SUMÁRIO EXECUTIVO INTRODUÇÃO SETOR EXTERNO. O Cenário Internacional
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- Ana Sintra Gomes
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1 SUMÁRIO EXECUTIVO INTRODUÇÃO Durante 2004, o PIB da América Latina e do Caribe deverá crescer em torno de 4,5%, o que significa um aumento de 3,0% do produto per capita. A recuperação das economias da região, que chegaram ao ponto mais baixo desta etapa do ciclo no primeiro trimestre de 2002, é generalizada e engloba a quase todos os países. Tal como se assinalou no Balanço Preliminar das economias da América Latina e do Caribe , as condições favoráveis que caracterizam o cenário internacional, com que a região se defronta desde já algum tempo, constituem um elemento essencial no momento de explicar as causas deste proceso de recuperação. A diminuição dos prêmios de risco-soberano desde os máximos alcançados em setembrooutubro de 2002, o aumento dos preços das matérias primas, a recuperação do turismo e o crescimento das exportações não petroleiras aos Estados Unidos e a outros importantes destinos constituem os principais estímulos positivos provenientes da economia internacional. Mas também, não pode deixar de mencionar-se que, se a região está podendo aproveitar este cenário externo favorável, isto deve-se, em grande parte, ao conjunto de políticas internas cujas características mais importantes são um maior controle fiscal e monetário e taxas de câmbio mais competitivas. A permanência desta fase de expansão vê-se ameaçada por fatores internos e externos. Do ponto de vista interno, a debilidade da demanda que se observa em muitas das economias da região gera dúvidas sobre a consolidação do processo de recuperação. No âmbito externo, por outro lado, observam-se alguns desequilíbrios econômicos que deverão ser enfrentados, mais cedo ou mais tarde e, se bem não implicam um perigo eminente, antecipam um crescimento mais lento da economia mundial no médio prazo. SETOR EXTERNO O Cenário Internacional O PIB mundial cresceu 2,7% em 2003 (1,8% em 2002), enquanto que o comércio global a preços constantes aumentou 5,8%, um pouco mais do que o dobro do ano anterior. A aceleração que começou a mostrar a atividade na segunda parte de 2003 se manteve em 2004, o que permite estimar um crescimiento do PIB em torno de 3,8% neste ano, valor muito superior aos que predominaram desde No entanto, as projeções para o segundo semestre de 2004 e para 2005 apontam para uma moderação do ritmo de expansão. O crescimento do comércio mundial, que recuperou o dinamismo exibido antes da recessão, poderia alcançar uma taxa próxima a 7% em Os centros dinâmicos do crescimento econômico mundial têm sido os Estados Unidos e os países asiáticos, em particular a India e a República Popular da China. A economia chinesa tem atuado como um motor na sua região, o que, entre outras coisas, permitiu um aumento das exportações japonesas e dos novos países industrializados, e uma volumosa demanda de produtos básicos que favoreceu algumas economias da América Latina. 1 1 Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), Balance preliminar de las economías de América Latina y el Caribe, 2003 (LC/G.2223-P/E), Santiago do Chile, dezembro de Publicação das Nações Unidas, N? de venda: S.03.II.G.186.
