O PEDAGOGO COMO ARTICULADOR POLÍTICO-PEDAGÓGICO DAS ÁREAS DO CONHECIMENTO
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1 O PEDAGOGO COMO ARTICULADOR POLÍTICO-PEDAGÓGICO DAS ÁREAS DO CONHECIMENTO João Marcos V. Santos Universidade Estadual do Norte do Paraná UENP Luiz A.Oliveira Universidade Estadual do Norte do Paraná UENP Monique A. Barauna Universidade Estadual do Norte do Paraná UENP RESUMO O presente trabalho foi desenvolvido através dos estudos realizados no grupo de pesquisa em Educação GEPEDUC, no grupo de pesquisa em estudos marxistas, GEPEM, e tem como principal objetivo sincronizar as ideias principais que emergem sobre a profissão do professor pedagogo, analisando sua concepção histórica, social e política com vistas a enfatizar a discussão acerca do projeto político-pedagógico, singularizando-o como articulador deste processo emancipatório. Há, portanto, a discussão da função social e histórica da escola pública destinada às classes trabalhadoras focando-se no estudo das funções nucleares que devem ser desempenhadas por este profissional nos espaços escolares. Palavras-Chave: Professor Pedagogo Educação Classe Trabalhadora INTRODUÇÃO A organização da escola e o planejamento sistemático do trabalho pedagógico são atividades obrigatórias para a transformação da escola pública, e devem ser exercidas por todos os que nela atuam. Tendo em vista esta transformação, um amplo debate sobre a função social da escola e o trabalho dos educadores faz-se necessário. 187
2 Um dos alvos de discussão, no interior da escola, é o papel da coordenação pedagógica (direção, professores pedagogos), para que esta organize um trabalho tal que permita a apropriação dos conhecimentos pelos alunos oriundos da classe trabalhadora. É, pois, necessária a reflexão sobre o papel do diretor, do professor pedagogo, tentando identificar a responsabilidade deles na realização do projeto político-pedagógico, fundamental para a organização do espaço escolar e, principalmente, rever a sua prática e sua possível contribuição para reverter o quadro caótico em que se encontra a escola pública, pois neste sentido: O trabalho pedagógico configura-se, pois, como um processo de mediação que permite a passagem dos educandos de uma inserção acrítica e inintencional no âmbito da sociedade a uma inserção crítica e intencional. (SAVIANI, 2008.p.130). Historicamente, o diretor, o orientador educacional e o supervisor escolar, os chamados especialistas em educação, foram formados dentro de uma organização econômica desenvolvimentalista, num modelo gerencialadministrativo, presentes desde a década de 70, a partir da Lei N 5.540/68, da reforma Universitária, aprovada em 28 de novembro de 1968 que ensejou uma nova regulamentação do curso de pedagogia, levada a efeito pelo Parecer N 252/69 do CFE, que divide a graduação de Pedagogia em Habilitações. (Brasil, CFE, 1969, P.106 Apud Saviani, 2008, p.44-45). Esses especialistas, divididos em seus trabalhos, exercem funções semelhantes as das empresas perdendo de vista o principal objeto da escola: o ensino, a transmissão dos conhecimentos, que ao longo da história foram sistematicamente acumulados. Esta visão tecnicista não permite a análise da função social da escola, o estudo do método de ensino, dos conteúdos e da avaliação, o que corrobora a afirmação de Saviani quando diz que: 188
3 Ao que parece, o problema do encaminhamento que se deu à questão do curso de Pedagogia reside numa concepção que subordina a educação à lógica do mercado. Assim, a formação ministrada nas escolas deveria servir à produtividade social, ajustando-se, o mais completamente possível, às demandas do mercado de trabalho que por sua vez, são determinadas pelas leis que regem uma sociedade de mercado como esta em que vivemos (SAVIANI, 2008, p.51). Pensar a escola concreta é levar em consideração seus aspectos internos, sem deixar de analisar a sociedade onde a mesma está inserida e debruçar-se sobre o que lhe é específico: a transmissão do conhecimento elaborado, que possa proporcionar ao aluno, vindo das camadas populares o acesso a esta cultura humanizadora. Para isso deve-se levar em consideração o processo pedagógico (métodos, conteúdo e avaliação) e os que nela atuam (professores, pedagogos e funcionários), definindo seus papéis para que seja preservado o currículo escolar. Nesse sentido todos os aspectos que envolvem a escola devem estar sincronizados ao mesmo objetivo. A partir desta reflexão, a escola terá condições de orientar-se