A CAPACIDADE CIVIL PLENA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL TOMADA DE DECISÃO APOIADA E CURATELA

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1 A CAPACIDADE CIVIL PLENA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL TOMADA DE DECISÃO APOIADA E CURATELA NOVOS INSTITUTOS PREVISTOS NA LEI BRASILEIRA DE INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA É importante compreender sobre a capacidade civil da pessoa com deficiência intelectual? Sim porque a pessoa com deficiência intelectual sempre foi muito afetada pela interdição total de seus direitos que a impedia gerava de gozar dos seus direitos civis, como votar por exemplo. O instituto da curatela que levava à interdição da pessoa, no antigo modelo do Código Civil, sempre foi manejado sem muita cura pelos advogados, defensores, promotores e juízes. Era necessário, portanto, mudar essas antigas concepções e práticas, de maneira a transformar esse direito em uma ferramenta de apoio. A Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, de 2006 e ratificada pelo Brasil por meio do Decreto n 6.949/2009, veio revolucionar essa área do direito civil e dizer 1

2 que a regra geral é de plena capacidade legal, ou seja, todas as pessoas com deficiência têm capacidade civil. Assim, o Brasil deveria tomar providências para prevenir os abusos e assegurar o pleno exercício da capacidade legal respeitando os direitos, a vontade e as preferências da pessoa com deficiência intelectual, sem conflito de interesses, por tempo mais curto possível e com previsão de revisão periódica. Foi o que fez ao editar a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (estatuto da pessoa com deficiência), Lei n /2015. A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, em conformidade com a Convenção, contém importantes mudanças: 1ª mudança. Adota a regra geral da Convenção e afirma que todas as pessoas com deficiência gozam da capacidade civil em igualdade de condições com as demais pessoas. 2ª mudança. A pessoa com deficiência intelectual pode lançar mão da tomada de decisão apoiada sobre os atos da vida civil, escolhendo duas pessoas para lhe apoiar e assim poder exercer plenamente os seus direitos. 3ª mudança. A curatela é uma medida de proteção extraordinária e poderá ser utilizada somente quando necessária para a proteção dos direitos patrimoniais e negociais da pessoa com deficiência intelectual. Isso significa afirmar que a pessoa com 2

3 deficiência intelectual em situação de curatela será considerada relativamente incapaz, podendo praticar todos os atos da vida civil, à exceção da gestão do seu patrimônio e negócios que fará com o apoio do curador. TOMADA DE DECISÃO APOIADA O que é a tomada de decisão apoiada? A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência criou a tomada de decisão apoiada, no artigo 116 (artigo A do Código Civil) para garantir que a pessoa com deficiência intelectual tenha apoio para tomar decisões sobre atos da vida civil. É um processo judicial no qual a própria pessoa com deficiência escolhe pelo menos duas pessoas de sua confiança para lhe prestar apoio na tomada de decisão sobre um interesse (direito) específico. O pedido de tomada de decisão apoiada é dirigido ao juiz e deve conter o nome das pessoas escolhidas para prestar o apoio e dizer quais são os limites desse apoio. Antes de se pronunciar sobre o pedido o juiz, com a assistência de uma equipe multidisciplinar (que deve constituída por profissionais habilitados na área da deficiência) e depois de ter 3

4 ouvido o Ministério Público, ouvirá, em audiência, o requerente (a pessoa com deficiência) e as pessoas que lhe prestarão o apoio. O que é o apoio na tomada de decisão apoiada? As (pelo menos) duas pessoas escolhidas como apoio devem ser da confiança da pessoa com deficiência e com ela manter vínculos e gozarem de sua confiança. Isso porque, serão elas que deverão encontrar os meios necessários para esclarecer todas as dúvidas da pessoa com deficiência e, assim, fornecerem todas as informações necessárias para esclarecer sobre o direito em questão. Assim, uma vez esclarecidos os pontos de dúvidas e incompreensões, a pessoa com deficiência poderá tomar a decisão segundo a sua vontade e seu interesse. Lembre-se, não são as pessoas que prestam o apoio que tomam a decisão, elas simplesmente colaboram para a pessoa com deficiência o faça. O que fazer se a pessoa do apoiador agir com negligência? Se o apoiador for negligente ou pressionar indevidamente a pessoa apoiada, ou não cumprir com as obrigações assumidas, a 4

