Ação Rescisória 2419 José Ferreira de Lima Neto x Caixa Econômica Federal e Outros M E M O R I A L. Relator Ministro Marco Aurélio Melo

Transcrição

1 Ação Rescisória 2419 José Ferreira de Lima Neto x Caixa Econômica Federal e Outros M E M O R I A L Relator Ministro Marco Aurélio Melo

2 Excelentíssimo Senhor Marco Aurélio Mello MD Ministro do Excelso Supremo Tribunal Federal José Ferreira de Lima Netto ajuizou ação rescisória em face do acórdão proferido no RE /DF, o qual, em , desproveu, à unanimidade, o recurso interposto pelo Ministério Público Federal, rejeitando a pretensão anulatória contida na ACP e declarando a constitucionalidade do ato de provimento derivado de cargos de advogado, de 1992, conforme processo seletivo interno realizado pela Caixa Econômica Federal. Verbis: DÉCIMO SEGUNDO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PROCESSO SELETIVO INTERNO E OBSERVÂNCIA AOS TERMOS DO ACÓRDÃO PROFERIDO NA ADI 837/DF. VALIDADE DO CERTAME. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. I Pedido de desconstituição de ato administrativo que deferiu, mediante concurso interno, o enquadramento de empregados da Caixa Econômica Federal no cargo de advogado. II - Constituição de 1988, art. 37, II. Exigência de concurso público como forma de acesso a cargos públicos. Processo seletivo interno realizado pela Caixa Econômica Federal em maio de 1992, época em que o entendimento a respeito do tema não era pacífico. Somente em 17/2/1993 o Supremo Tribunal Federal, acolhendo pedido de concessão de liminar na ADI 837/DF, Rel. Min. Moreira Alves, suspendeu, com efeito ex nunc, a eficácia do art. 8º, III.; art. 10, parágrafo único; art. 13, 4º; art. 17 e art. 33, IV, da Lei 8.112, de 1990, com julgamento definitivo em 27/8/1998 (DJ de 25/6/1999). III Subsistência do procedimento seletivo interno e dos atos administrativos então praticados, que culminaram com o enquadramento dos empregados da Caixa Econômica Federal então aprovados no certame, haja vista que, nos termos da Súmula 15 desta Corte, dentro do prazo de validade do concurso o candidato aprovado tem direito à nomeação, como de fato ocorreu. IV Agravo regimental a que se nega provimento. Dada a fase inicial da controvérsia, busca-se, com o presente memorial, apenas demonstrar a flagrante ausência de interesse jurídico do autor e, como 2

3 conseqüência, sua manifesta ilegitimidade, de modo a permitir o indeferimento da petição inicial (art. 487, II e art. 488 c/c art. 295, II, todos do CPC). O autor único postulante participou do Concurso para Advogado da Caixa (2012), classificando-se em 8º lugar no pólo regional de Pernambuco. Apoiado nesse fato e com o propósito de apresentar uma suposta legitimidade (art. 487, II, do CPC), o autor alega ser terceiro juridicamente interessado, pois teria sido atingido pela eficácia reflexa do acórdão proferido por essa Corte Suprema, por ocasião do julgamento do RE /DF. Segundo o entendimento do autor, a principal afirmação que justificaria sua posição de terceiro interessado é a seguinte: na medida em que a inconstitucionalidade do processo seletivo interno fosse reconhecida na ACP, o retorno dos advogados aos seus cargos de origem faria surgir vagas que deveriam ser preenchidas por meio de concurso público (fl. 10 da inicial); desse modo, o reconhecimento da constitucionalidade do processo seletivo teria causado, juridicamente, prejuízo ao autor, pois este possuiria o direito de assumir uma dessas vagas (fl. 11 da inicial). Data venia, o entendimento é totalmente equivocado. Explica-se. Inicialmente cumpre firmar que, se essa Corte Suprema tivesse concluído pela inconstitucionalidade do processo seletivo para o cargo de Advogado, os empregados atingidos não deixariam de ser empregados da Caixa, pois, antes de assumirem os cargos de advogado, os mesmos já eram técnicos bancários aprovados em anterior concurso, sendo o posterior concurso para Advogado um ato de provimento derivado. Assim, importa firmar esse primeiro fato: o quadro de empregados da Caixa não sofreria qualquer redução, não surgindo, portanto, qualquer vaga. 3

4 Aliás, como Empresa Pública Federal, a Caixa não possui qualquer autonomia para criar suas vagas. Nessa matéria, o Departamento de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (DEST) órgão de assistência direta e imediata do Ministro de Estado do Planejamento é que se manifesta sobre a necessidade do aumento do número de funcionários nas empresas públicas, sendo esse número global, único, que inclui todos os funcionários, seja da carreira profissional ou não. Um segundo fato precisa ser firmado: o retorno do empregado advogado a técnico bancário não implica, por si só, a necessidade da Caixa tentar obter autorização do Governo Federal para a abertura de vagas visando à contratação de outro advogado substituto. E aqui residem novos equívocos do autor, pois entendeu que de uma eventual declaração de inconstitucionalidade resultaria sua automática contratação para o pólo regional de Pernambuco (já que classificado em 8º, entendeu que lá estariam indevidamente lotados nove (09) advogados oriundos do processo seletivo interno de 1992). Na realidade, num total de quarenta e um (41), apenas seis (06) advogados oriundos do processo seletivo de 1992 estão lotados no pólo regional de Pernambuco (Jurídico Regional de Recife). Desse modo, se esses seis tivessem que retornar a técnicos bancários, os serviços jurídicos seriam tão somente redistribuídos aos demais trinta e cinco (35) advogados e só futuramente teria seu contexto analisado pelo respectivo gestor público. Vê-se, assim, que, ao contrário do que entendeu o autor, nada existe de automático, tampouco de imediato reflexo sobre seu suposto direito, pois, após eventual declaração de inconstitucionalidade com trânsito em julgado, um rol de condições seria necessário: a) a decisão do gestor acerca da necessidade da vaga; b) a autorização da empresa; c) a autorização do Ministério do Planejamento; e tudo isso dentro do prazo de validade do concurso ao qual o autor se submeteu. 4

5 Restando os fatos esclarecidos, pode-se notar que as alegações apresentadas pelo autor configuram verdadeira PETIÇÃO DE PRINCÍPIO. Ora, restou nítida a linha viciada da argumentação desenvolvida na inicial, pois, diante de um acórdão que declara a constitucionalidade de um concurso, o autor afirma que o mesmo é inconstitucional e que essa inconstitucionalidade que ainda não existe e que representa o mérito especifico da ação ainda não julgada é que lhe daria interesse jurídico e, portanto, legitimidade. Ademais, cabe refletir: poderia o suposto interesse de um único candidato ao cargo de advogado dar ensejo ao afastamento de mais de 300 advogados que prestaram e ainda prestam serviço à Caixa há mais de 20 anos? Diante do exposto neste Memorial, que demonstra, a priori, a flagrante ilegitimidade do autor, a Caixa requer, respeitosamente, o indeferimento liminar da petição inicial. Brasília, 03 de fevereiro de LENYMARA CARVALHO SALVADOR CONGENTINO NETO Advogada Gerente Executiva Advogado Gerente Nacional OAB/DF OAB/SP GIRLANA GRANJA PEIXOTO MOREIRA Advogada Superintendente Nacional OAB/DF