AVALIAÇÃO DE CARACTERÍSTICAS TECNOLÓGICAS DE CULTIVARES CRIOULAS DE TOMATES CONDUZIDOS SOB SISTEMA AGROECOLÓGICO NA REGIÃO DO VALE DO JAGUARI, RS

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1 AVALIAÇÃO DE CARACTERÍSTICAS TECNOLÓGICAS DE CULTIVARES CRIOULAS DE TOMATES CONDUZIDOS SOB SISTEMA AGROECOLÓGICO NA REGIÃO DO VALE DO JAGUARI, RS N.M Morais 1, T.P. Sabadi 2, M.H. Mucha 3 1- Curso de Tecnologia em Agroindústria Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha Câmpus Alegrete CEP: Alegrete RS Brasil, Telefone: 55 (55) (narielen.morais@iffarroupilha.edu.br) 2- Curso de Licenciatura em Biologia Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha Câmpus São Vicente do Sul CEP: São Vicente do Sul RS Brasil, Telefone: 55 (55) (tatianapsabadi173@gmail.com) 3 Núcleo de Estudos em Agroecologia Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha Câmpus Jaguari CEP: Jaguari RS Brasil, Telefone: 55 (55) (miguel.mucha@iffarroupilha.edu.br) RESUMO O objetivo deste trabalho é apresentar o resgate de variedades crioulas de tomate, que, além de sua importância socioambiental, apresentam características de qualidade tecnológica interessantes para o processamento e pós colheita. Foram selecionadas 12 cultivares crioulas para compor o experimento que foi conduzido em casa de vegetação, sob modelo estatístico de blocos casualizados, com seis repetições, durante o ano de Após a colheita foram avaliadas quanto a massa fresca de frutos por planta e teor de sólidos solúveis ( Brix). Os dados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e teste de comparação de médias (Tukey, 5%). Foi observada diferença significativa entre as cultivares para as características estudadas. Destacaram-se as variedades: Silvestre Brasileiro pelo teor de sólidos solúveis de 7,5; e a variedade Azoychka pelo maior rendimento de massa de fruto fresco. Sugere-se que a agrobiodiversidade do tomate pode contribuir para sistemas de produção equilibrados e direcionados para o processamento. ABSTRACT The aim of this paper is to present the rescue of local varieties of tomatoes, which, in addition to its social and environmental importance, present interesting technological quality characteristics for processing and post harvest. They selected 12 land varieties to compose the experiment was conducted in a greenhouse, in statistical model of random blocks with six replications during 2015 season. After harvesting were evaluated for fresh weight of fruits per plant and soluble solids ( Brix). Data were submitted to analysis of variance (ANOVA) and mean comparison test (Tukey 5% ). Significant difference between cultivars for the studied characteristics. They were highlighted two varieties: Silvestre Brasileiro the soluble solids content of 7,5; and the variety Azoychka the largest mass yield of fresh fruit. It is suggested that agrobiodiversity tomato can contribute to balanced production systems and targeted for processing. PALAVRAS-CHAVE: Lycopersicum esculentum, agrobiodiversidade, variedades locais, agroecologia, processamento vegetal KEYWORDS: Lycopersicum esculentum, agrobiodiversity, local varieties, agroecology, vegetable processing.