5 pessoa com deficiência ou qualquer outra poderá apresentar denúncia ao Ministério Público ou a juiz. Se a denúncia se comprovar, o juiz destituirá o apoiador e nomeará outra pessoa, indicada pela pessoa com deficiência, para lhe servir de apoio. Quais são os efeitos das decisões da pessoa com deficiência na tomada de decisão apoiada? A decisão da pessoa com deficiência apoiada em processo regular de tomada de decisão apoiada vale e tem efeitos sobre outras pessoas (os terceiros interessados de uma relação jurídica), sem qualquer restrição se estiver dentro dos limites fixados na sentença do juiz. A pessoa (o terceiro interessado) com quem a pessoa com deficiência apoiada mantenha relação de negócio pode solicitar que os apoiadores também assinem o contrato ou o acordo que estiverem negociando. Se o negócio jurídico trouxer risco ou prejuízo, e havendo divergência de opiniões entre a pessoa com deficiência apoiada e um dos apoiadores, o juiz, ouvido o Ministério Púbico, decidirá a questão. 5

6 A tomada de decisão apoiada pode cessar? Sim, a pessoa com deficiência apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar o término do acordo assinado em processo de tomada de decisão apoiada. A pessoa do apoiador também pode solicitar ao juiz a exclusão de sua participação do processo de tomada de decisão apoiada, sobre o que o juiz deverá se manifestar. Há prestação de contas na tomada de decisão apoiada? Sim, no que couber e nos mesmos moldes da prestação de contas na curatela. Se, por exemplo, existir negócio jurídico é necessária a apresentação de relatório na forma contábil e encaminhado periodicamente ao juiz, contendo a descrição dos ganhos financeiros e despesas eventualmente administradas. CURATELA A capacidade civil das pessoas com deficiência no sistema jurídico brasileiro mudou completamente com Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que traz como regra 6

7 para todas as pessoas com deficiência o reconhecimento igual perante a lei, devendo-lhes ser asseguradas medidas de apoio de que necessite para o exercício pleno da capacidade civil, ou seja, todos os atos da vida civil (educação, saúde, trabalho, voto, casamento, filhos, privacidade, sexualidade, moradia e outros). A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (estatuto da pessoa com deficiência), Lei n /2015, seguindo a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência determina que se respeitem os direitos, a vontade e as preferências da pessoa, sem nenhum conflito de interesses e de influência indevida, seja proporcional e apropriada às circunstâncias da pessoa, e aplicada pelo período mais curto possível, e com revisão regular por uma autoridade ou órgão judiciário competente, independente e imparcial. O novo modelo da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência e que alterou o Código Civil assegura à pessoa com deficiência, como regra, o direito ao exercício de sua capacidade civil em igualdade de condições com as demais pessoas, podendo ser adotada a curatela como medida de proteção e em caráter extraordinário, sempre proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada pessoa e pelo menor tempo possível. Nesse caso, a pessoa será considerada relativamente capaz para os atos de negócios. 7

8 Portanto, a família, o advogado, o promotor de justiça, o defensor público e o juiz devem se adaptar ao novo modelo pois é uma conquista importante das pessoas com deficiência e que faz com que se respeite a vontade e a preferência da pessoa e não somente a vontade do curador. O apoio a ser prestado pelo curador é para o exercício de direitos patrimoniais e negociais, ou seja, o curador prestará os esclarecimentos necessários para a pessoa com deficiência compreender o que está sendo feito e poder participar do ato, externando a sua vontade e a sua preferência. Todas as pessoas a partir dos 18 (dezoito) anos ou mais podem praticar sozinhas todos os atos da vida civil. Se as pessoas com deficiência intelectual, com 18 anos ou mais, não tiverem o discernimento necessário para praticar atos relacionados ao seu patrimônio e negócios, principalmente porque podem colocar em risco as suas finanças e bens, elas poderão passar pelo processo judicial de curatela e ficarem em situação de curatela e serem apoiadas nas decisões pelo curador. Lembre-se que a medida leva a capacidade relativa da pessoa e deve ser pelo tempo necessário e ser revista porque a pessoa pode apresentar alterações de compreensão, ou seja, não pode ser uma medida (que é extraordinária) para sempre. 8

