INTRODUÇÃO. Subtítulos deste Capítulo: Mitologia (Hipnos) Reflexologia Sofrologia Programação Neurolinguística. Marx.
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- Miguel Figueira Rocha
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1 INTRODUÇÃO Subtítulos deste Capítulo: Mitologia (Hipnos) Reflexologia Sofrologia Programação Neurolinguística Por estes dias, quando um homem pode endereçar o mundo inteiro, já é mais que necessário entender a real natureza e poder da hipnose e da sugestão. Deixe esses que duvidam refletir que aproximadamente um terço do mundo hoje é governado como o resultado direto das sugestões de um homem - Karl Marx. A hipnose se tem feito assídua, entre nós, nos meios de comunicação, desde algum tempo. Os relatos clínicos incontestes se multiplicam e ela cada vez mais vem se firmando como um importante instrumento no tratamento de diferentes patologias e distúrbios, e como técnica auxiliar na elaboração do diagnóstico. Sua versatilidade é ímpar; praticada em ambientes sociais radicalmente diferentes: salões, clínicas, salas de aula e delegacias de polícia, a qual também descobriu os poderes da hipnoterapia Vítimas de assaltos e seqüestros submetem-se à hipnose para ajudar na confecção de retrato falado. Praticando o hipnotismo há 25 anos, o psicólogo e psiquiatra paranaense Rui Fernando Cruz Sampaio, 48 anos, já ajudou a polícia a elucidar mais de 600 crimes, de atropelamentos a estupros, assaltos e homicídios. À frente do Laboratório de Hipnose Forense do Instituto de Criminalística do Paraná, único na América Latina, Sampaio recebe diariamente ofícios de delegados, promotores e juízes para que hipnotize vítimas e testemunhas de crimes que sofreram amnésia parcial ou total decorrente do trauma sofrido. Notícia divulgada na revista Galileu, versão on-line. Na Universidade Federal de São Paulo, especialistas usam a técnica para auxiliar no combate à dependência de cigarro, no controle de tiques nervosos, na diminuição do stress e no tratamento de traumas sexuais. Nesses casos, a hipnose ajuda o paciente a modificar uma determinada forma de pensar ou a identificar bloqueios relacionados aos problemas. Não é por acaso que um dos melhores resultados obtidos com a ajuda do método é no
2 tratamento do vaginismo absoluto psicogênico. A doença atinge mulheres que, mesmo sem apresentarem impedimentos orgânicos, não conseguem permitir a penetração do pênis durante o ato sexual. A técnica auxilia essas pacientes a encontrar a origem da dificuldade e, aos poucos, superá-la, explica Osmar Colás, coordenador do Grupo de Estudos de Hipnose da universidade paulista. Muitas são as pesquisas que vem confirmando sua eficácia no tratamento terapêutico e a cada ano o número de artigos publicados na área aumenta visivelmente. Segundo o médico Fernando Rabello, que introduziu a hipnose no Hospital Miguel Couto, os resultados são muito bons, inclusive em pacientes com vitiligo, doença que faz surgir manchas brancas no corpo, provocadas pela destruição do pigmento natural da pele e dos cabelos. Outra aplicação é para acabar com as fobias, mas este tratamento é restrito, pois pessoas deprimidas podem piorar, ninguém sabe o por quê. Muitos foram os pensadores, que através do tempo buscaram respostas para as dificuldades humanas através da hipnose. Alguns enfatizando seus mistérios, outros mostrando sua simplicidade. Atualmente renova-se o grande empenho pelo emprego da hipnose na prática psicológica, médica e odontológica. Esta retomada de interesse pelo hipnotismo deve-se sobretudo às investigações em torno dos processos cerebrais ocorridos durante o estado hipnótico. Infelizmente, a maioria dos médicos e psicólogos ainda desconhece a abordagem da hipnose, ou tem qualquer noção clara sobre hipnose ou como diferenciá-la da hipnose terapêutica. As dificuldades na divulgação e expansão do Hipnotismo derivam, em grande parte, de sua própria natureza, de sua notória complexidade, de seu caráter um tanto quanto espetacular das incríveis manifestações psicofisiológicas que envolve, de sua vinculação histórica às práticas sibilinas e crenças no sobrenatural, aliada a uma ignorância ainda bastante generalizada a seu respeito. O público, de um modo geral, ainda lhe conserva um temor supersticioso. Muito