EXMO. SR. JUIZ DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Transcrição

1 EXMO. SR. JUIZ DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DO RIO DE JANEIRO M.A., menor impúbere, nascido em /2005, representado por sua genitora Fulana de Tal, brasileira, solteira, comerciária, portadora do CPF nº e da Identidade nº, expedida pelo, ambos domiciliados na, Rio de Janeiro, por seu advogado regularmente constituído com instrumento de procuração ao final,, OAB/RJ n., com fundamento no art. 196 da Constituição da República Federativa do Brasil CR, vem propor AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA em face do HOSPITAL FEDERAL DOS SERVIDORES DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, empresa pública vinculada ao Ministério da Saúde, situado na cidade do Rio de Janeiro na Rua Sacadura

2 Cabral, 178 CEP , pelos fatos e fundamentos que passa a expor: 1. DOS FATOS O autor usa óculos desde os 3 (três) anos de idade, em razão de estrabismo em grau elevado, o que se atesta visualmente em razão da falta de alinhamento dos olhos. Estudante do 1º ano da Escola Municipal, DOC anexo, o autor apresenta dificuldade de aprendizado, sofre com piadas e apelidos, tendendo a baixa autoestima. Embora faça, com o menor, visitas rotineiras a médicos e hospitais (periodicidade máxima ), a genitora já tem ciência de que o caso é cirúrgico, tendo que ser realizada intervenção de imediato, sob pena deste problema instalar-se em caráter permanente. O menor precisa realizar esta cirurgia antes de ver completados seus 10 (dez) anos de vida. Atualmente, tem 8 (oito) anos incompletos. Desde, conforme cópia de receituário médico, o menor passou a fazer uso de oclusor oftálmico, tampando os olhos alternadamente a cada 24 horas por todo o dia, somente retirando para dormir. O autor, atualmente, não faz uso regular do oclusor porque o custo é muito elevado

3 para o orçamento familiar. Em, o menor foi encaminhado pelo Posto de Saúde da comunidade Rio das Pedras ao Hospital São Zacarias, Rua Carlos Peixoto, 124 Botafogo, conforme Prontuário n., com a seguinte indicação provável indicação cirúrgica, mas nada pôde ser feito no tocante à realização da cirurgia. O Posto de Saúde de Rio das Pedras foi transformado em Clínica da Família e está instalado na Rua Engenheiro Silva Filho. Não podendo deixar de buscar alternativas, em, a genitora levou o menor a uma clínica particular especializada, onde foi atendido pelo Dr. R.C., CRM n.. Posteriormente, em, o menor foi encaminhado pelo médico especialista ao Hospital Piedade, com indicação para cirurgia (documento em anexo). No Hospital Piedade também nada pôde ser feito no tocante à realização da cirurgia. Para ver solucionado o problema do menor, cuja única alternativa que se apresenta é a sua internação em hospital que tenha um setor oftalmológico capaz de realizar a cirurgia retificadora da deficiência, a genitora percorreu, sem sucesso, vários hospitais. No Hospital Federal dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro HSE-RJ, ora réu, um dos funcionários

4 (extraoficialmente) afirmou que aquela unidade teria como realizar a cirurgia, mas somente poderia atender ao autor caso sua genitora buscasse, via Judiciário, a ordem para a realização da cirurgia e, posterior, tratamento. Infelizmente, seria esta a fórmula adotada pela administração para atender com algum critério aos muitos pacientes que necessitam de cirurgia. Conforme publicado no endereço virtual página interna do website oficial do hospital, o HSE-RJ possui todos os meios adequados para a realização do pré e pósoperatório, bem como a própria cirurgia. 2. DO DIREITO À SAÚDE PÚBLICA E DIGNIDADE A Constituição de 1988, expressa e claramente abriga a dignidade da pessoa humana como um dos seus Princípios Fundamentais, não havendo qualquer dúvida acerca da diferenciação ou ressalva na tratativa dispensada às saúdes física e psíquica. No caso concreto, o menor amarga deficiência em ambas. Sua necessidade é tanto física, comprovada por exames clínicos, quanto psíquica, evidenciada de forma latente por qualquer leigo que dele se aproxima. Trata-se, sem dúvida, de um caso de saúde, mas, sobretudo, de um desejo de interromper esta ofensa continuada à dignidade humana.

