ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA
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- Rafael Paiva Barroso
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1 ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA Tutela, da Curatela e da Tomada de Decisão Apoiada Parte 2 Prof. Caio Silva de Sousa
2 - Do rol dos relativamente incapazes (artigo 4º do Código Civil) os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido e os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo.
3 - Enquanto a capacidade legal é a habilidade de ser titular de direitos e deveres e de exercê-los, a capacidade mental referese às habilidades para tomada de decisão que cada pessoa tem, que variam de pessoa a pessoa e podem depender de outros fatores, inclusive de natureza social ou relacionados ao ambiente.
4 - Com base na LBI, as pessoas com deficiência, mesmo em situação de curatela, têm assegurado o exercício de sua capacidade legal em relação a todos esses direitos, independentemente de condicionantes. Podem se casar, escolher seus parceiros, decidir relacionar-se ou não sexualmente, manifestar consentimento quanto a tratamentos médicos, doação de órgãos e outros temas de seu interesse.
5 - Deve também avaliar as potencialidades da pessoa, de forma que as restrições eventualmente impostas sejam circunscritas àquelas de natureza patrimonial previstas no artigo 1.782, ou seja, de, sem o curador, emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, em geral, os atos que não sejam de mera administração..
6 - Referida redação reflete exatamente o que diz o artigo 12, 4, da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, segundo o qual cabe aos Estados-Parte assegurar que o exercício da capacidade legal inclua salvaguardas apropriadas e efetivas para prevenir abusos.
7 - A redação em tela encontra-se também alinhada ao Comentário Geral nº 01, do Comitê de Monitoramento da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, segundo o qual as salvaguardas para o exercício da capacidade legal devem assegurar o respeito aos direitos, as vontades e preferências da pessoa com deficiência, e nesse sentido, devem prover proteção contra influência indevida.
8 - Nas restritas hipóteses em que não for possível determinar de modo algum a vontade e as preferências de uma pessoa mesmo depois de reconhecidos esforços, a melhor interpretação da vontade e das preferências deve substituir a doutrina do melhor interesse.
9 - Em se tratando de adultos com deficiência deve-se privilegiar não seu melhor interesse, mas sua vontade, interesses e preferências, ou o que imaginamos que estes seriam, a fim de assegurar que possam, dentro dos seus limites, exercer sua capacidade jurídica em igualdade de condições.
10 - A LBI ainda inovou o Código Civil ao prever, em seu artigo A, a possibilidade de o juiz estabelecer a curatela compartilhada, possibilitando que uma mesma pessoa com deficiência pudesse contar com a figura de mais de um curador.
11 - O Estatuto modificou o artigo 1.777, que possibilitava o seu recolhimento (...) em estabelecimentos adequados, quando não se adaptarem ao convívio doméstico para prever que essas as pessoas receberão todo o apoio necessário para ter preservado o direito à convivência familiar e comunitária, sendo evitado o seu recolhimento em estabelecimento que os afaste desse convívio..
12 - Nesse ponto a Lei Brasileira de Inclusão refletiu o conteúdo constitucional da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que em seu artigo 19 reconhece (...) o igual direito de todas as pessoas com deficiência de viver na comunidade, com a mesma liberdade de escolha que as demais pessoas.
13 - Hoje, a regulamentação do processo de curatela está adstrita às previsões do Código de Processo Civil, cuja redação não dialoga integralmente com às diretrizes da Convenção e nem com o texto da LBI. - O Código de Processo Civil se vale do termo interdição, ao invés de curatela, o que reforça a perspectiva de substituição da vontade da pessoa, na contramão do reconhecimento da capacidade legal universal
14 - Artigo 84. A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao exercício de sua capacidade legal em igualdade de condições com as demais pessoas. - 1º Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à curatela, conforme a lei. - 2º É facultado à pessoa com deficiência a adoção de processo de tomada de decisão apoiada.
15 - 3º A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui medida protetiva extraordinária, proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada caso, e durará o menor tempo possível. - 4º Os curadores são obrigados a prestar, anualmente, contas de sua administração ao juiz, apresentando o balanço do respectivo ano.
16 - Artigo 85. A curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial. - 1º A definição da curatela não alcança o direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto.
17 - 2º A curatela constitui medida extraordinária, devendo constar da sentença as razões e motivações de sua definição, preservados os interesses do curatelado. - 3º No caso de pessoa em situação de institucionalização, ao nomear curador, o juiz deve dar preferência a pessoa que tenha vínculo de natureza familiar, afetiva ou comunitária com o curatelado.
18 - Artigo 86. Para emissão de documentos oficiais, não será exigida a situação de curatela da pessoa com deficiência. - Artigo 87. Em casos de relevância e urgência e a fim de proteger os interesses da pessoa com deficiência em situação de curatela, será lícito ao juiz, ouvido o MP, de oficio ou a requerimento do interessado, nomear, desde logo, curador provisório, o qual estará sujeito, no que couber, às disposições do Código de Processo Civil.
19 - Outra fundamental contribuição da LBI, seguindo os preceitos da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, foi a introdução do mecanismo de tomada de decisão apoiada. Em seu artigo 84, 2, a LBI facultou à pessoa com deficiência a sua adoção e por meio da inserção do artigo 1783-A, no Código Civil, trouxe regulamentação inicial da matéria.
20 - Nos termos do artigo 1783-A, a tomada de decisão apoiada é o (...) processo pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo menos 2 (duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e informações necessários para que possa exercer sua capacidade.
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