O homem que não sabia mentir

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Denílson de Figueiredo Neves
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1 O homem que não sabia mentir

2 2 Clodoaldo Turcato O homem que não sabia mentir Primeira Edição Editora do Livre Pensador Recife, Pernambuco 2012

3 3 Titulo Original O homem que não sabia mentir Primeira Edição 2012 by Clodoaldo Turcato Copyright da 2012 Editora do Livre Pensador Avenida Presidente Kennedy, 4834 Candeias Jaboatão dos Guararapes PE Telefone (081) / (081) clodoaldoturcato@hotmail.com Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais. (Lei 9.610/98). Capa: Instituto do Livre Pensador Ilustração de capa: Clodoaldo Turcato

4 4 ÍNDICE Dedicatória 05 Prefácio 06 Alguns esclarecimentos 07 O homem que não sabia mentir Ato Único 08

5 5 Dedico esta peça a meu querido Tio Bim, Santinho Pietro Biazi, um homem muito parecido com o personagem principal desta obra.

6 6 Prefácio por mim mesmo Esta peça é uma criação que fiz baseada na vida de meu Tio Bim. Um homem cuja sua vida sempre foi pautada pela verdade. De todos que conheci, Santinho Pietro Biazi, nome verdadeiro de Tio Bim, era adepto da verdade absoluta, mesmo que esta se tornasse inconveniente por vezes. Ao lado de Tio Bim, como de, existe a esposa aproveitadora, o Padre, a vizinha fofoqueira, a prostituta amiga e o vizinho indesejado. Cá vai minha última homenagem a este homem, talhado como poucos.

7 7 Alguns esclarecimentos O cenário para esta peça pode ser adequado de acordo com cada diretor. Eu sugiro um banco de praça, pinturas ao fundo de casas e a frente ruas pequenas. Tudo em cores leves, dando aspectos de uma praça cercada de casas, estilo interiorano. Outra possibilidade seria utilizar cores fortes com tons em preto, para um maior destaque. Enfim, o cenário que seja adequado ao prazer de cada diretor. A única sugestão que eu gostaria que fosse atendida é a de que o cenário seja criado de tal forma que possa ser montado em qualquer situação. Nada de muita ornamentação que dificulte a produção desta peça em locais diferenciados. Prefiro que esta peça tome tons de picadeiro e possa ser apresentada nos mais diversos locais, principalmente em palcos improvisados. De qualquer forma o cenário é missão dos profissionais adequados e não minha, que mal sei contar uma pequena estória.

8 8 O homem que não sabia mentir Ato Único Abrem-se as cortinas e entra um anjo, que poderá ser interpretado por um homem ou mulher. O ator ou atriz deverá ser jovem, para dar maior veracidade. Durante a fala do anjo, o jogo de luzes, deverá ser acionado, contrastando com o ambiente, alternando entre noite e dia, escurecendo de todo no final da fala. Anjo Esta é a estória de um herói. Não, não! Não se trata de uma super aventura, daquelas narradas por Marvel Cosmic, nenhum drama de Shakespeare; não terão uma comédia Dantesca, nem um Ariano Suassuna ou João Cabral. Não, não chorarão. Não teremos nada sádico ou erótico. Nosso personagens não frequentam casas de moda; são pessoas comuns: comem, dormem, amam, choram, bebem e tem seu time de futebol. Nosso herói é um moveleiro, sujeito pacato, primário - um homem normal. Mas com uma virtude (ou defeito): ele não sabe mentir! Acreditem, distintos espectadores. É a trajetória de um Zé do Burro, um quase Jesus Cristo. A vida e a morte de um homem que só falava a verdade, mesmo quando a

9 9 verdade era uma verdade dolorida. Vejam senhoras e senhores, como nosso herói age diante de um mundo impregnado pela mentira. Qualquer comparativo com a sua vida não é coincidência, são fatos. Mas não fiquemos tristes. Afinal, todos mentiram e sofreram com isso; menos nosso herói. Vamos para e estória. Apagam-se as luzes e o anjo saí. Quando volta a clarear, encontramos duas mulheres sentadas no banco da praça. Claudete, mas que colar mais lindo! Aposto que são pérolas legítimas. (tocando o colar, admirada) São sim. Coisa importada. O gastou uma nota com a aquisição. Claudete E quanto foi? Bem... ( titubeante) ora não sei...

10 10 Claudete Não sabe? Presente não se fala o preço! Não sabe? Mas que foi cara foi. gastou uma nota, isso foi... Entra. Claudete Lá vem seu. Vamos esclarecer com ele... (aflita) Não seja indelicada, Claudete. Essas coisas não se pergunta. Claudete Que nada. Aposto que seu não vai se importar. (sorridente) Olá, senhoras. Descansando?

11 11 Claudete Que nada seu. Estava admirando a joia que desta à sua esposa. Uma beleza! Aponto que custou uma nota. Essa bijuteria? Uma merreca. Claudete (olhando para zombeteira) Mas não custou uma nota? Bom... eu achei, querido... Eu não perguntei o preço... Três reais. Achei bonitinha, tava à venda por uma rendeira pobrezinha. Fiquei com pena dela e resolvi trazer pra. Achei que ficaria bem em seu pescoçinho. Claudete (levantando-se) Eu já vou indo seu. (virando-se para ) De qualquer forma é um lindo colar de plástico.

12 12 Depois que Claudete se afasta. (irritada) Você tinha que estragar tudo, né? Estragar o quê? Por quê? Eu tinha dito para Claudete que este colar era de pérolas. Mas vem você e estraga tudo. Mas eu só disse a verdade. Bem por isso. Custava me ajudar? Há,. Você sabe que eu não sei mentir. Não adianta, comigo não!

13 13 Mas uma mentirinha de nada... (cortante) Mentirinha!? É por isso que o mundo tá como tá. Uma mentira aqui, outra ali. Mas comigo não! Comigo não. Pare com essa mesquinhes! (levantando-se) Você com essa mania de honestidade! O que isso te deu? (gritando). Uma consciência tranquila. Quando durmo fico uma beleza. Você... (sai irada do palco) Entra o político. Usar um ator engravatado Político Ora quem se vê. Seu!

14 14 Há! O sinhô. A quanto tempo hem! Se não me engano, desde a última eleição. Quatro anos, não é? Político (sem graça) Bem, talvez não saiba, mas vi sua esposa na semana passada na rodoviária, quando disse a ela que viria visitálos. Ela até que me falou que o sinhô ia jantar lá em casa. Mas aí eu até falei pra ela que dispensava sua visita. Afinal não via nenhum motivo para tanto... Político (sentando ao lado de ) O senhor está brincando, não é? É não! Falei mesmo, e falo agora: não veja carência do sinhô nos visita. Político (sem jeito) Mas seu, o que o fez ficar bravo deste jeito? Alguma coisa que eu fiz?

15 15 Nada disso. O problema não é o que o sinhô feiz. Mas sim o que não feiz, sabe? Mas de qualquer forma eu nem direito tenho de te cobrá, afinal, nem no sinhô votei. Político (espantado) Não votou. Mas Dona me garatiu... garantiu o voto dela, não o meu. O que eu te falei quando me pediu o voto? Político Que já tinha outro candidato. O Juca Carroceiro. Pois é, foi nele que eu votei. Político Mas na certa dividiram: um voto pro carroceiro e um aqui pro amigo...

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