Análise de prescrições medicamentosas dispensadas na Farmácia de uma Unidade. Básica de Saúde de Porto Alegre-RS
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- Juan Brunelli Maranhão
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1 Análise de prescrições medicamentosas dispensadas na Farmácia de uma Unidade Básica de Saúde de Porto Alegre-RS Analysis of drug prescriptions dispensed on the pharmacy in the Basic Health Unit in Porto Alegre RS - Brasil Paula Guzatto; Denise Bueno Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Faculdade de Farmácia Departamento de Produção e Controle de Medicamentos Porto Alegre, Rio Grande do Sul Brasil Endereço para correspondência: Denise Bueno, Profª. Drª. Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Faculdade de Farmácia Avenida Ipiranga, 2752 Porto Alegre, RS Brasil CEP: Telefone: (51) Fax: (51) bdenise@farmacia.ufrgs.br Descritores: Assistência Farmacêutica. Uso Racional de Medicamentos. Erros de Medicação. Atenção Primária. Prescrições Médicas. Keywords: Pharmaceutical Assistance. Rational Use of Drugs. Medication Errors. Primary Care. Medical Prescriptions. 1
2 RESUMO Objetivo: avaliar as prescrições medicamentosas a partir dos erros encontrados e da demanda não atendida, visando à qualificação da assistência farmacêutica e a promoção do uso racional de medicamentos. Metodologia: estudo longitudinal retrospectivo a partir de prescrições dispensadas em uma Unidade Básica de Saúde em Porto Alegre-RS, incluindo todas as prescrições que tiveram pelo menos um item dispensado. Parâmetros analisados: 1) procedência da prescrição médica; 2) utilização do nome comercial; 3) posologia; 4) data; 5) dados de identificação do paciente; 6) dados de identificação do prescritor; 7) legibilidade da receita; 8) demanda não atendida. Resultados: avaliou-se 3701 prescrições. Dessa, 24,2% foram oriundas do HCPA; 49,3% da UBS HCPA-Santa Cecília; 9,6% de outros postos de saúde; 9,1% de convênios/particulares; 7,6% de outros hospitais. Dos medicamentos prescritos, 9,2% utilizavam nome comercial. Em relação aos parâmetros analisados, 4% apresentavam erro na posologia e 8,1% na data; 96,4% apresentavam dados de identificação do paciente completos e 91,2% os dados do prescritor estavam completos, 18% apresentavam algum dado ilegível. Conclusão: é necessária educação permanente dos profissionais da saúde. A regionalização da dispensação de medicamentos qualifica e amplifica a assistência farmacêutica nas UBS. A interdisciplinaridade é uma das estratégias utilizadas para o uso racional de medicamentos. 2
3 INTRODUÇÃO Os medicamentos exercem uma função simbólica sobre a população. Como produto simbólico, o medicamento pode ser visto como um signo ou símbolo, composto de uma realidade material (significante), no caso a pílula, a solução, a ampola e outras, que remete a um conceito (significado) que é a Saúde (1,2). Desta forma, o medicamento toma papel proeminente dentro da consulta médica (3), além de fazer uma "economia", poupando trabalho político e pessoal necessário para a obtenção de saúde (4). A necessidade da prescrição para a obtenção do medicamento representa limitação da liberdade pessoal de busca imediata do alívio da sintomatologia, o que impede que o indivíduo faça preponderar sua própria experiência e vontade (5). Este desejo de consumo de medicamentos torna-se possível devido a fatores externos, como a cultura, a economia e aspectos legais que facilitam ou não impedem a posse e dispensação de medicamentos sem a apresentação da receita médica (6,7,8,9). López e Kroeger (10), em estudo com intervenções educativas, demonstraram a dificuldade de modificar os hábitos da população em relação aos medicamentos, enfatizando a necessidade de conhecer o valor simbólico e expectativas associadas ao medicamento. Mudanças no modo de utilizar medicamentos somente são viáveis quando se radicam em ações educativas prolongadas, uma vez que o desmonte e reestruturação da carga simbólica vinculada aos medicamentos exigem tempo. Estudo