PRECARIZACÃO DO TRABALHO E SAÚDE DAS MULHERES NO CONTEXTO DE POLÍTICAS DE AJUSTE NEOLIBERAL
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- Antônia Cesário de Escobar
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1 PRECARIZACÃO DO TRABALHO E SAÚDE DAS MULHERES NO CONTEXTO DE POLÍTICAS DE AJUSTE NEOLIBERAL Marina Figueiredo Assunção (UFPE ) marimariassncao@hotmail.com Poliana Figueirôa de Albuquerque Santos (FUNESO) poliiisss@hotmail.com PROBLEMÁTICA Este artigo propõe-se a trabalhar a relação entre precarização do trabalho das mulheres e os respectivos rebatimentos na saúde das mesmas, em especial, no período de pós reestruturação produtiva, de crise do capital e tempos do modelo de acumulação flexível e neoliberalismo. Para isto, faz-se necessário elucidar as recentes tendências do trabalho feminino e problematizar a funcionalidade da ampliação da inserção das mulheres no mercado de trabalho formal ou informal, nas últimas décadas, para o capital. Haja vista, que tal ampliação ocorre nos espaços mais precários e vulneráveis. Deixando assim evidente, que tais mudanças, ao contrário do que veicula-se, não representa a emancipação das mulheres e nem a igualdade de direitos entre os sexos, mas na verdade configura-se como uma ferramenta para ampliação dos lucros do capital, através da precarizacao do trabalho feminino. É justamente sobre este lugar de precariedade, o qual é ocupado por rostos femininos, na divisão sexual do trabalho que buscaremos visibilizar e problematizar sob o âmbito da saúde das trabalhadoras. Além dos rebatimentos decorrentes da (super)exploração do trabalho feminino, a saúde das mulheres ainda afetadas pela precariedade das políticas sociais (desprotecao social, negação do direito a saúde, entre outras). DESENVOLVIMENTO Reestruturação produtiva, acumulação flexível e neoliberalismo
2 Pensar a saúde das mulheres na atualidade implica desvendar o contexto de precarizacao do trabalho por meio de políticas de ajuste neoliberais, ou seja sinalizar algumas dimensões estruturais e conjunturais da atual sociabilidade do capital. Sociabilidade esta, que estrutura-se também sobre o sistema patriarcal racista. Tal contextualização necessita ser feita sem perder de vista a localização deste grupo heterogêneo mulheres, na divisão sexual da precariedade, na qual as mesmas situamse no lugar de desvantagem. E assim, evidenciar as marcas nos corpos e mentes/na vida/na saúde destas decorrentes desta sociabilidade, na atual conjuntura. A relação entre precarizacao do trabalho e a saúde das mulheres será estabelecida no contexto pós processo de reestruturação produtiva, período compreendido a partir da crise do taylorismo/ fordismo, ou seja, no decorrer da acumulação flexível e neoliberalismo. O cenário de precarizacao do trabalho, compõe o projeto Neoliberal imposto no mundo inteiro pelo capitalismo globalizado. Projeto este, que emerge na década de 70, como alternativa a crise do capital. Mas que no Brasil, ganha forca na década de 90. Sendo assim, no contexto de crise, estrutura-se o modelo de acumulação flexível, o qual conforme Netto (1996, p. 92) caracteriza-se pela financeirizacão do capital, reestruturação do mercado de trabalho, agudizacão da exploração sobre as mulheres, complexificacão da estrutura de classes, entre outras. Deste modo, o referido modelo acarreta mudanças no âmbito social, cultural e da política. Nesse sentido, Mota ( ano, p.) chama atenção para o impacto da crise sobre a classe trabalhadora via intensificação da submissão. Visto que as transformações incidem nas relações sociais e modificam a intervenção do Estado, modifica assim, a relação entre Estado, sociedade e mercado. E por sua vez, rebate desigualmente sobre as diferentes classes e os diferentes grupos sociais, entre eles o dos homens e das mulheres entre os grupos em si mesmo. Rebatimentos da feminizacão e precarizacao do trabalho na saúde das mulheres A ampliação da inserção das mulheres no mercado de trabalho, data de meados de 70, no Brasil. E os fatores que justificam este fenômeno, são vários, segundo Soares