2 Em 2004, os Estados Unidos poderiam alcançar una taxa de crescimiento de 4%, após sua expansão de 3,0% no ano passado. A China registrou uma expansão de 9,1% em 2003 e de 9,7% no primeiro semestre de 2004, em relação ao mesmo período do ano anterior. A economia do Japão cresceu 3,5% em 2003, depois da retração sofrida no ano anterior (0,3%). A permanência desta tendência no 2004 poderia levar a um crescimento anual superior a 4%, previsão que depende muito do dinamismo econômico da China. A União Européia mostrou uma recuperação mais lenta em 2003, com um crescimiento de somente 0,9%. Este aumento se concentrou na segunda metade do ano e se acelerou no primeiro trimestre do 2004, período no qual se atingiu uma taxa anualizada de 2,5%. O crescimento da economia mundial no período tem-se refletido numa demanda que tem influenciado positivamente as economias da América Latina e do Caribe; de especial importância neste sentido foi o impulso proveniente das importações dos Estados Unidos e da China. Em 2003, o nível do índice de preços dos produtos básicos exportados pela América Latina e pelo Caribe subiu 15,4% em termos gerais e 7,2%, excluíndo o petróleo. Entre abril e junho de 2004 registrou-se um enfraquecimento dos seus mercados, devido ao qual tem-se observado quedas de preços de vários de esses produtos. O setor externo da região Em 2003, a conta corrente do balanço de pagamentos da América Latina e do Caribe teve um saldo positivo de 5,6 bilhões de dólares, equivalente a 0,3% do PIB regional, fato de grande importância considerando que este indicador não apresentava resultado positivo desde Os demais componentes do balanço de pagamentos que tiveram saldo positivo foram as contas de capital e financiamento (incluindo erros e omissões), que atingiram 5,1 bilhões de dólares, e o financiamento excepcional que somou 18,7 bilhões. Estes movimentos permitiram um importante aumento das reservas, em montante equivalente a 29,6 bilhões de dólares (1,7% del PIB). Outro fenômeno digno de menção é que em 2003, a acumulação de reservas foi essencial para estabilizar o mercado de câmbio em alguns países. De acordo com as tendências observadas nos primeiros cinco meses do ano, em 2004 obterse-á um novo superávit da conta corrente do balanço de pagamentos, de aproximadamente 1% do PIB. O saldo da balança comercial deverá ser maior do que o de 2003, como resultado do extraordinário crescimento das exportações que compensará a recuperação das importações. Em 2003 se deteve a deterioração dos termos de troca que se observou na região entre 1998 e 2002 e que significou uma perda acumulada de 14,9% no caso dos países não petroleiros e de 3,3% se forem incluídos os países exportadores líquidos de petróleo. Apesar da mudança de sinal, a melhora de 2003 foi modesta: 1,1% na região, sendo 2,5% no caso dos países petroleiros e 0,5% no dos não petroleiros. Para 2004, estima-se um crescimento dos termos de troca, podendo chegar a 3%. Desde meados de 2002, a América Latina e o Caribe vêm obtendo superávit na balança comercial. Em 2003, esse superávit não resultou da contração das importações, como no ano anterior, mas da expansão das exportações (8,2%) superior à das compras externas (3,2%). As vendas externas elevaram-se em 2003 na maioria dos países membros do Mercosul e da Comunidade Andina, assim como no Chile. Na maioria dos casos, esse aumento deveu-se a uma elevação das quantidades exportadas mais que dos seus preços. No ano de 2004, as exportações totais poderiam crescer 15%, correspondendo seis pontos percentuais ao aumento de preços. Em 2003, a entrada líquida de capitais na América Latina e no Caribe teve uma modesta recuperação, chegando a 1,4% do PIB. As perspectivas para este ano indicam que prosseguirá essa
3 recuperação, podendo atingir 1,8% do PIB, destacando-se especialmente a entrada de capitais privados. A pesar desta recuperação, e considerando que haverá variações pouco significativas nos pagamentos de serviços de fatores, se produzirá uma transferência de recursos para o exterior de aproximadamente 22 bilhões de dólares. O investimento estrangeiro direto (IED) na região tem sofrido uma gradual, mas notável diminuição durante quatro anos consecutivos, perdendo o dinamismo de anos anteriores. Em 2003, estes investimentos, em termos brutos, alcançaram 29,2 bilhões de dólares, magnitude bastante inferior do que a média de , que foi equivalente a 39 bilhões de dólares. As perspectivas para 2004 apontam para uma recuperação da entrada de IED, que atingiria 35 bilhões de dólares. Em um contexto de recuperação dos mercados financeiros mundiais, em 2003, o custo médio do financiamento externo para a região diminuiu de 12,7% a 9,9% e foi semelhante ao registrado no primeiro semestre de 1997, antes da crise asiática. As cifras correspondentes ao primeiro trimestre de 2004 continuaram descendo até chegar a 9,4% anual; contudo, no