O Sindifisco DS Salvador homenageia o AFRFB negro e negra no mês da Consciência Negra

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1 O Sindifisco DS Salvador homenageia o AFRFB negro e negra no mês da Consciência Negra O Sindifisco DS Salvador em homenagem ao DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA (20 de novembro) entrevista cinco AFRFB negros e negras para falar sobre a conquista do povo negro no ambiente de trabalho nas últimas décadas e quais as dificuldades encontradas em seu dia-a-dia. Nosso primeiro entrevistado desta segunda-feira (16) é o AFRFB Wilson Santos, lotado na Alfândega do Porto. Na terça-feira (17) é a vez do Auditor Fiscal Antônio Jagoarari Grave. Na quarta-feira (18), a AFRFB Ivana Paixão. Quinta-feira (19) falaremos com a Auditora Odeildes da Apresentação Ferreira, e encerramos nossa homenagem na sexta-feira (20) com o AFRFB Salomão Vieira dos Santos. ENTREVISTA *AFRFB WILSON SANTOS Sindifisco DS Salvador - Como você observa a presença de trabalhadores negros e negras no âmbito da Receita Federal do Brasil?

2 WILSON SANTOS - Na Receita Federal ocorre uma reprodução do que vemos no mercado de trabalho aqui no Brasil: os cargos, funções e atividades com menores remunerações e alvos de... digamos, menor valorização, são ocupados pelos trabalhadores negros, refletindo a mesma lógica que impera no setor privado e no serviço público em geral. Esta situação indica a ausência ou insuficiência de políticas públicas que promovam a inclusão dos segmentos estigmatizados pela sociedade. Entendo que é tarefa de toda a sociedade a busca de igualdade de oportunidades, de maneira que o mundo do trabalho, em qualquer segmento, não possa ser racialmente dividido. Não podemos permitir o retorno do binômio Casa Grande /Senzala. Sindifisco DS Salvador - Existem dificuldades específicas enfrentadas pelos Auditores Fiscais Negros e Negras no âmbito da RFB? WILSON SANTOS - O racismo e suas vertentes preconceito racial e discriminação racial atingem a todos os cidadãos negros. Há muito tempo foi abandonada aquela idéia de que o Negro Doutor não é vítima de preconceito ou Negro com dinheiro não sofre discriminação. Ou ainda o problema é social e não racial. Essas afirmações agora estão na lata do lixo. Neste sentido, sendo o cargo de Auditor Fiscal da Receita Federal o que tem maior remuneração na instituição e seus integrantes têm curso superior e muitos com pós-graduação nas várias modalidades Especialização, Mestrado e Doutorado, no passado alguém poderia dizer que os AFRFB negros e negras não teriam dificuldades de cunho étnico-racial dentro e fora da instituição. Mas agora, sendo pacífico o entendimento de que todos os negros, independente de sua formação, renda, patrimônio e posição social são vítimas do racismo, afirmamos que essas dificuldades existem. Se vocês entrevistarem vários AFRFB negros, certamente a frequência de casos concretos de discriminação, abertamente hostis, será pequena. Mas quando se observam as relações interpessoais, os comentários e as brincadeiras preconceituosas, vemos que a questão está presente e difusa. Ao observarmos a quantidade de negros nos cargos de confiança, também constatamos a necessidade de se tratar o tema em nível institucional e sindical. Lembro-me de que há alguns anos apresentei sugestão para que a Superintendência da 5ª RF publicasse mensagem alusiva ao 20 DE NOVEMBRO-DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA e a idéia foi aceita. No mesmo período, apresentei à Direção da 5ª RF uma proposta de tratamento institucional do tema denominada RECEITA CONTRA O RACISMO. A idéia foi bastante elogiada mas devido à metodologia e prazo para o PROCAD, não foi implementada. Podemos