se fala sobre o hipnotismo, porém o que realmente se constata na leitura de pesquisas e estudos científicos relacionados ao mesmo é que a hipnose como ciência é um ramo extremamente recente, sendo assim, ainda pouco explorado. Mas, como quer que seja, a situação está melhorando. Por outro lado, pacientes em busca de uma medicina mais humanizada ou de solução para problemas crônicos colaboraram para a popularização da hipnose, ainda que continue existindo preconceito. O tema hipnose quando introduzido nas discussões acadêmicas encontra o melhor caminho para difundi-la e desmistificá-la. A Faculdade é o fórum ideal para esse trabalho porque, neste espaço, as apresentações fogem àquele sentido superficial e comum de espetáculo. Seu estudo deve ser claro e baseado, ao máximo, na verdade e nos princípios éticos, morais e científicos, portanto válido pelo sentido útil que se traduz na apropriação do conhecimento teórico e prático revelado nas demonstrações. Nessa oportunidade, não se tem um mero espetáculo de curiosidade, tem-se uma exposição de fatos que são reproduzidos para efeito de aprendizagem.
3 Inicialmente, o contato direto que a maioria das pessoas tinha com o hipnotismo consistia provavelmente em participar de shows ou demonstrações públicas ou simplesmente assistilos. Não obstante as publicidades feitas em torno dos mesmos, tais demonstrações são, na maioria das vezes, reais, ou seja, os indivíduos estão realmente hipnotizados. Os voluntários bebem água e embriagam-se, comem cebolas com prazer pensando ser frutas doces, mastigam alho pensando ser goma de mascar, e assim por diante. As pessoas, de um modo geral, julgam ainda um tabu a existência dos fenômenos hipnóticos que presenciam de tal forma, e motivo para tal atitude reside na falta de esclarecimentos prestados por aqueles que conduzem essas exibições públicas, muitas vezes reforçando certas crenças e mitos sobre a hipnose que não correspondem à realidade, ou que se restringem à prática da Hipnose de Palco, que são muito diversas do comportamento da mesma no ambiente da prática clínica. Pode-se acrescentar, à guisa de exemplo, que vários shows dessa natureza foram considerados ilegais, pois neles muitos voluntários feriram-se, foram constrangidos ou manifestaram sintomas psicossomáticos em conseqüência de sugestões feitas sem o devido cuidado e zelo pela segurança dos voluntários. Em realidade, não há nenhum mistério na produção da hipnose, mas os efeitos e resultados do hipnotismo permanecerão sempre prodigiosos e cada vez mais espetaculares à medida que os potenciais da mente humana forem cada vez mais explorados! As pessoas estão procurando soluções breves, efetivas, e econômicas, e com o mínimo de exposição da sua privacidade. As técnicas tradicionais de psicoterapia já não satisfazem este contexto. ***** É de extrema importância que o leitor preste particular atenção à essência da presente obra, porque ela versa não somente sobre a filosofia dos fenômenos hipnóticos, senão também sobre uma série de experiências a realizarem-se no estado de vigília, que lhe permitirão adquirir gradualmente, e por fases suaves, aquele domínio e aquela confiança em si mesmo necessários ao bom desempenho nesta arte. Alertamos também sobre a necessidade de se fazer da experiência uma constância Não basta, só a leitura deste curso (e o acompanhamento das aulas expositivas) e menos ainda deve este material ser posto de lado, dizendo a si mesmo que já sabe o suficiente para, de futuro, poder fazer algumas pequenas experiências, quando se lhe apresentar a ocasião. A experiência adquirida com a prática é fundamental! Por enquanto, ainda não se conhece o total de profissionais que utilizam o método hipnótico, mas no Brasil não há cursos de extensão em hipnose nas universidades (a não ser como cursos livres, não vinculados à grade acadêmica), e os profissionais têm que recorrer a cursos extracurriculares para se tornarem capacitados a aplicar o método. Dados incompletos levam a especular que no nosso país já existam mais de mil médicos, dentistas e psicólogos que oferecem esse tratamento, o que é um número insignificante tendo em vista a quantidade de profissionais existentes nessas áreas e as possibilidades oferecidas pelas diversas técnicas terapêuticas hipnóticas.