segundo trimestre, houve uma elevação de um ponto percentual, devido a um aumento relativamente generalizado dos prêmios de risco e a uma alta de 0,6% nos rendimientos dos títulos da dívida (bonds). POLÍTICA ECONÔMICA A política fiscal Nos últimos anos, a redução do déficit foi o principal objetivo das políticas fiscais na região. A atenção se voltou mais para os elevados níveis de dívida pública e para os problemas de financiamento de curto prazo, antes do que para o eventual papel anti-cíclico da política fiscal. Portanto, as contas fiscais dos países latino-americanos e do Caribe melhoraram significativamente no ano de Esta tendência continuará durante 2004, pois espera-se que o superávit primário alcance uma média simples de um ponto percentual do PIB, situação que não tinha se produzido em muitos anos. A política cambiaria Entre dezembro de 2002 e dezembro de 2003, as moedas da América Latina e do Caribe acumularam uma apreciação média em termos reais de 4,9% vis-à-vis o dólar. Esta apreciação aconteceu em todos os países da América do Sul, com exceção da Bolívia, após as profundas depreciações reais em relação ao dólar registradas na região durante A apreciação foi especialmente marcada no Brasil (24,9%), no Paraguai (19,4%), na Argentina (15,3%) e no Chile (13,7%) e levou a uma apreciação real média na subregião de 8,9% em relação com a moeda dos Estados Unidos. No mesmo período, na América Central produziu-se em média uma pequena depreciação real com relação ao dólar (0,5%). No México, esta depreciação foi mais acentuada (8,1%), o que contrastou com a apreciação real do peso mexicano entre 1995 e No Caribe a situação cambiária foi heterogênea: enquanto os problemas vividos pela Jamaica e pela República Dominicana deram origem a uma considerável depreciação real das suas moedas vis-a-vis o dólar, em Trinidad e Tobago e Haiti se registrou uma apreciação real em relação à moeda dos Estados Unidos. Entre dezembro de 2003 e maio de 2004, na América Latina e no Caribe observou-se uma leve depreciação média real em relação ao dólar (1,2%) e uma pequena apreciação real em relação ao euro (2,2%). Em relação com o dólar, as moedas sul-americanas registraram uma desvalorização real de 1,9%,
4 na América Central se observou uma leve apreciação real (-0,2%), no México o peso continuou se depreciando em termos reais (3,3%), enquanto que no Caribe os movimentos cambiais se estabilizaram quando comparados com a volatilidade observada durante Após os cinco primeiros meses de 2004, a região apresenta taxas de câmbio efetivas reais superiores (18%) aos níveis que prevaleceram no período A política monetária O cenário externo é central para a política monetária da região. Em maior ou menor grau, a margem de ação das economias nacionales está subordinada à evolução das taxas de juros internacionais. A partir de meados de 2003 observou-se uma maior liquidez na economia mundial, gerada pelas condições monetárias expansivas que imperavam nos Estados Unidos, na Europa e no Japão, e pelos maiores fluxos internacionais registrados nos mercados de capital. Graças a esta situação, os países mais endividados da região foram beneficiados com maiores entradas de capital e com a redução dos diferenciais de crédito. Contudo, a partir de abril de 2004, a tendência começou a se reverter, como conseqüência do aumento das taxas de juros de longo prazo, da queda do preço das ações e da alta dos prêmios de risco. Como é tradicional, no período analisado o principal objetivo da política monetária na região foi o controle da inflação e, nos casos em que os níveis de inflação estavam suficientemente controlados, o apoio da reativação das economias. O proceso de redução das taxas de juros baixo controle dos bancos centrais provavelmente chegou a seu fim. Agora, é necessário perguntar-se com que intensidade e defasagens se moverão as taxas regionais com relação à política que haverá de seguir a Reserva Federal dos Estados Unidos. DESEMPENHO INTERNO Atividade econômica Em 2004, o crescimento do produto interno bruto do conjunto de países da América Latina e do Caribe deverá ser em torno a 4,5%, representando uma importante melhoria com relação aos valores de 2003, quando o PIB regional aumentou em 1,5%. Durante 2003, a evolução da atividade econômica foi melhorando ao longo do ano. No primeiro semestre, o desempenho das economias foi heterogêneo, enquanto que no segundo, observou-se uma recuperação da atividade econômica em praticamente todos os casos. Ainda que as exportações continuaram sendo o elemento mais dinâmico da demanda, o consumo (especialmente o privado) apresentou um pequeno aumento em comparação com A formação bruta de capital fixo se manteve em um nível semelhante ao de 2002, ano em que o pequeno aumento da construção foi compensado pela contração dos investimentos em máquinas e equipamento. O estancamento da formação bruta de capital fixo em 2003 se soma à queda de 5,9% registrada por esta variável em Como percentagem do PIB regional, o investimento bruto fixo alcançou 17,9%, o nível mais baixo desde começos da década de setenta. Tal como se indica no Balanço Preliminar das economias da América Latina e do Caribe, publicado pela CEPAL no final do ano passado, o crescimento da atividade dos países ao longo de 2003 foi resultado de diversos fatores, tanto de natureza interna como externa. Os primeiros se relacionam, por um lado, com a evolução da taxa de câmbio real, cuja depreciação favoreceu a produção de bens comercializáveis (tradable goods). Por outro lado, a política monetária acompanhou a queda das
