EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA.ª VARA DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA EM MARÍLIA (SP)
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1 ANP Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL Procuradoria da República em Marília (SP) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA.ª VARA DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA EM MARÍLIA (SP) O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Procurador da República que esta subscreve, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, e a AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS (ANP), pessoa jurídica de direito público, entidade autárquica federal, com endereço na Avenida Rio Branco, n.º 65, 20. andar, CEP , no Rio de Janeiro (RJ), por meio do Procurador Federal que ao final também subscreve, vêm, perante Vossa Excelência, com fundamento nos arts. 127, caput, e 129, inciso III, ambos da Constituição Federal e nas Leis 7.347/85 e 8.078/90, propor a presente em face do AÇÃO CIVIL PÚBLICA AUTO POSTO SHELLI DE MARÍLIA LTDA., CNPJ n.º / , com sede na Avenida Sampaio Vidal, n.º 1.003, cujo responsável, Antônio Carlos do Nascimento, possui os seguintes endereços: Av. Bandeirantes, n.º 3591, CEP n.º , em Sorocaba (SP) e Rua Professora Ana R. J. M. Z. Oliveira, n.º 275, Fazenda Santa Maria, CEP n.º , em Votorantim (SP), pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir aduzidos.
2 2 DOS FATOS No dia 17 de março de 2004, Agentes da Polícia Federal, atendendo a requisição do Ministério Público Federal, procederam a colheita e análise preliminar de amostras de gasolina comercializada em postos de revenda de combustível localizados na cidade de Marília (SP), buscando averiguar a existência, nessa região, de comércio de combustível fora das especificações da ANP, visando também apurar responsabilidades e adotar eventuais medidas administrativas e judiciais pertinentes. Entre os postos investigados encontra-se o réu, onde foram colhidas seis amostras da gasolina contidas nos tanques n.ºs 02 e 04, os quais foram lacrados logo após ter sido constatada a adulteração do combustível (doc. 01). Das amostras colhidas, duas foram entregues ao representante da empresa para servir de contraprova (doc. 02) e as outras foram enviadas para o IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas para que fosse realizada perícia, custeada por meio de um convênio, firmado entre a citada instituição e a ANP. O resultado, devidamente certificado, dá conta que o réu comercializou combustível fora das especificações da ANP, em prejuízo da ordem econômica e dos consumidores, uma vez que nas amostras contendo os lacres n.ºs 849 e 845 foi detectada a presença de marcador, indicando a existência de adulteração pela adição de solvente (doc. 03). DO CABIMENTO DA PRESENTE AÇÃO Tendo em vista a adulteração já comprovada pelo laudo laboratorial inicial, mostra-se perfeitamente cabível a presente ação para fins de ressarcimento dos consumidores lesados com a conduta criminosa e desleal do representante do réu. De fato. A Lei n.º 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública) foi significativamente alterada pelos arts. 110 a 117 do Código de Defesa do Consumidor, o que demonstra a nítida intenção do legislador em eleger a ação civil pública como um dos típicos instrumentos de defesa do consumidor. Neste sentido a jurisprudência:
