RECOMENDAÇÃO ADMINISTRATIVA nº 005/2013

Transcrição

1 RECOMENDAÇÃO ADMINISTRATIVA nº 005/2013 O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por meio de seu órgão de execução, no exercício de suas atribuições na Promotoria de Justiça da Comarca de Grandes Rios, com fundamento nos artigos 129, incisos III e IX, da Constituição da República de 1988; artigo 27, parágrafo único, inciso IV, e artigo 80, ambos da Lei Federal 8.625/93; e artigo 6º, inciso XX, da Lei Complementar Federal 75/93, e: CONSIDERANDO a definição que foi conferida ao Ministério Público pelo artigo 127 da Carta Política de 1988, qual seja: instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático, e dos interesses sociais e individuais indisponíveis ; CONSIDERANDO a necessidade de aprimorar a estrutura destinada ao atendimento de crianças e adolescentes existentes no Município de Grandes Rios, observados os ditames da Doutrina da Proteção Integral prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90); CONSIDERANDO a necessidade de dar efetividade às determinações da Justiça da Infância e da Juventude, bem como do Conselho Tutelar, no que diz ao respeito ao acolhimento, em caráter excepcional e

2 temporário, de crianças e adolescentes que, por qualquer razão, tenham de ser afastadas e/ou não possam ser imediatamente reintegradas ao convívio familiar; CONSIDERANDO que o acolhimento institucional de crianças e adolescentes deve observar as normas e princípios expressos na Lei nº 8.069/90, bem como em normas correlatas aplicáveis 1, como parte de uma política pública mais abrangente destinada à plena efetivação do Direito à Convivência Familiar de todas as crianças e adolescentes, cuja implementação pelo Município é obrigatória, inclusive sob pena de responsabilidade (cf. arts. 5º; 87, incisos VI e VII; 88, incisos I, IV e VI; 90, 2º; 208, inciso IX e 216, todos da Lei nº 8.069/90). CONSIDERANDO que a entidade de acolhimento deve obedecer rigorosamente as normas e princípios previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente, em especial os elencados nos arts. 92; 100, parágrafo único e 101, 1º a 9º, as normas complementares aplicáveis; CONSIDERANDO que a configuração dos espaços físicos da entidade deverá obedecer aos parâmetros de infra-estrutura estabelecidos no item 4.1., do documento de Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes, aprovado pela Resolução Conjunta 01, de 18 de junho de 2009, do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) e Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS); 1 Dentre as quais merecem ser citados: a) Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária elaborado e aprovado conjuntamente pelo CONANDA e pelo CNAS; b) Política Nacional de Assistência Social; c) Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social (NOB-SUAS); d) Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do SUAS (NOB-RH); e) Resolução 109/09 do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS); e f) Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes.

3 CONSIDERANDO que na última visita realizada por esta Promotoria de Justiça na entidade de acolhimento institucional Casa Lar Santa Felicidade, nesta cidade e Comarca de Grandes Rios/PR, denotou-se que os requerimentos realizados para a adequação do espaço não foram efetuados pelo Município de Grandes Rios. De fato, o Ministério Público solicitou ao Corpo de Bombeiros que realizasse vistoria na entidade, e após tal vistoria foi apontada a necessidade de aquisição de um extintor de incêndio, lâmpada de emergência e troca da mangueira do gás (GLP), tendo sido expedido ofício ao Município para que este providenciasse a aquisição dos itens acima referidos; CONSIDERANDO que tal solicitação não foi atendida até a presente data, tendo em vista que levaram um extintor vencido, e acertadamente a responsável pelo local não aceitou, bem como faltaram parafusos para a instalação da lâmpada de emergência; CONSIDERANDO que a entidade necessita da construção de uma rampa para dar acesso a entrada no prédio, devido ao barro intenso que aumenta no tempo chuvoso, dificultando a passagem; CONSIDERANDO a necessidade de constante manutenção da área ocupada, tendo em vista a existência de matos, arbustos, o que expõe a entidade a possíveis incêndios, inclusive aparecimento de animais peçonhentos (tendo sido relatado o aparecimento de uma cobra recentemente), expondo crianças, bem como funcionários, a constantes situações de risco; CONSIDERANDO a necessidade de propiciar lazer para as crianças e adolescentes ali inseridos, devendo ser analisada a possibilidade de aquisição de computador e aparelho de televisão;

4 CONSIDERANDO que os problemas aqui relatados demonstram o abandono e descaso com a entidade de acolhimento aos infantes, que deveria garantir condições mínimas de salubridade, segurança e habitação; CONSIDERANDO que o Município deverá prever dotação orçamentária em valor suficiente a assegurar as obrigações com a manutenção da entidade, na Lei de Diretrizes Orçamentárias e na Lei Orçamentária para o os exercícios seguintes, sem prejuízo do enquadramento das despesas a serem feitas em caráter emergencial, ainda no presente exercício, em projeto/atividade já existente ou em novos projetos/atividades, seja através do remanejamento dos recursos de outras áreas, seja através da abertura de crédito orçamentário suplementar ou especial, com submissão da matéria ao Legislativo Municipal, observada a Lei de Responsabilidade Fiscal; RECOMENDA: Ao Senhor Chefe do Poder Executivo do Município de Grandes Rios/PR para que, em cumprimento às disposições legais mencionadas, adote todas as providências necessárias para garantir que os espaços físicos da entidade de acolhimento institucional Casa Lar Santa Felicidade se enquadrem aos parâmetros de infra-estrutura estabelecidos no Estatuto da Criança e do Adolescente, segundo os ditames da Doutrina da Proteção Integral, observadas as Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes, aprovado pela Resolução Conjunta 01, de 18 de junho de 2009, do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) e Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS).

5 Assina-se o prazo de 15 (quinze) dias para que a autoridade mencionada comunique ao Ministério Público a adoção de providências na espécie, comunicando as medidas tomadas. Assevera-se que o não cumprimento da presente, sem justificativas formais, levará ao ajuizamento das ações cíveis cabíveis, inclusive para responsabilização, sem prejuízo da adoção de outras providências pertinentes. encaminhada às seguintes autoridades: A presente Recomendação Administrativa será também I) Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente do Município de Grandes Rios (CMDCA); II) Conselho Tutelar do Município de Grandes Rios; III) Responsável legal pela entidade de acolhimento, a assistente social Pamela da Silva Schiundt; Informe-se à Assessoria de Comunicação do Ministério Público do Estado do Paraná para publicação da medida. Grandes Rios, 22 de novembro de Rayanne Hagge Promotora de Justiça