de Haak (11) detectou uma supervalorização da eficácia dos medicamentos pela população estudada, já que 46,5% dos entrevistados não cogitam uma terapêutica que não seja farmacológica. Essa sociedade de consumo, ao mesmo tempo em que promove a idéia de que qualquer sofrimento, qualquer dor, qualquer estado, enfim, que fuja daquilo que ela institui como padrão, inclusive estético, constitui algo insuportável para o indivíduo, por outro lado oferece a solução mágica, na ponta dos dedos: os comprimidos (2). Em 1988, com a promulgação da Nova Constituição Federal do Brasil, foi conferido ao Estado o papel de assegurar a saúde de forma universal, integral e equânime, incluindo a assistência farmacêutica (12). Assistência Farmacêutica constitui, 3
4 portanto, um componente da política de medicamentos, essencial no sistema de saúde, sendo prioritária e imperativa a sua definição, organização e estruturação nos diversos níveis de atenção à saúde, com ênfase no setor público, no marco da transformação do novo modelo assistencial de vigilância à saúde. Dentre seus objetivos estão: assegurar a acessibilidade de medicamentos e farmacoterapia de qualidade à população, com ênfase nos grupos de risco; garantir o uso racional de medicamentos e de insumos farmacêuticos; oferecer serviços farmacêuticos e cuidados ao paciente e à comunidade, complementando a atuação de outros serviços de atenção à saúde e contribuir de maneira eficaz e efetiva para transformar o investimento com medicamentos em incremento de saúde e de qualidade de vida (13). Frente à assistência farmacêutica destaca-se o recebimento, a compreensão e a correta dispensação da prescrição médica como sendo um papel importante do profissional dessa área. Isso se deve ao fato de que a prescrição é uma ordem escrita dirigida ao farmacêutico, definindo como o fármaco deve ser fornecido ao paciente, e a este, determinado as condições em que o fármaco deve ser utilizado. É documento legal pelo qual se responsabilizam quem prescreve (médico) e quem dispensa a medicação (farmacêutico), estando sujeito à legislação de controle e vigilância sanitários (14). Atualmente, os eventos adversos relacionados à assistência, especialmente os erros, são cada vez mais conhecidos, discutidos e julgados em tribunais. A assistência à saúde passou a ser uma forma de prestação de serviços sujeita às leis contratuais e suas conseqüências nas áreas cível e penal. Além disso, a formação dos profissionais que lidam com vidas humanas é fortemente marcada pela busca de infalibilidade, iniciando-se aí a extrema dificuldade de médicos, enfermeiros, farmacêuticos e outros profissionais lidarem com o erro humano nas organizações de saúde (15). Conceitua-se erro de medicação como sendo qualquer evento evitável que pode causar dano ao paciente ou dar lugar a uma utilização inapropriada dos medicamentos, quando estes estão sob o controle dos profissionais de saúde, do paciente ou do consumidor. Estes incidentes podem estar relacionados com a prática profissional, com 4
5 os produtos, com os procedimentos ou com os sistemas, incluindo falhas na prescrição, comunicação, rótulos, embalagem, denominação, preparação, dispensação, distribuição, administração, educação, monitoramento e uso dos medicamentos. Em outras palavras, é qualquer incidente evitável, produzido em qualquer um dos processos do sistema de utilização dos medicamentos, que inclui a seleção, prescrição, transcrição, dispensação, administração e seguimento do tratamento, e que pode causar ou não danos ao paciente (16). Para minimizar os erros que ocorrem no sistema de saúde é necessário que os profissionais dessa área compreendam a importância da multidisciplinaridade e da integralidade em todos os momentos relacionados com o medicamento, bem como criticar a prática que limita a assistência farmacêutica às atividades de aquisição e distribuição de medicamentos. Administrar medicamentos é um processo que se inicia no momento da prescrição médica, continua com a provisão do medicamento pelo