9 O que é curatela? Curatela é um processo judicial. O novo modelo previsto na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, que modificou o Código Civil, exige que o juiz seja assistido por uma equipe multidisciplinar. Essa equipe multidisciplinar, composta por profissionais da área da deficiência, irá analisar o nível de compreensão de uma pessoa com deficiência adulta (maior de 18 anos) e indicará se ela pode ou não praticar atos relacionados ao seu patrimônio e negócios, ou se precisará de apoio para isso. A curatela pode ser pedida pelos pais, tutores, cônjuge ou qualquer parente, ou ainda pelo Ministério Público (somente para aquelas com deficiência intelectual ou mental) ou pela própria pessoa com deficiência. A definição da curatela não alcança o direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto. Quem pode ficar em situação de curatela? A pessoa maior de 18 anos de idade que tenha deficiência intelectual (déficit cognitivo, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas de comunicação, cuidado pessoal, habilidades sociais, 9

10 utilização da comunidade, saúde e segurança, habilidades acadêmicas, lazer), deficiência mental (saúde mental). E, também em outros casos como o ébrio habitual ou viciado em tóxicos e aquelas pessoas que por causa transitória permanente, não puder exprimir a sua vontade. ou Quando deve ser requerida a curatela? Quando a pessoa não puder exprimir a sua vontade, situação em que lançará mão do apoio de outra pessoa (o apoio é o curador escolhido) para esclarecer sobre o gerenciamento seus negócios e patrimônio. Quem pode requerer a curatela? O pai, a mãe, o cônjuge, o parente próximo, a própria pessoa com deficiência, ou o Ministério Público em caso de deficiência intelectual e mental ou deficiência grave, ou ainda qualquer pessoa interessada. 10

11 Quem pode ser o curador? Pode ser qualquer pessoa, desde que a pessoa com deficiência mantenha vínculos com ela e seja de sua confiança. Nessa linha, pode ser cônjuge ou companheiro, o pai ou a mãe e, na falta destes o parente mais próximo, ou qualquer outra pessoa. O que se espera do curador? O novo papel do curador é o de apoiar a pessoa com deficiência nas decisões que precisar tomar em relação ao seu patrimônio e negócios. Esse apoio compreende esclarecer a pessoa com deficiência sobre a questão e apoiá-la a tomar a melhor decisão e direção de forma a zelar pela garantia de seus direitos fundamentais e de administração de seus bens, pensão ou aposentadoria, caso os possua. O que é prestação de contas na curatela? É o relatório apresentado na forma contábil e encaminhado anualmente ao juiz pelo advogado ou defensor público que representa a pessoa em situação de curatela, contendo a descrição dos ganhos financeiros e despesas administradas. 11

12 A prestação de contas é obrigatória, sobretudo quando houver a substituição do curador ou quando a curatela for revista ou extinta. O que acontece se o curador falecer ou ficar doente ou acidentado que o impossibilite de exercer sua função de apoio? Nesses casos o fato deve ser informado imediatamente ao Juiz onde teve curso o processo judicial, solicitando a nova indicação de uma pessoa de confiança da pessoa com deficiência. O curador pode ser substituído? Sim, se ele não demonstrar ter vínculos e se revelar conflituoso nas relações de apoio com a pessoa com deficiência, ou deixar de cumprir as atribuições legais e judicialmente determinadas. Qual é a responsabilidade do curador quanto aos atos praticados pela pessoa em situação de curatela? 12