por um modelo pedagógico que organize a direção das necessidades e anseios da classe trabalhadora. Vivemos numa sociedade de classes que nos determina e condiciona em muitos aspectos. Neste contexto, os profissionais da educação, obrigados a trabalhar com pequenos salários, condicionados no seu cotidiano, não conseguem perceber a relação entre educação e sociedade. A coordenação pedagógica, juntamente com os professores, deve rever suas práticas, não só constatando os problemas, mas definindo as ações para melhorar a situação, ou seja, diminuir os índices de evasão e repetência na escola. A coordenação pedagógica deve saber a relação que existe entre os problemas que a escola enfrenta e o contexto social, político e econômico que os condiciona. A questão que se coloca para a superação do especialista de ensino para a de Pedagogo Escolar é a transposição da visão de técnico (que cobra 189
4 estratégias e objetivos, que vigia professores e alunos, que organiza sessões de classe...), para a visão do político que articulará a escola, propiciando ocasiões para que, num processo de interação conjunta, reflita-se, revendo o que foi realizado, e se opte por um projeto coerente, unitário e articulado. Assumir o projeto político-pedagógico é um desafio que se oferece à coordenação pedagógica, funcionários, pais e professores. Criar um ambiente organizado para que este projeto se viabilize exige um trabalho de equipe. É absolutamente indispensável que as pessoas se disponham a trabalhar juntas e revejam a forma de ação e consequente concepção das áreas do conhecimento. Para Vasconcellos (1995): Projeto Pedagógico [...] é um instrumento teórico-metodológico que visa ajudar a enfrentar os desafios do cotidiano da escola, só que de uma forma refletida, consciente, sistematizada, orgânica e, o que é essencial, participativa. É uma metodologia de trabalho que possibilita re-significar a ação de todos os agentes da instituição (p.143). É fundamental que a coordenação pedagógica contribua para a formulação e consolidação do projeto abrangendo o debate para toda a escola, envolvendo, na discussão, os professores do primeiro ao quinto ano para que, coletivamente, estudem e assumam a proposta de ação, norteados pela mesma concepção, construindo na escola uma unidade teórica, porque educação é um encargo coletivo. Para Veiga (2004, p.13): O projeto busca um rumo, uma direção. É uma ação intencional, com um sentido explícito, com um compromisso definido coletivamente. Por isso, todo projeto pedagógico da escola é, também, um projeto político por estar intimamente articulado ao compromisso sociopolítico com os interesses reais e coletivos da população majoritária. É político no sentido de compromisso com a formação do cidadão para um tipo de sociedade. Na dimensão pedagógica reside à possibilidade da efetivação da intencionalidade da escola, que é a formação do 190
5 cidadão participativo, responsável, compromissado, crítico e criativo. Pedagógico, no sentido de definir as ações educativas e as características necessárias às escolas de cumprirem seus propósitos e sua intencionalidade. Os pedagogos e os professores que trabalham no nível de organização cultural (na escola) têm como função elevar a consciência alienada, fragmentária dos alunos a uma consciência crítica e coerente do mundo. O papel político desses profissionais se dá quando se coloca à disposição das classes trabalhadoras o conhecimento científico, para que estas possam compreender e organizar a realidade em que vivem. "é preciso reconhecer a importância de se lutar pela apropriação da cultura produzida historicamente, pois constitui direito do trabalhador ao consumo de algo que é produzido sempre à custa de seus esforços, nesta e em todas as gerações" (PARO, 2001, p. 133). A coordenação pedagógica deve propiciar momentos, na escola, que permitam a reflexão sobre a prática do trabalho escolar, possibilitando aos professores uma concepção mais clara dos conteúdos e, por sua vez, garantindo a apropriação destes por parte dos alunos. Esta ação política dos pedagogos se confirma nas palavras de Gramsci (1984): Criar uma nova cultura não significa apenas fazer individualmente descobertas originais, significa também, e, sobretudo, difundir criticamente verdades já descobertas, socializá-las por assim dizer; transformá-las, portanto, em base de ações vitais, em elemento de coordenação e ordem intelectual e moral. O fato de que uma multidão de homens seja conduzida a pensar, coerentemente e de maneira unitária, a realidade presente é um fato filosófico bem mais importante e original do que a descoberta, por parte de um gênio filosófico, de uma nova verdade que permaneça como patrimônio de pequenos grupos intelectuais. (p.13-14) 191
