DOUTRINA BATISTA LIVRE. Lição Um: O Que Cremos Sobre a Bíblia

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1 DOUTRINA BATISTA LIVRE Robert E. Picirilli 1 Lição Um: O Que Cremos Sobre a Bíblia CAPÍTULO 1: AS SANTAS ESCRITURAS Compõem-se do Antigo e do Novo Testamentos. Foram escritas por homens santos, inspiradas pelo Espírito Santo, e são a Palavra de Deus revelada ao homem. São regra e guia suficiente e infalível para a salvação, a adoração e o serviço cristãos. Os Batistas Livres crêem na inspiração plenária e verbal da Bíblia. Por plenária queremos dizer total e completamente. Temos por certo que todas as partes da Bíblia são inspiradas e que a inspiração estende-se a todos os seus assuntos. Por verbal queremos dizer que a inspiração estende-se até às palavras das Escrituras, não apenas aos pensamentos e às ideias expressas pelos autores humanos. Cremos que as Escrituras são infalíveis e inerrantes. A Bíblia não tem erro e é digna de confiança em todos os seus ensinamentos, incluindo cosmogonia, geologia, astronomia, antropologia, história, cronologia, etc., tanto como em questões de fé e prática. Sendo a verdadeira palavra de Deus, ela é a revelação final vinda da parte de Deus e nossa autoridade absoluta. Esta primeira seção do Manual Batista Livre trata da doutrina das Santas Escrituras. Esta doutrina aparece em primeiro lugar por ser mais importante do que as outras? Não necessariamente. Creio que esta doutrina vem primeiro porque não pode haver sã doutrina com respeito a qualquer assunto se não houver uma sã doutrina concernente à Bíblia. Se alguém pretende ter uma doutrina correta, ela deve começar com um fundamento correto para o restante de seu ensinamento. Por esta razão nossa discussão sobre o nosso ponto de vista sobre as Escrituras precede até a doutrina de Deus, porque somente aprendemos verdades detalhadas sobre Deus na Bíblia. Se nos propomos a conhecer algo sobre o homem, a salvação ou Cristo, precisamos conhecê-lo através da palavra escrita de Deus. É por esta razão que a 1 Autor: Robert E. Picirilli (PhD) é professor emérito de Welch College (anteriormente Free Will Baptist Bible College), autor de Discipleship: The Expression of Saving Faith (Discipulado: A Expressão da Fé Salvadora),Randall House, 2013; Grace, Faith & Free Will: Contrasting Views of Salvation Calvinism and Arminianism (Graça, Fé e o Livre Arbítrio: Visões Contrastantes da Salvação Calvinismo e Arminianismo), Randall House, 2002), Teacher, Leader, Shepherd: The New Testament Pastor (Professor, Líder e Pastor: o Pastor do Novo Testamento, Randall House, 2007) e Paul, the Apostle (Paulo, o Apóstolo, Moody, 1986). Tradutor: Pastor Kenneth Eagleton, Jr.

2 2 declaração de fé Batista Livre se inicia com o capítulo intitulado As Sagradas Escrituras. Na introdução a estas lições enfatizei que muito daquilo que os Batistas Livres creem e ensinam é compartilhado com outros grupos cristãos genuínos, independentemente do nome que a denominação leva. Este é o caso da doutrina das Escrituras. Portanto, não é um distintivo denominacional, mas um ensinamento defendido por todos os cristãos sérios que creem na Bíblia. I. A Bíblia como revelação A primeira sentença da citação acima do Manual, diz: Compõem-se do Antigo e do Novo Testamentos. Foram escritas por homens santos, inspiradas pelo Espírito Santo, e são a Palavra de Deus revelada ao homem. Revelação é um dos termos que você precisa conhecer bem. É usado em dois sentidos. A. Revelação no sentido amplo da palavra. 1. Pode se referir a qualquer modo pelo qual Deus se faz conhecer, incluindo desta forma toda a Bíblia. 2. A palavra grega para revelação (apokalupsis; compare com Apocalipse) significa literalmente tirar o véu ou a cobertura, desvelamento ou descobrimento. 3. Neste sentido distinguimos com frequência entre revelação geral e especial. a. Revelação geral inclui a revelação de Deus vista por todos na natureza, na criação, na natureza humana, na consciência, etc. são os meios pelos quais Deus se revela a todos. b. Revelação Especial se refere a qualquer revelação de Deus a pessoas específicas. Isto inclui principalmente as Escrituras. Porém, pode também incluir aparições pessoais de Deus ou comunicações que ele não pretendia que se tornassem parte das Escrituras. Por exemplo, Paulo menciona revelação especial que recebeu, mas que não poderia divulgar (veja 2 Co. 12:1-7). Nesta unidade de doutrina, iremos nos ater apenas a revelação especial contida na Bíblia. 4. A Bíblia é auto revelação. O ser humano não descobriu a Deus; Ele se revelou. Vemos a necessidade disto por duas razões: (1) Em nossa depravação herdamos de Adão uma natureza distorcida e pervertida que afetou as nossas capacidades