farmacêutico e termina com o seu preparo e administração aos clientes (17). É durante o contato com o médico que o paciente recebe (ou não) a prescrição de medicamento. Entretanto, o uso adequado dos medicamentos não depende apenas de uma prescrição de qualidade, mas é também fruto de dispensação responsável. A interação entre paciente/médico/farmacêutico possibilita a emergência de expectativas, demandas e troca de informações que terão conseqüência direta no resultado da terapêutica (18). Verificar a qualidade da prescrição é avaliar a qualidade de uma parte dos serviços de saúde prestados, além de ser um registro que pode indicar a satisfação do paciente, sendo esta última relacionada à adesão do tratamento. Também faz parte da adesão o entendimento da prescrição pelo paciente, pois se este apresentar dúvidas com relação ao que foi prescrito, irá sentir-se desmotivado com o tratamento, podendo alterar a prescrição segundo seu critério ou até deixar de realizá-la (19). Os medicamentos salvam vidas e melhoram a condição de saúde das pessoas, mas não devem ser tratados como mercadoria e usados indiscriminadamente (20). Porém, são crescentes as intoxicações provocadas pela ingestão excessiva ou indevida 5
6 de medicamentos, acarretando em, muitos casos, na morte do paciente. Esse fato ressalta a importância da educação continuada, tanto dos profissionais da saúde quanto dos pacientes e da comunidade. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define uso racional de medicamentos como sendo a administração de fármacos apropriados ao paciente conforme suas necessidades clínicas, em doses que satisfaçam suas características individuais, por um período de tempo adequado com o menor custo para ele e para a comunidade. Dados mundiais de consumo de medicamentos e de reações adversas aos medicamentos incentivam o seu uso racional para que no futuro a relação saúde x medicamento seja substancialmente favorável ao paciente. Dessa maneira, a avaliação dos erros nas prescrições atendidas na Unidade Básica de Saúde (UBS) Santa Cecília Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) pode permitir a observação das principais necessidades organizacionais desta Unidade. Avaliar o símbolo do medicamento contribui para a formulação de políticas voltadas para a reorientação da assistência farmacêutica, promovendo a melhoria do acesso e do uso racional dos medicamentos, constituindo uma importante ferramenta nesse contexto. 6
7 MATERIAIS E MÉTODOS Delineamento do estudo A metodologia empregada foi a de um estudo longitudinal retrospectivo, no qual foram avaliadas as prescrições medicamentosas dispensadas na UBS HCPA-Santa Cecília em um período de um mês (01 de Setembro a 01 de Outubro de 2006). As prescrições foram avaliadas diariamente no dia posterior ao da retirada do medicamento. Foram incluídas no estudo todas as prescrições que tiveram pelo menos um dos itens atendidos. A UBS HCPA - Sta. Cecília está situada dentro do Campus da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde se encontram as Faculdades de Farmácia, Medicina, Odontologia, a Escola de Enfermagem e o Curso de Nutrição e o Hospital de Clínicas de Porto Alegre. A área adstrita compreende algumas regiões do 8º distrito do município de Porto Alegre e algumas outras áreas, totalizando pessoas que poderão vir a utilizar os serviços desta unidade. A UBS HCPA - Sta. Cecília, conta com duas equipes de Programa Saúde da Família (PSF), uma Farmácia e oferece serviços de acolhimento e atendimento odontológico, pediatria, ginecologia e clínica geral. Também conta com serviços de vacinação e aplicação de medicamentos injetáveis e os programas: Nascer, Pra-crescer, Esperança, Pré-natal, acompanhamento de Hipertensos e Diabéticos (HiperDia) e Grupo de Idosos. Os medicamentos disponibilizados na UBS são provenientes da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre a partir da relação municipal de medicamentos (REMUME). A Farmácia da UBS tem uma média de 250 receitas/dia atendidas e com uma média de 70 discentes/semestre envolvidos em alguma atividade da mesma. Os parâmetros avaliados após um mês foram: 1) procedência da prescrição médica; 2) utilização do nome comercial; 3) posologia; 4) data; 5) dados de identificação do paciente; 6) dados de identificação do prescritor; 7) legibilidade da receita, 8) demanda não atendida. Os dados foram sumarizados por análise descritiva. 7
