A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: ANÁLISE DOS CURSOS DE PEDAGOGIA DA UNESP.
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- Thomas da Cunha Canto
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1 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: ANÁLISE DOS CURSOS DE PEDAGOGIA DA UNESP. FERRACINI, Bruna Gouveia 1 - UNESP MARÍLIA Grupo de Trabalho Formação de Professores e Profissionalização Docente Agência Financiadora: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP Resumo O governo brasileiro tem defendido a política educacional inclusiva que provoca transformações na organização e funcionamento da escola, bem como na prática pedagógica. Neste novo paradigma a escola e o professor precisam estar preparados para atender todos os alunos, inclusive os com deficiência, nas salas regulares de ensino. Isto implica mudanças na formação dos professores, pois o profissional da educação precisa desenvolver novas competências e deter novos conhecimentos. Neste sentido, a presente pesquisa pretendeu mapear e conhecer a situação dos Cursos de Pedagogia da UNESP, verificando se estão adequadas a política e legislação vigentes, ou seja, formam professores para atuar na educação inclusiva. Por meio do estudo foi possível identificar e analisar a carga horária, as disciplinas e os conteúdos que foram incorporados na grade curricular de cada curso para atender a nova demanda de alunos. A metodologia utilizada foi a pesquisa documental que teve como base a análise dos planos de ensino e dos Projetos Políticos Pedagógicos dos campi da Unesp que possui o curso de Pedagogia. Foi feito um levantamento das disciplinas de cada curso que tratava de temas relacionados à educação especial. Também foi realizado um estudo a respeito da efetivação do Decreto nº de 2005, que se refere à obrigatoriedade da disciplina Libras nos cursos de Pedagogia. Os resultados preliminares da pesquisa demonstram uma diferença significativa entre os cursos. Isso demonstra que é importante discutir e pensar em um novo modelo de formação de professores, com um curso capaz de preparar adequadamente o professor e o gestor para desenvolver ações na perspectiva educacional inclusiva. Neste sentido, no atual contexto, é importante identificar quais as novas competências exigidas para o futuro professor e cobrar para que seja oferecido disciplinas e conteúdos nos cursos de Pedagogia sobre a educação inclusiva. Palavras-chaves: Formação de professores, educação inclusiva, curso de pedagogia. 1 Graduanda em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista Unesp de Marília. Pesquisadora e bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo FAPESP. bru.ferracini@yahoo.com.br
2 7903 Introdução No Brasil, desde 1990, o sistema educacional se fundamenta em um modelo pautado no paradigma da Inclusão. Segundo a Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, as pessoas com deficiência têm o direito de serem educadas preferencialmente em escolas regulares, nas classes comuns de ensino. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional lança o desafio da construção de uma pedagogia inclusiva, capaz de educar a Todos os alunos, inclusive os que apresentam deficiências sensoriais, físicas, intelectuais e/ou comportamentais e, também, altas habilidades/superdotação. Em seu Art. 59º, que trata da Educação Especial, aponta que o sistema de ensino deve assegurar aos educandos com necessidades especiais: I currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades; II terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados; III professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para integração desses educandos nas classes comuns; IV educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artísticas, intelectual ou psicomotora; Diante desse quadro, a Resolução CNE/CP nº1 de 15 de maio de 2006, que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação de Pedagogia, licenciatura, destaca, que a intenção do Ministério da Educação é formar o professor da educação básica para atuar num sistema educacional inclusivo. Em seu Art. 3º, Parágrafo Único, indica que o futuro professor deve se apoiar na ideia de que o conhecimento produzido pela escola tem como objetivo a formação para a cidadania. Destaca também, no Art. 5º, itens I, V e X, que o futuro professor precisa ser formado para: I atuar com ética e compromisso com vistas à construção de uma sociedade justa, equânime, igualitária; V reconhecer e respeitar as manifestações e necessidades físicas, cognitivas, emocionais, afetivas dos educandos nas suas relações individuais e coletivas; X demonstrar consciência da diversidade, respeitando as diferenças de natureza ambiental-ecológicas, étnico-racial, de gêneros, faixas geracionais, classes sociais, religiões, necessidades especiais, escolhas sexuais, entre outras. (BRASIL, 2006, p.2)