3 3 mentais de forma que não conseguimos ter um conhecimento adequado de Deus através do raciocínio. Romanos 3:11 não há quem entenda, não há quem busque a Deus. (2) Os seres humanos têm opiniões irreconciliavelmente diferentes a respeito de Deus e falham em sua tentativa de conhecer a Deus. 1 Co. 1:21 na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria. Portanto, a Palavra de Deus revelada ao homem significa que Deus está tanto revelando (a iniciativa é Dele, não do homem) como sendo revelado; ele está se revelando de maneira que de outra forma não veríamos. A Bíblia é uma revelação de Deus de si mesmo. Consequentemente, a única resposta apropriada do ser humano à auto revelação de Deus é a fé. E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação pela Palavra de Cristo (Rm. 10:17). A Bíblia não nos é oferecida como outro produto humano que deve ser avaliado pelo nosso intelecto e razão. Se fosse, ainda estaríamos completamente dependentes de nós mesmos para achar a verdade. Temos, portanto, apenas uma escolha: aceitá-la, pela fé, pelo que diz ser e termos uma auto revelação de Deus ou rejeitá-la como não sendo de confiança por estar equivocada no que diz sobre ela mesma e, portanto, estarmos a mercê de nosso intelecto e razão para determinar o que é verdadeiro sobre Deus ou sobre qualquer outro assunto. B. Revelação no sentido estrito da palavra. Apesar de como um todo a Bíblia ser a revelação de Deus, muitas coisas contidas nela vieram da experiência dos autores, das tabelas genealógicas e de outras fontes. Revelação em seu sentido estrito se refere às passagens como Gênesis 1 ou Isaías 53 que tinham obrigatoriamente que vir de Deus. No sentido amplo a Bíblia toda é revelação de Deus. No seu sentido estrito, revelação inclui somente aquelas coisas que Deus comunicou que de outra forma não seriam conhecidas. Há muitos fatos mencionados nas Escrituras que os escritores humanos já sabiam. No sentido estrito, estes fatos não foram revelados. É desta forma que a palavra está sendo usada, por exemplo, em 1 Coríntios 2:9-10:... Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito....

4 4 Esta distinção é importante. As pessoas se desentendem quando usam as palavras de maneira diferente. Mesmo assim, esta distinção não é a preocupação principal do nosso estudo da doutrina das Escrituras. Repetindo: o assunto desta lição é a auto revelação única e especial de Deus contida nas Escrituras. II. A Bíblia é inspirada A citação feita no início do capítulo diz que são a Palavra de Deus revelada ao homem. Não diz contêm, dizem ser e nem se tornaram, mas são. A palavra que usamos para descrever a base desta afirmação é inspiração. Repare nas palavras do Manual: Foram... inspiradas pelo Espírito Santo. Em algumas de suas formas a palavra revelação pode se referir a uma parte ou a Bíblia toda ou mesmo a coisas que não estão na Bíblia, como já vimos. Mas a palavra inspiração se aplica somente à Bíblia e a Bíblia toda. É verdade, às vezes usamos a palavra com um sentido mais geral: dizemos que fomos inspirados por uma grande palestra ou achamos inspiração em alguma experiência especial. Mas no seu uso em doutrina, inspiração se refere unicamente à Bíblia e foi a experiência apenas dos autores humanos da Bíblia. O termo em si se encontra em 2 Timóteo 3:16: Toda a Escritura é inspirada por Deus.... A frase inspirada por Deus traduz uma única palavra no grego, theopneustos, que literalmente significa soprado por Deus. A Bíblia, portanto, é o sopro (respiração) de Deus. Provem da boca de Deus. Deve-se pensar no que Jesus disse em Mateus 4:4 (que é uma citação de Deuteronômio 8:3): Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus. A doutrina da inspiração é de que a Bíblia inteira é a Palavra de Deus; Deus falando. A. Há pontos de vista equivocados a respeito da Bíblia, que mencionarei de forma breve, mas é útil se familiarizar com estes termos. 1. Intuição. A Bíblia demonstraria uma intuição humana extraordinária, seria o homem natural no seu auge, superior, talvez, a qualquer outra obra. 2. Iluminação. A Bíblia seria a intuição humana com iluminação spiritual, seria o que de melhor produziu o homem cristão, superior a todas suas outras obras.