4 Tomando das palavras de Freud: Realmente, há numerosos adversários da hipnose que formaram seu julgamento de um modo mais apressado. Não puseram à prova o novo método terapêutico e não o empregaram imparcial e cuidadosamente, como se procederia, por exemplo, com uma droga recentemente recomendada; rejeitaram a hipnose a priori, e agora a ausência de conhecimentos dos valiosos efeitos terapêuticos desse método não os autoriza, seja qual for o seu fundamento, a manifestar tão cáusticas e injustificadas expressões de antipatia à hipnose. Exageram enormemente os perigos da hipnose, passam a destrata-la sistematicamente e, diante da abundância de relatos de curas pela hipnose, que já não podem ser relegadas ao descaso, reagem com esses pronunciamentos oraculares: As curas nada provam, elas mesmas exigem prova. (...). (Vol I, pág. 144). Todo aquele que, tal como o autor desta resenha, alcançou um julgamento independente nos assuntos referentes à hipnose, haverá de se consolar com a reflexão de que qualquer ofensa à reputação da hipnose, feita dessa maneira, só pode ser uma ofensa limitada tanto no tempo como no espaço. O movimento que procura introduzir o tratamento sugestivo no estoque terapêutico da medicina já triunfou em outros países e, no final, alcançará seu objetivo também na Alemanha (e em Viena). Todo médico que se disponha a examinar os fatos com isenção será levado a tomar uma atitude menos desfavorável quando verificar que as supostas vítimas da terapia hipnótica sofrem menos, depois do tratamento, e podem executar suas funções melhor do que o faziam antes e é este o caso dos meus próprios pacientes, como posso afirmar. Algumas experiências mostrarão a eles que toda uma série de censuras à hipnose aplica-se não à hipnose, em particular, mas sim à nossa terapia em geral, e pode, na verdade, ser mais justificadamente dirigida contra determinados métodos que todos nós usamos na prática do que contra a hipnose. Como médicos, descobrirão que é impossível não utilizar a hipnose e deixar que seus pacientes sofram, quando podem alivia-los mediante o uso inócuo da influência psíquica. (...). (pág. 145). (...) E temos de concordar com ele quando diz: A fim de formar um julgamento acerca do hipnotismo, é preciso que se tenha praticado o hipnotismo por experiência própria. [Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Editora Imago, Rio de Janeiro, 3 a. Edição Vol. I ( ), RESENHA DE HIPNOTISMO, de August Forel (1889) Negrito nosso]. Infelizmente, quanto a isto, o próprio Freud não é um exemplo a ser seguido... [abordaremos essa questão mais adiante ao analisarmos os possíveis motivos que levaram Freud a abandonar o uso da hipnose e seu reflexo no mondo da psicoterapia]. No que concerne à avaliação pessoal dos médicos que tem a coragem de utilizar a hipnose como medida terapêutica antes que a onda da moda a torne obrigatória, o autor desta resenha é da opinião de que é conveniente ter certa tolerância para com a freqüente intolerância dos grandes homens (...) (Freud, idem, pág. 148) O tratamento hipnótico realmente significa hoje uma grande ampliação do alcance da medicina e, por conseguinte, um avanço na arte de curar. Pode-se aconselhar cada enfermo a entregar-se a ele em confiança, desde que seja praticado por um médico experiente e digno de crédito. Entretanto, é preciso servir-se da hipnose de um modo diferente do que é hoje habitual. Comumente, só se recorre a esse tipo de tratamento depois que todos os outros recursos fracassam, quando o doente já está desanimado e de má vontade. (...) Sempre que considerada útil, a hipnose deve estar em posição equivalente à dos outros procedimentos terapêuticos, e não ser encarada como um último recurso ou mesmo uma queda da cientificidade para o embuste. É que o hipnotismo é útil não apenas