3 (2010): mudanças no padrão de comportamento, nos arranjos familiares, queda na taxa de fecundidade, aumento da escolaridade e, principalmente, o processo de reestruturação produtiva do capitalismo. Tal processo conforme Mazzei (2004), de mundializacao do capital incidiu desigualmente entre os sexos de modo que o emprego masculino, houve uma estagnação e/ou até mesmo uma regressão, já o emprego e o trabalho feminino remunerado cresceram. Mas salienta, a referida autora, que apesar desta ampliação, os empregos mais precários e vulneráveis são os que predominam com as mulheres. Nesse sentido, cabe destacar, algumas tendências mundiais recentes do trabalho feminino, apontadas por diferentes autores, mas sistematizadas por Brito (2000), quais sejam: a incorporação de elevada proporção de, mulheres em processos produtivos instalados, por empresas multinacionais, em qualquer lugar do planeta onde o custo de produção seja, menor e sua conseqüente proletarização (Benería,1994); a tendência de acirramento da diversidade e heterogeneidade das situações de trabalho dos homens e mulheres tanto em países do Sul como do Norte (Hirata, 1997), o aumento crescente do trabalho feminino e a maior vulnerabilidade das trabalhadoras frente à precarização do trabalho (Armstrong, 1995; Antunes, 1997; Hirata, 1997), processo que se reflete seja no aumento do setor informal seja nas modalidades de emprego baseadas em contratos temporários ou em outros regimes atípicos. que irão demonstrar exploração desta forca de trabalho. Tais tendências refletem o processo de reestruturação produtiva como também as mutações no mundo do trabalho. No Brasil, esta tendência pode ser visualizada por meio do crescimento da população economicamente ativa feminina (PEA), 111,5% de aumento, aumento esse muito mais acentuado que o masculino. Tais dados demonstram considerável salto na participação de mulheres em relação aos trabalhadores, de 31,3%, em 1981, para 40,6%, em (MAZZEI, 2000). Além de demonstrar o aumento na inserção das mulheres, é necessário observar as condições em que esta se deu, majoritariamente no setor terciário, incluindo o trabalho doméstico sob condições precárias (flexibilidade dos direitos trabalhistas, amplas jornadas de trabalho, trabalho parcial, contratos temporários, entre outras).
4 Sobretudo outro importante aspecto elucidado por Soares (2010) refere-se a acumulação de jornadas, ou seja a duplicação das jornadas de trabalho. Posto que apesar da entrada das mulheres no mercado de trabalho, dito produtivo, as mesmas permanecem com a obrigação com o trabalho doméstico, dito improdutivo. Esta duplicação, super exploração do trabalho feminino coloca-se como fator determinante para o adoecimento das mesmas. Somada a duplicidade do trabalho ainda podemos sinalizar outros aspectos, que também são fortalecidos neste contexto de precarizacao e que contribuem significativamente para o adoecimento ou mesmo morte das mulheres. Entre estes ganham destaque o assédio moral no trabalho, a violência doméstica e sexista. que neste contexto também incidem como forma de submissão. Aqui destacamos diferentes aspectos, por considerar a multiplicidade de fatores que interferem na saúde, ou seja comungamos da concepção ampla de saúde. Concepção essa que incorpora os condicionantes e determinantes sociais como estruturantes para entendimento do processo de saúde- doença. Vale destacar o artigo 3 da Constituição. A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do País. Ao compreender o trabalho como fator determinante para a saúde. Podemos correlacionar as múltiplas interferências deste sobre a saúde das mulheres. Mulheres que adoecem e morrem em decorrência da exploração e exaustão da forca de trabalho. Nesse sentido pode-se dizer também que a saúde é resultante de relações sociais, de classe e de sexo. Sendo assim, fica nítido os danos deste contexto de superexploracao da forca de trabalho feminina na vida das mulheres. Estes traduzem-se em maior prevalência de doenças crônicas, como: as lombalgias, doenças causadas pela sobrecarga da coluna vertebral, comuns nos chamados serviços gerais das empresas e no trabalho domestico ; as LER/DORT (lesões por esforço repetitivo), típicas de atividades como escrever e digitar (setor administrativo), costura e montagem com peças pequenas (setor