6 Os pedagogos, que se constituem na escola como articuladores políticopedagógicos, devem oferecer condições para que, coletivamente, a realidade seja analisada, o aluno seja conhecido (em seus limites e na sua história de vida), os conteúdos do currículo básico sejam discutidos e selecionados, dando-lhes o tratamento metodológico adequado e avaliando-os de forma que se possa intervir sobre os resultados obtidos. Estimular uma mentalidade de professor planejador e não a de professor tarefeiro deve ser uma das propostas da coordenação pedagógica. Uma das deficiências do professor-tarefeiro, aquele que simplesmente executa planejamentos pré-estabelecidos pelo pedagogo, é a de não perceber que os conteúdos não são neutros e que poderão ou não desvelar a realidade. A sistematização do trabalho pelo professor é fundamental, não no espírito do diário de classe, mas em documentos que contenham as principais conclusões levantadas através do processo de planejar. Este planejamento tem valor na medida em que, resultando do processo de reflexão e discussão sobre a realidade por parte dos professores e pedagogos, sirva de consulta permanente para o trabalho junto aos alunos. A função social da escola é propiciar a aquisição, por parte dos alunos, dos saberes historicamente elaborados, que se constitui em uma atividade de natureza nuclear nestes espaços. O caminho para atingir este objetivo parte da realidade concreta do aluno, sua linguagem, seus valores, associados a prática pedagógica regida nos clássicos. O pedagogo e os professores devem, a partir do conhecimento do aluno, da investigação do seu mundo, planejar toda a intervenção pedagógica. Isto é, partir do mundo do aluno, do seu ambiente, de suas formas de expressão, não significa espontaneísmo. É do conhecimento das condições reais da vida do aluno, aliado ao domínio do conhecimento por parte do professor, que o processo de ensino-aprendizagem deve ser organizado com base científica, histórica e crítica tendo em vista assegurar ao aluno a apropriação do saber elaborado. 192
7 O essencial no processo de ensino-aprendizagem é a relação aluno/professor, mediada pelo conhecimento. Este posicionamento exige, por parte dos pedagogos, a visão dialética da sua função teórico-política, da superação da ação individual para a ação coletiva na escola. Conforme visto anteriormente, os conteúdos não são neutros, eles expressam uma forma de pensar o mundo. Quando se fragmenta o conhecimento e se mascara a realidade, impede-se de estabelecer relações e força-se um modo de raciocinar que compromete a visão clara dos fatos, por parte dos alunos. Dependendo da forma como os alunos se apropriam do conhecimento, eles poderão ou não compreender a sociedade em que vivem. É indispensável que os pedagogos possibilitem aos professores a apropriação do acervo cultural acumulado pela sociedade. A posse desses conhecimentos implicará na transformação destes profissionais em elementos ativos, dirigentes, conscientes de seus direitos e interesses coletivos, é necessário, pois, atribuir sentido à prática pedagógica, fazendo com que esta seja pautada no clássico, pois assim como afirma Saviani (2011): Clássico na escola é a tarsmissão-assimilação do saber sistematizado. Este é o fim a atingir. É aí que cabe encontrar a fonte natural para elaborar os métodos e as formas de organização do conjunto das atividades da escola, isto é, do currículo. E aqui nós podemos recuperar o conceito abrangente de currículo: organização do conjunto das atividades nucleares distribuídas no espaço e tempo escolares. Um currículo é, pois uma escola funcionando, quer dizer, uma escola desempenhando a função que lhe é própria. (p.17) Na escola, compreendida como uma totalidade que se relaciona com a sociedade, não tem razão de serem ações fragmentadas e ações pedagógicas isoladas. A organização de turmas, a efetivação de conselhos de classes, de planejamentos... São ações que devem ser realizadas coletivamente. Lembra-nos Gandin (2001, p. 101) que, "para muitos professores, é um pouco escandaloso falar em política e em educação no mesmo texto" porém 193