3 7904 Seguindo a lógica da educação inclusiva, é aprovada pelo Conselho Nacional de Educação em 2010, a Resolução nº4, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica. Em seu Art. 29, parágrafo 1º, reafirma que os sistemas de ensino devem matricular os estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino regular e, em horário contrário, tais alunos tem direito à matrícula no Atendimento Educacional Especializado (AEE), como serviço complementar ou suplementar à escolarização. É importante ressaltar que a inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais vai além do acesso e permanência na sala de aula. O aluno deve estar inserido na escola como um todo. Neste sentido, é fundamental que ocorram mudanças na organização e no funcionamento da escola para que o aluno que apresenta algum tipo de deficiência, possa aprender, interagir e participar efetivamente de todas as atividades da escola. Sendo necessárias também mudanças na formação dos professores, pois estes precisam estar capacitados para atuar numa classe inclusiva e estar preparado para ensinar essas crianças, pensando em aulas diferentes, tecnologias e materiais acessíveis. Sendo assim, torna-se imprescindível que as escolas brasileiras façam adequações necessárias e que os professores sejam devidamente formados e estejam capacitados para atuar com o alunado que tem necessidades educacionais especiais. Conforme consta no parágrafo 2º da Resolução nº4 de 2010, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica: 2º Os sistemas e as escolas devem criar condições para que o professor da classe comum possa explorar as potencialidades de todos os estudantes, adotando uma pedagogia dialógica, interativa, interdisciplinar e inclusiva e, na interface, o professor do AEE deve identificar habilidades e necessidades dos estudantes, organizar e orientar sobre os serviços e recursos pedagógicos e de acessibilidade para a participação e aprendizagem dos estudantes. Incluir e garantir uma educação de qualidade para todos é um fator muito importante para uma sociedade que pretende ser democrática e inclusiva. É a partir desse pressuposto que se defende a necessidade de se modificar o modelo de formação de professores, preparando-se os futuros professores para enfrentar o desafio de ensinar todos os alunos, com qualidade, considerando as suas especificidades. É neste contexto que as atuais políticas públicas de educação estão inseridas. Assim, cabe à reflexão a respeito de algumas questões que envolvem a execução da proposta da educação inclusiva. A escola conseguirá se adequar a esse modelo sem que os
4 7905 profissionais da educação tenham formação suficiente para assumir esse novo paradigma? Será que os cursos de formação inicial de professores, ou seja, os Cursos de Pedagogia foram alterados levando em consideração as novas atribuições do futuro professor? Os Cursos de Pedagogia incorporaram disciplinas e/ou conteúdos vinculados a área da educação especial e/ou da educação inclusiva? De nada adianta a obrigatoriedade legal e o direito do alunado com deficiência ou dificuldades de aprendizagem, de frequentar a escola e a sala de aula regular se, neste espaço, não encontrar um gestor e um professor capacitado para atuar com ele e até mesmo organizar e estruturar a escola de maneira a atender ás suas necessidades educacionais especiais. Para Almeida (2007, p.336) formar o professor é muito mais do que informar e repassar conceitos; é prepará-lo para um outro modo de educar, que altere sua relação com os conteúdos disciplinares e com o educando. Essa interação do professor com o aluno é fundamental bem como sua formação que precisa estar [...] subsidiada em análises do conhecimento científico acumulado a respeito das competências e habilidades necessárias para atuar nessa perspectiva, ou seja, sua formação deve basear-se na reflexão e na criatividade. Necessita estar preparado para selecionar conteúdos, organizar estratégias e metodologias diferenciadas de modo a atender adequadamente todos os alunos. (POKER, 2004, p.3) A escola e seus profissionais precisam ter formação suficiente para saber acolher a diferença e lidar com a multiplicidade de características do alunado presente na escola. Disso depende ter professores competentes, preparados para administrar e organizar a escola, bem como desenvolver uma prática pedagógica considerando e respeitando a diversidade dos alunos. Assim, há necessidade que professor saiba planejar e ensinar de forma a garantir condições de aprendizagem para todos os alunos, inclusive para os que apresentam condições muito diferenciadas como os alunos com deficiência. Na escola inclusiva, o foco central de todos, principalmente de atuação do professor tem que ser a aprendizagem do aluno, por isso a formação do professor tem que ser mudada para atender a política da inclusão educacional. A Portaria 1.793/94 do CFE (Brasil, 1994), indica claramente a necessidade da inclusão de disciplinas e/ou incorporação de conteúdos da área da Educação Especial em todos os cursos de licenciatura. Tais conhecimentos fortalecerão a construção de um modelo de formação que possibilite ao professor perceber a diversidade de seus alunos, flexibilizar a sua ação pedagógica e identificar as necessidades educacionais especiais.