5 5 3. Inspiração dinâmica ou inspiração parcial. A inspiração se aplicaria aos seus pensamentos gerais, não às palavras específicas ou então aos seus assuntos essenciais: aqueles necessários à salvação e ao desenvolvimento espiritual, mas não necessariamente às informações históricas ou a outras informações ocasionais. 4. Ponto de Vista neo-ortodoxo. A Bíblia apenas se torna a Palavra de Deus ou é um instrumento ou registro da revelação. Esta teologia insiste em que Deus e o homem são tão diferentes em sua essência que nem as palavras escritas podem fazer uma ponte de comunicação sobre o abismo que existe entre eles. Por iniciativa de Deus, ele às vezes fala ao ser humano usando qualquer que seja o instrumento que desejar, mas se revelando ao ser humano subjetivamente e internamente não se sabe como. A Bíblia seria um registro de tais crises e também poderia ser usada por Deus, quando ele o desejar, como instrumento para este tipo de encontro. No entanto, a Bíblia em si não seria revelação. 5. O ponto de vista existencialista. Parecido com o ponto de vista neo-ortodoxo, e um desenvolvimento do mesmo, está o ponto de vista de que Deus nunca fala ao ser humano a não ser de forma existencial o que significa interna, pessoal e subjetivamente. A Bíblia sobre a mesa não é a palavra de Deus, somente quando Deus fala a alguém no mais profundo de sua existência é que haveria uma palavra de Deus. Esta palavra não pode ser comunicada em nenhuma das maneiras em que a comunicação geral normalmente se faz. Todos estes pontos de vista sofrem da mesma falha básica: não identificam as Santas Escrituras em sua totalidade como são: a própria palavra de Deus. Os Batistas Livres (e todos os outros grupos que têm sã doutrina) insistem que as Santas Escrituras são a Palavra de Deus revelada ao homem e que toda a Escritura é inspirada por Deus. B. O ponto de vista correto: inspiração plenária e verbal. Leia novamente o segundo parágrafo da citação do Manual que se encontra no início deste capítulo. 1. Plenária significa pleno, completo, cheio. Isto implica em duas coisas: a. A Bíblia toda é completa. Nada foi omitido. Não dizemos: Estas são algumas ou parte das palavras reveladas, mas dizemos: Estas são as palavras

6 6 reveladas por Deus. Nota: Isto envolve a doutrina do cânon; da mesma maneira que aceitamos a inspiração pela fé, aceitamos também pela fé que cada parte da Bíblia deveria estar no cânon das Escrituras e nada que deveria estar no cânon foi omitido. A palavra cânon originalmente significava régua ou padrão; depois passou a ser usado para aquilo que atinge o padrão. Portanto, toda a lista de livros da Bíblia se provaram canônicas muito cedo na história da igreja. b. A Bíblia toda é inspirada. 2. Verbal significa que a inspiração inclui até as palavras. Não são somente os conceitos ou pensamentos gerais da Bíblia, mas até suas palavras foram escolhidas como veículo para a expressão das ideias. Nota: Isto não significa: (1) que todas as palavras são tecnicamente precisas. As palavras podem ser usadas de todas as formas em que os seres humanos usam palavras. Números podem ser arredondados, por exemplo. (2) Que estas são as únicas palavras que poderiam expressar a mesma ideia. Em todas as línguas existe mais de uma maneira de dizer a mesma coisa. (3) Que somente um conjunto de palavras pode ser usado em determinada língua para traduzir o que foi escrito em hebraico e grego. No entanto, significa que as escolhas das palavras feitas pelos autores humanos foram feitas sob a influência de inspiração para que o que foi dito tenha sido dito da forma como Deus queria que fosse. C. Nosso entendimento sobre o método. O que acabou de ser dito se refere ao resultado, aquilo que a Bíblia é. A inspiração é a influência que produziu este resultado para que a Bíblia seja a própria palavra de Deus. Porém a Bíblia nunca descreve precisamente como este resultado se produziu. 1. Ditado mecânico não foi o método. Este ponto de vista se equivoca por ser piedoso demais. É correto quanto ao resultado, de que a Bíblia toda procede da boca de Deus, mas erra quanto ao método a Bíblia não foi produzida mecanicamente e nem foi um ditado (na sua maioria). Os escritores humanos não eram meramente secretários, nem robôs mecânicos e muito menos estavam em transe. Os autores humanos estavam realmente escrevendo. Em todo lugar vemos isto ao se identificarem como os autores ao dizerem aos leitores o que eles acham e dizem, como também revelam o seu próprio estilo e vocabulário.