5 em todos os estados de nervosismo e nos distúrbios patológicos (como alcoolismo, vício em morfina, aberrações sexuais) e ainda em muitas doenças orgânicas, inclusive inflamatórias, nas quais se tem uma perspectiva, mesmo persistindo o distúrbio subjacente, de eliminar os sintomas incômodos para o enfermo, tais como as dores, inibições do movimento, etc. A escolha dos casos para aplicação do procedimento hipnótico depende quase sempre da decisão do médico. (idem, pág. 282 Negrito nosso). (...) Se a terapia hipnótica tivesse mantido seus indícios muito promissores, ter-se-ia chegado a uma posição semelhante à da análise. (A QUESTÃO DA ANÁLISE LEIGA CONVERSAÇÕES COM UMA PESSOA IMPARCIAL, VI, pág. 269). Em 1998, a Hipnose foi validada como método científico pela Organização Mundial de Saúde. No Brasil, o Conselho Federal de Medicina aprovou o uso da hipnose na prática médica, como subsidiária de diagnóstico ou de tratamento, em agosto de 1999, pelo parecer n 0 42/99. O uso desse mesmo recurso pelos psicólogos foi regulamentado pelo Conselho Federal de Psicologia através da resolução de n 0 13/00, de dezembro de 2000 (ver Anexos). Embora relativamente recentes, a definição dessas novas normativas tendem a impulsionar tanto o uso quanto o conhecimento das técnicas de hipnose. DEFINIÇÃO A hipnose tornava palpável o inconsciente. (Freud) MITOLOGIA HIPNOS era o deus do sono e pai dos sonhos, que ficavam orbitando ao seu redor; tendo Morfreu seu principal ministro. Filho de Nix (a Noite - ou ainda, filho de Astréia) e de Érebo e irmão gêmeo de Tânatos (deus da Morte). Levava o sono aos homens e deuses, inclusive a Zeus, percorrendo o mundo. Seu simbolismo quase não passou do estado de pura abstração. Apenas se lhe pode conferir uma lenda: Apaixonado por Endimião, ele ter-lhe-ia concedido o dom de dormir de olhos abertos, a fim de poder contemplar sem cessar os olhos de seu amante. Representado com asas de águia ou mariposa sobre sua fronte, carregando um talo de dormideira (ou um dente de elefante) em uma das mãos e na outra um chifre. Seu palácio era inacessível aos raios do sol e cuja entrada era obstruída por papoulas e outras plantas
6 suporíferas. O rio do esquecimento corria através desse palácio. Muitos dormiam no templo do deus, e durante a noite se dava a cura. ***** A hipnose é um fenômeno psicossomático complexo que abrange tanto os elementos fisiológicos quanto os psicológicos, e a possibilidade quase ilimitada das experiências hipnóticas torna difícil definir o que é hipnose. O estado hipnótico é um estado plural e flutuante, por isso nenhuma conceituação é considerada completamente satisfatória a seu respeito. Pode variar na forma, desde o alerta obediente até a inconsciência aparente, e em graus de profundidade, de um estado de leve dissociação ao profundo transe sonambúlico. Os cientistas consideram todos os aspectos da hipnose controvertidos, e embora ainda não se saiba qual sua verdadeira natureza pois ainda estamos numa fase mais de descrição que de explicação já há atualmente um certo consenso sobre a existência de fatores paranormais (incluindo a existência casual de fenômenos de Percepção Extra-Sensorial P.E.S.) que eventualmente decorre do estado hipnótico per si, o que na verdade contribui para tornar mais difícil sua definição. A maior parte de nossa capacidade real, no estado de vigília, está abaixo do nosso real potencial, e a hipnose pode ser favorável à otimização desta capacidade. Uma das principais dificuldades acerca do problema da hipnose reside no fato de que não há hoje um critério objetivo, fisiológico, para o estado hipnótico como há, por exemplo, para o sono. Se a indefinição teórica da hipnose é evidente, isso não impede que a partir das observações práticas seu estudo não possa ser sistematizado. Alguns autores, levando em consideração a sintomatologia, reconhecem algumas características que permitem dividir o transe hipnótico em níveis diferenciados. Mas, a hipnose é um fenômeno que se explica e se produz, antes de tudo, em função do hipnotizado (a menos que possamos dispor de instrumentos sofisticados como um tomógrafo). Assim, só podemos basear-nos apenas em dados subjetivos: o sentimento que o indivíduo tem de se encontrar em um estado diferente de consciência, que se traduz em particular por modificações da atitude corporal (tônus muscular), das sensações de tempo e espaço [as experiências de hipermnêsia, catalepsia, etc. não são características unicamente do estado hipnótico]. Essas modificações podem assumir formas variadas; o importante é que se opera uma distorção em relação à atitude habitual do indivíduo. Ela é caracterizada por uma série de fenômenos psicológicos