8 O estudo apresentou metodologia complementar qualitativa e quantitativa, considerando-se a totalidade das prescrições dispensadas no mês de setembro de 2006, objetivando-se listar os erros encontrados e a demanda não atendida. Aspecto ético Em virtude da necessidade de acesso a informações provenientes das prescrições arquivadas na farmácia da UBS, houve preocupação em obter autorização dos responsáveis. A proposta em questão foi avaliada e aprovada pelo Comitê de Ética do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, conforme parecer de número Assinouse o termo de compromisso para uso de dados, assegurando os aspectos éticos, conforme a Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) 196/96. Garantiu-se o sigilo absoluto acerca de qualquer informação coletada que pudesse identificar os pacientes, uma vez que o projeto não estava baseado em dados individuais, importando sim o conjunto das informações. 8
9 RESULTADOS Foram avaliadas 3701 prescrições medicamentosas. Quanto à procedência da prescrição, 24,2% (894) foram oriundas do HCPA; 49,3% (18204) da UBS HCPA-Santa Cecília; 9,6% (357) de outros postos de saúde; 9,1% (338) de convênios/particulares; 7,6% (280) de outros hospitais (figura 1). Quanto à utilização do nome comercial, 9,2% (341) das prescrições apresentavam pelo menos um medicamento prescrito com nome comercial. Quanto à posologia foi verificado que 4% (148) apresentavam algum problema, como falta desse dado, posologia ilegível ou incompleta. Em relação à quantidade de medicamento necessário para completar o tratamento, 19,3% (716) apresentavam problemas quanto a esse dado, sendo que desses, 95,9% (687) não possuíam esse valor, 3,3% (24) apresentava rasuras, 0,4% (3) foi ilegível e 0,3% (2) estava errado. Quanto às unidades internacionais de medidas, 13,6% (505) estavam ilegíveis e 11,7% (433) não as possuíam. Quanto à concentração do medicamento prescrito, em 6,5% (242) faltava essa informação, em 0,7% (27) estava ilegível, em 0,3% (11) encontrava-se rasurada e em 0,1 (4) estava errada. Em 1,1% (42) das prescrições pode-se encontrar abreviaturas de nomes de medicamentos. Quanto à data na prescrição, em 2,1% (79) não constava essa informação, em 1,6% (61) estava rasurada, em 1,1% (41) era ilegível e em 0,3% (11) estava incompleta, sendo que 3% (113) do total de prescrições estavam vencidas. Em 2,9% (106) houve a prescrição do medicamento com a via de administração errada. Em 0,08% (3) foi indicado o uso de medicamentos para duas pessoas em uma mesma prescrição. Quanto à notificação de receita, 0,08% (3) possuíam fármacos de uso controlado que não estavam impressos em formulário próprio. Quanto aos dados de identificação do paciente, 96,4%(3568) das prescrições apresentavam estas informações completas e legíveis. Quanto a dados de identificação do prescritor, 91,2% (3377) pode ser identificado o prescritor com assinatura e carimbo. Porém, 1,2% (44) apresentou carimbo e assinatura de outra pessoa que não correspondiam aos dados impressos na prescrição 9
10 Todos esses casos ocorreram com prescrições eletrônicas do HCPA, sendo importante destacar que 40,9% (18) dessas prescrições foram de um mesmo médico, correspondendo a 60% das suas prescrições que foram dispensadas no local de estudo em questão. Pode-se constatar que 99,7% (3691) dos prescritores foram médicos, 0,27%(10) odontólogos e 0,03% (1) enfermeira (tabela 1). Quanto à leitura da receita, não foi possível identificar vários itens da prescrição medicamentosa, sendo que 18% (679) das prescrições apresentavam unidade, posologia, data, concentração e/ou quantidade ilegíveis (tabela 2). Em 0,05% (2) das