MAGNÉSIO E AS ALTAS PRODUTIVIDADES DO CAFEEIRO
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- Wagner Fartaria de Mendonça
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1 MAGNÉSIO E AS ALTAS PRODUTIVIDADES DO CAFEEIRO André Guarçoni M. D.Sc. em Solos e Nutrição de Plantas Pesquisador do Incaper 1) Magnésio no Solo Em geral, o magnésio (Mg) é o 8º mineral em abundância na crosta terrestre, mas é o 2º nutriente mais abundante no complexo de troca do solo (CTC), vindo depois do cálcio (Ca 2+ ) e antes do potássio (K + ), uma vez que está presente no solo e é absorvido pelas plantas na forma de cátion bivalente (Mg 2+ ). Essa ordem se dá devido ao fato dos materiais de origem do solo apresentarem maior quantidade de Ca, e também ao intemperismo, especialmente ao processo de lixiviação (arraste do elemento com a água que percola no perfil do solo). O Mg e retido no solo com menor energia do que o Ca, apesar de apresentarem a mesma valência (2+) (quanto maior a valência, maior a energia de adsorção/retenção no solo). Outra característica que interfere na energia de adsorção dos elementos químicos no solo é o raio iônico hidratado, de forma que, quanto menor o raio iônico hidratado, maior a energia de retenção, e o Ca apresenta menor raio iônico que o Mg.Quando o solo é saturado com água, via chuva ou irrigação, esta desce no perfil do solo, arrastando os elementos químicos retidos com menor energia, o que ocorre com o Mg em relação ao Ca. Essas características definem a participação do Mg no complexo de troca do solo (CTC). Nos solos em geral, o magnésio trocável (Mg 2+ ) normalmente constitui de 5 a 20 % da CTC, enquanto o Ca 2+ representa em torno de 35 a 45 % e o K + cerca de 5 % da CTC, mas em solos de regiões tropicais, muito intemperizados, esta participação pode ser ainda menor. Há, no solo, uma verdadeira competição pelos sítios de ligação, o que pode causar deficiência de nutrientes que serão perdidos por lixiviação, em relação a outros, que irão ocupar o complexo de troca do solo, caso sejam aplicados em grande quantidade.isso se dá pois, quanto maior a concentração de um elemento na solução
2 do solo, maior sua preferencialidade de troca. Dessa forma, independentemente da valência e do raio iônico hidratado, se forem aplicados Ca ou K em demasia, certamente haverá deficiência de Mg, devido às perdas por lixiviação. Isso pode ocorrer quando forem aplicados insumos, em altas doses, que não contenham Mg, mas sim Ca ou K, como é o caso do gesso e do KCl, respectivamente. Além do processo de lixiviação, pode também ocorrer competição quanto à absorção de Mg pelas raízes, causada por outros cátions, como os próprios Ca 2+ e K +, e NH + 4, Mn 2+ e H +. Esses processos podem induzir àdeficiência de Mg,mesmo que os teores iniciais sejam adequados no solo. Solos intemperizados, ácidos, como a maioria dos solos brasileiros, especialmente os mais arenosos, geralmente apresentam baixa concentração de Mg.Essa característica pode ser agravada por períodos de veranico, pois o Mg deve ser transportado até à raiz das plantas para ser absorvido. O Seu transporte no solo se dá, prioritariamente, por fluxo em massa, o que requer adequado volume de água transpirado pelas plantas, gerando um potencial hídrico negativo de água para próximo das raízes, sendo o Mg transportado junto com esse fluxo. Portanto, o conteúdo de água no solo é essencial para a absorção de Mg. 2) Magnésio como Nutriente de Plantas O magnésio é um nutriente de plantas, pois cumpre os critérios de essencialidade, estabelecidos já em 1939 por Arnon e Stout: 1) Sua deficiência impede que a planta complete seu ciclo vital; 2) O elemento não pode ser substituído por outro com propriedades similares; 3) O elemento deve participar diretamente do metabolismo das plantas. Os critérios de essencialidade podem ser traduzidos numa linguagem mais prática: Com deficiência de Mg, a planta não completa seu ciclo de vida (no campo, uma deficiência que leve à morte das plantas dificilmente é observada, mas a redução na produtividade é uma consequência em caso de deficiência).nesse caso, não adianta aplicar outro nutriente ou elemento.se faltar Mg, apenas a aplicação de Mg pode suprir a necessidade das plantas. Por participar do metabolismo das plantas de forma específica, sua deficiência leva a sintomas visuais também específicos, que estão diretamente ligados às suas funções.