13 Caso a pessoa com deficiência em situação de curatela cometa algum ato que cause dano material a terceira pessoa e ficar comprovado que o curador descurou de suas obrigações, também será responsabilizado financeiramente pelo prejuízo. A curatela pode ser cessada? E quem pode solicitar? Sim, quando cessar a causa que determinou a situação de curatela, ou mesmo a pedido da própria pessoa com deficiência. Nesse caso, o juiz para decidir sobre o levantamento da curatela deverá ouvir testemunhas e basear sua decisão no parecer da equipe multidisciplinar. DIREITO AO TRABALHO A pessoa com deficiência intelectual em situação de curatela pode trabalhar e administrar o seu contrato de trabalho e salários? Sim, pois o acesso ao trabalho é um direito garantido a todos pela Constituição da República e da pessoa com deficiência intelectual se esperam habilidades e qualificação profissional para as funções a serem exercidas. 13

14 O fato de a pessoa com deficiência estar em situação de curatela não altera o seu direito de assinar seu contrato de trabalho, os recibos salariais ou dar a quitação das verbas da rescisão do contrato (nesse caso e porque se dá quitação das verbas rescisórias, é aconselhável a participação do curador). CONTA CORRENTE EM BANCO A pessoa com deficiência intelectual em situação de curatela pode ter conta corrente em banco? Sim, e quem administra a conta bancária é a própria pessoa com deficiência com o apoio do curador. DIREITO DE VOTAR A pessoa com deficiência intelectual em situação de curatela pode votar? A Constituição da República e o Código Eleitoral não fazem qualquer restrição ao voto da pessoa com deficiência intelectual. À pessoa com deficiência intelectual é reconhecida a plena capacidade civil para votar e, mesmo que ela esteja em situação 14

15 de curatela e possa livremente expressar a sua vontade pode exercer o direito ao voto. DIREITO DE SER CONDUTOR DE VEÍCULO É possível a pessoa em situação de curatela ter carteira de habilitação para dirigir veículo automotor? Sim, desde que a pessoa se submeta e seja aprovada nos exames específicos de habilitação e demonstre que preenche os requisitos previstos no Código de Trânsito que são, basicamente, saber ler e escrever. A pessoa também deverá ser penalmente imputável, ou seja, se vier a cometer um crime, ter consciência da ilegalidade que praticou e que pode ser punido.. DIREITO AO BENEFÍCIO DA PRESTAÇÃO CONTINUADA (BPC) O que é o benefício da prestação continuada (BPC)? O benefício assistencial não é o mesmo que pensão previdenciária é um direito constitucional à assistência social, devido a toda pessoa com deficiência que comprove não possuir 15

16 meios de prover a sua própria subsistência ou tê-la provida por sua família. O valor do benefício pago é de um salário-mínimo mensal. O que a pessoa com deficiência deve fazer para obter o BPC? Deve dirigir-se a um posto do INSS, preencher o requerimento, comprovar a renda mensal familiar inferior a ¼ do salário-mínimo por pessoa. A pessoa será avaliada em sua condição biopsicossocial para ver se se enquadra no padrão exigido pela assistência social. A pessoa com deficiência precisa estar em situação de curatela para receber o BPC? Não, a curatela não é requisito para a concessão do benefício da prestação continuada. O que fazer se o INSS indeferir o pedido do BPC? Se a avaliação das condições estiver equivocada, a pessoa com deficiência deve procurar um advogado e ingressar com ação 16

17 judicial contra o INSS, no Juizado Especial Federal, visando a receber o benefício a que tem direito. Se a pessoa com deficiência tiver carteira de trabalho assinada pode acumular o recebimento do salário com o BPC? Primeiro caso: Não poderá acumular porque o benefício assistencial não pode ser acumulado com salário decorrente de contrato de trabalho. Daí porque se a pessoa com deficiência assinar um contrato de trabalho, tiver uma atividade empreendedora, autônoma ou em cooperativa será suspenso o BPC. Se a pessoa perder o emprego ou qualquer das atividades remuneradas poderá requerer a continuidade do pagamento do benefício suspenso, sem a necessidade de realizar perícia, dentro do prazo de dois anos. Se a pessoa tiver direito ao seguro desemprego, só poderá retornar ao BPC decorridos os cinco meses da concessão do seguro. Segundo caso: Sim, se for um jovem aprendiz. A nova lei n /2011 permite ao jovem aprendiz acumular o salário do 17