5 7906 É necessário que o Curso de Pedagogia habilite os seus alunos para lidar com a diversidade da sala de aula regular. Nesse sentido, temas como história da educação especial, inclusão do aluno deficiente, estigma e marginalização social, projeto político pedagógico inclusivo, adequações curriculares e outros, deveriam assim, fazer parte do tronco comum de um Curso de Pedagogia e de todas as licenciaturas. (DENARI, p.70, 2004) Quanto ao conhecimento sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, língua utilizada por grande parte dos alunos com surdez, o Decreto nº de 2005, estabelece que as instituições de educação superior que oferecem cursos de formação de professores, devem incluí-la como disciplina curricular, nos seguintes prazos: até três anos, em vinte por cento dos cursos da instituição; até cinco anos, em sessenta por cento dos cursos da instituição; até sete anos, em oitenta por cento dos cursos da instituição; e dez anos, em cem por cento dos cursos da instituição. O Decreto estabelece ainda que a inclusão da Língua Brasileira de Sinais como disciplina curricular deve se iniciar nos cursos de Educação Especial, Fonoaudiologia, Pedagogia e Letras, ampliando-se progressivamente para as demais licenciaturas. A legislação é clara. Alterações e inclusões de disciplinas e/ou conteúdos no Curso de licenciatura em Pedagogia são imprescindíveis, pois a educação do aluno com deficiência constitui-se em uma ação complexa que exige do professor novos conhecimentos. Envolve o acolhimento, a organização estratégica das salas de aula, a avaliação diferenciada, o trabalho multidisciplinar, a identificação de barreiras físicas e atitudinais da escola, a elaboração de adequações curriculares, a organização e execução de estratégias diferenciadas, o uso de materiais e recursos de tecnologia assistiva, o reconhecimento das limitações e desenvolvimento das competências e habilidades do aluno. De acordo com Carvalho (2006) a escola atual deve garantir as mesmas oportunidades para todos os alunos assegurando-lhes o êxito na aprendizagem e na participação. Constitui-se no lugar que se abre para a diversidade adequando seu espaço e os serviços de forma a atender as necessidades dos alunos. Afinal incluir e garantir uma educação de qualidade é hoje, um fator muito importante para que sejam redefinidos os currículos e a organização escolar. É nesse contexto que as políticas públicas e as escolas estão inseridas, pensando da melhor forma de modificar e atender a todos. Esse projeto é resultado de uma pesquisa bibliográfica a respeito da Formação de Professores para atuar na perspectiva da educação inclusiva. Ao longo do trabalho as discussões e análises desenvolvidas buscaram reforçar a necessidade de se pensar e modular
6 7907 uma nova proposta de currículo para os cursos de licenciatura em Pedagogia, visando o aprimoramento da formação dos futuros professores e, consequentemente, a melhoria da qualidade dos cursos de Pedagogia da Universidade Estadual Paulista - Unesp, com vistas a construção de conhecimentos e práticas pedagógicas que tenham como base o paradigma da inclusão. Diante do contexto da educação inclusiva e considerando a importância da formação dos professores, o presente estudo teve como objetivo geral mapear, conhecer e analisar comparativamente a organização dos cursos de licenciatura em pedagogia oferecidos pela Universidade Estadual Paulista - Unesp, dos campi de Araraquara, Bauru, Marília, Presidente Prudente, Rio Claro e São José do Rio Preto. Como objetivos específicos à pesquisa pretendeu analisar a grade curricular dos referidos cursos de pedagogia identificando a carga horária, as disciplinas e os conteúdos que constam dos planos de ensino em direção à formação do professor para atuar na perspectiva educacional inclusiva. Como metodologia, inicialmente, foi realizado um contato via com as seis unidades da Universidade Estadual Paulista, Unesp, que oferecem o curso de graduação em Pedagogia, solicitando aos Conselhos de Curso a grade curricular do curso relacionada a área da Educação Especial e/ou Educação Inclusiva. Posteriormente realizou-se a análise dos sites para saber se as grades curriculares e os projetos políticos pedagógicos estavam disponíveis e, em seguida, foi feito um levantamento das disciplinas de cada curso por meio de um estudo criterioso da grade curricular, buscando informações sobre as disciplinas que se relacionavam com a educação especial e/ou educação inclusiva. Identificadas e selecionadas os planos de ensino das disciplinas que abordavam temas relacionados com a educação especial e/ou educação inclusiva, foi realizado um estudo comparativo entre os cursos de Pedagogia da Unesp, tendo como base as seguintes categorias de análise: nome da disciplina e carga horária. Resultados Segue abaixo o quadro 1 contendo a identificação de cada unidade da Universidade Estadual Paulista- Unesp, que oferece o Curso de Pedagogia; as disciplinas da grade curricular na área da Educação Especial / Educação Inclusiva e a respectiva carga horária.