3 3) Funções do Magnésio no Cafeeiro As funções do Mg no metabolismo do cafeeirose iniciam por seu papel estrutural como átomo central da molécula de clorofila.o Mg corresponde a 2,7 % do peso molecular da clorofila, ou seja, é essencial para o processo de fotossíntese das plantas, que é basicamente a formação açúcares a partir de CO 2 e água, sob efeito da energia cedida pela luz solar.é, também, ativador enzimático o Mg ativa mais enzimas do que qualquer outro elemento. Participa da ativação de enzimas envolvidas na respiração, na fotossíntese, e, especialmente, aquelas responsáveis pela transferência de grupos fosfatos (ATPases e fosfatases).é,ainda, regulador do ph celular, por ser um elemento de carga bivalente e estar envolvido no balanço cátionânion.por fim, promove a ativação de aminoácidos necessários à formação de cadeias proteicas e síntese de proteínas. Além dessas funções metabólicas, é também relatado que o Mg seria um elemento que contribuiria para a entrada do fósforo (P) na planta,pelo aumento na absorção direta do P ou pelo efeito nas reações de fosforilação.em termos práticos, significa dizer que, a absorção de P pelas raízes é maior na presença de concentração adequada de Mg. 4) Sintomas Visuais de Deficiência de Magnésiono Cafeeiro O magnésio é um nutriente extremamente móvel no floema, sendo translocado das folhas mais velhas para as mais novas ou para pontos de crescimento. Em consequência dessa elevada mobilidade na planta, os sintomas de deficiência ocorrem primeiramente nas folhas mais velhas, podendo progredir para as folhas mais jovens, caso a deficiência se acentue com o tempo. Os sintomas visuais característicos são inconfundíveis, caracterizando-se por folhas mais velhas com coramarelada e depois pardacenta entre as nervuras (reticulado grosso) (Figura 1), caindo prematuramente. É importante ressaltar que, ao aparecerem os sintomas visuais de deficiência, a produtividade pode já estar comprometida. O ideal é que se utilize análises de solo e de folhas para diagnosticar uma possível deficiência de Mg e corrigi-la, antes que o sintoma visual ocorra.
4 Figura 1 Folha de café com sintoma de deficiência de magnésio. Fonte: 5) Magnésio nos cafés arábica e conilon As quantidades exportadas e absorvidas de Mg entre os cafés arábica e conilon são bem diferentes, o que resulta em faixas de suficiência nas folhas também diferentes (Tabela 1). O café conilon é mais exigente em Mg do que o arábica, para um mesmo nível de produtividade. Deve-se considerar ainda que, o café conilon alcança facilmente produtividades duas vezes superiores às do café arábica, o que aumenta a exportação de Mg por esta espécie de café. Essa característica do café conilon se desdobra numa faixa de suficiência com valores mais elevados (Tabela 1), que deve ser considerada quando as lavouras forem avaliadas quanto ao estado nutricional. Tabela 1 Quantidades de Mg necessárias para os cafés arábica e conilon Condição Arábica Conilon Quantidade exportada em saca de 60 Kg (g/saca) Acúmulo total nas plantas (g/planta) Faixas de suficiência nas folhas (dag/kg) 0,31 0,36 0,35 0,40 6) Fontes e doses de magnésio A fonte mais comum e barata de Mg encontrada no mercado é o calcário dolomítico, que contém em sua composição uma concentração maior que 12 % de MgO. A aplicação de calcário em solos ácidos geralmente supre a necessidade das plantas em relação ao Mg. O problema maior ser dá em solos arenosos, onde a aplicação de calcário pode elevar o ph em demasia, e em solos alcalinos, onde o ph e
5 os teores de Ca já estariam num patamar elevado, e não haveria necessidade de aplicação de calcário. Em solos arenosos, a saída para a utilização de calcário, visando suprir a necessidade de Mg, e também de Ca, é sua aplicação localizada em filete, sob ou na projeção da copa, como se fosse mesmo um fertilizante. Nesse caso, é preferível que seja um calcário com PRNT mais elevado, ou seja, de mais rápidacapacidade de reação com o solo. Em solos já alcalinos e com elevado teor de Ca, deve-se lançar mão de outras fontes de Mg, porém mais caras que o calcário, como o sulfato de magnésio (16-17 % de MgO), o óxido de magnésio/magnesita (94 % de MgO), o nitrato de magnésio (14-16 % de MgO) e o sulfato de K e Mg (18 % de MgO), dentre outras. Essas fontes têm suas peculiaridades e preços distintos, mas os sulfatos e o nitrato são altamente solúveis, podendo ser aplicados via fertirrigação. Já o óxido de magnésio, apesar de reativo, não forma solução em água, devendo ser aplicado sempre a lanço. Contudo, esta fonte é altamente concentrada, e pode ser a mais econômica, se for considerado o preço do Kg do nutriente. Para altas produtividades de café arábica, as doses a serem aplicadas devem ser calculadas para que o teor no solo atinja em torno de 0,8 cmol c /dm 3 de Mg. Para o café conilon de alta produtividade, cujo solo deve apresentar maiores teores de Mg, devido àmaior necessidade e à baixa capacidade de absorção e utilização deste nutriente, as doses devem ser calculadas para se atingir em torno de 1,0 cmol c /dm 3 de Mg. De acordo com o manejo, as condições locais e a capacidade produtiva das plantas, esses patamares podem ser mais elevados, visando-se produtividades ainda maiores. 7) Época de aplicação Se o Mg for adicionado ao solo na forma de calcário ou óxido de magnésio, a época correta de aplicação é logo no início das águas, ou um pouco antes, como meados de agosto, visando maior tempo de contato com o solo para melhor solubilização. Caso a aplicação seja na forma de produtos mais solúveis, como o sulfato ou o nitrato de magnésio, seria adequado o seu parcelamento, em condições de sequeiro, pelo menos em duas aplicações, do início do florescimento até o ponto médio de desenvolvimento dos frutos. Caso seja realizada fertirrigação na área, podese sugerir seu parcelamento em seis aplicações, do início do florescimento até o início do enchimento de grãos.
6 Muitas vezes se desconsidera o Mg nos programas de adubação, visto que é adicionado via calagem, e sua importância e seu efeito acabam passando despercebidos. Contudo, quando se deseja obter elevadas produtividades de café, este é um nutriente que necessita de atenção, para que seja suprido nas doses e fontesmais rentáveis. Fonte: Revista Campo e Negócios Participe do Curso Online: "Correção do solo e adubação para aumentar a lucratividade do cafezal" e saiba mais! Início: 22/08 Inscrições: Contato: cursos@agripoint.com.br (19)
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