7 7 2. O método está pelo menos implícito (apesar de não ser uma descrição) em 2 Pedro 1:20-21: nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo. Isto se expressa tanto negativa quanto positivamente. Negativo: nenhuma profecia da Escritura [o que significa que todas as Escrituras são, neste sentido, entregues de forma profética] provém de particular elucidação ; nem por vontade humana. Positivo: homens santos [chamados assim por serem usados por Deus] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo. 3. Portanto, havia tanto elementos humanos quanto divinos nos escritos: a. Homens falaram/escreveram da mesma forma que teriam feito se Deus estivesse ausente. Pesquisaram os fatos, entrevistaram as testemunhas, examinaram os documentos e suportaram processos mentais trabalhosos ao pesaram, considerarem, rejeitarem e escolherem cada palavra. b. Mas o Espírito Santo os moveu. Esta palavra (do grego phero) significa suportar ou carregar. Isto é tudo o que temos quanto ao método, mas ainda não responde a questão do como. No entanto, o que está claro é que foram sobrenaturalmente acompanhados, carregados pela influência do Espírito de tal forma que em todos os seus pensamentos, pesquisas e escolhas das palavras, o fizeram sob o controle do Espírito, resultando que a Bíblia é certamente a palavra de Deus como se ele mesmo tivesse pegado na pena de escrever. Portanto, podemos dizer que a Bíblia é o livro divino-humano, da mesma forma que Jesus é uma pessoa divina-humana, verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. A Bíblia é a palavra de Moisés, Isaías e Paulo; mas é também verdadeiramente a Palavra de Deus. Alguns têm usado a palavra superintendência para designar este método. Tudo bem, mas ainda não explica como Deus pode realizar isto através de escritores humanos. 4. Definição final: Inspiração é a influência sobrenatural exercida sobre a mente de homens santos que escreveram as Escrituras (e somente sobre eles) de tal forma que foram guiados infalivelmente, mesmo em suas escolhas das palavras, ao produzirem a revelação inerrante e especial de Deus aos seres humanos.

8 8 5. Inerrância total. Veja a inclusão desta palavra na definição acima e na citação do Manual no início desta lição. Alguns acontecimentos recentes, mesmo entre os que se professam evangélicos, torna necessária a inclusão desta palavra à descrição de nosso ponto de vista sobre as Escrituras. Alguns consideram ser suficiente declararem que a Bíblia é suficiente para todas as questões espirituais, para a salvação, mas pode conter erros em matéria de história e ciência. Alguns têm falado em inerrância limitada (como se a inerrância se aplica apenas às questões de fé). Porém, uma inerrância limitada é na verdade apenas uma errância. Se o que foi dito sobre a inspiração da Bíblia for verdadeiro (se a Bíblia realmente foi dada integralmente por Deus e com todas as suas palavras) então se segue necessariamente a sua inerrância total. Deus não pode se equivocar em qualquer assunto quando fala e a Bíblia toda é Deus falando. III. A Bíblia como autoridade Chamo sua atenção agora para a segunda frase do primeiro parágrafo do Manual sobre as Escrituras: São regra e guia suficiente e infalível para a salvação, a adoração e o serviço cristãos. A primeira frase falava da natureza e fonte da Bíblia. A segunda, do propósito e autoridade das Escrituras. A. Da mesma forma que haviam pontos de vista equivocados quanto à inspiração, existem também quanto à fonte de autoridade que governa a vida cristã. Vamos examinar apenas brevemente algumas destas visões equivocadas. Existem principalmente duas. 1. Alguns dizem que a autoridade que governa a vida cristã se encontra na igreja. Este é o ponto de vista católico romano e se apresenta como a defesa da infalibilidade do papa ou declarando a autoridade da tradição. Papa Pio IX declarou: O Pontífice Romano, quando fala ex cathedra, em virtude de sua autoridade apostólica suprema, possui a infalibilidade com que o Redentor divino quis que Sua Igreja fosse dotada para definir a doutrina concernente à fé e a moral. Esta foi a questão em pauta quando Martinho Lutero se separou de Roma. Em uma ocasião disse ao erudito Erasmo: O que é que você disse Erasmo? Você sujeita a sua mente às decisões da igreja? O que é que a igreja pode decidir que

