AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº DA 2ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA, FALÊNCIAS E RECUPERAÇÃO JUDICIAL AGRAVANTE: DISTRIBUIDORA CRUZ LTDA

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1 AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº DA 2ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA, FALÊNCIAS E RECUPERAÇÃO JUDICIAL AGRAVANTE: DISTRIBUIDORA MEDICAMENTOS CRUZ LTDA DE SANTA AGRAVADO: GRUPO MULTIFARMA MASSA FALIDA RELATOR: Desembargador MÁRIO HELTON JORGE DECISÃO MONOCRÁTICA. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL CONVOLADA EM FALÊNCIA. TERMO LEGAL FIXADO NO 90º DIA, CONTADO DO AJUIZAMENTO DO PEDIDO DE RECUPERAÇÃO. LEI /2005, ART. 90, INC. II. DESCABIMENTO DE FIXAÇÃO A PARTIR DA DATA DO PRIMEIRO PROTESTO, POR NÃO SE TRATAR DE FALÊNCIA DECRETADA COM FUNDAMENTO NO ART. 94, INCISOS I E II DA LEI /2005. NÃO DEMONSTRAÇÃO CONCRETA DE QUALQUER ATO OU FATO QUE RECOMENDE A ADOÇÃO DE OUTRO MARCO. RECURSO MANIFESTAMENTE IMPROCEDENTE. NEGATIVA DE SEGUIMENTO. Página 1 de 6

2 2 Vistos etc. I DISTRIBUIDORA DE MEDICAMENTOS SANTA CRUZ LTDA, interpôs recurso de agravo de instrumento contra a decisão (fls. 219/227-TJ e fls. 263/265-TJ), que convolou em falência as recuperações judiciais de Zen Comércio de Medicamentos Ltda., Eduardo Bremm de Castro ME e EBC Comércio de Medicamentos Ltda., integrantes do Grupo Multifarma, fixando o termo legal no 90º dia anterior ao último pedido de recuperação judicial, autos nº 276/2007. Em suas razões recursais (fls. 02/20), destacou que foram ajuizadas três ações de recuperação judicial, por parte de empresas do Grupo Multifarma, no ano de 2007, com trâmite tumultuado e com a realização de atos em claro prejuízo à universalidade de credores, inclusive a alteração de contratos sociais, sem a ciência de diversos credores, até culminar com o pedido e a decretação da convolação em falência. Aduziu que, embora acertada a convolação, a decisão agravada aplicou equivocadamente a lei no que tange à fundamentação do marco inicial para a contagem do termo legal (período suspeito) previsto no art. 99, II, da Lei /05, posto que todos os indicativos processuais narrados revelam má-fé das empresas devedoras e total descaso das Agravadas para com os credores. Afirmou que, diante disso, como medida de prevenção de fraudes, necessária é a fixação de termo legal a contar da data do primeiro protesto, salvaguardando, via de consequência, os direitos da universalidade de credores que buscam patrimônio para receberem o devido. Disse que a fixação do termo legal tem importância vital, já que presume que os falidos se encontravam em situação de insolvência desde então, de sorte a submeter aqueles que tenham mantido relações jurídicas ao concurso de credores e às consequências da falência. Asseverou que a fixação do termo legal, a partir do primeiro protesto, assegurará a possibilidade de rápida recuperação de bens e numerários desviados indevidamente a terceiros, em prejuízo dos credores. Registrou que, se a lei permite a retroação do prazo para garantir a ineficácia de determinados atos, a contar do primeiro protesto, deve-se Página 2 de 6

3 3 conferir à universalidade de credores o maior prazo possível, de modo a resguardar a função social do crédito. Pediu a atribuição de efeito suspensivo, exclusivamente no que se refere ao termo legal, bem como o provimento do recurso, com a reforma da decisão agravada. Relatei, em síntese. II Prevê o art. 557, caput, do Código de Processo Civil, a possibilidade de o relator negar seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo Tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior O art. 90, inc. II, da Lei /2005, preconiza: A sentença que decretar a falência do devedor, dentre outras determinações: (...); II - fixará o termo legal da falência, sem poder retrotraí-lo por mais de 90 (noventa) dias contados do pedido de falência, do pedido de recuperação judicial ou do 1 o (primeiro) protesto por falta de pagamento, excluindo-se, para esta finalidade, os protestos que tenham sido cancelados. A propósito, ao apreciar os embargos de declaração opostos pela ora agravante, o juiz a quo consignou: Tratando-se de convolação de recuperação judicial em falência, de todo indiferente para fins de fixação do termo legal a data do primeiro protesto por falta de pagamento, isso porque inaplicável a hipótese, ao contrário do que sustenta a embargante Leciona Fábio Ulhoa Coelho: Página 3 de 6