prescrições houve a dispensação errônea de um medicamento trocado e em 0,2% (9) não foi possível identificar os medicamento dispensados pois não constava o carimbo da farmácia com essa informação. Em 0,2% (8) das prescrições não foi possível identificar a procedência da prescrição, pois essa estava escrita em uma folha simples, sem nenhuma identificação impressa do local e nem do prescrito. Os erros encontrados nas prescrições foram muitos, desde quantidade errada, ilegível, rasurada ou ausente, unidade ilegível ou ausente, nome comercial, identificação do paciente ausente ou ilegível, vencida, data rasurada, ausente, ilegível ou incompleta, via de administração errada, concentração rasurada, ilegível, ausente ou errada, dois pacientes em uma prescrição, abreviatura, identificação do prescritor sem carimbo e/ou sem assinatura, problemas com a posologia (tabela 3). Dentre as 3701 prescrições analisadas, medicamentos foram prescritos, sendo que 67,1% (6835) destes medicamentos foram dispensados pela farmácia na UBS Santa Cecília (figura 2). Quanto aos erros encontrados em relação à procedência da prescrição, 31% (1091) foram provenientes do HCPA, 20,8% (733) da UBS HCPA-Santa Cecília, 17,3% (610) outros postos de saúde, 16,9% (594) Particulares/Convênios, 13,3% (469) outros hospitais e 0,63% (22) não foi possível identificar o local de procedência (tabela 4). 10
11 DISCUSSÃO A prescrição de fármacos é normatizada no país, principalmente, pelas Leis Federais 5991/73 e 9787/99 e pela Resolução n.º 357/2001 do Conselho Federal de Farmácia, que define as Boas Práticas em Farmácia. Com base nessa regulamentação, apresentam-se algumas normas para execução adequada de uma receita (21). 1. A prescrição deve ser escrita a tinta, em vernáculo, em letra de fôrma, clara, por extenso e legível, sem rasuras, observando a nomenclatura e o sistema de pesos e medidas oficiais. Datilografia e impressão por computadores são aceitáveis, minimizando dificuldades de compreensão. 2. Não se deve utilizar abreviaturas para designar formas farmacêuticas, vias de administração, quantidades ou intervalos entre doses. 3. Deve-se usar receituário específico para prescrição de fármacos controlados. 4. A prescrição deve ser assinada claramente e acompanhada de carimbo, permitindo identificar o profissional. 5. É importante que as instruções de uso para cada medicamento prescrito sejam especificadas, evitando que o paciente as confunda. 6. Deve-se estar atento para a grafia de números com zeros ou vírgulas, evitando erros grosseiros de dosagens. 7. A receita tem validade de 30 dias, a contar da data de emissão. A prescrição medicamentosa geralmente inicia com o agente farmacológico segundo a Designação Comum Brasileira (DCM) e, na falta dessa, a Internacional (DCI), sendo que o nome genérico é obrigatório no Sistema Único de Saúde (SUS). A forma farmacêutica, sua concentração e quantidade total de medicamentos a ser fornecida, sempre em função de dose e duração do tratamento, devem ser especificadas. Registrase a via de administração e determina-se o intervalo entre doses e a duração do tratamento. Os horários de administração devem ser definidos quando houver possibilidade de interação com alimentos ou com outros fármacos utilizados pelo 11
12 paciente; para favorecer a comodidade, objetivando-se melhor adesão do paciente ao tratamento; e para favorecer a obtenção do efeito terapêutico ou redução dos efeitos indesejáveis. A prescrição deve ser clara e detalhadamente explicada ao paciente, conferindo-se a sua perfeita compreensão (21). A partir dos dados coletados no transcorrer do trabalho, pode-se verificar que as prescrições provenientes da UBS HCPA-Santa Cecília apresentaram o menor índice de erro/prescrição (0,4).Com este dado pode-se contatar que os médicos da unidade estão mais conscientes em relação à promoção do uso racional de medicamentos. Enfatiza-se, desta forma, que a dispensação de medicamentos pela farmácia também deve ocorrer de forma regionalizada, igualmente ao atendimento