7 7908 Campus Disciplina Carga Horária Araraquara Educação Especial 60 horas Bauru Educação Inclusiva 68 horas Marília Presidente Prudente Rio Claro São José do Rio Preto Introdução do Ensino da Língua Brasileira de Sinais Desenho Universal, Acessibilidade e Adaptações. Diversidade, Diferença e Deficiência: Implicações Educacionais. Fundamentos da Educação Inclusiva Língua Brasileira de Sinais Currículo e as Necessidades Educacionais Especiais Libras, Tecnologias da Informação e Comunicação na Educação. Fundamentos da Educação Inclusiva Tópicos da Educação Inclusiva 68 horas 45 horas 30 horas 75 horas 45 horas 75 horas 75 horas 75 horas 60 horas Quadro 1 Cursos de Pedagogia da Universidade Estadual Paulista, disciplinas que abordam a Educação Inclusiva e/ou Educação Especial e carga horária. O campus de Marília oferece ainda um espaço na grade curricular comum do curso em que os alunos devem escolher uma disciplina optativa de 45 horas e há disciplinas que tratam da educação especial que são oferecidas. Além disso, outras cinco disciplinas relacionadas com a educação especial e/ou inclusiva para os alunos que escolhem realizar o Aprofundamento em Educação Especial. Tal Aprofundamento em Educação Especial, conforme apresentado no quadro 2, compõe o segundo semestre do 4º ano do curso e é uma opção que o discente da licenciatura em Pedagogia tem dentre outras duas modalidades de aprofundamento existentes no curso: educação infantil e gestão. Disciplinas Comunicação e Sinalização diferenciais na Educação Especial Linguística aplicada à Educação Especial Recursos e Estratégias didáticas na Educação Especial Carga Horária 90 horas 30 horas 60 horas
8 7909 Sexualidade e Deficiência Desenvolvimento e Aprendizagem: Especificidades das pessoas com deficiência. 30 horas 90 horas Quadro 2 Disciplinas do Aprofundamento de Educação Especial do curso de Pedagogia da Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp de Marília/SP. Após o levantamento dos dados dos cursos e com as pesquisas realizadas, acredito que para um sistema educacional inclusivo ser acessível, é preciso promover modos para que a aprendizagem seja comum a todos, os professores precisam ser acolhedores, ter relações solidárias e a escola necessita ter um trabalho coletivo, uma gestão participativa, um projeto político pedagógico inclusivo e considerar as diferentes competências da educação inclusiva. De acordo com Martins (2006), quando pensamos na escola inclusiva que se busca construir, cada vez mais reconhecemos a necessidade de se analisar como vem se processando a formação dos professores e dos demais profissionais da educação, percebendo-a não apenas numa perspectiva teórico-prática, mas também no tocante a atitudes e disposições para com a diversidade dos alunos. Por meio da análise dos resultados é possível constatar uma discrepância significativa entre os cursos de Pedagogia oferecidos pela Unesp. Tal discrepância se refere tanto à quantidade e nome das disciplinas, relacionadas com a área de Educação Especial/Inclusiva, presentes nos cursos de Pedagogia, como também, na quantidade de horas destinadas ao desenvolvimento de conteúdos dessas áreas e, ainda foi verificada diferença entre os próprios conteúdos desenvolvidos nos cursos. Neste sentido, se verifica que é enorme a diferença no tipo de formação oferecida pelos seis Cursos de Pedagogia de uma mesma Universidade. As unidades de Araraquara, Presidente Prudente, Rio Claro e São José do Rio Preto só garantem na grade curricular do curso de Pedagogia, uma única disciplina obrigatória durante todo o curso. É uma disciplina que se propõe a tratar dos fundamentos da educação especial/educação inclusiva. Já, a unidade de Marília se destaca, pois oferece cinco disciplinas obrigatórias ao longo do curso e outras cinco disciplinas que fazem parte do Aprofundamento em Educação Especial. Perrenoud, em seu livro As competências para ensinar no século XXI: a formação dos professores e o desafio da avaliação no capítulo 1 intitulado A formação dos professores no século XXI, discorre sobre a situação da educação e da formação dos professores, como está e como provavelmente estará nos próximos anos e coloca sua
