SPMA Sociedade Portuguesa Médica de Acupunctura. Manual de Boas Práticas em Acupunctura Proposta
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- Manuela Borba de Sintra
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1 SPMA Sociedade Portuguesa Médica de Acupunctura Manual de Boas Práticas em Acupunctura Proposta OBJECTIVO O presente manual visa estabelecer as normas de boas práticas clínicas no âmbito do exercício da Acupunctura Médica a serem observadas pelos médicos com formação pós-graduada e competência nesta área. A Acupunctura Médica constitui uma área específica do saber médico e assume-se como terapêutica complementar, não substituindo, mas complementando a Medicina Convencional e representando uma mais-valia na abordagem integral do doente. A Ordem dos Médicos considera a Acupunctura, pela sua especificidade e complexidade clínica, como uma Competência Médica, estando a sua formação técnico-científica e a creditação profissional regulamentada pela Comissão da Competência em Acupunctura Médica e aprovada pelo Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos. Assim sendo, definem-se os princípios básicos no exercício da Acupunctura Médica que regem a prática ética e profissional do Médico com a Competência em Acupunctura Médica. DO MÉDICO: A prática da Acupunctura Médica deverá pautar-se a par de elevado rigor científico, de elevado padrão de profissionalismo e de ética face ao doente e à relação inter-pares 1- A obtenção da Competência em Acupunctura Médica pela Ordem dos Médicos é fundamental para garantir padrões de qualidade no exercício da Acupunctura Médica. 2- Cabe ao Médico, fazendo conhecimento das possíveis abordagens médicas e de acordo com a melhor evidência médica disponível, avaliar se a patologia do doente beneficiará com tratamento de acupunctura. 3- Deverá a Acupunctura ser encarada como terapêutica complementar a outras medidas terapêuticas, pelo que o médico deverá propor ao doente a orientação terapêutica indicada à sua patologia. 1
2 4- Deverá o médico referenciar o doente à especialidade que melhor promova a abordagem da sua patologia 5- Compete ao médico informar o doente, se é expectável a Acupunctura promover um benefício absoluto ou relativo da sua patologia 6- Não deverá o médico criar ao doente falsas expectativas nos resultados a alcançar com a Acupunctura e deverá informar, se disponíveis, quais os resultados clínicos estatisticamente previsíveis. CONDIÇÕES ESPECIAIS: Com o objectivo de promover a segurança da Acupunctura deverão ser observadas as seguintes normas de conduta: 1. Nas situações que constituam contra-indicações relativas ou absolutas à punctura, tais como, no doente anticoagulado ou com alterações da coagulação, deverão ser ponderados individualmente os riscos/ benefícios. 2. Doentes com pace-maker on demand poderão ser submetidos a electroacupunctura (EA), se a sua condição clínica não responder a outras formas de tratamento. Nessa situação, e de acordo com a evidência médica, a electro-acupunctura é segura desde que o circuito eléctrico não atravesse a área pré-cordial. Durante o decorrer do tratamento o médico deve encontrarse presente. 3. A Electro-acupunctura em doente com Cardio-desfibrilhador Implantado (CDI), pelo risco acrescido de eventos cardíacos graves, deverá ser realizada com extrema precaução. Deverá ser precedida de informação clínica do tipo de dispositivo e será desejável a discussão da sua indicação com o cardiologista assistente. É imperativo que antes da primeira sessão de tratamento seja efectuado um teste de EA com monitorização do ritmo cardíaco e a função de desfibrilação do CDI desligada, de forma a verificar se existe interferência da EA com o funcionamento do dispositivo. Só então se deverá iniciar o tratamento. Considera-se boa prática que tratamentos com EA em doentes com este tipo de dispositivos sejam efectuados apenas em situações em que existam recursos para se iniciar suporte de vida em caso de interferência com o funcionamento do CDI. Nestes doentes a EA deverá ser restringida aos membros. Durante o decorrer do tratamento o médico deve encontrar-se presente. 4. É contra-indicação absoluta a passagem de corrente na região pré-cordial e na região cervical anterior 5. Infecções fúngicas e bacterianas da pele constituem contra-indicação à punctura destes locais. Nas infecções em locais distantes á punctura, deverão ser observadas as medidas de higiene para impedir potencial risco de contágio. 2