3 3 PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. INTERESSADOS NA DEMANDA LITISCONSORTES ATIVOS. INTERAÇÃO ENTRE OS SISTEMAS PROCESSUAIS DA LACP E CDC. 1. É adequada a ação civil pública aos fins de assegurar direitos e interesses ditos individuais homogêneos. 2. O advento do art. 21 da LACP, introduzido pelo art. 117 do CDC, estabeleceu a interação dos sistemas processuais previstos nos dois estatutos. 3. Face a essa interação, o art. 94 do CDC, que prevê a intervenção de interessados como litisconsortes ativos em ação coletivas propostas a fim de tutelar direitos individuais homogêneos, aplica-se não só às ações coletivas fundadas na defesa de direitos do consumidor, mas também a todas as hipóteses de ação civil pública. (TRF 4.ª Região, 4.ª turma, AG , Processo n.º /PR, DJU de 02/07/2003, Relator Juiz Amaury Chaves de Athayde) DA LEGITIMIDADE ATIVA Cumpre observar que os interesses defendidos na presente ação enquadram-se nos chamados interesses individuais homogêneos, ou seja, consumidores que, em razão da adulteração da qualidade dos combustíveis que adquiriram, viram-se privados da fruição a contento do produto (comprometida por essa adulteração), o que acabou por ocasionar consumo excessivo pelos veículos, problemas nos respectivos motores, dentre outros possíveis prejuízos, inclusive relativos à segurança pessoal dos consumidores (vale lembrar que combustíveis adulterados provocam problemas mecânicos que, não raro, podem ensejar acidentes). Tais interesses ditos individuais homogêneos (Lei 8.078/90, art. 81, III) se apresentam uniformizados pela origem comum e, a despeito de, na sua essência remanescerem individuais, podem e até devem ser tutelados, processualmente falando, de forma coletiva (arts. 91 a 100 do mesmo diploma legal). Esse é o entendimento da jurisprudência firmada no STJ: AÇÃO CIVIL PÚBLICA. INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. LEGITIMAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Tratando-se de tutela de interesses individuais homogêneos, o Ministério Público é parte legitima para
4 4 intentar a ação civil pública. Arts. 81, parágrafo único, III, combinado com o art. 82, I, do CDC. Art. 21 da Lei nº 7.347, de Recurso especial conhecido, em parte, e provido. (STJ, 4.ª Turma, RESP , Processo n.º /SP, DJ de 30/08/2004, pág. 292, Relator Barros Monteiro) Diante do quadro fático apresentado, a legitimidade do Ministério Público Federal para a propositura desta ação exsurge dos arts. 127 e 129 da Constituição Federal. Além disso, o Ministério Público Federal está legitimado a promover ação civil pública em defesa de direitos individuais homogêneos de consumidores, conforme disposições contidas no Código de Defesa do Consumidor (arts. 81, parágrafo único, inciso III, 82, inciso I e 91), Estatuto do Ministério Público da União (Lei Complementar n.º 75/93, arts. 5.º e 6.º), Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (Lei n.º 8.625/93, art. 25, inciso IV, alínea a) e Lei da Ação Civil Pública (Lei n.º 7.347/85, art. 1.º, inciso II, art. 5.º, inciso II). Já a ANP, conforme dispõe a Lei n.º 9.478/97, com a redação dada pela Lei n.º , de 13/01/2005, tem como finalidade promover a regulação, a contratação e a fiscalização das atividades econômicas integrantes da indústria do petróleo, do gás natural e dos biocombustíveis... com ênfase na garantia do suprimento de derivados de petróleo, gás natural e seus derivados, e de biocombustíveis, em todo o território nacional, e na proteção dos interesses dos consumidores quanto a preço, qualidade e oferta dos produtos (art. 8.º, inciso I grifei). Assim, resta clara a legitimidade ativa da ANP e do Ministério Público Federal. DA LEGITIMIDADE PASSIVA O posto de revenda qualificado inicialmente deve integrar o pólo passivo, pois consoante apuração levada a cabo no Inquérito policial n.º /2004 (doc. 04), comercializou combustível fora das especificações da ANP, malferindo, com tal conduta, direitos dos consumidores e princípios da ordem econômica.