4 4 Quando a falência tem por fundamento a impontualidade injustificada ou execução frustrada, o termo legal não pode retroagir por mais de 90 (noventa) dias do primeiro protesto por falta de pagamento; na hipótese de pedido fundado em ato de falência ou autofalência, o termo legal não pode retroagir por mais de 90 dias da petição inicial; e se é o caso de convolação em falência de recuperação judicial ou extrajudicial homologada em juízo, não pode retroagir por mais de 90 dias do respectivo requerimento. Na hipótese, como visto, trata-se de convolação de recuperação judicial em falência, razão pela qual a decisão agravada se apresenta incensurável, conforme, também, a seguinte lição doutrinária: O juiz ao fixar o termo legal levará em conta 3 (três) situações distintas e alternativas, a saber: a) pedido de falência; b) pedido de recuperação judicial; c) primeiro protesto por falta de pagamento. A primeira: pedido de falência é própria para o pedido com fundamento em atos de falência (inciso III, art. 94), podendo, também, ser utilizada no caso de autofalência; a segunda: pedido de recuperação judicial para a hipótese de convolação da recuperação judicial em falência; a terceira primeiro protesto por falta de pagamento ainda ativo para as hipóteses de impontualidade, nos casos dos incisos I e II, do art. 94, da LRF (Falências e Recuperações de Empresas Luiz Guerra Vol. 3, Guerra Editora, pág. 437). Não se pode conceber que eventual tumulto processual o qual poderia, e deveria ser combatido pelos meios à disposição das partes, do Ministério Público e do próprio juiz condutor Página 4 de 6

5 5 do feito possa ditar a sorte do termo inicial da falência, sobretudo para excepcionar a expressa previsão legal na qual se baseou a decisão agravada. Do mesmo modo, insta registrar que a agravante não apontou, concretamente, quais atos anteriores ao termo foram praticados visando fraudar ou prejudicar os credores. A única alteração do contrato, cuja efetivação não restou comprovada, se deu por aprovação dos próprios credores, no curso do processo de recuperação (fls. 122/123-TJ). Nem mesmo a data do primeiro protesto foi apontada, assim como de outros atos ou circunstâncias que, somandose a ele, permitissem concluir o intuito de fraude, por parte das empresas, antes de ajuizarem os pedidos de recuperação. Importa registrar, igualmente, que o juiz a quo está mais próximo dos fatos, já que acompanha todo o desenvolvimento do processo, desde o seu início, tendo melhores condições de avaliar a conduta das partes. Assim, se entendeu por fixar o prazo em 90 dias, a contar do pedido de recuperação, é porque não vislumbrou qualquer motivo para adotar outro termo. Vale lembrar, ademais, que Os atos praticados fora do período suspeito podem, sim, ser declarados nulos ou anulados, conforme o caso, mas pelo recurso aos meios processuais ordinários, como se apura dos artigos 130 a 138 da Lei /05, que dão o nomen iuris de revocatória à ação ajuizável para tanto (Falência de Recuperação de Empresas Gladston Mamede Vol. 4, 3ª Edição, pág. 364). Não se pode, assim, concluir, ao menos pelo que está demonstrado nos autos, que a decisão agravada ofende qualquer interesse dos credores (Lei /2005, art. 47), ou que interpretou equivocadamente o inc. II, do art. 90, da LRF. Página 5 de 6

6 6 Diante desse panorama, o recurso revela-se manifestamente improcedente. III Em face do exposto, com fundamento no artigo 557, caput, do Código de Processo Civil, nego seguimento ao recurso, por ser manifestamente improcedente. IV - Intimem-se. Curitiba (PR), 31 de agosto de MÁRIO HELTON JORGE Relator Página 6 de 6