e fisiológicos, cuja extensão depende do indivíduo e do grau de aprofundamento do transe a que foi induzido; isso dependerá também das características orgânicas (transitórias e permanentes) de cada um, suas aprendizagens, pensamentos, apreensões e articulações obtidas durante sua vida. A rigor, o que se consegue sob hipnose também pode ser obtido sem ela, embora, em certos casos, muito dificilmente. Os processos mentais intrínsecos à hipnose, podem agrupar-se sob muitos registros. Do ponto de vista freudiano, podem considerar-se como manifestações do inconsciente e o estado hipnótico pode ser iniciado por privação senso-motora ideativa. Para Janet, tais processos seriam de origem no subconsciente. Para a Psicologia Experimental, situa-se na esfera do subliminar. Para a Reflexologia (de Pavlov), a hipnose é um estado de inibição difusa somativa cortical, com a preservação de um ponto vígil, etc. Voltaremos a esta
7 questão ao abordarmos as hipóteses e teorias acerca dos mecanismos hipnóticos, segundo as diferentes correntes médico-psicológicas. Para conceituarmos a hipnose, optei por dar-lhes uma visão geral das várias definições que historicamente esta arte vêm recebendo: 1) A Hipnose pode ser definida como uma interação na qual uma pessoa (designada como o sujeito ou sujet) responde a sugestões oferecidas por uma outra pessoa (designada hipnotizador ou hipnoista ) para experiências envolvendo alterações na percepção, memória e ação voluntária. Na hipnose, um sujeito anuente e cooperativo cede algum controle sobre seu comportamento para o hipnotizador e submete-se a alguma distorção da realidade. A hipnose é assim definida como um estado temporário de atenção modificada que se caracteriza por uma sugestionabilidade aumentada. Hipnose abrange qualquer procedimento que venha causar, por meio de sugestões, mudanças no estado físico e mental, podendo produzir alterações na percepção, nas sensações, no comportamento, nos sentimentos, nos pensamentos e na memória Sociedade Brasileira de Hipnose; 2) A hipnose é um estado induzido de hipersugestionabilidade*, ela é um estado de concentração incrementada, na qual as sugestões se realizam com uma potência muito maior do que é possível em condições normais. (*) Nota: Para o autor, o hipnotismo não é um estado de hipersugestionabilidade; no entanto um estado de exarcebada sugestionabilidade acha-se presente em pessoas que são mais facilmente hipnotizadas. Voltaremos a esse assunto mais adiante no Capítulo sobre Sugestão. 3) Hipnose é um estado de atenção focalizada e concentrada, obtida por meio da monotonia e limitação da atenção a estímulos isolados. Entrar em hipnose envolve tirar sua atenção da experiência externa e direcioná-la internamente. A pessoa hipnotizada está em uma profunda introspecção, com diminuição da consciência periférica. A British Medical Association, define hipnose como um temporário estado alterado de atenção do sujeito, que pode ser induzido por um operador, quando podem acontecer vários fenômenos, tanto espontâneos quanto como em resposta a estímulos verbais ou de outra natureza. Caracteriza-se por um estado manifestado por uma introjeção da mente, que facilita um aumento da criação imaginativa, privilegia o raciocínio indutivo sobre o dedutivo e reduz a necessidade do exame da realidade, fornecendo assim uma disposição mental em que algumas idéias podem ser recebidas e experimentadas de maneira tão real, que é possível revivê-las; um grau de sensibilidade e reação ampliadas, no qual as percepções internas adquirem a mesma importância que a realidade externa. Milton H. Erickson [que conheceremos melhor mais adiante] considera o estado hipnótico como um estado de atenção e receptividade intensificado e de aumentada reatividade a uma idéia ou série de idéias. Em síntese, hipnose é a inibição temporária do sensor crítico através do pensamento seletivo. 4) A hipnose utiliza a técnica de indução do transe, que é um estado de relaxamento* semiconsciente, mas com manutenção do contato sensorial do paciente com o ambiente. Nota: (*) O estado hipnótico não implica, necessariamente, na necessidade de se obter o relaxamento, fato notório na prática da hipnose de palco, e nas técnicas de indução por estímulos intensos.