3 6. Particular atenção deverá ser dado aos doentes imunocomprometidos, pelo risco de septicemia e aos doentes com patologia valvular, pelo risco de endocardite. 7. Os edemas e linfedemas, por risco de sobreinfeção, não deverão ser puncturados. 8. A Acupunctura deverá ser realizada com precaução e só se for considerada a melhor opção terapêutica, já que constitui risco acrescido de lesão para o médico e doente, nas seguintes comorbilidades: a ) Doentes com patologia psiquiátrica descompensada b) Doentes com elevado grau de ansiedade c ) Doentes com défice cognitivo d) Doentes com fobia de agulhas 9. Deverá ser sempre obtido o consentimento informado do doente antes do início do tratamento. A ausência deste acordo ou a sua realização em doente não informado da técnica, constituem exercício clínico eticamente incorrecto e má prática clínica 10. A Acupunctura não deverá ser realizada em crianças, em que apesar da autorização de progenitor ou tutor legal, não seja obtida a sua colaboração DO EQUIPAMENTO: Deverão ser observados os princípios relativos à segurança, ergonomia e higiene na prática da Acupunctura: 1 Gabinete de Tratamento Deverá ser aplicada a legislação em vigor que rege este espaço físico. 2 Condições de higiene: Deverão ser aplicados os cuidados básicos observados em qualquer tratamento médico, salientando-se em particular; a) As agulhas a utilizar serão sempre descartáveis. Na selecção das agulhas a utilizar deve ser considerado como factor preferencial de escolha a que melhor se adequa à área e local a tratar, minimize o trauma tecidular e maximize o conforto do doente b) A manipulação das agulhas deverá observar o máximo rigor de forma a evitar ao médico puncturas acidentais c) Todas as agulhas utilizadas serão tratadas como lixo biológico e deverão ser enviadas para tratamento adequado. d) O sangue que pode surgir após a exteriorização das agulhas deverá ser sempre considerado potencialmente contagioso, pelo que o médico deverá observar as medidas necessárias à sua protecção. 3
4 e) Acidentes que impliquem punctura do médico ou de outros com agulha utilizada previamente pelo doente deverão ser documentados e proceder-se à profilaxia apropriada. DOS PRECEITOS MÉDICOS: O médico deverá pautar a sua conduta clínica baseado nos princípios gerais de boas práticas no exercício da actualização permanente do conhecimento médico a ) Metodologia 1. Compete ao Médico estabelecer um diagnóstico clínico da patologia do doente e do benefício da Acupunctura 2. Para tal, deverá proceder a história clínica, exame objectivo, diagnóstico e plano terapêutico 3. Mesmo nas situações de doentes referenciados para a realização de acupunctura, deverá o médico validar o diagnóstico e a indicação desta 4. Em doentes referenciados deverá dar retorno do plano de tratamento proposto e dos resultados obtidos. 5. Deverá ter implementado na primeira consulta um registo de avaliação clínica, escala de dor e escala de função, quando aplicável, e plano terapêutico, de forma a objectivar resultados obtidos 6. Deverá informar o doente do plano terapêutico e obter a sua concordância. 7. Deverá obter do doente a aceitação da duração e periodicidade dos tratamentos de forma a garantir a optimização dos resultados. Um registo dos locais puncturados ao longo do tratamento deverá ser conservado, bem como do tempo de permanência das agulhas nos tecidos, e a manipulação ou estimulação eléctrica efectuada, devendo ser anotados os parâmetros dessa estimulação (frequência, intensidade, tempo). Poderão ser também registados os efeitos locais observados Cabe ao médico estabelecer um plano sistematizado na abordagem da patologia do doente, que deverá adaptar às particularidades da patologia e à individualidade de cada doente. Sugerem-se no entanto algumas atitudes no exercício desta actividade: 1. A aplicação da Acupunctura no tratamento de patologias deverá ser encarada como uma mais-valia na optimização dos resultados, não devendo prolongar-se indefinidamente. Constitui má prática a manutenção indefinida de um protocolo de tratamento sem resultados previsíveis. 2. Deverá o médico estabelecer o plano de tratamentos e comunicá-lo ao doente: 4