9 7910 preocupação perante essa situação. Ele defende um perfil para o professor e diz que para atuar no mundo contemporâneo, ele precisa ser: 1) Pessoa confiável; 2) Mediador intercultural; 3) Mediador de uma comunidade educativa; 4) Garantia da lei; 5) Organizador de uma vida democrática; 6) Transmissor cultural; 7) Intelectual. No registro da construção de saberes e competências, citaria um professor que fosse: 1) Organizador de uma pedagogia construtivista; 2) Garantia do sentido dos saberes; 3) Criador de situações de aprendizagem; 4) Administrador da heterogeneidade; 5) Regulador dos processos e percursos de formação. (2002, p.14) Essas são as competências que Perrenoud julga ser necessário para que um professor tenha uma formação de qualidade e defende a hipótese de que os professores tinha que ser críticos, intelectuais, profissionais e humanistas, mas que infelizmente nem todos os Estados acreditam nisso e desejam formar profissionais dessa forma. Pesando assim, acredito que essas são algumas características que os pedagogos deveriam ter também e assim, a partir de alguns pensamentos do autor, de pesquisas na Legislação e de perspectivas sobre a educação inclusiva, busquei analisar os conteúdos das disciplinas dos cursos de pedagogia da Unesp. Analisando mais detalhadamente cada unidade, pode-se contatar que o curso de Pedagogia de Araraquara oferece uma única disciplina no curso de Pedagogia com carga horária de 60 horas, denominada Educação Especial. O conteúdo dessa disciplina visa os fundamentos, conceitos e noções históricas acerca da Educação Especial e as necessidades educacionais especiais de uma forma mais ampla, possibilitando ao discente uma formação geral a respeito da educação inclusiva. Analisando a abrangência dos conteúdos desenvolvidos por essa disciplina, pode-se inferir que não há carga horária suficiente para trabalhar de forma aprofundada com os temas, dando ao aluno, apenas uma única oportunidade durante todo o curso, de tratar de assuntos tão relevantes e complexos. O curso de Pedagogia de Bauru conta com duas disciplinas com carga horária de 68 horas cada, sendo uma denominada Educação Inclusiva que analisa o processo de inclusão, a caracterização das deficiências, as Políticas Públicas que tratam das Necessidades Educacionais Especiais das crianças que vão estar na escola comum e do currículo que é necessário para atender essas crianças. Essa disciplina é mais específica e conta com uma
10 7911 carga horária adequada para a quantidade de conteúdos, porém julgo faltar conteúdos que fale sobre a educação inclusiva de fato, sobre sua importância entre outros, dando assim uma introdução ao curso e fazendo com que os discentes tenham conhecimentos maiores sobre o que vão encontrar na classe regular. A outra disciplina disponível ao aluno de Pedagogia é Introdução do Ensino de Língua Brasileira de Sinais. Tal disciplina é de extrema importância para o futuro professor dos dias atuais, sem contar que é obrigatória nos cursos de pedagogia, de acordo com o Decreto da nossa legislação, acrescentando ainda que a carga horária parece ser suficiente para desenvolver os conteúdos propostos. Os conteúdos dessa disciplina dizem respeito à cultura dos surdos, trabalha com conceitos da linguística e, também se propõe a desenvolver um conhecimento da Libras com base na reprodução de sinais. O curso de Bauru, conta com apenas duas disciplinas, é um tanto abrangente e aborda conteúdos necessários para a formação do professor que irão atuar com a educação inclusiva, porém acredito que faltem ainda conteúdos mais gerais e alguns específicos para que o curso possa ser mais conceituado. O Curso de Pedagogia de Marília é o que possui o maior número de disciplinas que tratam da educação especial e/ou educação inclusiva, sendo o curso que se destaca dentro da Unesp. A grade curricular conta com cinco disciplinas obrigatórias e ainda há espaço para uma disciplina optativa. Além disso, há outras cinco disciplinas do Aprofundamento em Educação Especial. Analisando as cinco disciplinas obrigatórias que constam da grade comum do Curso de Pedagogia de Marília, é possível verificar que conteúdos relacionados com a educação especial/ inclusiva são desenvolvidos ao longo de todo o curso, pois as disciplinas começam no primeiro ano e seguem até o primeiro semestre do quarto ano. Em relação aos conteúdos