A T R I B U T A Ç Ã O A N G O L A N A ( I I I ) : O N O V O C Ó D I G O D O I M P O S T O I N D U S T R I A L
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- Vitória Costa Maranhão
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1 i N º 4 4 / 1 4 A T R I B U T A Ç Ã O A N G O L A N A ( I I I ) : O N O V O C Ó D I G O D O I M P O S T O I N D U S T R I A L INTRODUÇÃO Em linha com o caminho traçado no sentido de reformulação do sistema tributário angolano foi, no passado dia 22 de Outubro de 2014, aprovada a Lei n.º 19/14 que procede à alteração do Código do Imposto Industrial e que entrará em vigor no próximo dia 1 de Janeiro de TAX & BUSINESS Mais do que uma verdadeira reforma deste imposto, as alterações propostas visam, em traços gerais, actualizar o regime de tributação dos rendimentos derivados de operações comerciais ou industriais, sem o desvirtuar, assegurando uma transição para um modelo de tributação mais evoluído, que se pretende adoptar no futuro. A presente Informação Fiscal destina-se a ser distribuída entre Clientes e Colegas e a informação nela contida é prestada de forma geral e abstracta. Não deve servir de base para qualquer tomada de decisão sem assistência profissional qualificada e dirigida ao caso concreto. O conteúdo desta Informação Fiscal não pode ser reproduzido, no seu todo ou em parte, sem a expressa autorização do editor. Caso deseje obter esclarecimentos adicionais sobre este assunto contacte. *** Esta Informação Fiscal é enviada nos termos dos artigos 22.º e 23.º do Decreto-Lei n.º 7/2004, de 7 de Janeiro, relativa ao envio de correio electrónico não solicitado. Caso pretenda ser removido da nossa base de dados e evitar futuras comunicações semelhantes, por favor envie um com Remover para o endereço newsletter@rffadvogados.com. A reforma do Imposto Industrial não se assume, portanto, neste caso, como uma ruptura, mas, antes, como o primeiro passo, no sentido de uma transição, que se pretende cautelosa, para um novo regime de tributação. A INCIDÊNCIA No que diz respeito à incidência do Imposto Industrial, passa a estar, expressamente, prevista a sujeição a imposto (i) das actividades exercidas por sociedades cuja 01 Best Lawyers - "Tax Lawyer of the Year" 2014 Legal 500 Band 1 Tax Portuguese Law Firm 2013 International Tax Review "Best European Newcomer" (shortlisted) 2013 Chambers & Partners Band 1 RFF Leading Individual 2013 Who s Who Legal RFF Corporate Tax Adviser of the Year 2013 IBFD Tax Correspondents Portugal, Angola and Mozambique
2 actividade consista na mera gestão de uma carteira de imoveis, de participações sociais ou de títulos e (ii) da actividade das fundações, fundos autónomos, cooperativas e associações de beneficência. Por outro lado, passam a ser sujeitos passivos deste imposto as entidades desprovidas de personalidade jurídica, com sede ou direcção efectiva em território angolano, cujos rendimentos não sejam directamente tributáveis, em Imposto Industrial, na titularidade das pessoas colectivas ou singulares, sendo incluídas neste conceito, designadamente, as heranças jacentes, as sociedades civis sem personalidade jurídica ou mesmo as sociedades comerciais até ao momento do seu registo definitivo. Do elenco de serviços excluídos do âmbito de aplicação deste regime constam os serviços de ensino, os serviços de transporte de passageiros e quaisquer serviços que não ultrapassem o montante de AKZ e, bem assim, a locação de máquinas ou equipamentos sujeitos a imposto de aplicação de capitais. AS ISENÇÕES Foi eliminado um conjunto de isenções justificadas por fins sociais ou económicos, prevendo-se, no entanto, a manutenção dos benefícios, nos termos da legislação ao abrigo da qual foram concedidas, resultantes de acordos com o Estado ou com outra entidade pública, dotada desse poder, nos termos da lei. OS SERVIÇOS ACIDENTAIS Foi consagrado (a par da revogação da Lei 7/97), um regime especial de tributação de serviços acidentais, aplicável a sociedades não residentes e que não disponham, em Angola, de estabelecimento estável. Neste âmbito, e à semelhança do regime anteriormente vigente, a tributação opera por retenção na fonte, a título definitivo, à taxa de 6,5%. É também criado um regime especial de isenção de Imposto para companhias aéreas e marítimas que operem em território angolano, desde que satisfeito o requisito da reciprocidade de tratamento no país de origem dessas mesmas companhias. Por outro lado, é prevista a possibilidade de, por requerimento dos interessados, poder ser reconhecido a Fundações, associações e cooperativas o estatuto de utilidade pública que confere o direito à isenção de Imposto Industrial durante cinco anos. De referir que a matéria colectável no âmbito deste regime de tributação é constituída pelo valor global do serviço prestado. OS GRUPOS DE TRIBUTAÇÃO Por força da eliminação do anteriormente designado Grupo C (destinado essencialmente aos pequenos contribuintes, designadamente 02