9 9 já não tenha sido decidido pelas Escrituras?. Em outro lugar ele escreveu: O papado é uma soberania que extermina a fé e o evangelho. Somente pode ser administrado por alguém que seja inimigo de Cristo. Às vezes os Protestantes de hoje se esquecem destas questões e de quão importante são. A igreja não define fé e moral, isto é função da Bíblia. 2. Outros que se identificam como cristãos dizem que a autoridade que governa a vida cristã se encontra na consciência iluminada e no raciocínio dos cristãos. Este é o ponto de divergência entre os cristãos liberais e aqueles que creem na Bíblia. Por exemplo, C.H. Dodd, em The Authority of the Bible (A Autoridade da Bíblia), disse: A autoridade de Jesus é a única autoridade que declaramos como sendo absoluta, a autoridade da verdade, a autoridade de Deus. Até aí, tudo bem, mas ele continua: Não se pode dizer com isto que os dizeres reportados como sendo seus nos Evangelhos tenham esta autoridade. Existem dizeres ali que simplesmente não são verdadeiros ou então são inaceitáveis à consciência ou à razão do povo cristão. Aí está o problema! Veja que é o próprio Dodd que irá determinar se o que a Bíblia reporta é verdadeiro. Ele não acredita realmente na autoridade de Jesus ou da Bíblia; ele crê em sua própria autoridade. A sua consciência iluminada ou a sua razão são o juiz. B. O ponto de vista correto é de que a Bíblia é a fonte de toda autoridade para governar a vida cristã. Este é o ponto de vista de todos os Protestantes que creem na Bíblia e certamente dos Batistas Livres. Além da declaração do Manual, já citado, o Pacto da Igreja afirma: Tendo-nos entregue a Deus, mediante a fé em Cristo, e adotado a Palavra de Deus como regra de fé e prática.... A breve declaração dos Artigos de Fé inclui em seu artigo primeiro o seguinte: As Escrituras do Antigo e do Novo Testamento foram inspiradas por Deus, e são nossa regra de fé e prática. Isto tem muitas implicações. Menciono aqui alguns. 1. Se a Bíblia procede da boca de Deus, se nas Escrituras é Deus que está falando, então significa que a Bíblia fala com a autoridade do próprio Deus. Ele tem o direito de governar nossas vidas e Ele expressou o seu governo (Sua lei) na Sua Palavra. Consequentemente, somente o que é baseado na Palavra de Deus tem autoridade para nos governar. Somente há autoridade para falar quando a

10 10 igreja, pastor ou professor oferece uma interpretação e aplicação correta da Palavra escrita. 2. Todo crente é sacerdote diante de Deus em igualdade de condições e está pessoalmente sob a autoridade da Palavra, inteiramente livre e responsável pelo que ouve, interpreta e aplica a Palavra em sua vida. A Bíblia é o único papa. Somos gratos por ter o Santo Espírito em nós para nos ajudar no entendimento da Palavra escrita. Nota: Isto nos apresenta um novo termo: chamamos esta obra do Espírito, iluminação. À medida que cada crente lê e sinceramente procura entender a Bíblia, ele(a) experimenta esta iluminação para ajuda-lo(a) a aplicar a Palavra em sua vida. 3. Os cristãos são, portanto, obrigados diante de Deus a viver sob o governo da Sua Palavra. A Bíblia é a fonte de autoridade para os nossos objetivos como também para os nossos métodos, para o exercício do nosso amor e da nossa disciplina, para tanto a nossa doutrina quanto a nossa conduta. Este último item é o mais importante e com ele termino esta lição. Professamos uma crença pouco convincente na inspiração e autoridade das Escrituras se não vivermos de maneira consistente com esta doutrina. Se realmente cremos que a Bíblia é a Palavra de Deus, o próprio Deus falando conosco, então devemos estudá-la e viver sob sua autoridade.