8 5) O estado hipnótico é uma disposição da alteração da consciência provocada artificialmente, que geralmente (mas nem sempre) se parece com o sono, porém fisiologicamente dele se distingue (a pessoa não dorme na hipnose): o eletroencefalograma (EEG equipamento que monitora a atividade elétrica do cérebro no tempo por meio de eletrodos presos à superfície do couro cabeludo) do paciente sob hipnose é similar ao estado de vigília, e não ao de sono. O EEG do indivíduo hipnotizado costuma ter também traçados característicos, distintos do traçado comum do sono. A hipnose é um estado de vigília. Ela nada tem a ver com adormecer, afirma o fisiologista italiano Giancarlo Carli, que é considerado um dos maiores especialistas mundiais no assunto. Durante o sono, há ondas bastante típicas, que nunca aparecem nos hipnotizados; mesmo aqueles que chegam ao grau mais profundo da hipnose apresentam ondas cerebrais de quem está acordado, diz Carli. O aspecto essencial da Hipnose é a alteração da experiência subjetiva. Caracteriza-se pelo aparecimento espontâneo (ou em resposta a um estímulo verbal, ou a outro qualquer) de uma variedade de fenômenos que incluem: 1 - Alteração da atenção; 2 - Alteração da memória; 3 - Aumento da sugestionabilidade; 4 - Uma reação emocional intensificada; 5 - Alta concentração seletiva 6 - Produção de idéias e respostas diferentes daquelas do seu estado mental normal; 7 - Alterações motoras e sensoriais; 8 - Aumento da labilidade dos processos regulados pelo sistema nervoso autônomo. Hipnose é um estado alterado de consciência, ou é um estado de consciência no qual o conhecimento que você adquiriu durante toda sua vida e que você usa automaticamente torna-se, de repente, disponível. - Milton Erickson. 6) Ultimamente, a explicação mais importante sobre a hipnose como um estado de consciência alterado tem sido oferecido por Ernest Hilgard (1986, 1992). De acordo com Hilgard, a hipnose cria uma dissociação da consciência. Dissociação é uma divisão dos processos mentais em duas correntes simultâneas separadas da consciência. Em outras palavras, Hilgard teoriza que a hipnose divide a consciência em duas correntes: uma está em comunicação com o hipnotizador e o mundo externo, e a outra é um observador escondido difícil de detectar. Hilgard acredita que muitos efeitos hipnóticos são produto desta consciência dividida. Ele sugere, por exemplo, que o paciente hipnotizado pode parecer indiferente à dor porque a dor não é registrada na porção da consciência que se comunica com as outras pessoas. É um fenômeno subliminar ao estado da consciência experimental comum. ***** Os fenômenos hipnóticos não são limitados aos assim chamado estado de transe, mas pode aparecer também no estado pós-hipnótico (vigília comum), espontaneamente ou em decorrência de sugestões pós-hipnóticas. E é muito importante observar que toda hipnose no fundo é sempre auto-hipnose. O profissional assume o papel de agente ou instrutor para
9 ajudar ao paciente a conseguir obter este estado pela sua própria concentração; o hipnotizador é meramente o instrumento. Quando o estado hipnótico (também chamado de transe ) se instala, a sugestibilidade do paciente estará aumentada, e pode levar então a várias alterações da percepção sensorial, das funções intelectuais superiores, exacerbação da memória (hiperamnésia), da atenção e das funções motoras. A sensação que se tem sob o estado hipnótico muitas vezes assemelha-se à modorra, ou seja, ao breve momento que medeia entre o estado de vigília e o sono; esse breve momento seria artificialmente induzido e prolongado. A pessoa em transe hipnótico parece comportar-se como sonâmbula, mas ela