18 contrato de aprendizagem e do benefício da prestação continuada (salário + BPC) pelo prazo máximo de dois anos. Poderá também ser aprendiz a pessoa com deficiência intelectual acima de 24 anos e não lhe será exigida a comprovação da escolaridade, devendo ser consideradas as suas habilidades e competências relacionadas com a profissionalização. A pessoa com deficiência que mora com outra pessoa que já recebe o BPC pode pedir o mesmo benefício para si própria? Sim, pois o benefício já recebido pela outra pessoa (pessoa idosa ou outra pessoa com deficiência) não deve integrar o cálculo da renda familiar máxima. Embora não tenha previsão expressa na lei, deve-se insistir junto ao INSS que é a condição de pessoa com deficiência, mais a condição de vulnerabilidade, que lhe dá o direito de receber o BPC. Porém, a pessoa com deficiência não poderá acumular o benefício da prestação continuada com outro benefício previdenciário (pensão ou aposentadoria). 18

19 DIREITO À APOSENTADORIA E À PENSÃO PREVIDENCIÁRIA A pessoa com deficiência intelectual tem direito à aposentadoria? Sim, desde que tenha completado tempo de contribuição à Previdência Social e tenha atingido idade, observado o grau de deficiência, ou seja: 25 anos de tempo de contribuição, se homem, e 20 anos, se mulher, no caso de segurado com deficiência grave; 29 anos de tempo de contribuição, se homem, e 24 anos, se mulher, no caso de segurado com deficiência moderada; 33 anos de tempo de contribuição, se homem, e 28 anos, se mulher, no caso de segurado com deficiência leve, ou 60 anos de idade, se homem, e 55 anos de idade, se mulher, independentemente do grau de deficiência, desde que cumprido tempo mínimo de contribuição de 15 anos e comprovada a existência de deficiência durante igual período. 19

20 A pessoa com deficiência intelectual tem direito à pensão previdenciária por morte dos pais? Sim, com a morte dos pais, se a pessoa for menor de 18 anos. Se for maior de 18 anos, a pessoa com deficiência intelectual deverá ser cadastrada pelo segurado, ainda em vida, perante o INSS como dependente. Não é preciso estar em situação de curatela pela nova previsão da Lei n /2015, que acrescentou o parágrafo 6º ao artigo 77 da Lei n 8.213/1991. Quando a pessoa com deficiência é beneficiária da pensão previdenciária pode trabalhar com carteira de trabalho assinada? Sim. Esse direito está assegurado na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (artigo 101), com as alterações da Lei n /2015, que acrescentou o parágrafo 6º ao artigo 77 da Lei n 8.213/1991, e garante o direito à pensão integral pelo dependente com deficiência intelectual ou mental ou com deficiência grave, mesmo que este tenha um trabalho remunerado, ou seja um microempreendedor. A nova previsão é mais justa para as pessoas com 20

21 deficiência intelectual, mental ou deficiência grave que têm maiores dificuldades em se manter no mundo do trabalho com remuneração compatível às suas necessidades de manutenção. Portanto, está revogada a antiga restrição da Lei n /2011 que determinava a quem exercia uma atividade remunerada receber o correspondente a 70% (setenta por cento) do valor da pensão. A pessoa com deficiência intelectual pode receber mais de uma pensão? Sim, pode receber mais de uma pensão, desde que sejam de níveis distintos da administração pública a exemplo de pensão do Distrito Federal e federal, ou uma pensão municipal e uma federal, etc. DIREITO AO SERVIÇO MILITAR A pessoa com deficiência intelectual está obrigada a prestar o serviço militar? A pessoa com deficiência está isenta do serviço militar. Porém, deve se apresentar a uma unidade militar das Forças Armadas para ser dispensado. 21