3 retomar a idéia. Por outro lado, espero que a DS Salvador continue aberta ao tratamento deste e outros temas que são abrangidos pela Diretoria de Comunicações e Políticas Sociais. Em 2008, aceitando sugestão nossa, a DS Salvador do antigo Unafisco publicou matéria sobre o Dia Nacional da Consciência Negra e a repercussão foi muito positiva a nível nacional. Agora a DS Salvador do novo Sindifisco Nacional traz o tema Consciência Negra para discussão, contribuindo para aumentar o interesse dos Auditores e demais trabalhadores da RFB que lêem nossas publicações. Já podemos também pensar em organizar debates e palestras voltados para a categoria. Nestes 30 anos de Militância no Movimento Negro, aprendi que preconceito se vence com debate, com discussões e leitura. Vamos pensar nisso? Sindifisco DS Salvador - Qual sua mensagem para os jovens negros e negras que pretendem ingressar na carreira de Auditor Fiscal? WILSON SANTOS - Sim, Nós podemos!. O acesso a cargos públicos, principalmente os de maior remuneração e de maior prestígio é uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos jovens negros. Por conta do racismo histórico, nossos pais, mães, avôs e avós não tiveram a devida oportunidade na área da Educação e do mercado de trabalho. Daí que majoritariamente não lhes foi possível oferecer aos filhos e netos a necessária estrutura, o apoio para estudar, freqüentar escola até o final de cada ciclo. O jovem negro começa a trabalhar muito cedo, principalmente em atividades informais, para ajudar nas despesas da família. Passam a estudar à noite ou, passando o dia realizando tarefas estafantes, deixam a Escola. Ao mesmo tempo, muitos conseguem furar os bloqueios e ingressam nos cursos superiores. Para a vida laboral, um outro grande problema: as empresas preferem contratar trabalhadores com outro fenótipo. Tudo isso são barreiras a serem quebradas. Oriento os jovens negros a participarem das Lutas que o Movimento Negro vem implementando para desconstruir a lógica racista que empurra negros e negras para as novas senzalas. Em uma sociedade racista a cor/raça das pessoas têm mais peso do que sua qualificação para o trabalho. Participando da luta coletiva estarão contribuindo para o advento de uma sociedade em que todos tenham iguais oportunidades. Enquanto isso, valem as Ações Afirmativas / Ações Corretivas que diminuem os efeitos do racismo ainda presente em nossa sociedade. Sim, nós podemos! Sindifisco Salvador - Você é a favor do sistema de cotas para ingresso de estudantes negros nas universidades?

4 WILSON SANTOS - Sim, sou um Defensor do Sistema. Objetivando instrumentalizar a sociedade no sentido de que sejam criadas oportunidades para que os segmentos excluídos, estigmatizados, tenham condições de atingir uma vida digna, hoje são implementadas Ações Afirmativas, que também podem ser chamadas de Ações Corretivas, uma vez que se destinam a corrigir os efeitos de injustiças históricas, ou seja, buscam o necessário equilíbrio nas relações econômicas, políticas e sociais, oportunizando às vítimas dessas injustiças atingir condições que as levem a alcançar uma vida digna, ultrapassando as barreiras da opressão. São medidas adotadas em caráter temporário até que haja uma estabilização nas condições de vida dos integrantes de grupos discriminados, excluídos e a conseqüente igualdade de oportunidades. Essas medidas encontram respaldo na Convenção Internacional pela Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, promulgada pela ONU, da qual o Brasil é signatário. As cotas para estudantes carentes, para estudantes negros, estudantes oriundos de escola pública se constituem em um tipo de Ação Afirmativa. Provado já está que as políticas universalistas não são suficientes para que sejam erradicadas as mazelas causadas pelo racismo. Os resultados positivos alcançados pelos estudantes negros que ingressaram no ensino superior através do Sistema de Cotas demonstram o acerto dessas medidas. Vale registrar que os alunos beneficiários das cotas são aprovados no vestibular e essas medidas, a exemplo das demais Ações Corretivas, são temporárias. Espero que dentro de um tempo muito breve, possamos dispensar este valioso instituto de equalização de oportunidades. Nesse dia a sociedade brasileira terá se transformado muito. Para melhor! Sindifisco DS Salvador - A Vitória de Barack Obama nos EUA irá influenciar para que a discriminação racial seja extinta ou amenizada em todo o mundo? WILSON SANTOS - Entendo que sim. Como? Através do que chamo de espelho para a auto estima. A eleição de um Presidente negro em uma potência como os Estados Unidos fará, ou melhor, já está fazendo com que cidadãos negros em todo o mundo passem a intensificar a Luta contra o racismo que ainda dificulta a vida do Povo Negro. O jovem negro, principalmente, passa a entender que através da Luta Coletiva podemos erradicar a escravidão de hoje, que se manifesta no desemprego, subemprego, falta de moradia digna, pouca participação nas esferas de Poder e violência policial, entre outros aspectos. As pessoas precisam entender que analisar o acontecimento Barack Obama como um evento positivo não significa concordar com a política imperialista dos Estados

5 Unidos. Devemos continuar condenando a violação dos Direitos Humanos e o desrespeito à soberania de várias nações, praticados pelos Estados Unidos. Barack Obama é um exemplo de que podemos ultrapassar as barreiras impostas pelo racismo. Paralelamente podemos construir um mundo melhor para todos, sem reproduzir as opressões que nos vitimam. Podemos construir uma sociedade justa, solidária, sem opressões. Sim, nós podemos! * Wilson Santos é Auditor Fiscal lotado na Alfândega do Porto de Salvador, Economista, Bacharel em Direito e Professor, Militante do Movimento Negro desde agosto de 1979, Coordenador do Disque Racismo/Bahia e Moderador do Grupo de Reflexões auditoresnegrosenegras@yahoogrupos.com.br