está alerta, sobretudo está alerta às sugestões do hipnotizador, e algumas vezes é difícil definir o limite entre o estado de vigília e o hipnótico [basta lembrarmos os testes de sugestionabilidade. Um indivíduo que fica com as mãos grudadas após tal sugestão está em estado de vigília corrente ou hipnotizado? - ver Capítulo Hipnose de Exibição]. O paciente não perde os sentidos nem fica sem saber o que está acontecendo. Ele fica num estado de semiconsciência, entrando num relaxamento profundo. Está cientificamente demonstrado que a diferença de um indivíduo acordado para o indivíduo hipnotizado é de natureza quantitativa, não qualitativa, portanto uma diferença de grau, não de natureza. Sob o efeito do transe hipnótico as peculiaridades da personalidade humana não se modificam em sua essência, mas apenas aumentam ou diminuem. Prova disso é que cada pessoa reage à sua maneira, de acordo com sua própria dinâmica e estruturação psíquica. A hipnose não introduz mecanismos novos na psique, por isso é ela é um estado normal. Tudo parece indicar, entretanto, que não existe diferença substancial entre essas duas fases, a da indução e o estado hipnótico consumado. No estado hipnótico a pessoa tende a responder conforme os estímulos que o hipnotizador lhe der através das sugestões (ou dele mesmo, em se tratando de auto-hipnose). Quando a pessoa está sob hipnose, é possível exercer, pela sugestão, os mais amplos efeitos sobre quase todas as funções do sistema nervoso e, entre elas, sobre aquelas atividades cuja dependência com relação aos processos que ocorrem no cérebro é geralmente estimado como bastante reduzida. (Freud, Vol. I, pág. 149). Ainda nas palavras de Forel: Por meio da sugestão sob hipnose, é possível produzir, influenciar, impedir (inibir, modificar, paralisar ou estimular) todos os fenômenos subjetivos conhecidos da mente humana e uma grande parte das funções objetivamente conhecidas do sistema nervoso isto é, influenciar as funções sensitivas e motoras do corpo, determinados reflexos e processos vasomotores e, na esfera psíquica, influenciar sentimentos, instintos, memória, atividade volitiva e assim por diante (...). (idem, pág. 152 negrito nosso. Forel fala aqui de experiências com a indução de dermatoses, ou seja queimaduras psiquicamente induzidas, como bolhas de queimadura ao sugerir-se que a ponta de um lápis é um cigarro aceso). A Hipnose Clínica tem muito em comum com a meditação: Ambas necessitam de um ambiente favorável, um certo isolamento, uma posição adequada, uma técnica ou ritual de indução e uma certa disponibilidade pessoal para a introspecção (obviamente há
10 mecanismos distintos em se tratando da prática da hipnose de exibição pública). O que diferencia a hipnose da meditação (Yoga, Vizualização Criativa etc.) normalmente é o objetivo. Na hipnose, o estado de calma e harmonia física e mental que se atinge é um pano de fundo para potencializar a ação dos mais variados tratamentos seja para incrementar a autoconfiança, seja para aliviar dores crônicas. Quem medita, porém, busca o relaxamento profundo como um primeiro estágio para o desenvolvimento da espiritualidade. Há relatos de monges e praticantes de meditação que atingem um estado quase letárgico, com não mais que 30 batimentos cardíacos e duas a três respirações por minuto. O mesmo acontece na última das cinco etapas da hipnose, a sonambúlica: Aqui também é notável a diminuição da pressão arterial e do consumo de oxigênio. Atualmente, com outros nomes, há uma profusão de técnicas que, na realidade, são HIPNOSE: Controle Mental Silva, Parto Sem Dor, Regressão de Memória, etc. Vejamos algumas delas: REFLEXOLOGIA Corrente