Aula 21. Estatuto da Pessoa com Deficiência

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Sandra Batista Cipriano
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1 Turma e Ano: Direito Processual Civil - NCPC (2016) Matéria / Aula: Estatuto da Pessoa com Deficiência (Parte I). Capacidade Civil (Parte I). / 21 Professor: Edward Carlyle Monitora: Laryssa Marques Aula 21 Estatuto da Pessoa com Deficiência Lei /15 (EPD) - Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Art Esta Lei entra em vigor após decorridos 180 (cento e oitenta) dias de sua publicação oficial. -> entrada em vigor em janeiro de O NCPC altera artigos do CC/02 que teriam sido modificados pela Lei /15. Disto decorre um problema de direito temporal. O NCPC entrou em vigor no dia 18/3/16 (de acordo com o CNJ). Assim, as alterações realizadas pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência teriam entrado em vigor em janeiro, mas teriam sido revogadas em março. Este problema será analisado depois. O pior dos problemas está nas modificações implementadas pela Lei /15. E são estas modificações que serão analisadas agora. Lei /15. Art. 1º É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania. Parágrafo único. Esta Lei tem como base a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência [Convenção de NY] e seu Protocolo Facultativo, ratificados pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo no 186, de 9 de julho de 2008, em conformidade com o procedimento previsto no 3o do art. 5o da Constituição da República Federativa do Brasil, em vigor para o Brasil, no plano jurídico externo, desde 31 de agosto de 2008, e promulgados pelo Decreto no 6.949, de 25 de agosto de 2009, data de início de sua vigência no plano interno. A convenção de NY foi incluída no ordenamento pátrio com natureza de emenda constitucional.

2 Objetivo: inclusão social das pessoas com deficiência. E mudar a mentalidade da sociedade acerca destas pessoas. Existem duas grandes linhas de pensamento sobre o assunto: 1ª corrente clássica -> a pessoa com deficiência é vulnerável e, por isso, precisa ser protegida pela ordem jurídica. Dignidade - vulnerabilidade. o Pessoa com deficiência é considerada incapaz, que depende de proteção. Neste sentido: Ordenações Filipinas, CC/16 e CC/02. 2ª corrente moderna -> a pessoa com deficiência é igual a qualquer outra pessoa da sociedade. Tem relação com isonomia/proporcionalidade. Dignidade liberdade. o Pessoa com deficiência é considerada capaz, com todas as questões e consequências daí oriundas. Neste sentido: EPD. EPD, Art. 6º. A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para: I - casar-se e constituir união estável; II - exercer direitos sexuais e reprodutivos; III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações adequadas sobre reprodução e planejamento familiar; IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória; V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas. EPD, Art. 84. A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao exercício de sua capacidade legal em igualdade de condições com as demais pessoas. 1º Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à curatela, conforme a lei. 2º É facultado à pessoa com deficiência a adoção de processo de tomada de decisão apoiada. 3º A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui medida protetiva extraordinária, proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada caso, e durará o menor tempo possível. 4º Os curadores são obrigados a prestar, anualmente, contas de sua administração ao juiz, apresentando o balanço do respectivo ano. Antes, a atuação do curador poderia ser de assistente ou de representante, variando de acordo com o grau de incapacidade do deficiente curatelado. Em alguns casos, a incapacidade era

3 dada como de tal magnitude que o deficiente dependeria de um representante. A grande questão que surge com EPD (art. 114) é que este exclui os deficientes do rol de absolutamente incapazes. EPD, Art A Lei no , de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), passa a vigorar com as seguintes alterações: Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos. I - (Revogado); II - (Revogado); III - (Revogado). (NR) Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer:... II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; Portanto, as pessoas com deficiência não podem mais ser consideradas absolutamente incapazes, do contrário, estar-se-ia violando os princípios da isonomia, da dignidade da pessoa humana e da proporcionalidade. Atualmente, somente os menores de 16 anos são considerados absolutamente incapazes; e aqueles que não puderem exprimir sua vontade são considerados relativamente incapazes. Por serem relativamente incapazes, só podem ser assistidas (e não representadas). Na doutrina, surgiram duas linhas de pensamento a respeito desse tema: 1ª corrente Clássica 2ª corrente moderna Contrária ao EPD -> para os adeptos dessa corrente, o EPD retirou a proteção que era dada aos deficientes e não poderia tê-lo feito. A pessoa que não tem discernimento As alterações introduzidas pelo EPD estão nenhum não pode ser assistida apenas, deve corretas, pois buscam a inclusão dos ser representada. O curador atua junto com portadores de deficiência. o curatelado, que precisa manifestar alguma É uma questão de interpretação dos vontade. E como ele manifestará alguma vontade se a própria lei o reconhece como incapaz (de manifestar vontade)? institutos. Esta interpretação deve ser feita visando justamente esta inclusão. Por conta disso, essa corrente defende a necessidade de uma lei para reverter este quadro. Já há um PL do Senado: n. 757/2015.

4 Dignidade-vulnerabilidade: Atos praticados pelos absolutamente incapazes eram considerados nulos (art. 161, I, CC). Atos praticados pelos relativamente incapazes eram considerados anuláveis. (art. 171, I, CC). Crítica realizada ao EPD: Não há mais essa distinção para as pessoas deficientes. Assim, os atos não são nulos. São anuláveis, e devem ser objeto de prova (em demanda judicial) que demonstre que o sujeito não tinha discernimento ao celebrar determinado negócio jurídico. Enquanto absolutamente incapazes, não corria prazo de prescrição ou decadência (art. 198, I, CC c/c 208 c/c 310, c/c 543, CC). Crítica realizada ao EPD: Com a nova redação, o relativamente incapaz é aquele que não tem condição de manifestar sua vontade. Mas, mesmo assim, contra ele corre a prescrição e a decadência. Por tudo isso, é indispensável uma lei nova que reestabeleça a distinção entre pessoas com deficiência relativa e absolutamente incapazes. Em tramitação: PL n. 757/2015. Para que estes indivíduos possam ser protegidos pela ordem jurídica. Dignidade liberdade: Parte da premissa que a pessoa com deficiência é capaz. Desse modo, a curatela é excepcional, tal como dispõe o art. 85, EPD. EPD, Art. 85. A curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial. 1º A definição da curatela não alcança o direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto. 2º A curatela constitui medida extraordinária, devendo constar da sentença as razões e motivações de sua definição, preservados os interesses do curatelado. Os antigos absolutamente incapazes passaram a ser considerados relativamente incapazes. Critério - impossibilidade de expor sua vontade (e não mais falta de discernimento). Devem ser mantidas as alterações trazidas pelo EPD. PL 757/15: Art. 4º O inciso II do art. 3º, o inciso II e o parágrafo único do art. 4º, o inciso I do art e os arts , 1.769, e da Lei nº , de 10 de janeiro de 2002, passam a vigorar com a seguinte redação:

5 Art. 3º (...) II os que, por qualquer motivo, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos;... (NR). [Absolutamente incapaz critério: falta de discernimento]. Art. 4º (...) II os ébrios habituais, os viciados em tóxicos e os que, por qualquer causa, tenham o discernimento severamente reduzido; III (revogado); (...) Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. (NR).

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