Superior Tribunal de Justiça

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1 RECURSO ESPECIAL Nº PB (2004/ ) RELATORA RECORRENTE RECORRIDO : MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA : MUNICÍPIO DE AREIA : JOSÉ DE ARIMATÉIA FREIRE DE SOUZA : JOSÉ VIEIRA DAMASCENO FILHO : RIZALVA AMORIM DE OLIVEIRA - DEFENSOR PÚBLICO EMENTA RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO, ELEITORAL E PROCESSO CIVIL. SERVIDOR PÚBLICO TEMPORÁRIO. EXONERAÇÃO NO PERÍODO ELEITORAL. ARTIGO 73, INCISO V, DA LEI 9.504/97. CIRCUNSCRIÇÃO EM QUE NÃO HAVIA ELEIÇÃO. 1. "As disposições contidas no art. 73, V, Lei n.º 9.504/97 somente são aplicáveis à circunscrição do pleito." (TSE, Resolução n.º 21806/DF, Rel. Min. Fernando Neves da Silva, DJ 12/07/2004). 2. A interpretação realizada pelo Tribunal Superior Eleitoral autoriza a exoneração de servidor público municipal no período em que ocorrem as eleições estaduais e a federal, desde que não coincida com as municipais. 3. Recurso especial conhecido e provido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça: "Prosseguindo no julgamento após o voto-vista do Sr. Ministro Haroldo Rodrigues dando provimento ao recurso especial, a Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso especial, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora." Os Srs. Ministros Og Fernandes, Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ/SP) e Haroldo Rodrigues (Desembargador convocado do TJ/CE) votaram com a Sra. Ministra Relatora. Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Maria Thereza de Assis Moura. Brasília, 21 de outubro de 2010(Data do Julgamento) Ministra Maria Thereza de Assis Moura Relatora Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 29/11/2010 Página 1 de 8

2 RECURSO ESPECIAL Nº PB (2004/ ) RELATORA RECORRENTE RECORRIDO : MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA : MUNICÍPIO DE AREIA : JOSÉ DE ARIMATÉIA FREIRE DE SOUZA : JOSÉ VIEIRA DAMASCENO FILHO : RIZALVA AMORIM DE OLIVEIRA - DEFENSOR PÚBLICO RELATÓRIO MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA (Relatora): Cuida-se de recurso especial, interposto pelo Município de Areia, com fundamento no artigo 105, inciso III, alínea "a", da Constituição Federal, contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, assim ementado: "RECURSO OFICIAL E APELAÇÃO CÍVEL - MANDADO DE SEGURANÇA - EXONERAÇÃO DE PROFESSOR PRESTADOR DE SERVIÇO - PERÍODO ELEITORAL - VEDAÇÃO LEGAL - CONCESSÃO DA SEGURANÇA - RECURSOS DESPROVIDOS A exoneração de servidor público, mesmo contratado a título precário, no chamado período eleitoral, é vedado pela lei, constituindo, pois, ato ilegal e abusivo." Nas razões do apelo especial, alega a municipalidade violação do artigo 73, inciso V, da Lei n.º 9.504/1997. Aduz, em resumo, que o dispositivo referente à legislação eleitoral não seria aplicável à espécie, pois a eleição do ano de 2002 não estava adstrita à circunscrição do Município, mas apenas no plano estadual e federal. Afirma, nesse aspecto, que tal dispositivo "não se aplica na circunscrição do Município, no período prévio e posterior às eleições não municipais" (fl. 75). É o relatório. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 29/11/2010 Página 2 de 8