5 A Carta Magna, ao cuidar da ordem social, assegurando a todos os indivíduos o direito à saúde, estipula o correlato dever jurídico do Estado de prestá-la (art. 196 da CRFB/88). Trata-se de uma garantia fundamental atípica; direito constitucional de segunda geração, eis que impõe ao Estado uma prestação positiva consistente em um fazer. Muito embora assegurada fora do rol do artigo 5º da CR, a Saúde é garantia de extrema importância, sendo pedra angular do próprio Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, consagrado expressamente o art. 1º, III, da CR. Indiscutível a manifesta existência de um dever jurídico primário do Estado: a prestação da saúde pública. O legislador constituinte não se satisfaz com a mera existência deste serviço, impondo ao Estado em todas as suas esferas, o dever de efetivamente prestar atendimento de forma eficiente. O Princípio da Eficiência é verdadeiro postulado do Princípio Democrático-Republicano. Se o titular do Poder é o povo e o Estado organizado é mero gestor da coisa pública, as finalidades a que se destina este ente devem efetivamente ser cumpridas. Assim não fosse, estaria esvaziada a própria razão de ser do Estado, que é a promoção

6 do bem-estar social. Desta forma, não há dúvida sobre o dever jurídico estatal de prestar serviços de saúde à população de forma rápida e eficiente, dever este assumido pelos entes estatais, ao organizarem-se e criarem entidades e órgão destinados à prestação da saúde pública. 3. DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA O art. 273 do Código de Processo Civil - CPC prevê a possibilidade de antecipação liminar dos efeitos da tutela jurisdicional pretendida, desde que verossimilhantes os fatos alegados e existente o perigo de ineficácia da medida, ao final. No caso vertente, verifica-se a reunião dos pressupostos autorizadores da liminar, como se passa a demonstrar: Inicialmente, o direito do Autor decorre de fatos comprovados de plano, pelos documentos acostados à petição inicial, que confirmam a urgência na realização da cirurgia para oferecer ao menor uma vida digna, livre de deformidades e deficiências. Da mesma forma, encontra-se estreme de dúvidas o perigo da demora, uma vez que há risco de instalação de deformidade e deficiência permanentes.

7 4. DOS PEDIDOS Por todas as razões expostas, requer o autor: a) a concessão da antecipação de tutela, determinando-se, IMEDIATAMENTE, a internação do autor no Hospital Federal dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, Hospital do Ministério da Saúde, para que sejam realizados todos os procedimentos necessários ao tratamento do menor, incluindo pré-operatório, cirurgia e pós-operatório, sob pena de imposição de multa cominatória diária, no valor de R$ 1.000,00 (mil reais), nos termos do art. 461, 4º, do Código de Processo Civil, no caso de descumprimento da obrigação; b) a citação do Réu, para responder a presente ação, sob pena de revelia; c) a intimação do representante do Ministério Público com atribuição para intervir no processo; d) a procedência do pedido para condenar o réu a assumir integralmente o tratamento do menor, desde sua internação para realização do pré-operatório, passando pelo procedimento cirúrgico, pós-operatório e acompanhamentos de rotina, sob pena de multa no valor de R$ 1.000,00 (mil reais), nos termos do art. 461,

8 4º, do Código de Processo Civil, no caso de descumprimento da obrigação; 5. DAS PROVAS Protesta pela produção de prova documental suplementar, pericial, oral e material, se necessárias. 6. DO VALOR DA CAUSA reais). Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil Termos em que Pede deferimento. Data OAB/RJ n.