5 5 Integrando, pois, o complexo de relações jurídicas materiais, deve ser sujeito passivo na presente ação. DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL EM MARÍLIA (SP) Os fatos que deram ensejo à presente ação encontram-se, sem sombra de dúvidas, no âmbito de competência da Justiça Federal, pois, envolvem interesses da União e de autarquia federal vinculada ao Ministério de Minas e Energia, à qual está afeta a atribuição de fiscalização do comércio de combustíveis a varejo e a proteção dos consumidores. Diante disso e do disposto na Lei Magna, exsurge cristalina a competência da Justiça Federal: Art Aos juízes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho; E, diante dos comandos normativos insculpidos no art. 2.º da Lei n.º 7.347/85 c.c. art. 93, inciso I, do Código de Defesa do Consumidor, temos que o r. Juízo Federal desta Subseção Judiciária revela-se como foro competente para a propositura da presente ação. DO DIREITO Elididas possíveis dúvidas quanto à legitimidade das partes, adequação da via eleita e competência, passemos à análise dos fatos e fundamentos jurídicos que embasam a presente ação. Primeiramente, mister relembrar que, segundo o Código de Defesa do Consumidor (art. 3.º), fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou
6 6 comercialização de produtos ou prestação de serviços e ( 1 ) produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. No conceito acima, podemos perfeitamente enquadrar o réu e o produto que comercializa. E, no do art. 2.º, qual seja, consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final, todos aqueles que abasteceram seus veículos no aludido posto. Diante dessas considerações, resulta patente o caráter de relação de consumo que envolve a comercialização a varejo dos combustíveis, a partir do que podemos passar a enfrentar a questão sob a ótica da legislação do consumidor. Pois bem. A Constituição Federal consagra a proteção ao consumidor em seus artigos 5.º, inciso XXXII e 170, inciso V: Art. 5.º... (...) XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;... Art A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...) V - defesa do consumidor; E para dar concreção à defesa do consumidor, foi editada a Lei n.º 8.078/90, Código de Defesa do Consumidor, que estabeleceu direitos e garantias protetivas ao hipossuficiente nas relações de consumo (art. 4.º, inciso I, do CDC). O Código de Defesa do Consumidor assegura proteção ao consumidor, considerando impróprios ao uso e consumo os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação, bem como os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam. (art. 18, 6.º, incisos II e III).
7 7 Já o art. 39 veda expressamente ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas, colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes. Também merece destaque a responsabilidade civil objetiva, segundo o qual o fornecedor de produtos responde, independentemente da existência de culpa, pelos danos causados aos consumidores, nos termos dos arts. 12 a 17, 18 e 23 do Código de Defesa do Consumidor. Diante dos dispositivos transcritos acima e dos laudos laboratoriais carreados aos autos a situação é cristalina: a comercialização de produtos adulterados gera, indiscutivelmente, direito à respectiva reparação dos danos, nos termos do art. 6.º, inciso VI do Código de Defesa do Consumidor. E não há qualquer dúvida de que, por força de disposição legal e por uma questão de justiça, todos os danos sofridos por cada consumidor que abasteceu no aludido posto (no período de comercialização do combustível adulterado) devem ser indenizados pelo réu, sejam esses danos correspondentes apenas ao valor do combustível e incluindo até dispêndios com consertos dos veículos, necessários em razão do uso da gasolina adulterada, desde que o consumidor comprove nos autos essa relação de causa e efeito. Deixar de reconhecer e fazer valer essa responsabilidade seria desconsiderar toda a normatização de proteção à ordem econômica e sobretudo ao consumidor, consagrada pela Constituição Federal. DO PEDIDO Face a todo o exposto, os autores requerem: 1) a citação do réu para, querendo, contestar a presente ação, sob pena de se lhe aplicar os efeitos da revelia; 2) a condenação do réu a reembolsar 100% (cem por cento) do valor gasto pelo consumidor na aquisição de gasolina, o que deverá ser comprovado pela apresentação de nota fiscal ou outro documento idôneo e, ainda, à reparação de todos os danos causados nos seus veículos, em razão da não conformidade já demonstrada da gasolina comercializada pelo réu, também comprovados por documentos hábeis, nos dias 15, 16 e 17 de março de 2004, período compreendido entre a data da última aquisição de gasolina, consoante
8 8 Nota Fiscal expedida pela distribuidora (doc. 05), até a data da lacração, o que pode ser aferido pela análise dos registros levados a efeito no Livro de Movimentação de Combustíveis (LMC), de controle diário e obrigatório do estoque inicial, entradas (aquisição de combustível), saídas (com identificação das bombas e quantidade de combustível comercializada em cada uma) e estoque final; 3) e, caso nenhum consumidor se habilite durante a execução da sentença de procedência, que o réu seja condenado a recolher, em favor do PROCON de Marília e a título de indenização pelos danos causados, o valor constante da nota fiscal referente à última aquisição de combustível antes da lacração do posto de revenda (doc. 05). Por fim, protesta-se pela produção de todos os meios de prova legalmente permitidos. Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais). Termos em que, pede deferimento. Marília, 30 de agosto de JEFFERSON APARECIDO DIAS Procurador da República MARCELO DE AQUINO MENDONÇA Procurador Federal/ANP
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