russa que utiliza a hipnose derivada dos conceitos de Pavlov (e, posteriormente de Skinner), sobre reflexos condicionados e condicionamento humano como forma de aprendizagem comportamental. Muitos dos seus conceitos vieram de pesquisa animal, o que a levou a ficar anacrônica, tendo em vista os conceitos modernos de comunicação humana, pensamento sistêmico e psicobiologia na atualização da hipnose. SOFROLOGIA No início dos anos sessenta surge no cenário mundial, da neuropsiquiatria, o colombiano Alfonso Caycedo. Em 1961, num congresso em Viena, com ajuda do seu chefe, Caycedo pediu para que fosse abolida a antiga terminologia e, principalmente, o vocábulo hipnose. Caycedo propôs esta palavra: do grego sos (harmonia), phren (espírito), logos (estudo): quer dizer o estudo da harmonização da consciência - baseado na filosofia de Heráclito que afirma a existência de um princípio racional que governa o universo. A Sofrologia abarca a hipnose mas têm suas próprias técnicas, conceitos e objetivos. O audacioso pesquisador, insaciável, querendo mais, mostrou ao mundo científico que a Sofrologia era, também, um movimento filosófico que pretende superar um tipo de medicina que só cuida de cada órgão, isoladamente, sem ter em vista a unidade física, mental e social do organismo. PROGRAMAÇÃO NEUROLINGUÍSTICA Desenvolvida após os estudos de Richard Bandler e John Grinder com Milton H. Erickson e apresentada como um modelo dos padrões usados por Virgínia Satir, Fritz Perls, Noam Chomsky, Gregory Bateson e Milton Erickson, propondo uma abordagem sensorial (neuro) e linguística como elementos de estudo da estrutura da experiência subjetiva. A perspectiva neurolinguística da hipnose trabalha com o pressuposto de que toda psicopatologia pressupõe comunicação interna ou externa insuficiente, ou seja, adoecemos mentalmente porque nos comunicamos mal conosco ou com os outros, e pela limitação imposta das escolhas (geralmente única). Esta comunicação pobre leva a padrões sensoriais codificados no cérebro em modalidades, metamodalidades e submodalidades
11 específicas dos distúrbios e, por outro lado, a padrões específicos da solução. Utiliza codificações de tempo subjetivo e também de níveis de segmentação (chunks) de aprendizagem chamados de neuro-lógicos. ***** Vamos encerrar este capítulo com algumas declarações: A Hipnose é um auxiliar terapêutico valioso e os que a empregam, devem conhecer os seus fenômenos complexos (...). Não se deve aprender apenas a técnica. Associação Médica Americana 18 de setembro de 1958 A Hipnose é útil e pode, em certos casos, ser o tratamento de escolha dos distúrbios psicossomáticos e das neuroses. Associação Médica Britânica 23 de abril de 1955 "Reconhece-se o valor da Hipnose como auxílio na pesquisa, diagnóstico e terapêuticas tanto em Psiquiatria, como em outras áreas da prática médica Associação Psiquiátrica Americana 15 de fevereiro de 1961 A Hipnose moderna é hoje o maior avanço da Psiquiatria. Atua no campo terapêutico, enquanto os estudos da bioquímica o são no estudo das etiologias. Organização Mundial da Saúde outubro de 1974 Menosprezar a importância de Hipnose, hoje em dia, representa, além de opor-se aos diversos relatórios elaborados por comissões especializadas no mundo inteiro, fechar os olhos aos recursos por ela oferecidos. Se existem (ou existiram) hipnólogos ou hipniatras malpreparados, também existem profissionais de baixa qualidade em quaisquer outras especialidades. É a partir da grande parte dos bens qualificados, porém, que as técnicas ganham cada vez mais adeptos. Revista Brasileira de Medicina julho de 1998.
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