3 RECURSO ESPECIAL Nº PB (2004/ ) EMENTA RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO, ELEITORAL E PROCESSO CIVIL. SERVIDOR PÚBLICO TEMPORÁRIO. EXONERAÇÃO NO PERÍODO ELEITORAL. ARTIGO 73, INCISO V, DA LEI 9.504/97. CIRCUNSCRIÇÃO EM QUE NÃO HAVIA ELEIÇÃO. 1. "As disposições contidas no art. 73, V, Lei n.º 9.504/97 somente são aplicáveis à circunscrição do pleito." (TSE, Resolução n.º 21806/DF, Rel. Min. Fernando Neves da Silva, DJ 12/07/2004). 2. A interpretação realizada pelo Tribunal Superior Eleitoral autoriza a exoneração de servidor público municipal no período em que ocorrem as eleições estaduais e a federal, desde que não coincida com as municipais. 3. Recurso especial conhecido e provido. VOTO MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA (Relatora): A controvérsia dos autos cinge-se em saber se o artigo 73, inciso V, da Lei n.º 9.504/97, é aplicável a servidores públicos quando não se realiza a eleição na respectiva unidade da federação em que o serviço público é prestado. O dispositivo legal possui a seguinte redação: "Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais: (...) V - nomear, contratar ou de qualquer forma admitir, demitir sem justa causa, suprimir ou readaptar vantagens ou por outros meios dificultar ou impedir o exercício funcional e, ainda, ex officio, remover, transferir ou exonerar servidor público, na circunscrição do pleito, nos três meses que o antecedem e até a posse dos eleitos, sob pena de nulidade de pleno direito, ressalvados: a) a nomeação ou exoneração de cargos em comissão e designação ou dispensa de funções de confiança; b) a nomeação para cargos do Poder Judiciário, do Ministério Público, dos Tribunais ou Conselhos de Contas e dos órgãos da Presidência da República; c) a nomeação dos aprovados em concursos públicos homologados até o início daquele prazo; d) a nomeação ou contratação necessária à instalação ou ao funcionamento inadiável de serviços públicos essenciais, com prévia e expressa autorização do Chefe do Poder Executivo; e) a transferência ou remoção ex officio de militares, policiais civis e de agentes penitenciários;" Depreende-se da leitura do dispositivo em comento que, se não há eleição Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 29/11/2010 Página 3 de 8

4 em determinada unidade da federação, como é o caso dos autos, a exoneração do servidor público a ela vinculado não está proibida. Sobre o tema, Olivar Coneglian, em seus comentários à legislação eleitoral, ressalta extensão da determinação contida no inciso V do artigo 73 da Lei n.º 9.504/97: "Art. 73, inc. V: O inc. V trata da vida funcional do servidor público. É um artigo complexo tanto em sua formulação, quanto no rol das exceções. Prazo ou tempo: as proibições relativas ao servidor público se estendem por um tempo bastante longo: desde três meses anteriores ao pleito (início do mês de julho - o dia fixo depende do dia da eleição) - até a posse dos eleitos, ou seja, até 1º de janeiro do ano seguinte. O objetivo de estender a proibição para depois das eleições é evitar que detentores do poder utilizem do seu cargo para promover atos de retaliação contra servidores que não os tenham apoiado politicamente ou não tenham seguido a linha política do chefe. Sanção: os atos praticados em relação ao servidor nos períodos eleitoral e pós-eleitoral são nulos, e essa nulidade pode ser declarada administrativa ou judicialmente. Extensão ou abrangência: a circunscrição do pleito. Isso quer dizer, que, nas eleições municipais, apenas o município sofre a restrição. Nas eleições gerais, o município fica sem as amarras, que passam a circunscrever os atos dos Estados e da União." (CONEGLIAN, Olivar. Lei das Eleições Comentada. 5. ed. rev. atual. Curitiba: Juruá, 2008, p. 338). Nesse aspecto, o Tribunal Superior Eleitoral, ao interpretar o referido dispositivo, asseverou que "as disposições contidas no art. 73, V, Lei n.º 9.504/97 somente são aplicáveis à circunscrição do pleito." (TSE, Resolução n.º 21806/DF, Rel. Min. Fernando Neves da Silva, DJ 12/07/2004). Ressalte-se que é inaplicável o precedente citado pelo aresto recorrido (Resp 59715/SP), na medida em que este foi proferido com a análise de legislação diversa daquela combatida na presente hipótese. Observe-se que, enquanto aquele julgado examinou a violação do art. 29 da Lei nº 8.214/91, o presente recurso especial aponta violação ao art. 73, V, da Lei nº 9.504/97, com redação e extensão diversas, razão pela qual inviável a utilização do citado precedente para conclusão da presente hipótese. Logo, o apelo especial deve ser acolhido, na medida em que a proteção contida ao servidor público no mencionado dispositivo legal não se aplica na hipótese, uma vez que, no ano de 2002, não houve eleições na municipalidade ora recorrente. Diante do exposto, conheço do recurso especial e lhe dou provimento, para cassar o acórdão e reformar a sentença, denegando a segurança pleiteada. É como voto. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 29/11/2010 Página 4 de 8