5 b ) Prática clínica O número de sessões será variável em função da situação clínica e da resposta individual do doente. Por norma, um limite de 6 sessões constitui um valor consensual para definir a resposta ao tratamento. Caso neste período não se verifique melhoria do quadro clínico, deverá esta técnica ser reavaliada. 3. Caso se verifique uma resposta positiva ou o doente a reporte, poderá esta técnica ser prolongada de acordo com os resultados obtidos, considerando-se que uma média total de 12 sessões será adequada. 4. A periodicidade das sessões é definida de acordo com a situação clínica e período de evolução dos sintomas. É consensual no início do tratamento que o período entre os tratamentos não ultrapasse uma semana. 5. Após terminar o protocolo de tratamento inicial, e de acordo com a situação clínica individual, poderão ser realizadas novas sessões de tratamento, com a periodicidade adequada. Será a prática clínica a determinar a experiência em Acupunctura de cada médico. No entanto, como norma orientadora, alguns princípios devem ser observados: 1. A sedação, sonolência ou sensação de tontura poderão ser efeitos possíveis da Acupunctura durante as primeiras sessões. Em particular risco está a população geriátrica. Igualmente, doentes particularmente sensíveis poderão referir exacerbação transitória das queixas álgicas. Como tal constitui boa prática: a) Informar o doente dos efeitos adversos expectáveis da Acupunctura e Electroacupunctura, esclarecendo da sua transitoriedade e da diminuição da sua relevância ao longo do tratamento. b) Informar o doente da necessidade de vir acompanhado, para minimizar riscos no transporte após o tratamento. 2. Duração média de cada sessão: a) Na generalidade das sessões clínicas, considera-se como de máximo benefício terapêutico a duração de tratamento de 20 a 30 minutos, quer as agulhas permaneçam com manipulação manual, quer seja utilizado Electroacupunctura. 5
6 Atendendo a que a aplicação das agulhas poderá implicar num profissional treinado cerca de 10 minutos, considera-se como tempo médio de tratamento 40 minutos, não incluindo neste tempo a avaliação clínica prévia e posterior ao tratamento. b) Caso se recorra a Electroacupunctura, é fundamental que o médico tenha o conhecimento detalhado dos efeitos fisiológicos das diferentes correntes eléctricas para a optimização de resultados. 3. Requisitos de segurança: a) A colocação de agulhas deverá ser realizada em posição de decúbito dorsal ou ventral para maior segurança do doente. Poderá no entanto também realizar-se em posição de sentado, se esta for a mais segura para abordar determinados pontos da região dorsal. No entanto, deve ser assegurado que esta posição possa ser facilmente revertida para decúbito. b) A marquesa obedece a requisitos especiais, devendo: Ser confortável para o doente durante o tratamento. Possibilitar apoio de cabeça quando em posição de decúbito ventral Posicionar-se a uma altura que permita ao médico trabalhar numa posição anatomofisiológica correcta e que evite acidentes ao doente. c) Deverão ser posicionadas e protegidas áreas anatómicas de forma a evitar estiramento de estruturas vasculo-nervosas. d) Durante toda a duração do tratamento deverá o doente estar acompanhado, quer pelo médico, quer por profissional de saúde conhecedor das particularidades da Acupunctura. Na sua ausência será garantido que o doente possa comunicar qualquer desconforto e que o médico possa de imediato monitorizar o tratamento. CONCLUSÃO Pretende este manual de boas práticas ser um guia orientador da prática da Acupunctura Médica. Não pretende impor ou substituir a actividade médica, desde que esta seja promovida baseada no correcto julgamento clínico e na experiência profissional, fundamentada pelo domínio científico da Acupunctura e pelo conhecimento da individualidade fisiopatológica do doente. 6
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