Produção de leite de cabra a pasto
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1 Produção de leite de cabra a pasto Mauro Sartori Bueno Zootecnista, MS., Dr., Pesquisador Científico III Centro de Nutrição e Alimentação Animal, Instituto de Zootecnia Rua Heitor Penteado, 56, C.P. 60, CEP , Nova Odessa, SP. Introdução Cabras leiteiras podem ter acesso a pastagens para facilitar o manejo e diminuir os custos de produção. Pastagens para cabras devem ser de boa qualidade com gramíneas de alta produção e leguminosas que persistam na área. Caprinos se alimentam seletivamente e caminham muito pela pastagem em busca das partes mais nutritivas das forrageiras. Seu pequeno tamanho, a cabeça pequena, boca com lábios móveis e ágeis favorece a escolha de partes mais ricas dos vegetais como folhas e brotos e leva a ingestão de alimento com maior teor de conteúdo celular e menor de parede celular (Van Soest, 1987). Maior produção de leite pode ser conseguida através da utilização de pastagens com grande disponibilidade de forragem e permitir aos animais realizarem a seleção eficiente do alimento ingerido, o que favorece o consumo de dieta com qualidade nutritiva mais elevada. Em condição de disponibilidade limitada de forragem, a seleção será menos eficiente, a dieta dos animais será de menor valor nutritivo, ocasionando diminuição da produção de leite. Caprinos consomem bem as gramíneas e tem grande preferência por plantas de folha larga (dicotiledôneas), sendo indicada a consorciação de gramíneas com leguminosas forrageiras. Leguminosas apresentam teor mais elevado de proteína bruta e cálcio, menor teor de parede celular e maior digestibilidade; sua ingestão leva a aumento da concentração de nutrientes disponíveis para a produção de leite. O conforto térmico dos animais é fundamental para se conseguir elevado consumo de alimento e alta produção de leite, portanto abrigos e sombra devem ser estar sempre disponíveis. Cabras leiteiras são sensíveis a parasitismo por helmintos gastrointestinais provenientes de larvas infectantes nas pastagens. A diminuição das larvas nas pastagens através de rodízio dos animais pelos piquetes e descanso desses por determinado período é essencial para o sucesso da exploração. A restrição do horário de pastejo pode ser utilizada como pratica complementar para ajudar a diminuir a infestação parasitária dos animais.
2 Produção de leite de cabras em pastejo A produção de leite em cabras alimentadas exclusivamente com volumoso de boa qualidade em pastagem pode ser de 2,0 a 3,0 l/dia, sendo que a presença de leguminosa na área permite aumentar a concentração de proteína e cálcio da dieta. Animais de maior produção diária necessitam ser suplementados com concentrado para aumentar a concentração energética da dieta e atingir seu requerimento nutricional (National Research Council, 1981). Espécies forrageiras As espécies forrageiras adequadas aos caprinos são aquelas de porte médio-baixo (0,6 a 1m de altura), com bom valor nutritivo e elevada produção de matéria seca (MS) por área. Para as condições de São Paulo, recomenda-se, principalmente, as gramíneas do gênero Cynodon e Panicum, podendo ser usado também, o capim pangola e pangolão (Transvala) (Digitária decumbens Stent.) e leguminosas como Soja perene (Neonotonia wightii), Macrotiloma (Macrotyloma axillare), Galáxia (Galactia striata), Siratro (Macroptilium atropurpureum), Calopogônio (Calopogonio mucunoide), Desmodium (Desmodium sp.). Gramíneas Os capins do gênero Cynodon são de hábito estolonífero e apresentam vários cultivares, sendo o Coast cross 1 (Cynodon dactylon (L) Pears) bastante utilizado em nosso meio e as introduções mais recentes: tifton 44, 68 e 85, com grande potencial de utilização. Não se propagam por sementes e devem ser plantado por mudas (estolões). O coast cross 1, em estudo realizado em Nova Odessa, foi um dos mais produtivos entre 25 espécies e variedades de capins e mostrou boa distribuição estacional de produção (Alcântara, et al. 1981). Responde bem a adubação nitrogenada (Alvin et al., 1996), tem boa digestibilidade e pode produzir até 21,5 ton. de MS/ha/ano (Bufarah et al. 1985). O tifton 85 tem grande produção de matéria seca por área, podendo produzir até 22,4 ton. de MS/ha./ano e teor médio de proteína bruta de até 21,0% (Alvim et al. 1998). O instituto de Zootecnia vem utilizando pastagem de Panicum Maximum Jacq cv. aruana para pequenos ruminantes por vários anos e tem obtido excelentes resultados. Caracteriza-se por gramínea de hábito cespitoso, apresentando bom valor nutritivo, excelente produção de matéria seca por área, porte médio (0,7-1m), grande capacidade de perfilhamento e produção de semente elevada (verãooutono). Por ser exigente em fertilidade do solo, recomenda-se correção da acidez e dos níveis de fósforo. Responde à adubação nitrogenada e pode produzir entre 19 e 23,5 ton. de MS/ha/ano. (Paulino et al., 1990). Recomenda-se adubação nitrogenada em cobertura no início das águas (1/3) e no final das águas (2/3) (