3 os sujeitos que desenvolviam actividades por conta própria), os sujeitos passivos de Imposto Industrial passam a ser tributados através de dois grupos de tributação: (i) o grupo A, que se destina a estruturas maiores e com maior volume de negócios, como é o caso das sociedades com capital social igual ou superior AKZ ou com proveitos anuais iguais ou superiores a AKZ , e (ii) o grupo B, que abarca estruturas mais pequenas e está sujeito aos referidos tectos máximos de volume de negócios, sendo que, ultrapassados esses limites o contribuinte passa, necessariamente, a ser incluído no grupo A. Mantendo-se os traços gerais do regime aplicável a estes grupos, importa referir que o âmbito subjectivo do Grupo A passará a abranger, também, as associações, fundações e cooperativas cuja actividade gere lucros que não advenham de dotações e subsídios dos respectivos associados, sendo, ainda, obrigatório para sucursais de sociedades não residentes. A DETERMINAÇÃO DA MATÉRIA COLECTÁVEL NO GRUPO A Considerações gerais No que diz respeito às alterações introduzidas relativamente à determinação da matéria colectável do Grupo A, é de referir, desde logo, que o legislador passa a fazer referência à possibilidade de entrega electrónica de declarações de rendimento e, bem assim, à possibilidade de aplicação de métodos indirectos, na ausência, insuficiência ou falta de idoneidade da contabilidade. Por sua vez, é introduzida uma norma que considera como ganho tributável qualquer variação patrimonial positiva, com exclusão das entradas de capital ou para cobertura de prejuízos efectuadas pelos titulares do capital, ou ainda créditos de imposto. Foi, ainda, eliminado o regime excepcional a que estavam sujeitos os rendimentos derivados de títulos de divida pública do país sendo agora tributados como a generalidade dos demais rendimentos, estabelecendo-se também, que os rendimentos financeiros que estejam sujeitos a outro tipo de imposto (designadamente, Imposto de Aplicação de Capitais e Imposto sobre o Rendimento do Trabalho) não estão sujeitos a Imposto Industrial. Gastos dedutíveis No capítulo destinado às normas relativas à determinação da matéria colectável foi introduzida uma disposição contendo um elenco, exemplificativo, de encargos indispensáveis à manutenção da fonte produtora ou à realização de ganhos sujeitos a imposto e, por isso, dedutíveis fiscalmente, quando, anteriormente, os mesmos eram definidos apenas pela negativa. Os custos relacionados com assistência social, nomeadamente creches, cantinas ou escolas, 03
4 para trabalhadores passam a ser dedutíveis conjuntamente com as contribuições para fundos de pensões. Inversamente, deixam de ser dedutíveis outros encargos anteriormente considerados relevantes para efeitos fiscais, de onde se salientam os seguros de vida e os seguros de saúde cujo benefício não sejam atribuído à generalidade dos trabalhadores, juros derivados de empréstimos ou suprimentos efectuados pelos detentores do capital, multas pela prática de infracções de qualquer natureza e correcções da matéria colectável relativas a anos anteriores. Por fim, passa, ainda, a estar prevista a dedução até à concorrência da matéria colectável da totalidade dos proveitos sujeitos a Imposto sobre Aplicação de Capitais, quando, antes, esta dedução operava através de um mecanismo de dedução à colecta. Tributação autónoma Foi introduzido um regime de tributação autónoma relativamente a certos encargos, que também não serão fiscalmente dedutíveis, tais como: (i) os custos não devidamente documentados (à taxa de 2%), (ii) os custos não documentados (à taxa de 4%); (iii) as despesas confidenciais (à taxa de 30%, mas elevável a 50% em certas condições) e (iv) os donativos não enquadráveis na Lei do Mecenato (à taxa de 15%). O presente regime de tributações autónomas apenas entrará em vigor no exercício de Prejuízos Fiscais Embora se mantenha o período de reporte de três anos, o novo Código esclarece que, no caso de tais prejuízos terem sido obtidos num período de isenção ou redução de taxa de Imposto Industrial, não poderão ser dedutíveis à matéria colectável dos exercícios posteriores. Lucros retidos e reinvestidos O novo Código contém um benefício aplicável ao auto-financiamento e que se consubstancia na possibilidade de deduzir à matéria colectável, até metade do seu valor, os lucros levados a reservas e reinvestidos nos três anos seguintes em instalações ou equipamentos novos e afectos à actividade do sujeito passivo. Este benefício está, no entanto, dependente de parecer favorável da direcção Nacional de Impostos, após requerimento a submeter até ao final do mês de Fevereiro do ano seguinte à conclusão do reinvestimento. Outros regimes Por fim, importa ainda realçar que os regimes das amortizações e reintegrações, das provisões, e dos créditos incobráveis sofreram uma série de alterações, com o intuito de os actualizar e aproximar das mais recentes evoluções das normas internacionais de 04