5 CERTIDÃO DE JULGAMENTO SEXTA TURMA Número Registro: 2004/ REsp / PB Números Origem: PAUTA: 29/09/2009 JULGADO: 29/09/2009 Relatora Exma. Sra. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro NILSON NAVES Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. EDUARDO ANTÔNIO DANTAS NOBRE Secretário Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA RECORRENTE RECORRIDO AUTUAÇÃO : MUNICÍPIO DE AREIA : JOSÉ DE ARIMATÉIA FREIRE DE SOUZA : JOSÉ VIEIRA DAMASCENO FILHO : RIZALVA AMORIM DE OLIVEIRA - DEFENSOR PÚBLICO ASSUNTO: DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO - Servidor Público Civil - Regime Estatutário - Exoneração CERTIDÃO Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: "Após o voto da Sra. Ministra Relatora dando provimento ao recurso, sendo acompanhada pelos Srs. Ministros Og Fernandes e Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ/SP), pediu vista o Sr. Ministro Haroldo Rodrigues (Desembargador convocado do TJ/CE). Aguarda o Sr. Ministro Nilson Naves." Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Nilson Naves. Brasília, 29 de setembro de 2009 ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA Secretário Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 29/11/2010 Página 5 de 8

6 RECURSO ESPECIAL Nº PB (2004/ ) VOTO-VISTA O SENHOR MINISTRO HAROLDO RODRIGUES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/CE): A questão que ora se põe em debate é saber se a restrição inserida no artigo 73, V, da Lei nº 9.504/97, se aplica ao Município, mesmo nos casos em que as eleições se restringem ao âmbito estadual e federal. A Ministra Maria Thereza de Assis Moura, relatora, conhece do recurso especial e lhe dá provimento para cassar o acórdão e reformar a sentença, denegando a segurança pleiteada. Para melhor exame, pedi vista dos autos. Dispõe o artigo 73, inciso V, alínea "c", da Lei nº 9.504/97: "Art São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidade entre candidatos nos pleitos eleitorais: V - nomear, contratar ou de qualquer forma admitir, demitir sem justa causa, suprimir ou readaptar vantagens ou por outros meios dificultar ou impedir o exercício funcional e, ainda, ex officio, remover, transferir ou exonerar servidor público, na circunscrição do pleito, nos três meses que o antecedem e até a posse dos eleitos, sob pena de nulidade de pleno direito." O Código Eleitoral, por sua vez, em seu artigo 86, define o que se entende por circunscrição, ali constando: "Art. 86. Nas eleições presidenciais, a circunscrição serão País; nas eleições federais e estaduais, o Estado; e nas municipais, o respectivo município." Assim, como bem observado pela Ministra relatora, o ente da Federação só fica restrito à observância do art. 73 acima transcrito quando a eleição a ele corresponder. No caso, não havia óbice para a exoneração do recorrido, servidor da Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 29/11/2010 Página 6 de 8

7 Prefeitura Municipal, pois as eleições relativas ao período em discussão foram apenas estaduais e nacionais. Ante o exposto, acompanhando o voto da eminente relatora, dou provimento ao recurso especial para, cassando o acórdão, denegar a segurança pleiteada. É como voto. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 29/11/2010 Página 7 de 8

8 CERTIDÃO DE JULGAMENTO SEXTA TURMA Número Registro: 2004/ REsp / PB Números Origem: PAUTA: 29/09/2009 JULGADO: 21/10/2010 Relatora Exma. Sra. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA Presidente da Sessão Exma. Sra. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. JOÃO FRANCISCO SOBRINHO Secretário Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA RECORRENTE RECORRIDO AUTUAÇÃO : MUNICÍPIO DE AREIA : JOSÉ DE ARIMATÉIA FREIRE DE SOUZA : JOSÉ VIEIRA DAMASCENO FILHO : RIZALVA AMORIM DE OLIVEIRA - DEFENSOR PÚBLICO ASSUNTO: DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO - Servidor Público Civil - Regime Estatutário - Exoneração CERTIDÃO Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: "Prosseguindo no julgamento após o voto-vista do Sr. Ministro Haroldo Rodrigues dando provimento ao recurso especial, a Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso especial, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora." Os Srs. Ministros Og Fernandes, Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ/SP) e Haroldo Rodrigues (Desembargador convocado do TJ/CE) votaram com a Sra. Ministra Relatora. Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Maria Thereza de Assis Moura. Brasília, 21 de outubro de 2010 ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA Secretário Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 29/11/2010 Página 8 de 8