3 werner, 1986), para ampliar a oferta de alimento no outono e começo do inverno e antecipar a rebrota primaveril. O Aruana diminui seu crescimento no inverno devido a queda de temperatura e responde à irrigação quando houver limitação hídrica e temperatura ambiente for favorável ao seu crescimento ( outono e primavera). Pode suportar animais/ha. Apresenta excelente aproveitamento pelos animais, pois estudo realizado por Lempp et al. (1998), mostrou que o aruana apresenta arranjo anatômica das lâminas foliares mais favorável ao ataque dos microrganismos ruminais, o que pode conferir-lhe maior digestibilidade. Por possuir excelente capacidade de rebrota a partir das gemas basais, permite pastejo baixo. Contudo, deve ser utilizada em pastejo rotativo com intervalo de crescimento adequado (35-40 dias). Leguminosas As leguminosas rasteiras podem ser plantadas junto com a gramínea formando pastagem consorciada. Requerem correção de acidez e necessitam níveis adequados de fósforo e outros nutrientes no solo. Recomenda-se a soja perene (Neonotonia wightii) de ciclo precoce (Cooper e comum), com florescimento por volta de abril, o que garante maior produção de semente (Ghisi et al., 1994) e persistência na área e pode produzir até 10 ton. de MS/ha/ano. Pastejo rotacionado com período de descanso adequados é essencial à persistência da leguminosa na área. Leguminosas arbustivas-arbóreas, como guandu (Cajanus cajan), leucena (Leucaena leucocephala) e outras devem ser plantadas separadamente da pastagem de gramínea (banco de proteína), pois necessitam manejo diferenciado. A entrada dos animais pode ser permitida por período limitado e rotacionado. O guandu apresenta excelente valor nutritivo e rápido estabelecimento, podendo ser pastejado diretamente, todavia, apresenta grande diminuição de rebrota no segundo ano, necessitando ser replantado a cada dois anos. A Leucena, apresenta excelente valor nutritivo e seu consumo aumenta a disponibilidade de nutrientes facilmente aproveitáveis pelo animal. Possui o inconveniente de necessitar período maior para seu estabelecimento e é altamente exigente em correção da acidez do solo. Após estabelecida produz indefinidamente grande quantidade de forragem de alto valor nutritivo. Necessita ser podada para mante-la em altura conveniente aos animais e espaçamento entre linhas de 0.8 a 1m garante a circulação dos animais. Possui componente tóxico, a mimosina, que atua no metabolismo do iodo na tireóide, pode causar bócio e levar diminuição do peso ao nascer das crias, queda de pêlos; todavia, o perigo de intoxicação é mínimo, pois os microorganismos do rúmen se adaptam à dieta e podem detoxificar o material. Também, o pastejo restrito, por algumas horas diárias, limita o consumo e a ingestão da toxina. Johnson & Van Eys (1987) recomendam consumo máximo de 60% da dieta e Rai & Johri (1987) forneceram até 100% da dieta e não
4 encontraram efeito deletério em caprinos Por ser de porte elevado, apresenta, provavelmente, menor número de larvas infectantes em suas folhas. Deve-se aumentar a concentração de iodo na mistura mineral para animais com grande consumo da leguminosa. Horário de pastejo O conhecimento do hábito de pastejo de caprinos é importante para proporcionar maior conforto aos animais. Estudos realizados no Instituto de Zootecnia em Nova Odessa e Itapetininga mostraram que caprinos apresentam horários de pastejo determinados pela temperatura e umidade ambiente, assim como, qualidade e disponibilidade da forragem. O comportamento de pastejo de caprinos foi estudado por Roda et al. (1995) em Nova Odessa, SP em pastagem de Coast cross (Cynodon dactylon (L.) Pears ) e em Itapetininga, SP, em pastagem de pangola (Digitária decumbens, Stent) e mostrou que a freqüência de pastejo concentra-se em dois períodos durante o dia. Os animais apresentam freqüência de pastejo maior entre 7h30-11h30 e 14h30-17h30, variando conforme o local e época do ano. Em Itapetininga, local com