores destas localidades são encarados como possíveis criminosos. A oposição entre cidadão e criminoso passa a ser sutilmente entendida como a oposição entre cidadão e favelado, constituindo assim os dois lados da guerra (Justiça Global, 2004: 14). Outra questão preocupante é a da corrupção policial. São freqüentes os casos onde policias são acusados de envolvimento direto com o tráfico de drogas. Esse envolvimento se caracteriza principalmente na cobrança de taxas para não importunar determinados pontos de venda, bem como o desvio de armas e munições de forças policiais para os traficantes. Os seguintes trechos foram retirados do livro Crianças do Tráfico (Dowdney, 2003): 15 Justiça Global, Relatório Rio.
13 ... a relação da força policial com o tráfico de drogas no Rio de Janeiro tem se mostrado intimamente comprometida [...] em quase todos os casos de apreensão de drogas e contrabando de armas [...] existe envolvimento de membros dessas corporações (Werneck e Rocha 1999, op.cit. NEPAD & CHAVES 2000:27) O comportamento da polícia nas favelas, como mencionado acima, o tratamento que ela inflige a moradores inocentes, a execução extrajudicial de suspeitos e de inocentes, os altos níveis de corrupção e a impunidade aparente têm por conseqüência: 1) suscitar entre os moradores das favelas a sensação de estarem abandonados pelo Estado. Essa sensação, por sua vez, estimula as comunidades de favela a aceitar e a depender de um sistema de justiça informal criado pelos traficantes (a lei do tráfico ), como única opção de ordem social. 2) provocar revolta entre as crianças e adolescentes da favela e o ódio contra a polícia, sentindo-se estimulados a se unir às facções como forma de vingança. As condições do sistema prisional, tanto adulto como juvenil são preocupantes. As sucessivas denúncias feitas por entidades de direitos 16 sugerem que as instituições 16 Para um exemplo recente ver Human Rights Wach, 2004.
14 prisionais e as unidades de privação de liberdade do sistema de justiça juvenil, mais impulsionam o criminoso ou infrator a continua do crime do que reintegram. Cabe considerar, no entanto, que alguns setores da sociedade 17 parecem apoiar esse tipo de prática, culpando o ator do crime ou infração, ao invés de responsabilizar o Poder Público cobrando políticas públicas mais inclusivas, focadas em prevenção e reintegração. Em 2003 haviam 14 propostas na Câmara dos Deputados para reduzir a maioridade penal para 16 anos, sugerindo que o aumento na repressão poderia contribuir para a diminuição da criminalidade. No entanto, a conclusão que se pode chegar a partir da situação vivenciada no Rio de Janeiro, é que táticas repressivas podem ser eficazes no curto prazo, porém tendem a ser ineficazes no longo prazo, já que não tratam as causas do problema. Num estudo publicado recentemente, que estuda mais especificamente as situações definidas como COAV, 18 sugere que sejam utilizadas abordagens integradas e estratégicas de prevenção e reabilitação para lidar com esse problema. O estudo conclui que tais iniciativas devem ser baseadas em diagnósticos locais, mas implementados quando possível no nível regional, e que sejam coordenados em conjunto pelo governo, e a sociedade civil, articulados com a polícia e o sistema de justiça. Iniciativas integradas devem procurar integrar políticas macro, com objetivo de tratar fatores de risco estruturais e ambientais, com projetos comunitários, que abordem principalmente as 17 Uma pesquisa entre advogados feita pela OAB descobriu que 75% de seus advogados apóiam a redução, tanto para julgamento, quanto para sentenças. Dowdney, Dowdney, 2005.
15 influencias e o acesso a oportunidades (educação, capacitação profissional, emprego, redes de suporte e proteção). De fato estamos diante de uma situação que não pode ser ignorada, e tampouco deve ser tratada como questão de polícia exclusivamente. Não são poucos os estudos que mostram como o tratamento da violência, através exclusivamente de repressão policial não tem desdobramentos significativamente positivos no médio e longo prazo. A questão da violência armada nas comunidades se mostra cada vez mais intrincada com outras violências, e marcadamente com as diversas formas de exclusão. Para combatermos a violência armada é preciso que se procure abordar as suas causas de forma integrada, e para isso precisamos aumentar o diálogo entre pesquisadores, gestores públicos e as comunidades afetadas pelo problema, procurando alternativas conjuntas de resulução de problemas. Bibliografia Dowdney, Luke. Crianças do Tráfico: Um Estudo de Caso de Crianças em Violência Armada Organizada no Rio de Janeiro Viva Rio, ISER, Dowdney, Luke. Nem Guerra nem Paz: Um estudo comparativo em 10 países sobre crianças e jovens em violência armada organizada. Viva Rio, ISER, 2003.
16 Human Rights Wach, Verdadeiras Masmorras: Detenção juvenil no Estado do Rio de Janeiro, Volume 16, No. 7(B), Justiça Global, Relatório Rio: Violência policial e insegurança pública. Organização Diogo Azevedo Lyra... [et al.] Rio de Janeiro, Misse, Michel. Malandros, Marginais e vagabundos. A acumulação social da Violência no Rio de Janeiro Tese de Doutourado, IUPERJ. NEPAD & CLAVES (UERJ/ FIOCRUZ), Estudo Global sobre o Mercado Ilegal de Drogas no Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Outubro, 2000.
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