2 1. INTRODUÇÃO O tomate (Lycopersicum esculentum Mill.) pertence à família das Solanáceas, teve origem na América Central (região Andina), mas foi domesticado no México e introduzido na Europa em Posteriormente foi disseminado para a Ásia, África e Oriente Médio, até chegar a América do Sul. Atualmente é uma das hortaliças mais cultivadas no mundo, tendo grande importância econômica e podendo ser uma alternativa de renda para pequenos agricultores e agricultores familiares (RICHTER, et.al 2012). Possui alto teor nutricional, é rico em minerais como Ferro e Fósforo, vitaminas do tipo B e C e aminoácidos. Seu consumo pode ser in natura, ou através de processados a partir da polpa como o extrato, o purê, o catchup, os molhos para massas, sucos e até doces (FERNANDES; CARDOSO; MARTINELLI, 2003). O Brasil não só é um grande consumidor de tomate, mas também é um eficiente produtor desta hortaliça. No cenário de tomates para processamento, é o 5º maior produtor mundial. E no segmento de tomate de mesa também se destaca tanto pelo volume produzido como pelas tecnologias disponíveis e adotadas para a produção (CLEMENTE, 2010). Entretanto, o modelo de produção agrícola brasileiro atual possui do ponto de vista tecnológico, três pilares fundamentais: a agroquímica, a mecanização e a manipulação genética. Este se mostra cada vez mais incompatível com a realidade das pequenas propriedades agrícolas e da Agricultura Familiar. Os reflexos negativos deste modelo de agricultura convencional são os altos níveis de degradação ambiental, contaminação das águas, solos e alimentos por agrotóxicos, além da crescente exclusão social, o que gera problemas de ordem social nos grandes centros urbanos (RICHTER, et.al 2012). Deste modo, sugere-se que os sistemas agrícolas de base ecológica surgem como alternativas às propriedades familiares de produção de alimentos, tendo por base a maior qualidade de vida para os trabalhadores e a qualidade dos alimentos produzidos. Porém, o cultivo do tomateiro em sistemas de produção alternativos ao modelo convencional tem sido um grande desafio para pesquisadores, técnicos e agricultores. Sendo um dos grandes desafios a ser superado a necessidade de identificar cultivares que atendam aos requisitos da produtividade, qualidade e rentabilidade. De acordo com a CEAGESP (2006), a classificação do tomate deve ser feita de forma que se consiga a homogeneidade de formato, cor e classe e a caracterização da qualidade. Sendo assim, faz-se necessário identificar e caracterizar as cultivares locais quanto ao seu desempenho agronômico e padrões de qualidade tecnológica. 2. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado na área de produção vegetal do Instituto Federal Farroupilha Câmpus Jaguari, no município de Jaguari, RS. Neste Câmpus é sediado o Núcleo de Estudos em Agroecologia do IF Farroupilha, que conduz desde 2014 o projeto Casa das Sementes Crioulas do Vale do Jaguari, que têm por objetivo fazer o resgate de variedades locais de espécies destinadas à alimentação humana. Dentre as espécies que compõem a coleção, encontram-se algumas variedades de tomates de onde foram selecionadas 12 para a realização deste estudo. A escolha das cultivares considerou as características morfológicas dos frutos, de modo a contemplarem fatores de classificação quanto: (a) Grupo (formatos: I, II, III, IV e V); (b) Cor (vermelho, rosado, laranja e amarelo; subgrupos: I pintado, II colorido, III - maduro); Classes (0, 40, 50, 60, 70, 80, 90 e 100). As cultivares selecionadas estão ilustradas com conforme apresentados na figura 01. Para a produção de mudas foi utilizado composto orgânico acondicionado em bandeja de 200 células, onde foi realizada a semeadura. Após as mudas atingirem cerca de 20 cm foram transplantadas para o canteiro definitivo dentro da casa de vegetação, onde as plantas foram tutoradas e conduzidas sob sistema de amarrio. O período de colheita foi de 05/10/2015 a 30/10/2015. Após a colheita os

3 frutos foram avaliados quanto ao rendimento de massa fresca de frutos por planta e teor de sólidos solúveis. Para a avaliação de rendimento de massa fresca de frutos por planta foi utilizando balança de precisão, e determinado o teor de sólidos solúveis com uso de refratômetro de bancada. Os dados coletados foram submetidos à análise de variância (Anova) e posterior teste de comparação de médias (Tukey) ao nível de 5% de probabilidade. Para a análise estatística foi utilizado o programa GENES (2007). Figura 1 Frutos das cultivares de tomate crioulo avaliados neste estudo: (A)Tomate Silvestre Brasileiro;(B) Tomate Bianca;(C) Tomate Shashas Altai; (D) Tomate Striped Romam; (E)Tomate Indigo Rose; (F) Tomate Orange Enjoyment; (G) Tomate Azoychka; (H) Tomate para viagem; (I) Tomate Vizinho do Ruppenthal; (J)Tomate Striped Stuffer; (K) Tomate Black Plum; (L)Tomate Principe Borguese. Fonte: Projeto Casa das Sementes Crioulas do Vale do Jaguari (2015). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com os resultados apresentados na Tabela 01, os valores de sólidos solúveis apresentados foram considerados normais para as cultivares Shashas Altai, Striped Romam, Indigo Rose, Orange Enjoyment, Azoychka, para viagem e Vizinho do Ruppenthal, com valores que oscilaram de 4 a 5,5. Giordano & Ribeiro (2000) afirmam que os teores de sólidos solúveis de algumas cultivares de tomate para o processamento industrial variam de 4,4 a 6,0%, com média igual a 4,5%. Os valores de sólidos solúveis estiveram acima da faixa observada por outros autores, que é de 4 e 5,19% (SAMPAIO, 1996; FONTES et al., 2000; SAMPAIO & FONTES, 2000). Os menores valores obtidos foram para os tomates Striped Stuffer, Black Plum e Princípe Borguese, com valores de 3,5, 3,2 e 2,5, respectivamente. Resultados superiores para sólidos solúveis foram encontrados nas cultivares Silvestre Brasileiro (7,5) e Bianca (6,0). Estas duas variedades são do tipo cereja que é considerado como uma hortaliça exótica e pertence a um novo grupo de cultivares para mesa, tendo recentemente crescido em importância nos mercados das grandes cidades (final da década de 90). Apresentam alto valor comercial e ampla aceitação pelos consumidores, sendo associado ao sabor adocicado, tamanho