temperaturas médias mais baixas e invernos mais úmidos, os animais, no inverno, retardaram o pastejo até as 9h, devido ao excesso de umidade da pastagem, mostrando que caprinos não apreciam tais condições. Em Nova Odessa, local com temperaturas médias mais altas, pastagem com maior disponibilidade e melhor qualidade, os animais começavam a pastar mais cedo e mantiveram-se mais freqüentes durante o dia todo. Esses resultados permitem concluir que caprinos apresentam preferência por horários de pastejo e não apreciam pastar quando o sereno da manhã ainda não secou. Verminose em caprinos em pastejo e alternativas para seu controle O conhecimento da dinâmica das larvas infestantes nas pastagens pode ser utilizado para tentar diminuir sua ingestão pelos animais fornecendo pastagens higienizadas. Os parasitas do sistema digestivo de caprinos são provenientes da ingestão de larvas eclodidas de ovos depositados nas pastagens. São necessários, em média, de cinco a sete dias para se desenvolverem de ovos depositados na pastagem a larvas infestantes (Padilha & Gives, 1996). As larvas necessitam ambiente úmidos e propícios de ingestão pelo animal e buscam locais de umidade elevada e proteção contra radiação solar intensa; tendem a se proteger na cobertura vegetal, onde conseguem proteção contra sua desidratação. A quantidade de larvas infectantes na pastagem é dependente das condições ambientais, pois a temperatura e umidade determinam a sua sobrevivência. Em ambiente tropical e subtropical, a elevada temperatura ambiente leva a menor sobrevivência das larvas, devido ao desgaste de suas reservas de
5 energia, destruição pelos raios solares e dissecação. Rotação de pastagens O uso das pastagens no sistema rotacionado deve ser utilizado para reduzir o número de larvas presentes, principalmente em locais com temperatura e umidade elevada, pois segundo Banks et al. (1990) o número de larvas na pastagem diminui acentuadamente entre cinco e nove semanas no verão. Estudo de pastejo rotacionado com caprinos foi realizado por Barger et al. (1994), em ambiente tropical úmido, e mostrou que, no verão, a sobrevivência das larvas foi de 3-7 semanas; os autores propuseram a utilização de sistema rotacionado de pastejo com dez piquetes, com 3,5 dias de utilização e 35 dias de descanso. O uso desse sistema de manejo levou a diminuição acentuada da infecção parasitária nos animais e o uso de vermifugações. O sistema de manejo utilizado pelo Instituto de Zootecnia com capim aruana permite garantir a sua persistência e controlar a ingestão de larvas infectantes. O capim aruana suporta cortes freqüente e baixos, desde que possa passar por período de descanso de no mínimo 35 dias. O hábito de crescimento cespitoso do aruana possibilita maior exposição do solo aos raios solares, quando rebaixado, contribuindo para a diminuição de larvas infectantes na pastagem. Recomenda-se a divisão da área de pastagem em 5 piquetes de 0,2 a 0,5 ha com cerca tradicional (fios ou tela) e sua divisão interna com cerca elétrica em três faixas de uso por 2-3 dias cada. O período de uso dos piquetes deve ser de no máximo 7 dias, dependente da disponibilidade da forragem, para evitar recontaminação do piquete por larvas eclodidas de ovos depositados no início deste pastejo. Descanso da pastagem por, no mínimo, 35 dias é recomendável. Restrição do horário de pastejo Roda et al. (1995) propuseram sistema de manejo com restrição do pastejo dos animais nos horários iniciais da manhã no intuito de diminuir a ingestão de larvas infectantes. As larvas infectantes preferem o estrato superior da pastagem, pois há maior probabilidade de serem ingeridas pelos animais, e alta umidade é necessária à sua sobrevivência. Foi observado que, pela manhã, o teor de umidade no estrato superior da pastagem é elevado e, assim, ocorrem condições adequadas à permanência de larvas nessa porção. A entrada dos animais na pastagem em horário com menor teor umidade resulta em uma menor ingestão de larvas devido a menor ocorrência dessas nas partes mais altas do vegetal. Os autores utilizaram cabras Alpinas e Saanen para comparar o sistema de pastejo livre, onde os animais tinham acesso livre à pastagem, e o sistema restrito, o qual ao animais eram soltos às 10hs e recolhidos às 17hs. Concluiram que a restrição do horário de pastejo causou aumento no ganho de peso dos animais e menor velocidade de infestação parasitária (OPG), podendo ser utilizada como prática auxiliar ao controle de endoparasitoses.