22 DIREITO AO CASAMENTO As pessoas com deficiência intelectual podem se casar? Sim. As pessoas com deficiência, que tenham idade para casar (idade núbia), poderão se casar expressando a sua vontade diretamente, ou por meio de seu responsável, ou do curador. A situação de curatela não afeta o direito ao casamento. A Lei Brasileira de Inclusão (Lei n /2015, artigo 85, parágrafo 1º) prevê medidas para eliminar a discriminação contra pessoas com deficiência em todos os aspectos relativos a casamento, família, paternidade e relacionamentos, além de outros direitos. Se forem levantadas dúvidas sobre a capacidade civil das pessoas com deficiência que se apresentam para o casamento, com a documentação, em cartório de registro civil, o responsável/cartorário deve receber os documentos e enviá-los para a apreciação do juiz que ouvirá as partes interessadas e determinará a realização do casamento. O mesmo procedimento deve ser seguido para os casos de reconhecimento de união estável. 22

23 DIREITO AO TRATAMENTO MÉDICO, PROCEDIMENTOS, HOSPITALIZAÇÃO E PESQUISA CIENTÍFICA A pessoa com deficiência em situação de curatela pode ser obrigada a se submeter a intervenção médica ou cirúrgica, ou a tratamento médico ou a institucionalização forçada? Não, a pessoa com deficiência em situação de curatela não poderá ser obrigada, sendo que tais procedimentos somente poderão ser feitos com o seu consentimento. A única hipótese de atendimento, sem o consentimento livre e esclarecido da pessoa com deficiência, é o de risco de morte e de emergência em saúde. Como se dá o consentimento prévio da pessoa com deficiência em situação de curatela? O consentimento prévio da pessoa com deficiência em situação de curatela para tratamento de saúde, procedimentos médicos, hospitalização e pesquisas científicas deve ocorrer com a sua participação. Essa participação só será plena se o curador prestar o apoio necessário para esclarecer adequadamente a 23

24 questão para a pessoa com deficiência, de maneira que ela possa expressar a sua vontade. Quando se tratar de pesquisa científica, envolvendo a pessoa com deficiência em situação de curatela, aquela somente poderá ser realizada em caráter excepcional e com indícios de benefício direto para a sua saúde ou para a saúde de uma coletividade de pessoas com deficiência. DIREITO À PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E DE REGISTRO E DE EMISSÃO DE DOCUMENTOS OFICIAIS Os notários e funcionários dos cartórios de registro civil e de documentos podem se negar a prestar serviços às pessoas com deficiência intelectual? Não, os serviços notariais e de registro não podem se negar ou criar qualquer dificuldade, ou ainda criar situações diferenciadas para a prestação de serviços alegando a condição de deficiência da pessoa que solicita o serviço. O que são obrigados a fazer é reconhecer a plena capacidade civil da pessoa e garantir a acessibilidade. 24

25 Para a emissão de documentos oficiais é exigida a situação de curatela da pessoa com deficiência? Não. Para a emissão de documentos oficiais (carteira de identidade, carteira de trabalho, CPF e outros) não é exigida a comprovação de situação de curatela da pessoa com deficiência. DIREITO AO ATENDIMENTO DOMICILIAR É possível a pessoa com deficiência se recusar a comparecer perante os órgãos públicos? Sim, desde que o deslocamento, em razão de sua limitação funcional e de condições de acessibilidade, traga-lhe dificuldades desproporcionais. Assim, o agente público fará o contato e irá na residência da pessoa com deficiência. A pessoa com deficiência que tenha uma situação a resolver e que não pode se locomover, pode solicitar a presença do agente público em seu domicílio? Sim, a pessoa com deficiência pode solicitar a presença do agente público em seu domicílio, fazendo-a de forma justificada ou ainda por meio de um procurador constituído para essa finalidade. 25