desenvolvidos, a disciplina Desenho Universal, Acessibilidade e adaptações, com carga horária de 45 horas, trata da questão da acessibilidade e adaptações nas escolas e na sociedade, abrangem questões relacionadas com as adequações físicas das escolas, mostrando a necessidade de adequações na infraestrutura, faz reflexões a respeito do preconceito, estigma e conceito de deficiência. A disciplina Diversidade, Diferença e Deficiência: Implicações Educacionais, com carga horária de 30 horas, é uma disciplina com conteúdos amplos, que vão desde a descrição do nome, mostrando como esses três D s estão interligados e também falando sobre a questão da diferença na sociedade, do modo como os deficientes estão inseridos. Julgo ser uma disciplina necessária, porém com pouco espaço na grade
11 7912 curricular, sendo muitos conteúdos para poucas horas de estudos. Outra disciplina do curso é a de Fundamentos da Educação Inclusiva, com carga horária de 75 horas, uma disciplina que contém horas suficientes para atender o conteúdo programado e traz de forma ampla e completa os conteúdos, trata-se de fundamentos, princípios sobre o homem na sociedade, a questão da inclusão e políticas públicas. Porém nessa disciplina seria esperado que tratasse da legislação, de forma mais específica, de princípios políticos e filosóficos, entre outros. No quarto ano, é oferecia a disciplina de Currículos e Necessidades Educacionais Especiais em que é desenvolvida a questão da caracterização do aluno com deficiência, transtorno global do desenvolvimento e altas habilidades; as condições do aluno com necessidades especiais para aprender na sala regular e as adequações curriculares. Ressalta-se ainda que a unidade de Marília conta com a disciplina de Língua Brasileira de Sinais - Libras com carga horária de 45 horas, atendendo também o Decreto Federal de Tal disciplina trata da introdução da Língua de Sinais no Brasil, a gramática da Libras e, por fim tem uma parte prática para os alunos conhecerem com o funcionamento e o uso da Libras. Acredito que a disciplina tem uma ótima proposta, porém conta com pouca carga horária para o tanto de conteúdos que aborda, principalmente pelo fato de ser uma disciplina teórica e prática. O campus de Presidente Prudente tem apenas uma disciplina no curso todo de Pedagogia que trata da educação especial/inclusiva. É a disciplina denominada Libras, Tecnologias da informação e comunicação na Educação. Os conteúdos mostram que se utiliza a informática e a tecnologia para propiciar a inclusão social, porém mesmo constando a nomenclatura Libras no plano de ensino, não foi encontrado no Plano de Ensino desta disciplina qualquer conteúdo que tratasse a respeito dos pressupostos teóricos, gramática ou mesmo o uso dessa linguagem. Verifica-se assim que a disciplina atende ao Decreto Federal de 2005 apenas no nome, mas não em relação aos conteúdos apresentados no Plano de Ensino. Por isso, acredito que seja de extrema importância pensar numa adequação ou até mesmo na inclusão de disciplinas que incorporasse os conteúdos da educação inclusiva, visto que o futuro professor que se formar em Presidente Prudente precisa saber sobre os seus alunos com deficiências e necessidades educacionais especiais e é necessário que saibam como lidar com esse alunado. De acordo com o MEC (2007), os estudos mais recentes no campo da educação especial enfatizam que as definições e uso de classificações devem ser contextualizados, não se esgotando na mera especificação ou categorização atribuída a um
12 7913 quadro de deficiência, transtorno, distúrbio, síndrome ou aptidão. Considerasse que as pessoas se modificam continuamente, transformando o contexto no qual se inserem. Esse dinamismo exige uma atuação pedagógica voltada para alterar a situação de exclusão, reforçando a importância dos ambientes heterogêneos para a promoção da aprendizagem de todos os alunos. O curso de Pedagogia da unidade de Rio Claro também tem uma única disciplina que trata da educação inclusiva/especial. É uma disciplina obrigatória de 75 horas intitulada Fundamentos da Educação Inclusiva. Seus conteúdos tratam da inclusão no ensino regular, o desenvolvimento da pessoa com deficiência e sobre a necessidade de se garantir a acessibilidade. Esta situação é muito parecida com a