4 reduzido, pouca acidez. Tomates cerejas são, usualmente, incorporados em cardápios de restaurantes por serem pequenos e delicados, trazendo novos sabores e enfeites aos pratos e aperitivos, com vantagem de ter tamanho reduzido, evitando o desperdício (MACHADO et al., 2003). Ainda contêm propriedades fitoquimicas, sendo a atividade antioxidante uma das mais destacadas (LEONARDI et al., 2000; LENUCCI et al., 2006). Tabela 01 - Média do teor de sólidos solúveis ( Brix) e massa fresca de frutos por planta por colheita (MFF, gramas) de cultivares crioulas de tomate avaliadas em cultivo de safra 2015 em Jaguari, RS Cultivar --- BRIX MFF--- Tomate Silvestre Brasileiro 7.5 a * 48,00 c Tomate Bianca 6 b c Tomate Shashas Altai 5.5 c c Tomate Striped Romam 5 d c Tomate Indigo Rose 5 d bc Tomate Orange Enjoyment 4.2 e c Tomate Azoychka 4 f a Tomate para viagem 4 f bc Tomate Vizinho do Ruppenthal 4 f bc Tomate Striped Stuffer 3.5 g ab Tomate Black Plum 3.2 h c Tomate Princípe Borguese 2.5 i bc CV (%) 8,5 16,9 Em relação ao rendimento de massa fresca de frutos por planta,as cultivares se comportaram estatisticamente de forma diferenciada. Destacaram-se as variedades Azoychka, Indigo Rose, Striped Stuffer, Tomate para viagem e Vizinho do Ruppenthal. Tais valores se assemelham aos encontrados por Sento-Sé et al. (2014). 4. CONCLUSÕES Os teores de sólidos solúveis (ºBrix) encontrados (5,0 a 7,5%) superaram o valor médio do tomate para o processamento industrial (4,5%). Os frutos de tomate cereja das variedades Silvestre Brasileiro e Bianca são mais doces, podendo ser indicados tanto para o consumo in natura quanto para o processamento industrial, com vantagem de apresentar maior rendimento e menor gasto de energia no processo de concentração da polpa. Considerando que outros fatores ambientais como a luminosidade, densidade de plantas, irrigação e tratamento nutricional podem interferir nestas características, sugere-se a repetição deste experimento para avaliação dos parâmetros sob diferentes condições de manejo.

5 5. AGRADECIMENTOS Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela concessão de bolsas. Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CEAGESP Centro de Qualidade em Horticultura(2006). Classificação do tomate. São Paulo ABH. Disponível em: Clemente, F.M.V.T (2010). Árvore do conhecimento do tomate. Brasília: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Embrapa Hortaliças. Disponível em: 8e.html Fernandes, O. A., Cardoso, A. M., Martinelli, S.(2003). Manejo integrado de pragas do tomate. Jaboticabal, FUNEP. Fontes, P.C.R., Sampaio, R.A., Finger, F.L. (2000). Fruit size, mineral composition and quality of trickleirrigated tomatoes as affected by potassium rates. Pesquisa Agropecuária Brasileira, 35, Giordano, L. B., Ribeiro, C. S. Origem botânica e composição química do fruto. Tomate para o processamento industrial. Brasília DF. Embrapa Hortaliças. Lenucci, M., Canudi, D., Taurino, M. Piro, G., Dalessandro, G. (2006). Antioxidant composition in cherry and high-pigment tomato cultivars. Journal of Agricultural and Food Chemistry, 54, Leonardi, C., Ambrosino, P., Esposito, F. & Fogliano, V. (2000). Antioxidative activity and carotenoid and tomatine contentes in diferente typologies of fresh consumption tomatoes. Journal of Agricultural and Food Chemistry, 48 (10), Machado, S.S.., Costa, R.B., Freitas, S.M., Moura, A.C. (2006). Características de sabor de diferentes cultivares de tomate. In XIV Encontro Nacional de analista de alimentos, Goiânia, Brasil. Richter, A.S., Monteiro, D.V.P., Araújo, J.L., Calandrelli, L.L., Correia, M.A, & Zamoner, N. (2012). Produção de tomate orgânico em cultivo protegido. Paraná, CRPA. Sampaio, R.A.; Fontes, P.C.R. (2000). Composição química e qualidade de frutos do tomateiro em função da adubação potássica. Ciência Agrícola, 5, Sampaio, R.A. (1996). Produção, qualidade dos frutos e teores de nutrientes no solo e no pecíolo do tomateiro em função da fertirrigação potássica e da cobertura plástica no solo.(tese de doutorado). Universidade Federal de Viçosa, Viçosa. Sento-Sé, G.V.T., Gomes, A.S., Gonçalves F.M., Silva M.C., Costa, N.D., Yuri, J.E., Resende, G.M. (2014). Desempenho de cultivares de mini tomate em condições de verão do Submédio do Vale do São Francisco. Horticultura Brasileira, 31, S1017 S1022.