A AGRADÁVEL SURPRESA DE BAUMGARTEN

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1 A AGRADÁVEL SURPRESA DE BAUMGARTEN Merece destaque o projeto do arquiteto berlinense Paul Baumgarten (figuras 77 a 80, pp.132 a 135) por reunir características claras do modernismo. Trata-se de um conjunto de sete unidades residenciais agrupadas em um edifício de dois pavimentos. Com nove metros de largura e 55 metros de extensão, a configurada lâmina tem estrutura independente da vedação, aberturas somente nas fachadas norte e sul e todos os apartamentos de tipo duplex e idênticos. Figura 77 Desenho do edifício projetado por Paul Baumgarten. Fonte: Interbau Berlin 57. Wiederaufbau Hansaviertel Berlin. Berlim: 1957, p.142. No térreo, uma área de uso coletivo fechada por vidros e elementos vazados (figuras 81 e 82, p.136), onde há, em uma extremidade, uma capela, na maior parte um salão comunitário com sanitários e, na outra extremidade, um apartamento especial com acesso direto pelo nível do passeio público provavelmente para uso de eventual zelador, ou opção para moradia de pessoas com necessidades físicas especiais e idosos, além de uma escada que acessa o subterrâneo onde há um pequeno depósito. 132

2 Figura 78: Foto da maquete do edifício de Paul Baumgarten. Fonte: 133

3 Figura 79 Planta dos apartamentos projetados por Paul Baumgarten. Primeiro e segundo pavimentos. Fonte: Interbau Berlin 57. Wiederaufbau Hansaviertel Berlin. Berlim: 1957, p

4 Figura 80 Planta baixa do edifício projetado por Paul Baumgarten. Fonte: Interbau Berlin 57. Wiederaufbau Hansaviertel Berlin. Berlim: 1957, p

5 Figura 81 Foto do edifício projetado por Paul Baumgarten. Fonte: Pedro Sória Castellano, Figura 82 Foto do edifício projetado por Paul Baumgarten. Fonte: Pedro Sória Castellano,

6 Ascendendo por uma outra escada, externa e descoberta, têm-se acesso ao primeiro pavimento, onde localizam-se as portas de entrada das unidades residenciais. Ao adentrar nos apartamentos, o usuário pode utilizar os três dormitórios sendo que dois deles juntam-se por meio de divisões retráteis, podendo vir a constituir um único cômodo mais amplo e confortável além de sanitário e closet. Uma outra escada, desta vez privada a cada unidade, leva o morador ao segundo pavimento onde estão cozinha, sala e terraço. O destaque deste projeto é a clareza do traço arquitetônico, cuja linearidade e horizontalidade garantem a origem modernista. Como arremate, a cobertura da cozinha no último pavimento, em laje inclinada, elimina quaisquer dúvidas sobre sua base conceitual, evidentemente moderna78. O fato do edifício apresentar uma inversão de usos, ou seja, a parte social e de serviços acima da área íntima da residência, deixa evidente que habitar o projeto de Baumgarten seria o papel de um novo homem, nascido dentro das teorias modernas, com novos costumes e nova maneira de ler e utilizar o espaço de uma unidade habitacional (figuras 83 e 84, pp.137 e 138). Figura 83 Foto do edifício projetado por Paul Baumgarten. Fonte: Pedro Sória Castellano, Interessante reparar que a obra de Paul Otto Baumgarten sofreu mudanças ao longo de sua carreira. O arquiteto alemão, ainda na década de vinte, assinara o projeto de algumas residências que em nada lembram a vertente modernista que instalou-se no bairro Hansa. Baumgarten também trabalhou no projeto para a reconstrução do Reichstag (1961 à 1964), o Parlamento alemão destruído durante a Segunda Guerra Mundial, onde claramente conservou linhas arquitetônicas tradicionais, ainda do século XIX. 137

7 Figura 84 Foto do edifício projetado por Paul Baumgarten. Fonte: Pedro Sória Castellano, * * * O novo bairro Hansa foi construído a partir dos projetos da Interbau e está conservado de maneira exemplar mesmo cinqüenta anos após sua idealização. A localização no tecido urbano da cidade de Berlim revela as diferenças conceituais que o compõem: o fato de estar entre o Tiergarten e o Rio Spree lhe confere um ar um tanto bucólico, como se o bairro Hansa tivesse, de alguma maneira, sido trazido de um outro local e enraizado naquele sítio, rodeado de árvores. De certo modo, esta também é uma característica do modo de ver a cidade dos modernos, cujo discurso universalista tinha como um dos pontos fundamentais a desvinculação da arquitetura com o lugar de sua implantação. Se esta desvinculação do território por um lado liberta esta arquitetura de certos materiais, volumetrias e tradições locais, por outro, atrai os olhos de quem percebe a cidade como uma somatória de períodos históricos. O Hansa tem seu período evidenciado no traçado de suas ruas, na implantação e na configuração dos edifícios que o 138

8 tornam diferente de qualquer outro ponto da cidade 79 e, como é próprio do modernismo, factível de repetição em qualquer outro local do planeta. O Hansa é, sobretudo, uma ilha de modernidade cercada de cidade por todos os lados, mais um caco da cidade-mosaico de Berlim (figura 85). Figura 85 Bairro Hansa: prédios no parque. Fonte: 79 Bárbara Freitag descreve assim o bairro Hansa: Mesmo que predomine o elemento da história em Berlim, houve períodos em que o planejamento urbano fez emergir novos bairros, verdadeiras cidades autônomas, integradas no corpo da cidade, que partiram da prancha de grandes urbanistas e arquitetos. FREITAG, Bárbara. Cidade dos Homens. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2002, p