unidade de Bauru e Araraquara que abarcam em apenas uma disciplina, temas tão complexos, abrangentes e importantes. Tal situação é preocupante, pois não há condições de desenvolver todos os conteúdos necessários de forma aprofundada. Vale lembrar que a unidade de Rio Claro não oferece qualquer formação em Língua Brasileira de Sinais. Por fim, há o Curso de Pedagogia do campus de São José do Rio Preto. Em sua grade curricular consta também uma única disciplina que trata da educação especial/inclusiva. É a disciplina Tópicos da Educação Inclusiva com carga horária de 60 horas. Em seu Plano de Ensino consta que tal disciplina pretende ensinar o aluno a ter uma visão da política educacional vigente e favorecer o conhecimento dos fundamentos da inclusão escolar e da ética na escola. Repete-se mais uma vez aqui a situação de outros cursos de Pedagogia da Unesp que oferecem apenas uma única disciplina para tratar dos conteúdos relacionados com a educação especial/inclusiva. No caso do curso de São José do Rio Preto há que se destacar que no Plano de Ensino dessa única disciplina constam conteúdos que não abarcam os principais temas relacionados com a inclusão escolar como: caracterização do aluno com necessidades especiais, história da educação especial, fundamentos políticos e legais da educação inclusiva. O curso também não oferece a disciplina Libras. A partir do quadro apresentado, nota-se que todos os cursos de Pedagogia da Unesp oferecem ao menos uma disciplina obrigatória que trata de conteúdos relacionados com os fundamentos e princípios da Educação Inclusiva e/ou Educação Especial, variando apenas a nomenclatura. Já a disciplina que trata da Língua Brasileira de Sinais - Libras, que deveria ser obrigatória em oitenta por cento dos cursos de Pedagogia da Unesp, segundo o Decreto
13 7914 Federal nº 5.626, de 2005 no art. 9, está sendo oferecida em apenas cinquenta por cento das unidades da Universidade Estadual Paulista, a saber: Marília, Bauru e Presidente Prudente. Sobre os conteúdos contidos nos planos de ensino das referidas disciplinas de cada curso de Pedagogia observa-se que, em linhas gerais, todas as unidades da Unesp abordam em uma ou mais disciplinas temas acerca do histórico da educação especial, sobre os princípios teóricos e filosóficos da educação inclusiva, além de abordar leis e documentos oficiais que asseguram a inclusão. Algumas disciplinas discorrem sobre processos sociais de exclusão e direitos humanos que sustentam práticas de inclusão, discutem os conceitos de integração e inclusão, aspectos conceituais sobre deficiência e necessidades educacionais especiais. Alguns planos abordam a questão da deficiência, suas caracterizações e passam pela discussão sobre a construção social, preconceitos e estigmas. Cada unidade tem pontos e características particulares no trabalho com a educação especial/inclusiva. Marília e Rio Claro abordam tais conteúdos em uma disciplina denominada Fundamentos da Educação Inclusiva. A unidade de Bauru trata desse assunto em uma disciplina denominada Educação Inclusiva, a unidade de Araraquara nomeia a disciplina como Educação Especial e o curso de Pedagogia de São José do Rio Preto tem uma disciplina denominada Tópicos da Educação Inclusiva. Ao analisar os planos de ensino das disciplinas de Libras, das unidades de Marília e Bauru, foi possível verificar, de modo geral, semelhanças nas propostas. Nos planos analisados constatou-se a presença de conhecimentos básicos sobre a Libras visando estabelecer comunicação entre o ouvinte e o aluno com surdez. Além disso, a disciplina das duas unidades tem por objetivo levar o aluno a conhecer um pouco mais sobre a cultura, a identidade e a educação do surdo. O que difere a disciplina entre as duas unidades, é o enfoque, dada pela unidade de Marília que se propõe a apresentar as leis e políticas atuais que discutem a questão da legalização da Libras, além de identificação da disciplina que, em Marília é nomeada por Língua Brasileira de Sinais, podendo demonstrar que pretende focar o assunto com profundidade. Já, na unidade de Bauru, é nomeada como Introdução ao ensino da Língua Brasileira de Sinais. É curioso ver como dentro de uma única universidade, pode haver 6 cursos de pedagogia tão diferentes e com formações tão distintas.