5 contabilidade, tornando-os mais claros e perceptíveis. cumpram as obrigações declarativas referidas, ao pagamento de AZK ,00. DETERMINAÇÃO DA MATÉRIA COLECTÁVEL DO GRUPO B No que diz respeito ao Grupo B, a tributação tanto pode estar assente no lucro real como no lucro presumido, dependendo das características do contribuinte. Assim, a determinação da matéria colectável no âmbito deste grupo, tanto pode ter em vista os lucros efectivamente obtidos, quando tal seja possível no caso de haver contabilidade organizada ou pelo volume de vendas e serviços prestados (às quais não serão admitidas quaisquer deduções) quando o contribuinte não possua contabilidade organizada. TAXAS A taxa de Imposto Industrial aplicável aos contribuintes do Grupo A é diminuída em 5 pontos percentuais, situando-se, a partir de agora nos 30%. Também a taxa especial para rendimentos provenientes de actividades agrícolas, aquícolas, avícolas, pecuniárias, piscatórias e silvícolas é reduzida na mesma medida, passando para 15%. Por sua vez, a taxa aplicável aos contribuintes incluídos no grupo B que não possuam contabilidade organizada, tributados sobre o volume de negócios, é de 6,5%. OUTRAS ALTERAÇÕES No primeiro caso, aplicam-se as regras relativas ao Grupo A. Por sua vez, no segundo caso, os contribuintes estarão sujeitos a uma taxa de 6,5%, sobre o volume de vendas e serviços prestados, não sendo, aqui, admitida qualquer dedução à matéria colectável. De referir que os contribuintes do Grupo B que não tenham contabilidade organizada, ficam obrigados a apresentar, a partir do exercício fiscal de 2017, as suas obrigações declarativas com base em demonstrações financeiras elaboradas nos termos do presente Código e do Plano Geral de Contabilidade, sendo, até essa data, sujeitos, por cada ano em que não É consagrado um regime de neutralidade fiscal em operações de transformação de sociedades (fusão e cisão) enquadradas no regime dos Grandes Contribuintes. Por outro lado, o novo Código prevê a possibilidade de as pessoas solidária ou subsidiariamente responsáveis pelo imposto poderem, também, recorrer aos meios legais de reacção, designadamente, a reclamação ou a impugnação. São, ainda, revistas as penalidades para a falta de cumprimento das obrigações fiscais, designadamente nos casos de falta de apresentação das declarações, omissões ou 05
6 irregularidades, ou falta de pagamento do imposto no prazo. Quanto às obrigações declarativas, há alterações pontuais, nomeadamente, no que diz respeito à possibilidade de entregar a declaração por meios electrónicos. E passa, também, a ser obrigatória a identificação de todos os impostos pagos aquando da submissão da declaração anual de rendimentos. Havendo contabilidade organizada é, agora, também, necessário comunicar à Direcção Nacional de Impostos a identidade do contabilista responsável pela mesma. CONCLUSÕES Como se pode retirar da análise efectuada, esta nova Lei pretende actualizar o regime de tributação dos lucros resultantes do exercício de uma actividade comercial ou industrial em Angola, introduzindo medidas importantes no sentido de adaptação do mesmo aos crescentes desafios que a globalização coloca, contribuindo para a promoção do crescimento do mercado angolano. Com a redução das taxas aplicáveis, ao qual acresce a consagração da neutralidade fiscal na transformação de sociedades, espera-se aumentar a atractividade do mercado angolano e fomentar o investimento externo. Assim, as alterações propostas vão, sobretudo, no sentido de adaptar o Imposto Industrial às novas realidades do país e efectuar a coordenação necessária com as restantes alterações da reforma tributária angolana, introduzidas, designadamente, no Código do IRT e no Código do IAC. Sendo de saudar a generalidade das alterações introduzidas, resta, agora, confirmar o poder de resposta das autoridades fiscais angolanas, designadamente no que diz respeito à capacidade de implementação e ao controlo das alterações ora introduzidas. Lisboa, 29 de Dezembro de 2014 Rogério M. Fernandes Ferreira Marta Machado de Almeida José Diogo Mègre Pires Procura-se, ainda, a homogeneização da tributação das diversas entidades, tendo em vista um regime puro de tributação do lucro real, com a eliminação do grupo C, e a concessão de um prazo (até 2017) para todos os contribuintes possuírem contabilidade organizada. 06
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