6 Manejo dos animais A restrição do horário de pastejo diminui o tempo gasto pelos animais nas atividades de seleção e ingestão da dieta, mas é importante para diminuir a infecção parasitária. Assim, bom desempenho de cabras em lactação pode ser conseguido fornecendo alimentação pela manhã e soltando-as após as 9-10 horas; permitir o pastejo até o final da tarde e recolhe-las e fornecer mais alimentação volumosa no cocho. Fornecimento de sombra, árvores ou abrigos é necessário para evitar aumento excessivo de temperatura corporal dos animais (Roda et al., 1992), o que pode levar a diminuição da produção de leite ( BRASIL et al., 1998). Uso de cerca elétrica, com oferecimento de pastagem rica em folhas e grande disponibilidade por área permite ingestão máxima em menor espaço de tempo. Permitir pastejo leve, com consumo de folhas e permitir sobras que poderão ser pastejadas em seguida por animais seguidores, menos exigentes como cabras secas. Conclusões Cabras em lactação devem ser alimentadas com forrageiras de bom valor nutritivo e com elevada disponibilidade por área. O Pastejo rotacionado é essencial para preservação das forrageiras e diminuição do número de larvas infectantes na pastagem, Restrição do horário de pastejo, permitindo o acesso dos animais ao pasto após as 9-10 horas da manhã, pode ser utilizado como prática complementar para diminuir a verminose. Bibliografia ALCÂNTARA, V.B.G., PEDREIRA, J.V.S., MATTOS, H.B., ALMEIDA, J.E. Medidas in vitro de valores nutritivos de capins. I. Produção e digestibilidade in vitro de vinte e cinco capins durante o outono e inverno. Boletim de Indústria Animal, Nova Odessa, v.38, n.2, p , ALVIM, M.J., BOTREL, M.A., MARTIUS, C.E., et al. Efeito de doses de nitrogênio e de intervalos entre cortes sobre a produção de matéria seca e teor de proteína bruta do Tifton 85. In: Reunião anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 35,1998, Botucatu. Anais...Botucatu: Sociedade Brasileira de Zootecnia, v.2, p ALVIM, M.J., RESENDE, H., BOTREL, M.A. Efeito da freqüência de cortes e do nível de nitrogênio sobre a produção e qualidade da matéria seca do "Coast-cross". In: Workshop sobre potencial forrageiro do gênero Cynodon, Juiz de Fora, Anais..., Juiz de Fora:EMBRAPA-CNPGL, 1996, p BANKS, D.J.D., SINGH,R., BARGER, I.A. et al. Development and survival of infective larvae of Haemonchus contortus and Trichonstrongylus columbriformis on pasture in
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8 parasitária de caprinos submetidos a diferentes sistemas de pastejo. Boletim de Indústria Animal, Nova Odessa, v.52, n.2, p , RODA, D.S,; SANTOS, L.E., CONSIGLIERO, R.F. et al. Influência do local e estação do ano sobre o comportamento de cabritos a pasto. Boletim de Indústria Animal, Nova Odessa, v.49, n.1, p , VAN SOEST, P. J. Interaction of feeding behavior and forage composition. In: International Conference on Goats, 4., Proceedings... Brasília: EMBRAPA, p WERNER, J.C. Adubação de pastagens, Nova Odessa: Instituto de Zootecnia, p. (Boletim técnico 18).
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