8 coordenação pedagógica deve mobilizar os professores a uma sistematização coletiva sobre as grandes questões da educação e para as específicas da escola. A discussão política da prática pedagógica dependerá da competência em dominar os conhecimentos científicos, sem os quais a relação pedagógica será inconsistente. Pois assim como afirma Saviani (2011): A partir daí se abre também a perspectiva da especificidade dos estudos pedagógicos (ciência da educação) que, diferentemente das ciências da natureza (preocupadas com a identificação dos fenômenos naturais) e das ciências humanas (preocupadas com a identificação dos fenômenos culturais), preocupa-se com a identificação dos elementos naturais e culturais necessários à constituição da humanidade em cada ser humano e à descoberta das formas adequadas para se atingir esse objetivo. (p.20) Democratizar a escola, garantindo o acesso e a permanência a todos, é um objetivo tão amplo quanto complexo. Não é tarefa para um governo apenas e, talvez, não seja para uma geração, mas as condições para a efetivação desse processo podem e devem ser desencadeadas desde já. As estratégias a serem adotadas são as que possam gerar mudanças substanciais e consolidálas, tendo em vista avanços na direção de um ensino de boa qualidade para todos. Assim como afirma Saviani: Ser idealista em educação significa justamente agir como se esse tipo de sociedade já fosse realidade. Ser realista, inversamente, significa reconhecê-la como um ideal que buscamos atingir (SAVIANI, 2009, p78) Constata-se, no entanto, que a seletividade no Brasil e no Paraná, ainda situada, primordialmente, em termos dos determinantes econômicos, visto que a reprovação e a evasão incidem maciçamente sobre os alunos de origem econômica menos favorecida, em todos os graus, ramos, e instâncias 194
9 do sistema de ensino, é também um problema de compromisso políticopedagógico. Tal identificação, portanto, de que o fracasso é produzido e agravado dentro da escola, apresentando como um ponto crítico a maneira pela qual a escola lida com as classes menos favorecidas, leva a colocar em questão as práticas dos agentes do ensino: professores e especialistas em educação. Desta forma, urge pensar em agentes de ensino que possam, efetivamente, fazer a educação a partir de compromissos assumidos, que expressem uma compreensão dos problemas que perpassam a educação brasileira e das alternativas para seu enfrentamento. Democratizar a escola, a educação e o ensino, implica em superar, entre outras dificuldades, a postura técnico-burocrata no trabalho escolar, ultrapassando o parcelamento da tarefa educativa e o esvaziamento do projeto político-pedagógico, tarefa que está a exigir a atuação do pedagogo, o qual domina, sistemática e intencionalmente, as formas de organização do processo de formação cultural que se dá no interior das escolas. Se, etimologicamente, especialista quer dizer profissional que entende de um objetivo específico para o qual foi especializado, deduz-se que o especialista em educação deve ser o profissional perito em resolver as questões pertinentes à educação. Logo o título carrega consigo uma pretensa neutralidade ideológica, enquanto que ao pedagogo compete a articulação e a organização da prática escolar no âmbito do processo político-pedagógico mais amplo. Pretende-se não reforçar a fragmentação do processo educacional presente na organização escolar e a não reafirmação de modelos pedagógicos tributários da concepção tecnicista de educação. É nesta orientação que nos situamos, tendo como fonte precípua de sustentação teórica a Pedagogia Histórico-Crítica. 195
10 REFERÊNCIAS GRAMSCI, Antonio. Concepção Dialética da História. 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, GANDIN, Danilo. Educação política na escola. In: Escola e transformação social. 7. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, p PARO, Vitor Henrique. Políticas educacionais: considerações sobre o discurso genérico e a abstração da realidade. In: Escritos sobre educação. São Paulo: Xamã, p SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia. 41. ed. Revista. Campinas, SP: Autores Associados, Pedagogia Histórico-Crítica: Primeiras Aproximações. 11. ed. Revista. Campinas, SP: Autores Associados, A Pedagogia no Brasil: história e teoria. 1. ed. Campinas, SP: Autores Associados,2008. VASCONCELLOS, C.S. Planejamento: plano de ensino-aprendizagem e Projeto Educativo. São Paulo, Libertad, VEIGA, Ilma Passos A. (org.). Projeto político-pedagógico da escola: uma construção possível. Campinas: SP.Papirus,
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