MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ NÚCLEO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DA FAZENDA PÚBLICA 44ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA NOTIFICAÇÃO Nº 010/2016

Transcrição

1 NOTIFICAÇÃO Nº 010/2016 NOTIFICANTE: PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA FAZENDA PÚBLICA NOTIFICADOS: EXMº SR. PREFEITO MUNICIPAL NOTIFICAÇÃO RECOMENDATÓRIA O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, representado pelo Promotor de Justiça da Promotoria da Fazenda Pública da Comarca de Teresina-PI, no uso de suas atribuições legais e na defesa dos PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE, DA IMPESSOALIDADE, DA MORALIDADE, DA PUBLICIDADE e DA PROBIDADE ADMINISTRATIVA, previstos na Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992, com fundamento no artigo 129, inciso VI da Constituição Federal, que autoriza o Ministério Público a "expedir notificações nos procedimentos de sua competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na forma da lei complementar respectiva, vem expor, notificar, recomendar e requerer o que segue:

2 1. Considerando ser o Ministério Público instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (art. 127 da Constituição Federal de 1988); 2. Considerando que compete ao Ministério Público promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção do patrimônio público e social (art. 129, III, CF/88); 3.Considerando a denúncia formulada por candidatos no concurso público para o cargo de guarda municipal Edital nº 001/2015 SEMGOV, noticiando irregularidade na contratação da empresa Brasão Vigilância e Segurança, cujas atribuições seriam exclusivas de guarda municipal; 4. Considerando que, conforme a denúncia, o efetivo previsto na Lei Complementar Municipal nº 3.834, de 23 de dezembro de 2008, contraria os termos do art. 7º, inciso III, da Lei nº , de 8 de agosto de 2014 ; 5. Considerando a existência de dezenas de contratos de terceirização tendo por objeto a vigilância física patrimonial em diversos órgãos da Prefeitura Municipal de Teresina-PI; 6. Considerando a existência de Convênio celebrado entre o Município de Teresina e o Estado do Piauí tendo por objeto a cessão, entre as partes, de servidores públicos militares para o fim de prestação de serviços de vigilância patrimonial diurna e noturna, em unidades de saúde e administrativa da FMS ; 7. Considerando que, nos termos do 8º do artigo 144 da Constituição Federal, as guardas municipais são destinadas à proteção de bens, serviços e instalações dos Municípios ou, como especifica a Lei Complementar nº 3.834, de 23 de dezembro de 2008, proteger bens e serviços e instalações de domínio público do Município de

3 Teresina ; 8. Considerando, assim, que, em atenção ao disposto no art. 37, inciso II, da Constituição e o art. 1, 2, do decreto n 2.271/97, não é possível a terceirização de atividades para as quais estejam previstos cargos e/ou empregos públicos no plano de cargos da Administração Pública; 9. Considerando o teor da Súmula 97 do Tribunal de Contas da União segundo a qual ressalvada a hipótese prevista no parágrafo único do art. 3º da Lei 5.645, de 10/12/70 (Decreto-lei 200, de 25/02/67, art. 10, 7º e 8º), não se admite, a partir da data da publicação do ato de implantação do novo Plano de Classificação e Retribuição de Cargos do Serviço Civil da União e das autarquias, a utilização de serviços de pessoal, mediante convênios, contratos ou outros instrumentos, celebrados com Fundações ou quaisquer entidades públicas ou privadas, para o desempenho de atividades inerentes às categorias funcionais abrangidas pelo referido Plano ; 10.Considerando que a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, bem como do Superior Tribunal de Justiça, tem firmado seu posicionamento no sentido de que a contratação precária de pessoal, dentro do prazo de validade do concurso público, seja por comissão, terceirização ou contratação temporária, para o exercício das mesmas atribuições do cargo para o qual fora realizado o certame, configura preterição dos candidatos aprovados, ainda que fora das vagas previstas no edital ou para preenchimento de cadastro de reserva, evidenciando desvio de finalidade, em inequívoca transgressão à exigência do artigo 37, II, da Lei Magna; 11. Considerando, portanto, que os contratos de terceirização tendo por objeto a vigilância física patrimonial em diversos órgãos da Prefeitura Municipal de Teresina-PI e o Convênio celebrado entre o Município de Teresina e o Estado do Piauí tendo por objeto a cessão, entre as partes, de servidores públicos militares para o fim de prestação de

4 serviços de vigilância patrimonial diurna e noturna, em unidades de saúde e administrativa da FMS são NULOS de pleno Direito, inclusive atraindo a possibilidade de aplicação do artigo 11 da Lei nº 8.429/92; 12.Considerando que em face do princípio da legalidade, pode a Administração Pública, enquanto não concluído e homologado o concurso público, alterar as condições do certame constantes do respectivo edital, para adaptá-las à nova legislação aplicável à espécie.... (RE , Rel. Min. Ilmar Galvão, STF, Primeira Turma, DJ ); 13. Considerando que o Edital nº 001/2015 SEMGOV prevê 50 (cinquenta) vagas para o cargo de guarda municipal, e que, segundo as cláusulas 8.28 e 9.1, apenas os primeiros 300 (trezentos) candidatos aprovados e classificados serão convocados para a segunda etapa do concurso avaliação de aptidão física; 14. Considerando, enfim, que o número de vagas previstas no Edital nº 001/2015 está em desacordo seja com a Lei Federal nº , de 8 de agosto de 2014, e com a real necessidade decorrente dos vários contratos de terceirização para vigilância patrimonial dos bens e serviços do Município e do Convênio com a Polícia Militar do Piauí; RESOLVE RECOMENDAR ao Exmº Sr. Prefeito Municipal de Teresina que: a) Proceda à alteração do Edital nº 001/2015 no sentido de adequar o número de vagas, bem como das cláusulas 8.28 e 9.1, aos termos da Lei Federal nº , de 8 de agosto de 2014, e à real necessidade decorrente da existência dos vários contratos de terceirização para vigilância patrimonial dos bens e serviços do Município e do Convênio com a Polícia Militar do Piauí;

5 b) Determine a instauração de Procedimento Administrativo para o fim de declarar a nulidade dos contratos celebrados com empresas de terceirização tendo por objeto a vigilância patrimonial dos bens e serviços do Município, bem como da nulidade de processos licitatórios já homologados; c) Determine a instauração de Procedimento Administrativo para o fim de declarar a revogação de processos licitatórios que tenham por objeto a vigilância patrimonial de bens e serviços do Município e que ainda não tenham sido homologados, bem como do convênio com a Polícia Militar. Informo-lhe ainda que, no prazo de 10 (dez) dias, deverá ser comunicado a esta Promotoria de Justiça o cumprimento, ou não, desta Recomendação. Teresina, 09 de junho de 2016 Fernando Ferreira dos Santos Promotor de Justiça