A MÚSICA DA BIODIVERSIDADE

Transcrição

1 Caroço-da-terra: ensaios agroecológicos A MÚSICA DA BIODIVERSIDADE Paula Martins paulamartins339@gmail.com O planeta possui uma grande diversidade de espécies que o caracterizam como um grande indivíduo vivo. Assim também é a música, existe uma grande variedade de gêneros e composições musicais que permitem dar à vida uma coloração mais viva. Ela tem o poder de resgatar emoções e lembranças ligadas ao sentimento de nostalgia ou simplesmente o seu desfrute em momentos propícios. A estabilidade dentro da diversidade traz à ecologia esse desfrute de cada indivíduo dentro do seu papel no ecossistema. Diversidade é variedade, pluralidade, diferença. É um substantivo feminino que caracteriza tudo que é diverso, que tem multiplicidade. É a reunião de tudo aquilo que possui múltiplos aspectos, porém que se diferenciam entre si. Diversidade biológica é a variedade de organismos que compreende a fauna, a flora e os microorganismos da face da Terra. O resultado de interações ecológicas complexas é a diversidade para que se possa manter um sistema sustentável. Para tanto, as interações do ecossistema ocorrem por meio das interligações de componentes vivos e não vivos, juntamente com os ciclos biogeoquímicos. Estabilidade é uma qualidade em que pode-se ter alguma segurança sobre a permanência ou duração de determinado aspecto.

2 Trazendo para ecologia, essa estabilidade seria a garantia do meio de se manter por si só em estado saudável. Desta forma, pode-se definir resiliência e resistência. A primeira como o tempo que uma comunidade leva para retornar a sua forma original antes de uma perturbação. A segunda como a capacidade da comunidade de evitar esta perturbação. A complexidade entra nessa situação, quando, segundo May (1972), o número de espécies tende a aumentar a instabilidade, ampliando também os níveis de interações entre elas. Entretanto, se considerar o fator de que os sistemas são controlados pelos doadores iniciais, a estabilidade não é afetada ou até aumenta com a complexidade (DeAngelis, 1975), vindo de encontro com a resiliência, que pode crescer se a complexidade decrescer. Em comunidades reais, essa teoria pode não ser observada, pois também há de se considerar o fator humano, provocando perturbações em comunidades mais frágeis que não são tão resistentes a distúrbios. Neste aspecto, assemelha-se a música, quando a interpretação da partitura depende do seu leitor, a intensidade com que as notas são tocadas é diretamente influenciada pelo fator humano. Na complexidade da vida, tanto a natureza quanto a música, se avassalam à vontade humana, dançando conforme as predilecções do homem. Quando a abundância das espécies se mantém constante no tempo, a comunidade é dita estável, concluindo que a análise será mais precisa se for medida no longo prazo. Comunidades em equilibrio estão em estabilidade, isso significa que o sistema foi capaz de resistir ou se recuperar de um disturbio. Para ilustrar de uma forma melhor esses conceitos e sua importância na interação, ultilizar-se-a uma partitura. Essa é a escrita universal da música, que contém notas, figuras musicais, dinâmica,

3 tempo e etc. Uma parte importante de seu estudo é o compasso. Compasso musical é uma divisão da música em intervalos de tempo iguais, com o objetivo de organizar a estrutura e facilitar a orientação para o leitor. Esse intervalo de tempo é representado por barras verticais. Cada música possui um tempo, que é indicado na fração que se inicia a partitura. Antes de analisar esse quesito, precisa-se saber qual o valor de cada figura, que pode ser verificado na tabela a seguir: Em vista disso, observa-se a fração que inicia a partitura: Essa fração 4/4 determinou que um compasso teria 4 semínimas.isso por que o denominador da fração informa qual a figura que servirá de referência para a análise. O número 4 se refere à semínima, portanto esta é a figura de referência.

4 Já o numerador informa quantas figuras cabem em cada compasso. Observa-se que o numerador desta fração está mostrando que cabem 4 figuras em um compasso, e o denominador está afirmando que a figura é a semínima, portanto, a fração 4/4 informa que cabem 4 semínimas em um compasso, ou equivalente. Seguindo este raciocínio, é de suma importância destacar a equivalência dos valores das figuras, pois em um compasso, podem ser substituídas as figuras de valores cheios por suas metades ou terços, como mostra a parte direita tabela em figuras agrupadas. Explica-se a diversidade e a estabilidade fazendo uma analogia de cada espécie com uma figura de valor diferente (Ex. semibreve equivale a uma araucária. Semínima equivale a uma goiabeira-serrana, etc ) Desta forma, coloca-se em um compasso figuras que possuam o equivalente real a seu valor, assim, haverá a diversidade das notas porém com mesmo tempo. No entanto se é retirada uma figura de valor, outra deve ser posta no lugar de igual equivalência para que se supra essa demanda e faça com que o meio (compasso) fique estável e a música possa fluir com perfeição. As interações estáveis dão ao ecossistema uma maneira sustentável de se manter após o distúrbio, que seria a retirada de uma figura de valor da partitura, ou seja, uma espécie, até que se possa atingir sua resiliência. Thienemann (1926) comenta que quanto mais tempo um local permanecer nas mesmas condições, mais ricas serão as comunidades

5 bióticas e elas também serão mais estáveis. Para exemplificar, recorre-se ao pedaço de partitura acima, que relaciona o tempo de cada figura com sua estabilidade sonora. Quanto mais longo seu período de tempo, mais longa sua sonoridade, mais estável sua frequência. Para se compor uma música, é necessário compreender as lacunas do imprevisto, tocar com as mãos em verso, sacudir das árvores notas perdidas e ver delas sair o tom em harmonia. Os compassos formam seu corpo, lidos em conjunto concebem sua resiliência nascida do silêncio. Cada espécie em interação forma a música da vida, que afaga os ouvidos ao som da estável diversidade. Julho de 2016 Referências: DE ANGELIS, D. L Stability and connectance in food web models. Ecology, v. 56, p MAY, R Will complex system be stable? Nature, v. 238, p THIENEMANN, A Limnologie. Jedermanns Bücherei, Breslau.