médico, para que a assistência farmacêutica se qualifique, visando impactar o processo de utilização de medicamentos. Em relação à via de administração, pode-se destacar Miconazol 20mg/g creme vaginal, que em 0,5% (17) das prescrições está sendo indicado para aplicação em lesões de outras áreas corporais. Uma observação encontrada de importância relevante foi a presença, em 3,3% (124) das prescrições, de Paracetamol 500mg, em várias posologias, para uso contínuo por seis meses. Apresenta-se na forma de solução oral 200mg/mL e comprimido 500 e 750mg. Deve estar sendo administrado de forma que sua dose diária seja de 10 a 15mg/kg, permitindo-se dose máxima de 60mg/kg/dia, em ambos os casos com intervalo de dose de 4 a 6 horas. É seguro em doses usuais, mas pode causar danos hepático e renal em superdosagem (21). A falta de identificação da procedência da prescrição demonstrou uma falha na dispensação, pois, segundo a Lei n.º 5.991/73 art. 35 (22), somente será aviada a receita que contiver a data e a assinatura do profissional, endereço do consultório ou da residência, e o número de inscrição no respectivo Conselho profissional. Um estudo mais aprofundado em relação à UBS HCPA-Santa Cecília demonstrou que, 17,1% (788) dos medicamentos que não foram dispensados, 74,7% (589) pertenciam a REMUME, denunciando que a oferta é menor do que a procura. Para 12
13 alcançarmos resultados positivos na terapêutica, é necessário, além de atendimento médico de qualidade, o tratamento medicamentoso no período completo. Para tanto, a implantação da regionalização da dispensação de medicamentos pelas unidades propiciaria a possibilidade de apresentarmos para a Secretaria Municipal de Saúde valores médios de consumo/mês dos medicamentos e, dessa forma, garantirmos a maioria dos atendimentos aos pacientes da comunidade. E para chegarmos mais próximos da totalidade é necessário que haja implementação da REMUME e conscientização dos médicos a respeito dessa relação de medicamentos. Além disso, a regionalização possibilitaria a ampliação e qualificação da assistência farmacêutica. Em relação à legibilidade, o problema mais grave que ocorreu foi a dispensação errônea do anticoncepcional composto de Levonorgestrel e Etinilestradiol no lugar do composto de Noretindrona, em virtude dos nomes comerciais serem semelhantes e, principalmente, da grande dificuldade de compreensão da caligrafia do prescritor. Microvlar (Levonorgestrel e Etinilestradiol) é utilizado como anticoncepcional mensal e como contraceptivo de emergência. Porém, Micronor (Noretindrona) é utilizado para tratamento de desequilíbrio hormonal feminino como amenorréia e sangramento uterino funcional, tratamento de endometriose e prevenção de gravidez (23). A prescrição eletrônica é uma forma que reduz significativamente o erro de medicação. Segundo Cassiani et al. (24), as vantagens são: maior segurança, já que elimina dificuldades na leitura e no entendimento ocasionados pela letra ilegível, e possibilita que o erro seja corrigido no momento da digitação sem que, para isso, haja rasuras ou rabiscos que dificultam ainda mais o entendimento das informações. As desvantagens são a possibilidade de ocorrer erros no momento da digitação sem que o profissional os perceba. Da mesma forma, podemos verificar no presente trabalho que as prescrições eletrônicas oriundas do HCPA reduziram totalmente as dificuldades com legibilidade, facilitando a correta dispensação do medicamente. Porém, 37,1% (33) das prescrições que apresentaram via de administração errada estavam enquadradas nesse 13