14 7915 Para atuar na educação especial, o professor deve ter como base da sua formação, inicial e continuada, conhecimentos gerais para o exercício da docência e conhecimentos específicos da área. Essa formação possibilita a sua atuação no atendimento educacional especializado, aprofunda o caráter interativo e interdisciplinar da atuação nas salas comuns do ensino regular, nas salas de recursos, nos centros de atendimento educacional especializado, nos núcleos de acessibilidade das instituições de educação superior, nas classes hospitalares e nos ambientes domiciliares, para a oferta dos serviços e recursos de educação especial. (MEC, 2007, p. 11). Considerações Finais Os resultados deste estudo demonstram que já existe um esforço por parte dos Conselhos de Curso de Pedagogia, de cada unidade da Unesp, em fazer as adequações necessárias de forma a garantir aos graduandos uma formação mais abrangente que possibilite o ensino na heterogeneidade, na pluralidade. Entretanto, os dados demonstram que apenas algumas unidades garantem o espaço devidamente necessário na grade curricular do curso, para o desenvolvimento de disciplinas e de conteúdos relacionados com a educação inclusiva. Poucos cursos incorporaram novos conteúdos e/ou novas disciplinas na grade demonstrando ainda certa precariedade no atendimento a legislação vigente que trata da formação inicial do professor para atuar na perspectiva educacional inclusiva. Ressalta-se que para cumprir e atender o que a legislação propõe, não basta apenas garantir um espaço na grade curricular do curso ou então inserir novas disciplinas. Também não adianta fazer pequenos ajustes nos Planos de Ensino incorporando alguns novos conteúdos nas disciplinas já existentes. Há necessidade de uma mudança na maneira de conceber a formação do professor e, de entender que o contexto educacional mudou que o paradigma é outro. Isso só é possível com a presença de um corpo docente no ensino superior que detém conhecimento e experiência na área da educação especial e inclusiva, não sendo tal processo tão simples e fácil como parece. Analisando os resultados é possível concluir que há uma discrepância significativa entre os cursos de Pedagogia da Universidade Estadual Paulista Unesp, tanto no que se refere ao número de disciplinas como, também, quanto aos conteúdos vinculados à perspectiva educacional inclusiva. Tal situação necessita ser mudada. Afinal, os cursos de Pedagogia devem se preocupar em propiciar ao futuro educador uma formação que o capacite para atender com qualidade, nas escolas e nas salas de aula regulares, todos os alunos, inclusive os que apresentam deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades.
15 7916 Em frente à situação apresentada torna-se importante, neste momento específico, em que se encontram os Cursos de Pedagogia, identificar quais os conteúdos fundamentais relacionados com a educação inclusiva que devem constar no curso, bem como a carga horária mínima para o desenvolvimento desses conteúdos. Além disso, os Conselhos de Curso precisariam verificar se estão atendendo a legislação vigente sobre a formação do professor, bem como, estimular o corpo docente dos cursos para que possam conhecer e pesquisar a respeito da educação inclusiva/especial tornando-os competentes para assumir, discutir, refletir e desenvolver os conteúdos específicos relacionados com a formação do professor para atuar na perspectiva educacional inclusiva. REFERÊNCIAS ALMEIDA, C. E. M. Educação Especial na formação de professores das Universidades do Mato Grosso do Sul. UniRevista vol.1 nº2. UFMS, MS, BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. São Paulo: Atlas S.A Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de Regulamenta a Lei nº , de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais Libras, e o art. 18 da Lei nº , de 19 de dezembro de Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional.. Portaria nº 1.793, dezembro de Portaria nº 948, de 09 de outubro de Estabelece a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva.. Resolução CNE/CP 1/2006. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura. Diária Oficial da União, Brasília, 16 de maio de Resolução CNE/CP 4/2010. Define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica. Diário Oficial da União, Brasília, 14 de julho de CARVALHO, R. E. Removendo barreiras para a aprendizagem. Porto Alegre: Ed. Mediação, DENARI, F. E. Educação, cidadania e diversidade: a ótica da educação especial. In: CNE/UNESCO Brasil. Conferências do Fórum Brasil de Educação. Brasília, p
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