26 É possível a pessoa com deficiência ter atendimento domiciliar pela perícia médica do INSS, da rede de saúde pública do SUS e da rede privada de saúde? Sim, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência assegura o atendimento domiciliar à pessoa com deficiência pela perícia médica e social do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), pelo serviço público de saúde ou pelo serviço privado de saúde, contratado ou conveniado, que integre o SUS e pelas entidades da rede socioassistencial integrantes do Suas, quando seu deslocamento, em razão de sua limitação funcional e de condições de acessibilidade, imponha-lhe ônus desproporcional e indevido. DIREITO AO AUXÍLIO-INCLUSÃO O que é o auxílio-inclusão? O auxílio-inclusão é um valor a ser pago a pessoa com deficiência moderada ou grave que já recebe o benefício da prestação continuada (BPC), ou que o tenha recebido nos últimos cinco anos, e passe a exercer uma atividade remunerada (com carteria de trabalho assinada ou microempreendedor) que a enquadre como segurado obrigatório do Regime Geral da Previdência Social. A medida visa a estimular as pessoas com 26

27 deficiência que recebem o beneficio assistencial a se capacitarem para o trabalho e a exercerem uma atividade remunerada. Esse auxílio está pendente de regulamentação. TUTELA O que é tutela? É um encargo atribuído pelo Juiz a uma pessoa que seja capaz de proteger, zelar, guardar, orientar, responsabilizar-se e administrar os bens de uma criança ou de um jovem adolescente menor de 18 anos, cujos pais são falecidos, ou estejam ausentes, ou tenham sido destituídos do poder familiar. Poder familiar é o conjunto de direitos e obrigações que os pais têm perante os filhos (zelar pelo seu bem estar e por sua educação, alimentar, vestir). Perde-se o poder familiar em função de maus tratos, negligência ou falta de condições para prover o sustento dos filhos. Quem pode ser tutelado? A criança e o adolescente, menor de 18 anos, que não tiverem pais (falecidos ou ausentes), ou quando seus pais forem destituídos do poder familiar pelo juiz. 27

28 Quem pode requerer a tutela? Os avós, os irmãos, os tios, ou qualquer outra pessoa que conheça a criança ou adolescente, observada esta ordem e sempre levando em conta o interesse da criança ou do adolescente. Quem pode ser tutor? O pai e/ou a mãe. Na falta dos pais (se falecidos, ausentes ou destituídos do poder familiar) o tutor é designado pelo Juiz e pode ser qualquer parente ou pessoa próxima, desde que seja pessoa idônea, pois irá assumir o compromisso legal de zelar pelos direitos e garantias do tutelado, promovendo-lhe a educação, saúde, moradia, lazer, convívio familiar, etc. O que se espera do tutor? O tutor é o representante legal da criança ou adolescente tutelado. Espera-se que ele administre o patrimônio (pensão, aluguéis, contratos), as despesas e as dívidas do tutelado e o represente nos atos da vida civil tais como, matricular na escola ou cursos, autorizar viagens, autorizar internamentos hospitalares e cirurgias. O tutor é responsável pela saúde, educação, lazer e pelo bom desenvolvimento das funções emocionais e afetivas do tutelado. 28

29 Antes de assumir a tutela, o tutor deve comprovar que também possui renda ou bens compatíveis com o patrimônio que irá administrar para o tutelado (o que é feito pelo procedimento de especialização da hipoteca legal). As contas da administração seguem as regras para a apresentação das contas da curatela. Bibliografia GONZAGA, Eugenia Augusta Gonzaga. Direitos das Pessoas com Deficiência: Garantia de Igualdade na Diversidade Rio de Janeiro: WVA Ed., GUGEL, Maria Aparecida. Pessoa com Deficiência e o Direito ao Trabalho: Reserva de Cargos em Empresas, Emprego Apoiado. Florianópolis : Editora Obra Jurídica, Deficiência no Brasil: uma abordagem integral dos direitos das pessoas com deficiência. Organização de Maria Aparecida Gugel, Waldir Macieira e Lauro Ribeiro. Florianópolis : Editora Obra Jurídica,