14 mesmo grupo, concluindo-se, portanto, que esse sistema não erradica a possibilidade de ocorrência de erros de medicação. Outro fator que contribui para a incorreta interpretação da prescrição é a abreviatura. Segundo López et al. (25), com a utilização de abreviaturas, acrônimos e símbolos se pretendem simplificar e agilizar o processo de prescrição; porém, isso pode acarretar em interpretações equivocadas por profissionais não familiarizados com a expressão, ou por existir vários significados para uma mesma abreviatura. O Código de Ética Médico veda, em seu artigo 39, receitar ou atestar de forma secreta ou ilegível, assim como assinar em branco, folhas de receituários, laudos, atestados ou quaisquer outros documentos médicos. Já o Código de Ética Farmacêutica define que este profissional tem o dever de respeitar o direito do usuário de conhecer o medicamento que lhe é dispensado e de decidir sobre sua saúde e bem estar. Também deve informar e assessorar o paciente sobre a utilização correta do medicamento, atos realizados no momento de aviar a prescrição médica (21). Mais do que informar sobre o uso correto de medicamento, o farmacêutico tem o importante papel de informar o cidadão sobre todas as questões que envolvam a saúde, desde o perigo da automedicação até os cuidados que devem ser tomados para a eficácia do tratamento (26). Para tanto, é fundamental assegurar o uso racional de medicamentos a partir de uma dispensação de qualidade. Não devem ser dispensadas receitas ilegíveis, com abreviaturas ou capazes de induzir a erro de dispensação. No momento da dispensação, deve ser fornecida toda a informação necessária sobre o uso correto do medicamento, suas reações adversas e potenciais interações (21). Com base nas informações obtidas no decorrer do trabalho pode-se avaliar os problemas que a saúde pública apresenta, constatando a necessidade de implementação da Política Nacional de Medicamento, além de propor diretrizes e estratégias para a efetivação da Política Nacional de Assistência Farmacêutica e Medicamentos, visando a garantir acesso, qualidade e humanização, com controle social (27). 14
15 O uso inadequado de medicamentos pode causar de reações leves à morte. Cerca de 50% dos medicamentos receitados no Brasil são prescritos, dispensados ou aplicados inadequadamente (28). Haak (11), em seu trabalho, propõe maior controle da produção e distribuição de medicamentos, pleiteando-se mudanças de ordem política, pela imposição de restrições à indústria farmacêutica, por mudanças no currículo das faculdades de medicina, por melhorias nos textos das bulas de remédios, e outros. Em resumo, propõe solucionar o problema através de alterações no sistema de distribuição de medicamentos, pois o envolvimento do próprio consumidor no sentido de tomar o uso de medicamentos no Brasil mais racional não lhe é visto como possibilidade real. Nesse estudo, pode-se observar as dificuldades para promover o uso racional, estando presente em um contexto social que privilegia o medicamento como um bem de consumo mais do que um instrumento terapêutico, sendo que o medicamento, visto como um produto, num mercado de oferta e procura de bens e serviços de saúde, está ocupando o lugar da Saúde já que ela não está conseguindo aparecer como representante de si mesma (2). No momento em que se constitui como símbolo, o medicamento faz a economia, poupa o trabalho duro, político e pessoal, necessário para que se obtenha a saúde, procurando apagar a doença como indicador ou sintoma de problema, contradições, dificuldades, injustiças, tanto a nível pessoal como social (4). 15
16 CONCLUSÃO A partir dos erros encontrados na prescrição e na dispensação dos receituários analisados, pode-se concluir que é necessária uma educação continuada dos profissionais da saúde, pois estes ignoram, ou não respeitam a legislação pertinente. Os profissionais não devem só adquirir conhecimento, mas também transmiti-lo. O paciente não deve ser visto apenas como quem procura alívio de suas dores e sofrimento, buscando resgatar a saúde, mas como membro ativo da relação profissionalpaciente, pois de sua atitude frente à doença também depende o sucesso da terapêutica (21). Cabe a todos os profissionais que, direta ou indiretamente, têm, nas suas ações na saúde, responsabilidades educativas, reverter esta situação, contribuindo no sentido de tornar mais madura nossa sociedade, não permitindo que os medicamentos ocupem indevido lugar de substitutivo ou símbolo