5 expectativas inflacionárias com menores taxas de juros, estimulando a atividade interna. Adicionalmente, a existência de capacidade instalada ociosa em determinadas atividades possibilitou aproveitar a expansão da demanda resultante de uma conjuntura internacional mais favorável. Os fatores externos estiveram associados à melhoria relativa da situação econômica mundial a partir da segunda metade de A inflação regional Para 2004, a taxa de inflação na América Latina e no Caribe deverá ser um pouco menor que a de 2003, ano em que a taxa global foi de 8,5%, quase quatro pontos percentuais inferior à registrada em 2002 (12,1%). Emprego e salários Depois da severa piora da situação do mercado de trabalho experimentada a partir de 1998, em 2003 a recuperação das economias latino-americanas e do Caribe teve alguns efeitos positivos nos mercados de trabalho, que se manifestaram sobretudo na geração de novos postos de trabalho. Contudo, como os alentadores sinais estimularam não só a demanda mas também a oferta por mão-de-obra, o escasso crescimento econômico impediu que os novos membros da força de trabalho se integrassem a ocupações produtivas, o que se refletiu em um elevado desemprego. De fato, apesar de que a taxa de ocupação aumentou de 51,6% a 52,0%, o desemprego foi bastante alto, de 10,5%. Adicionalmente, a média ponderada dos salários médios reais cairam 4.4%. Durante o primeiro semestre de 2004, os mercados de trabalho seguem apresentando um panorama heterogêneo, destacando-se a pronunciada queda da taxa de desemprego em alguns países que passaram por severas crises em anos recentes. Estima-se que a taxa de desemprego regional desceu a 10,3% desde 10,7% no mesmo período de Em matéria de salários observa-se um quadro semelhante, já que nos países em que estes sofreram fortes perdas durante 2003, a deterioração diminuiu nos primeiros meses de CRESCIMENTO ECONÔMICO: UMA PERSPECTIVA DE MÉDIO PRAZO Nas últimas décadas, a América Latina e o Caribe registraram um ritmo de crescimento econômico per capita modesto e volátil. As últimas décadas do século XX caraterizaram-se pela instabilidade dos fluxos de capital, as constantes perturbações dos termos de troca, as reformas econômicas e as rápidas transformações da economía mundial. Neste cenário, o ritmo de crescimento econômico da América Latina e do Caribe reflete uma complexa interação de diferentes tendências, que se superpõem com ciclos de diferente intensidade e duração. Por outro lado, analisando por países, a trajetória do crescimento também variou enormemente; de fato, nos últimos 30 a 40 anos, observam-se episódios de prosperidade de cerca de uma década de duração, períodos de estancamento e bruscas quedas do crescimento em vários países da região. A análise das fontes do crescimento mostra que a desaceleração da formação de capital explica em média aproximadamente uma terça parte da desaceleração do crescimiento do PIB na América Latina depois de Os dados pertinentes indicam que o investimento público foi mais volátil do que o investimento privado em , período em que a maioria dos países da América Latina implementou medidas de ajuste para resolver as constantes crises fiscais, levando a freqüentes cortes de investimento público. Porém, o dado mais destacado é que no período estudado, a produtividade total dos
6 fatores não aumentou ou teve uma contribuição negativa ao crescimento econômico da maioria dos países da região. Os episódios de crescimento sustentado e contração prolongada mostram a diversidade de fatores que incidem no crescimento sustentado, freiam o crescimento e conduzem as economias a uma espiral de crescimento negativo às vezes bastante prolongada. É interessante assinalar que quando se registraram episódios de crescimento, estes foram acompanhados de aumentos sustentados da produtividade total dos fatores e se produziram tanto nos anos sessenta e setenta, quando ainda estava vigente a política de substituição de importações, como nos anos noventa, quando vigoravam políticas mais orientadas ao mercado. Os episódios de queda prolongada do crescimento reduziram enormemente a qualidade de vida, aumentando a pobreza nos países afetados.
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