5 industrial); e das doenças relacionadas a área psíquica como o estresse, a depressão, as fobias e os diversos transtornos de ansiedade, atribuídos em parte pelo fato das mulheres serem as maiores vitimas de assedio moral e sexual nas empresas (SOARES, 2010), assim como da violência doméstica e sexista. Somada a exploração do trabalho, via precarizacao, o sucateamento das políticas de saúde parte da proposta neoliberal também incide negativamente sobre a saúde das mulheres. Além das questões gerais relativas ao caráter focalizado e pontual que a política de saúde assume na era neoliberal, que se expressa quando o acesso é negado, nas filas de espera, insuficiência do quadro de profissionais, falta de estrutura física e insumos, entre outras. Também possuem as questões mais especificas, ou seja, que se refere especialmente a saúde das mulheres, a Política de Atencao Integral a Saúde das Mulheres (PAISM). Tal política é fruto dos esforços do movimento de mulheres e feminista para elaboração de um política que contemplasse a mulher na sua totalidade, mas que no real o que concretiza-se desta, e muito mal, é o que relativo a saúde reprodutiva. Ou seja política permanece (re)afirmando apenas a mulher na saúde reprodutiva, naturalização e valorização da maternidade (papeis de gênero). Deste modo, a flexibilidade das relações de trabalho que indicam as condições também precárias de vida (habitação, alimentação,) somada (aos papéis de gênero) a responsabilidade com tarefas domésticas e cuidados com marido e filhos e ao sucateamento das políticas sociais, não garante tempo livre e condições básicas para o cuidado com a sua saúde. CONCLUSÕES Neste artigo procura-se elucidar alguns elementos que contribuem para a reflexão acerca dos rebatimentos das políticas de ajuste Neoliberais, via precarizacao do trabalho, na saúde da mulher. Tal trabalho analisa a contradição no que concerne a expansão da inserção das mulheres no mercado de trabalho a partir das condições sob as quais vem se dando essa inserção na contemporaneidade.
6 Olhar para as refrações da precarizacao sobre a saúde das mulheres, significa identificar as marcas deixadas pela superexploracao do trabalho sobre a vida das mulheres/trabalhadoras. Marcas estas que revelam-se nos índices de morbimortalidade cujas causas em sua maioria são evitáveis (complicações no parto, aborto provocado, câncer de mama e colo, mioma uterino, entre outras). Sendo assim, evidencia-se que a articulação das dimensões desigualdade de classe, racismo e gênero por meio da divisão sexual do trabalho - são estruturantes da desigualdade na vida social e também no mundo do trabalho. (Betânia Ávila) O retrato da saúde das mulheres é reflexo, da exploração pelo trabalho (produtivo e improdutivo), assédio moral, violência doméstica e sexista, entre outras. Ou seja, é reflexo de uma sociedade machista, patriarcal, racista e capitalista. Com o exposto pode-se confirmar que o processo de feminizacao do trabalho é muito mais uma alternativa do capital para aumentar seus lucros, através do uso da opressão das mulheres para justificar salários mais baixos, jornadas mais extensas, direitos fragilizados, entre outros, do que propriamente uma conquista de direitos ou equiparação de direitos ou muito menos a emancipação das mulheres.. REFERÊNCIAS ÁVILA, Maria Betânia; PRADO, Milena; SOUZA, Tereza; et al. Reflexões feministas sobre informalidade e trabalho doméstico. SOS Corpo. Recife, BRITO, Jussara Cruz. Enfoque de gênero e relação saúde/trabalho no contexto de reestruturação produtiva e precarização do trabalho. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 16(1): , jan-mar, DANTAS, Gilson. A saúde da mulher no contexto da decadência do SUS e da degradação da qualidade social de vida da mulher trabalhadora. LER/QI, Disponível em: MOTA, Ana Elizabete. Crise contemporânea e as transformações na produção capitalista.
7 MAZZEI, Cláudia Nogueira. Feminizacão do trabalho:entre a emancipação e a precarizacao. Editora Autores Associados, São Paulo, Brasil, 2004 NETTO, José Paulo. Transformações societárias e Serviço Social. Revista Serviço Social e Sociedade, n 50/abril, SOARES, Angela. Trabalho, saúde e gênero. Secretaria de saúde do PSTU. Disponível em: Acesso em 10/09/2011, as 19:11h.
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