de saúde, cuja função consistiria em inibir a intervenção nas causas sociais e comportamentais da doença (2). A prescrição de medicamento simboliza importante dimensão do processo terapêutico e a transformação desta prescrição em comprimido, suspensão, etc., pelo farmacêutico, prolonga este encontro por dias ou até mesmo meses após a sua realização (29). Há uma multiplicidade de fatores que irão interferir no resultado final da uma terapêutica. Algumas influências são decisivas neste processo, pois como o prescritor pode ou não prescrever o melhor medicamento para aquele paciente, o dispensador pode ou não dispensar o medicamento prescrito da melhor maneira e o paciente pode ou não aderir ao tratamento (18). A influência e controle direto da parte do médico sobre o uso de medicamentos são extremamente limitados (11). A regionalização da dispensação de medicamentos pelas farmácias das UBS acarreta em qualificação da assistência farmacêutica para os pacientes da comunidade. 16
17 Por todos esses motivos, é de extrema importância sensibilizar os profissionais que manejam com os medicamentos que a interdisciplinaridade na busca pela saúde é a ferramenta necessária para que possamos alcançar o uso racional de medicamentos. REFERÊNCIAS 1. Kelly JM. Implementing a patient self-medication program. Rehabil Nurs 1996;19: Lefèvre F. A função simbólica dos medicamentos. Rev Saúde Públ 1993;17: Adamo MT, Necchi S. La automedicación: un fenómeno complejo. Med Soc 1991;14: Lefèvre F. A oferta e a procura de saúde imediata através do medicamento: proposta de um campo de pesquisa. Rev Saúde Públ 1987;21: Blenkinsopp A, Bradley C. The future for self medication. BMJ 1996;312: Blenkinsopp A, Bradley C. Patients, society, and the increase in self medication. BMJ 1996;312: Danhier AC, Brieva JA, Villegas GM, Yates KT, Pérez HC, Boggiano GZ. Utilización de medicamentos en una población urbana. Rev Med Chil 1991;119: Tatsch IC, Nascimento JH, Lucchese FS, Lucchese GB, Chagas AM. Automedicação: avaliação entre zona periférica e central em Santa Maria. Saúde 1987;13:
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21 ANEXOS 1. Lista de tabela Tabela 1.Número de Prescrições dispensadas por categoria do prescritor Categoria do Prescritor Número de Prescrições Porcentagem (%) Médico Odontólogo Enfermeiro ,7 0,27 0,03 Total ,0 Tabela 2. Número de dados ilegíveis por prescrição. Dados Ilegíveis Número de Prescrições Porcentagem (%) Unidades ,6 Posologia 94 2,5 Data 41 1,1 Concentração 27 0,7 21
22 Quantidades 3 0,08 Total ,0 Tabela 3. Número de erros encontrados por prescrição. Erros detectados Quantidade errada Quantidade ilegível Quantidade rasurada Sem quantidade Número de Prescrições Porcentagem (%) 0,05 0,08 0,6 18,6 Unidade ilegível Sem unidade ,6 11,7 Nome comercial 341 9,2 Sem identificação do paciente Identificação do paciente incompleta ,2 3,4 Vencida Data rasurada Sem data Data Ilegível Data incompleta ,0 1,6 2,1 1,1 0,3 Via de administração errada 106 2,9 Concentração rasurada 11 0,3 22
23 Concentração ilegível Sem concentração Concentração errada ,7 6,5 0,1 Dois pacientes em uma prescrição 3 0,08 Cont. Tabela 3. Número de erros encontrados por prescrição. Erros detectados Abreviaturas Número de Prescrições 42 Porcentagem (%) 1,1 Sem assinatura do prescritor Sem carimbo do prescritor ,7 7,0 Problemas com a posologia 148 4,0 Total ,2 Tabela 4. Totalidade de erros encontrados por procedência do prescritor. Procedência HCPA UBS Santa Cecília Número de Erros Porcentagem (%) 31,0 20,8 Outros postos ,3 Particulares/Convênios ,9 Outros hospitais ,3 Sem identificação 22 0,63 23
24 Total ,0 2. Lista de figuras 9,6% 9,1% 7,6% 0,2% 24,2% HCPA UBS HCPA-Santa Cecília Outros postos de saúde Particulares/Convênios Outros hospitais 49,3% Sem identificação Figura 1. Número de prescrições dispensadas por procedência da prescrição. 32,9% 67,1% Demanda atendida Demanda não atendida Figura 2. Totalidade da demanda de medicamentos. 24
25 25
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